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Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 3 - N° 125 - 20 de Setembro de 2009

ORSON PETER CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo (Brasil)

 

Entrevista: Valci Silva

As drogas e sua nociva influência, na visão de um psicólogo espírita

A temática das drogas e suas implicações, apesar de sua importância, é ainda timidamente abordada pelo
movimento espírita

  

Valci Silva (foto), psicólogo, especialista em psicologia clínica e em dependência química, é coordenador do Programa de Atenção ao Dependente Químico do Ambulatório de Saúde Mental em Tupã (SP), cidade onde nasceu e reside. Espírita desde 1982, ocupa a vice-presidência do Centro Espírita Irmã Isabel e coordena a Mocidade da União Espírita Allan Kardec, acumulando também o Depto. de Doutrina da USE-Tupã. Palestrante e autor do livro que ensejou a presente entrevista, o confrade é também presidente do Conselho Municipal do Direito da Criança e do Adolescente na mesma cidade.


O Consolador: Seu livro Drogas: Causas, Consequências e Recuperação, editado pela EME, está na 4ª edição e com ótima repercussão no movimento espírita. Como surgiu o interesse por essa abordagem tão detalhada?

No ano de 2004, a USE estadual solicitou às intermunicipais que se programasse um curso sobre dependência química, voltado para a orientação da família espírita. Elaboramos um curso de 32 horas e com a participação não somente da família espírita, mas das escolas públicas e particulares, do COMAD (Conselho Municipal Antidrogas) de Rancharia, cidade vizinha, e alunos da UNESP-Tupã, além de outros interessados. Foram, ao todo, 150 assíduos participantes no curso, que forneceu certificado de conclusão.

O Consolador: Realmente há carência de debates sobre essa temática internamente no movimento espírita. A que se deve essa distância do movimento espírita quanto à questão, embora haja algumas instituições especializadas? 

De fato, isso ocorre no movimento espírita. Tenho me sentido muito gratificado em estar rompendo essa inércia do movimento, levando para dentro das instituições a conversa franca e aberta sobre as drogas. Creio que o movimento espírita carece de pessoas preparadas e instruídas para discutir o assunto. Felizmente tenho sentido enorme receptividade no movimento, pois estamos preenchendo um vácuo. Por outro lado, a impressão que temos é que os espíritas não se veem sujeitos à injunção das drogas, o que é um grande engano, pois ainda somos seres humanos sujeitos a falir em nossa jornada evolutiva. Por isso avalio como muito importante romper dentro do movimento a inércia existente.

O Consolador: No exercício de sua profissão, muitos são os casos que aparecem no consultório? Como lidar com eles?

Infelizmente é crescente o número de usuários e dependentes de drogas em geral. O uso de drogas se inicia dentro do próprio lar, quando os pais usam medicações para qualquer situação em que não seria necessário o recurso químico. Muitos pais, ao chegarem em casa, adotam atitudes do tipo "preciso tomar uma cerveja para relaxar" ou "preciso tomar um calmante para dormir". Levando-se em conta que educação se faz por convivência, rapidamente a criança assimila o conceito de que pode resolver suas necessidades através destas substâncias. Os pais perdem a oportunidade de lhe ensinar  a viver de modo mais ajustado e natural, com enfrentamento das dificuldades através das habilidades natas ou sociais de cada um. Em razão dessa ordem de coisas, além da forte influência do meio em que convivemos, as drogas se tornaram muito "populares" e de fácil acesso. Isso explica o enorme contingente de usuários na ordem mundial, que hoje está no patamar de 26 milhões de pessoas, o que equivale a 0,6% da população do planeta. Dos atuais 6,5 bilhões de habitantes, 208 milhões de pessoas já experimentaram algum tipo de droga... Eles estão buscando o quê? Faltam-lhes objetivo e meta existencial, por isso procuram em qualquer lugar ou coisa. Ensina Shakespeare que “quando não se sabe onde quer chegar, qualquer lugar serve". Em razão de tudo isso temos atendido muitas pessoas envolvidas com drogas, principalmente no serviço público, em que atuamos há mais de 25 anos com dependentes químicos. Lidar com eles não é tarefa fácil. É preciso muita paciência, dedicação, conhecimento e, acima de tudo, firmeza no encaminhamento das suas necessidades e dificuldades. Podemos – e assim fazemos – atendê-los em três níveis, sendo importante uma avaliação médico-clínica e muitas vezes psiquiátrica, muitas vezes com consequente uso de medicação, terapia psicológica e, em alguns casos, internação hospitalar.

O Consolador: No Centro Espírita também há atendimentos envolvendo a dependência química? Como a instituição tem tratado a questão?

Quanto aos centros espíritas, é preciso que haja pessoas habilitadas para tratar da questão. Esse foi um dos propósitos do curso que ministramos no ano de 2004. Como dissemos, existe um vácuo no movimento espírita, e consequentemente nos centros espíritas, de pessoas preparadas para o mister. Conheço uma ou outra casa que consegue realizar um trabalho pertinente. Já participei de um grupo de desobsessão que atendia muito a Espíritos que desencarnaram pela via das drogas. Era um grupo de médiuns que conheciam e estudaram a problemática das drogas. Além do que era preciso uma preparação fisico-orgânica, moral e espiritual ajustadas, pois, segundo estes médiuns, as vibrações desses Espíritos são muitas vezes insuportáveis na mente e no organismo do médium. Em razão de dificuldades gerais o grupo não conseguiu seguir adiante. Os centros carecem de uma direção nesse tipo de atendimento aos usuários e seus familiares.

