MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Libertação
André Luiz
(Parte
34 e final)
Concluímos hoje o
estudo da obra
Libertação,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1949 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que erros desviaram
Gregório dos seus ideais
de cristão?
R.: Os erros que ele
cometeu foram lembrados
por Matilde, que lhe
disse face a face:
"Sempre grande e belo no
combate à política venal
dos homens,
cristalizaste na mente
os desvarios do orgulho
e da vaidade, adquiridos
ao contacto de uma coroa
putrescível. Afogaste
ideais preciosos na
corrente de ouro mundano
e perdeste a visão dos
horizontes divinos,
mergulhando-te na sombra
dos cálculos pela
extensão do império de
teus caprichos.
Incensaste a grandeza
dos poderosos do mundo
em desfavor dos
humildes, incentivaste
a tirania espiritual,
crendo-te possuidor de
autoridade infalível, e
supunhas que o Céu, além
da morte, nada mais
fosse que simples cópia
dos Tribunais e das
Cortes da Terra.
Tremendos desenganos
surpreenderam-te o
despertar e, embora
humilhado e padecente,
coagulaste os
pensamentos no ácido
venenoso da revolta e
elegeste a escravização
das inteligências
inferiores por única
posição digna a
conquistar".
(Libertação, cap. XX,
pp. 257 a 259.)
B. Gregório acreditou
que era sua mãe quem lhe
falava?
R.: Não. E certamente
por isso arrancou a
espada da bainha e
bradou encolerizado:
"Vim para combater, não
para argumentar. Não
temo sortilégios. Sou um
chefe e não posso perder
os minutos com palavras
tergiversantes. Não
admito a presença de
minha mãe espiritual de
outras eras. Conheço as
artimanhas dos
fascinadores e não tenho
outra alternativa senão
duelar".
(Obra citada, cap. XX,
pp. 259 e 260.)
C. Qual foi o desfecho
desse encontro?
R.: Gregório, com a
espada em riste, bradou:
"Às armas! às armas!".
Matilde estacou, serena
e humilde, embora
imponente e bela, com a
majestade de uma rainha
coroada de Sol. Passados
alguns instantes, ela
alçou a destra radiosa
até o coração e caminhou
para ele, afirmando, com
voz doce e terna: "Eu
não tenho outra espada,
senão a do amor com que
sempre te amei!" Nesse
momento, revelou-se
inteira diante do filho,
num dilúvio de intensa
luz. Contemplando-lhe,
então, a beleza suave e
sublime, banhada de
lágrimas, e sentindo-lhe
as irradiações
enternecedoras dos
braços que agora se lhe
abriam, Gregório deixou
cair a espada e de
joelhos se prosternou,
bradando: "Mãe! Minha
mãe! Minha mãe!..." Ela
lhe respondeu: "Meu
filho! Meu filho! Deus
te abençoe! quero-te
mais que nunca!"
Verificara-se, ali,
naquele abraço,
espantoso choque entre a
luz e a treva, e a treva
não resistiu.
(Obra citada, cap. XX,
pp. 260 e 261.)
Texto
para leitura
138. Lágrimas
brotam dos olhos de
Matilde -
Gregório estava
confuso, semiaterrado, e
os companheiros de Gúbio
surpresos, ante o
quadro imponente e
inesperado. O sacerdote
tinha então o aspecto de
uma fera enjaulada,
enquanto Matilde
prosseguia: "Acreditas,
porventura, que o amor
pode alterar-se no curso
do tempo? Supuseste, um
dia, que eu te pudesse
esquecer? Olvidaste a
imantação de nossos
destinos? Peregrine
minhalma através de mil
mundos, suspirarei
sempre pela integração
de nossos espíritos. A
luz sublime do amor que
nos arde nos sentimentos
mais profundos pode
resplandecer nos
precipícios infernais,
atraindo para o Senhor
aqueles que amamos". E,
numa inflexão de
lágrimas que desarmaria
o raciocínio mais
enrijecido, acentuou:
"Lembra-te! Deixaste
morrer nos séculos os
projetos de amor que
traçamos na Toscana e na
Lombardia distantes?
