A Revue Spirite
de 1864
Allan Kardec
(Parte
11)
Damos prosseguimento
nesta edição ao estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1864. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 26
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela
EDICEL.
Questões preliminares
A. Como a reencarnação,
na época de Kardec, era
vista nos Estados
Unidos?
A ideia da reencarnação
não era ainda aceita nos
Estados Unidos de
maneira geral, embora o
fosse individualmente
por alguns, se não como
um princípio absoluto,
ao menos com certas
restrições. Exemplo
disso é um artigo
publicado no jornal
Union, de São
Francisco, que foi
enviado a Kardec pela
confreira Pauline Boulay.
O artigo versa sobre a
reencarnação e afirma
que a alma necessita
reencarnar para se
aperfeiçoar, porque não
pode numa única vida
material aprender tudo
quanto deve saber para
compreender a obra de
Deus.
(Revue Spirite de 1864,
pp. 147 a 150.)
B. Que é que Xenofonte
registrou sobre a
convicção de Ciro a
respeito da
imortalidade?
Está dito na
Ciropedia, de
Xenofonte, que nas
instruções que Ciro deu
a seus filhos, no
momento de sua morte,
ele mostrou-se
convencido da
imortalidade da alma e
disse até que é durante
o sono que a alma mais
se aproxima da Divindade
e pode muitas vezes
prever o futuro, porque,
sem dúvida, encontra-se
nesse momento
inteiramente livre.
(Obra citada, pp. 157 e
158.)
C. Que disse Kardec a
respeito do livro de
Renan sobre a vida de
Jesus?
Sem refutar a obra,
tarefa que só seria
possível através de um
outro livro, Kardec
observa: “Admitamos
(...) que o Sr. Renan
não se tenha em nada
afastado da verdade
histórica. Isto não
implica a justeza de sua
apresentação, porque ele
fez esse trabalho em
vista de uma opinião e
com ideias
preconcebidas”.
Percorrendo a Judeia com
o Evangelho na mão, o
Sr. Renan concluiu que o
Cristo tinha existido,
mas não viu o Cristo de
outra maneira pela qual
o via antes. A obra do
Cristo era toda
espiritual, mas, como o
Sr. Renan não crê na
espiritualização do ser,
nem num mundo
espiritual, naturalmente
deveria julgar suas
palavras do ponto de
vista exclusivamente
material e, por isso,
enganou-se quanto às
suas intenções e o seu
caráter.
(Obra citada, pp. 161 a
163.)
Texto para leitura
126. Nos Estados Unidos
o dogma da reencarnação
teria vindo chocar-se
contra os preconceitos
de cor, profundamente
arraigados no país. O
essencial era fazer
aceitar o princípio
fundamental da
comunicação dos
Espíritos. Ressalve-se,
porém, que, se a ideia
da reencarnação ainda
não é aceita nos Estados
Unidos de maneira geral,
ela o é individualmente
por alguns, se não como
um princípio absoluto,
ao menos com certas
restrições, o que já é
alguma coisa. (P. 147)
127. Para comprovar sua
assertiva, Kardec
transcreve em seguida um
artigo publicado no
jornal Union, de
São Francisco, que lhe
foi enviado pela
confreira Pauline Boulay.
O artigo versa sobre a
reencarnação e afirma
que a alma necessita
reencarnar-se para se
aperfeiçoar, porque não
pode numa única vida
material aprender tudo
quanto deve saber para
compreender a obra de
Deus. (PP. 148 a 150)
128. A
Revue publica
nota sobre uma série de
lições públicas que o
padre Barricand,
professor da Faculdade
de Teologia de Lyon,
ministrava contra o
magnetismo e o
Espiritismo no
Petit-Collège, de Lyon.
De acordo com reportagem
publicada pelo jornal
Vérité, o padre
Barricand valia-se de
suas aulas para denegrir
a imagem do Espiritismo,
além de acusá-lo de
estagnação e mesmo
redução do número de
seus adeptos. (PP. 150 a
153)
129. Bordeaux - diz a
Revue - também tem
seu curso público de
Espiritismo, isto é,
contra o Espiritismo,
ministrado pelo padre
Delaporte, professor da
Faculdade de Teologia da
cidade. Comentando o
assunto, diz Kardec:
“Que sairá daí? Um
primeiro resultado
inevitável: o exame mais
aprofundado da questão
em todo o mundo; os que
não leram, quererão ler;
os que não viram,
quererão ver. Um segundo
resultado será o de
fazê-lo tomar a sério
por aqueles que nele
ainda não veem senão
mistificação, pois que
os ilustres teólogos o
julgam assunto de séria
discussão pública”. Um
terceiro resultado,
segundo Kardec, seria
calar o medo do ridículo
que ainda segura tanta
gente. “Quando uma coisa
é discutida publicamente
por homens de valor, pró
e contra, não se tem
mais receio de dela
falar.” (PP. 153 e 154)
130. Os rumores que
tinham emocionado a
cidade de Poitiers
haviam cessado, mas
parece que os Espíritos
barulhentos
transportaram o teatro
de suas ações para as
cercanias daquela
cidade. Eis o que o
jornal Pays
registrou em fevereiro:
“Há alguns dias nossa
região está preocupada
com a presença, em
Bois-de-Doeuil, de
Espíritos batedores, que
espalham o terror em
nossos vilarejos. A casa
do Sr. Perroche é seu
ponto de encontro: todas
as noites, entre onze e
meia noite, o Espírito
se manifesta por nove,
onze ou treze pancadas,
marcadas por duas e uma
e às seis da manhã, pelo
mesmo barulho”. A
notícia acrescenta que
os golpes eram dados à
cabeceira de uma cama
onde se deitava uma
senhora, semimorta de
pavor, que pretendia
receber as comunicações
de um tio do marido,
morto havia um mês. (PP.
