138. O Sr. Renan tem o
cuidado de indicar, em
notas de chamada, as
passagens do Evangelho a
que alude, para mostrar
que se apoia nos textos.
Mas – diz Kardec – não é
a verdade das citações
que se lhe contesta, mas
a interpretação que ele
lhes dá, apresentando
Jesus como um ambicioso
vulgar, dotado de
paixões mesquinhas, que
age por baixo e não tem
coragem de se descobrir.
(PP. 166 e 167)
139. O Sr. Dombre, de
Marmande, enviou a
Kardec um relato
circunstanciado da cura
de uma jovem obsidiada,
já referida
anteriormente pela
Revue. O Espírito de
Louis David, guia
espiritual do médium,
havia explicado que a
jovem era vítima de uma
influência fatal
perigosa e que o
Espírito obsessor iria
resistir por muito
tempo. “Evitai, tanto
quanto possível –
recomendou o mentor -,
que seja tratada por
medicamentos, que lhe
prejudicariam o
organismo. A causa é
toda moral; tentai
evocar esse Espírito;
moralizai-o com
habilidade; nós vos
auxiliaremos.” (P. 168)
140. O relato contendo
todos os procedimentos
adotados pelo Sr. Dombre
mostra como a prece e o
diálogo com o Espírito
obsessor, acrescidos da
ajuda dos mentores,
foram importantes para a
solução do problema.
(PP. 168 a 177)
141. No princípio,
quando as exortações e
as preces não surtiam
efeito, os guias
espirituais sugeriram:
“Amigos, não desanimeis;
ele se sente forte
porque vos vê
desgostosos com sua
linguagem grosseira.
Abstende-vos de lhe
pregar moral pelo
momento. Conversai com
ele familiarmente e em
tom amigável. Assim
ganhareis a sua
confiança e podereis
mais tarde voltar a
falar sério”. (P. 169)
142. Num dos diálogos
mantidos com o obsessor,
este falou-lhes de sua
vida vagabunda na última
existência terrena. Fez
então parte de um bando
de arruaceiros que,
depois da morte, foi
reconstituir-se no mundo
dos Espíritos. “Longe de
evitar as ocasiões de
fazer o mal, nós o
buscávamos”, contou o
infeliz, que, tocado
mais tarde pelo
tratamento ali recebido,
pediu ao grupo espírita
que orasse também por
seus comparsas. (P. 174)
143. Findo o processo
obsessivo, o guia que se
intitulava Pequena
Cárita explicou por que,
mesmo finda a obsessão,
a vítima ainda necessita
de certo tempo para
refazer-se. É que,
quando o obsessor a
abandona, sua vontade
não age mais sobre o
corpo, mas a impressão
que recebeu o
perispírito pelo fluido
estranho, de que foi
carregado, não se apaga
de repente e continua
por algum tempo a
influenciar o organismo.
No caso da jovem:
tristezas, lágrimas,
langores, insônias,
distúrbios vagos ainda
se produziriam em
consequência de sua
libertação, mas sem
nenhum perigo. “Agora -
disse o guia - é preciso
agir sobre o próprio
Espírito da menina, por
uma suave e salutar
influência
moralizadora.” (PP. 174
e 175)
144. Kardec conclui a
notícia, registrando seu
tributo de elogio aos
irmãos de Marmande pelo
tato, pela prudência e
pelo devotamento
esclarecido de que deram
prova naquela
circunstância. E
advertiu que o resultado
não teria sido o mesmo
se o orgulho tivesse
manchado sua boa ação.
“Deus retira seus dons a
quem quer que não os use
com humildade; sob o
domínio do orgulho, as
mais eminentes
faculdades mediúnicas se
pervertem, se alteram e
se extinguem, porque os
bons Espíritos retiram o
seu concurso”, assevera
o Codificador. (P. 177)
145. A
Revue publica
duas matérias de origem
católica contrárias ao
Espiritismo. A primeira,
do Bispo de Langres, que
escreveu que jamais se
viu uma conspiração mais
odiosa, mais vasta, mais
perigosa e mais
satanicamente organizada
contra a fé católica,
nomeando em seguida os
membros dessa
conspiração: as
sociedades secretas, os
protestantes, os
filósofos racionalistas,
os materialistas e as
sociedades espíritas. A
segunda era parte de um
trabalho redigido por um
aluno do catecismo da
diocese de Langres, no
qual é dito textualmente
que o Espiritismo é obra
do diabo e entregar-se a
ele é pôr-se em contato
direto com o demônio.
Eivado de preconceitos e
de deturpação de textos
de Kardec, o trabalho dá
bem uma mostra do que os
alunos daquela diocese
recebiam dos seus
instrutores. (PP. 178 a
183)
146. Comentando a
segunda matéria, Kardec
adverte: “Um instrutor
de catecismo deveria
colher seus dados
históricos em fonte
outra que as barrigas
dos jornais. As crianças
a quem contam seriamente
essas coisas as aceitam
com confiança; mas,
quanto maior a
confiança, mais forte a
reação contrária quando,
mais tarde, vierem a
saber a verdade”. (P.
183)
147. Para instruir a
infância - afirma o
Codificador - é
necessário grande tato e
muita experiência,
porque ninguém imagina o
alcance que poderá ter
uma só palavra
imprudente que, como um
grão de erva daninha,
germina nessas jovens
imaginações. (P. 184)
148. Mostrando com
clareza que os ataques
contra o Espiritismo não
o preocupavam em nada,
Kardec conclui seus
comentários dizendo: “Os
sermões atuam sobre a
geração que se vai; as
instruções predispõem a
geração que chega.
Erraríamos se as
víssemos com desagrado”.
(P. 184)
149. Enviada de Viviers
e datada de 10 de abril
de 1741, uma carta
firmada pelo abade de
Saint-Ponc e transcrita
pela Revue
relata, em todas as suas
minúcias, fenômenos que
se passaram naquela
época na cela de Irmã
Maria e que foram
testemunhados pelo padre
Chambon, cura de
Saint-Laurent. Além de
ruídos estranhos,
quadros batiam nas
paredes, uma pia d’água
benta movia-se e uma
cadeira de madeira era
derrubada, sem contato
humano. Desconfiado de
que Irmã Maria, embora
paralítica e presa ao
leito, fosse a causa dos
fenômenos, padre Chambon
ouviu dela própria, em
confidência, que eles
eram produzidos por uma
alma sofredora cujo nome
indicou, que vinha com a
permissão de Deus para
que aliviassem suas
penas. (PP. 184 a 186)
(Continua no próximo
número.)