esqueceste nossos votos
ao pé dos altares
humildes? olvidaste as
cruzes de pedra que nos
ouviam as orações? não
prometemos ambos
trabalhar em comum pela
purificação dos
santuários de Deus na
Terra?" E Matilde
continuou: "Sempre
grande e belo no combate
à política venal dos
homens, cristalizaste na
mente os desvarios do
orgulho e da vaidade,
adquiridos ao contacto
de uma coroa
putrescível. Afogaste
ideais preciosos na
corrente de ouro mundano
e perdeste a visão dos
horizontes divinos,
mergulhando-te na sombra
dos cálculos pela
extensão do império de
teus caprichos.
Incensaste a grandeza
dos poderosos do mundo
em desfavor dos
humildes, incentivaste
a tirania espiritual,
crendo-te possuidor de
autoridade infalível, e
supunhas que o Céu, além
da morte, nada mais
fosse que simples cópia
dos Tribunais e das
Cortes da Terra.
Tremendos desenganos
surpreenderam-te o
despertar e, embora
humilhado e padecente,
coagulaste os
pensamentos no ácido
venenoso da revolta e
elegeste a escravização
das inteligências
inferiores por única
posição digna a
conquistar". (Cap. XX,
pp. 257 a 259)
139. A
reação de Gregório
- As palavras de Matilde
prosseguiram incisivas
recordando-lhe que
durante séculos ele
tinha sido apenas rude
disciplinador de almas
criminosas e
perturbadas, mas que o
imenso tédio do mal e a
profunda solidão
interior lhe invadiam,
agora, as horas. Ele
aprendera com
desapontamento que os
tesouros divinos não
repousam em frias arcas
de valores amoedados e
que Jesus não tem tempo
para frequentar
basílicas suntuosas, não
obstante respeitáveis,
porque da escura senda
humana emergem soluços
de peregrinos sem luz e
sem lar, sem arrimo e
sem pão... Bastante
comovida e com
dificuldades para
continuar, Matilde
prosseguiu: "Como
pudeste esquecer, por
alguns dias de
autoridade efêmera na
Terra, as nossas
redentoras visões do
Cristo angustiado na
cruz? Aderiste aos
dragões do Mal pela
simples verificação de
que a tiara passageira
não te poderia aureolar
a cabeça nos domínios
da vida eterna a que a
morte nos arrebatou;
entretanto, o Divino
Amigo jamais descreu das
nossas promessas de
serviço e espera por nós
com a mesma abnegação do
princípio. Vamos! Sou
Matilde, alma de tua
alma, que, um dia, te
adotou por filho querido
e a quem amaste como
dedicada mãe
espiritual". A nobre
mulher calou-se,
interditada pela
corrente de pranto.
Gregório, então, fazendo
o possível por manter-se
de pé, gritou: "Não
creio! não creio! Estou
só! consagrei-me ao
serviço das sombras e
não tenho outros
compromissos”. Um tom de
pavor indescritível
transbordava de sua voz.
Ele parecia disposto à
fuga, francamente
transformado, mas, ante
a assembleia extática e
silenciosa, mantinha-se
magnetizado pela palavra
da benfeitora que se
fazia ouvir, austera e
doce, bela e terrível,
escalpelando-lhe a
consciência. Gregório
espraiou então o olhar
de leão ferido por todos
os ângulos do campo e,
sentindo-se o centro de
quantos assistiam à cena
inesperada,
exteriorizou no
semblante todo o
desespero que lhe tomava
a alma, arrancou a
espada da bainha e
bradou encolerizado:
"Vim para combater, não
para argumentar. Não
temo sortilégios. Sou um
chefe e não posso perder
os minutos com palavras
tergiversantes. Não
admito a presença de
minha mãe espiritual de
outras eras. Conheço as
artimanhas dos
fascinadores e não tenho
outra alternativa senão
duelar". (Cap. XX, pp.