154 e 155)
131. Um leitor de São
Petersburgo escreve
relatando um caso
relacionado com a vida
de Tasso, referido pelo
Sr. Suard e inserto na
tradução de Jerusalém
Libertada, publicada
em 1803. Tasso estava
persuadido de que era
objeto das perseguições
de um Espírito que
derramava tudo nele,
roubava-lhe o dinheiro e
retirava de sobre sua
mesa tudo quanto lhe
servia. O leitor
transcreve um texto em
que o próprio Tasso
conta as peripécias de
seu obsessor. (PP. 156 e
157)
132. A
Revue publica
breve resumo das
instruções que Ciro deu
a seus filhos no momento
de sua morte, conforme é
relatado na Ciropedia,
de Xenofonte. No
documento, Ciro
mostra-se convencido da
imortalidade da alma e
afirma que é durante o
sono que a alma mais se
aproxima da Divindade e
pode, nesse estado,
muitas vezes prever o
futuro, porque, sem
dúvida, encontra-se
nesse momento
inteiramente livre. (PP.
157 e 158)
133. Na seção de livros
novos, a Revue
reporta-se a duas obras
recentes: “Cartas aos
Ignorantes”, de V.
Tournier, que reproduz
em versos os princípios
fundamentais da doutrina
espírita, e “A Guerra ao
Diabo e ao Inferno”, de
Jean de la Veuze, que
examina o argumento
clerical de que o
Espiritismo é uma
concepção do diabo.
Traçando um rápido
esboço do Espiritismo,
desde as manifestações
da América, o autor
mostra que o diabo errou
os cálculos, pois salva
as almas perdidas e
deixa escaparem as que
eram suas. O livro, como
se vê, é uma crítica
espirituosa e alegre do
papel que fazem o diabo
representar nos últimos
tempos, mas contém
também pensamentos
sérios e profundos. (P.
159)
134. Uma análise do
livro do Sr. Renan sobre
a vida de Jesus abre a
edição de junho. Sem
refutar a obra, tarefa
que só seria possível
através de um outro
livro, Kardec observa:
“Admitamos (...) que o
Sr. Renan não se tenha
em nada afastado da
verdade histórica. Isto
não implica a justeza de
sua apresentação, porque
ele fez esse trabalho em
vista de uma opinião e
com ideias
preconcebidas”. (PP. 161
e 162)
135. Percorrendo a
Judeia com o Evangelho
na mão, o Sr. Renan
concluiu que o Cristo
tinha existido, mas não
viu o Cristo de outra
maneira pela qual o via
antes. A obra do Cristo
era toda espiritual,
mas, como o Sr. Renan
não crê na
espiritualização do ser,
nem num mundo
espiritual, naturalmente
deveria julgar suas
palavras do ponto de
vista exclusivamente
material e, por isso,
enganou-se quanto às
suas intenções e o seu
caráter. (PP. 162 e 163)
136. A
mais evidente prova
disto se encontra nesta
estranha passagem de seu
livro: “Jesus não é um
espiritualista, desde
que tudo para ele conduz
a uma realização
palpável; ele não tem a
menor noção de uma alma
separada do corpo. Mas é
um idealista completo,
pois para ele a matéria
não passa de signo da
ideia e o real a
expressão viva do que
não aparece”. (PP. 163 e
164)
137. Vê-se assim que
todas as suas
apreciações decorrem da
ideia de que o Cristo só
tinha em vista as coisas
terrestres. Várias
mulheres – diz o Sr.
Renan – proviam as suas
necessidades. E ele e os
apóstolos eram
vivedores, que não
desdenhavam as boas
mesas. “Joana, a mulher
de Cusa, um dos
intendentes de Antipas,
Suzana e outras, que
ficaram desconhecidas, o
seguiam sem cessar e o
serviam”, afirma o Sr.
Renan. “Algumas eram
ricas e punham, por sua
fortuna, o jovem profeta
em posição de viver sem
exercer o ofício que
tinha exercido até
então.” (PP. 164 e 165)
(Continua no próximo
número.)