259 e 260)
140. E a treva não
resistiu -
Fitando a delicada forma
de luz que pairava no
espaço, o sacerdote das
trevas desafiou: "Por
quem és! Anjo ou
demônio, aparece e
combate! Aceitas meu
desafio?" – "Sim",
respondeu Matilde, com
ternura e humildade.
Após alguns momentos de
ansiosa expectativa,
apagou-se a garganta
luminosa que brilhava
sobre o grupo e leve
massa radiante e
disforme surgiu, não
longe, à vista de todos.
Em poucos instantes
ergueu-se Matilde, de
rosto velado por véu de
gaze tenuíssimo. A
túnica alva e
luminescente, aliada ao
porte esguio e nobre,
sob a auréola de
safirina luz, traziam à
lembrança alguma
encantada madona
da Idade Média, em
súbita aparição. Ela se
adiantou em direção de
Gregório, mas este,
perturbado e impaciente,
atacou-a de longe e
empunhou a lâmina em
riste, bradando: "Às
armas! às armas!".
Matilde estacou, serena
e humilde, embora
imponente e bela, com a
majestade de uma rainha
coroada de Sol.
Decorridos alguns
instantes ligeiros, ela
alçou a destra radiosa
até o coração e caminhou
para ele, afirmando, com
voz doce e terna: "Eu
não tenho outra espada,
senão a do amor com que
sempre te amei!" Nesse
momento, desvelou o
semblante vestalino,
revelando-se inteira
diante do filho, num
dilúvio de intensa luz.
Contemplando-lhe, então,
a beleza suave e
sublime, banhada de
lágrimas, e sentindo-lhe
as irradiações
enternecedoras dos
braços que agora se lhe
abriam, Gregório deixou
cair a espada e de
joelhos se prosternou,
bradando: "Mãe! Minha
mãe! Minha mãe!..." Ela
lhe respondeu: "Meu
filho! Meu filho! Deus
te abençoe! quero-te
mais que nunca!"
Verificara-se, ali,
naquele abraço,
espantoso choque entre a
luz e a treva, e a treva
não resistiu...
Gregório, como que
abalado nos refolhos do
ser, regressara à
fragilidade infantil, em
pleno desmaio da força
que o sustinha.
Iniciara, finalmente,
sua libertação. (Cap.
XX, pp. 260 e 261)
141. Missão
cumprida -
Matilde recolheu o filho
nos braços, enquanto
numerosos membros da
sombria falange fugiam
espavoridos. Depois, a
nobre mulher agradeceu
a Gúbio e seus amigos a
ajuda recebida e, em
seguida, confiou aos
cuidados do Instrutor o
filho vencido,
despedindo-se de todos
sob um coro de hosanas,
para seguir, de mais
longe, a preparação do
futuro glorioso.
Edificado, feliz, Gúbio,
agora refeito, sustentou
Gregório, inerte, nos
braços, à maneira do
cristão fiel que se
orgulha de suportar o
companheiro menos feliz.
Orou, então, cercado de
claridade santificante,
arrancando a todos
lágrimas irreprimíveis
de alegria e
reconhecimento; depois,
ante a paz que se
estabelecera, triunfante
e ditosa, deu por finda
a nossa tarefa,
dispondo-se a guiar a
heterogênea, mas
expressiva coletividade
de novos estudantes do
bem, até a importante
colônia de trabalho
regenerador. Chegava
para André a hora da
despedida. Seus olhos
estavam úmidos de
pranto, quando Gúbio o
abraçou e falou-lhe,
bondoso: "Jesus te
recompense, filho meu,
pelo papel que
desempenhaste nesta
jornada de libertação.
Nunca te esqueças de que
o amor vence todo ódio e
de que o bem aniquila
todo mal". (Cap. XX, pp.
261 a 263)
Fim