O Consolador: Em seu livro, simplesmente analisando o índice dos assuntos, já se nota a profundidade da abordagem. Numa síntese, como você aborda os prejuízos das drogas na família e na sociedade?

Os prejuízos vão desde a questão da saúde do usuário, bem como em muitos casos a sua marginalização. Além do que a família, a mais prejudicada, vivencia realidades nunca imagináveis, como ver o seu dependente roubar, agredir física e moralmente e submetê-la a uma condição de subjugação e humilhação, consequentemente fazendo com que todos os seus membros adoeçam as relações afetivo-familiares.

O Consolador: E os prejuízos individuais, espiritualmente considerando?

O indivíduo, ao se comprometer com a dependência às drogas, desorienta sua caminhada evolutiva. Modifica muitas vezes um "destino" de glórias e conquistas em todos os terrenos da vida humana, além de comprometer sua futura estada no mundo espiritual, pois fatalmente irá habitar espaços cavernosos nesse mundo, quando do seu desencarne. Compromete não somente o presente, mas também o futuro, pois compromete severamente o perispírito, moldando-o às pré-disposições físicas/orgânicas da futura encarnação. Apresentamos no livro alguns textos de André Luiz sobre as consequências do desregramento do homem quanto às drogas e suas implicações físicas e mentais depois da desencarnação, além das implicações obsessivas que as drogas podem provocar levando a criatura a atos de crueldade, ao suicídio e a malefícios de toda ordem. E há, ainda, o agravante do vampirismo provocado por Espíritos desencarnados, que ainda necessitam das drogas, levando o viciado encarnado ao excesso do uso e muitos à overdose da morte.

O Consolador: De que maneira a Doutrina Espírita pode contribuir para a redução do difícil quadro de dependência química?

Todo aquele que adotar para si os princípios espíritas receberá um roteiro de luz capaz de guiá-lo com segurança. A doutrina espírita oferece-nos a compreensão dos porquês da nossa existência, situando a caminhada humana em uma trajetória de instrução e esclarecimento capazes de nos guiar nos caminhos tão árduos do mundo atual.  Eu sugiro no livro algumas ações tais como:

  • Discutir com os jovens (nas mocidades, pré-mocidades, infância etc.) os problemas que envolvem a vida do Espírito encarnado, através de temas que tocam os jovens de perto – sexualidade, namoro, gravidez, AIDS, drogas. 

  • Procurar integrar os usuários de drogas nas atividades da casa, em vez de os discriminar e rejeitar.

  •  Encaminhá-los para a assistência espiritual.

  • Dar um incentivo cada vez mais constante às atividades de evangelização da infância e da juventude, principalmente com sua implantação, caso a instituição ainda não as tenha implantado.

  •  Estimular seus frequentadores, em particular a família do dependente em tratamento, à prática do Evangelho no lar.

O Consolador: Quais as repercussões que a publicação de seu livro teve? Você tem feito palestras e viajado para abordar o assunto?

Em razão de um vazio no meio espírita, o livro tem sido aceito muito bem. No ano passado, quando ainda estávamos na terceira edição, foi o livro mais vendido pela editora EME no mês de novembro. Isso demonstra o espaço que o livro, pouco a pouco, vem ocupando, no meio espírita principalmente. Em razão desta aceitação, nós temos tido a oportunidade de estar indo a muitos lugares no Estado de São Paulo e já estivemos em duas cidades do Paraná. Recentemente estivemos em Monte Alto, que fica na região de Ribeirão Preto, numa jornada de dois dias, discutindo a temática das drogas no meio espírita local, além de visitarmos a instituição Horto de Deus naquela cidade, para uma grande roda de conversa. Na oportunidade ouvimos os relatos dos internos e pudemos contribuir com o nosso conhecimento para uma conversa franca e orientadora de suas dificuldades, bem como da instituição.

O Consolador: Considerando a influência dos Espíritos no fenômeno da obsessão, como fica a questão?

Reportamo-nos à questão 459 de O Livro dos Espíritos, em que Kardec indaga aos Espíritos: “Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?” e obtém como resposta: “Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem”. Poderemos compreender facilmente, em face desta resposta, a gravidade da presença de Espíritos junto dos encarnados por afinidade do uso de drogas, numa lei de atração inexorável. Consequentemente, sofrerão processos obsessivos cruéis e muitas vezes impossíveis de desfazer, em face da simbiose para o consumo de drogas, de ambas as partes.

O Consolador: O livro tem tido repercussões fora do movimento espírita?

Sem dúvida. Também fora do movimento espírita muito pouco se encontra tão didaticamente editado e, consequentemente, onde o livro tem chegado tenho recebido das pessoas um retorno satisfatório ao nível de compreensão do seu conteúdo. Tivemos o cuidado de escrever o livro para ser lido tanto por leigos quanto por especialistas. De nada adiantaria uma obra somente técnica. Seria enfadonho. No momento temos ideias para um novo livro, na área de saúde mental, porém ainda muito incipiente. Mas estamos trabalhando no assunto.

O Consolador: Há algo mais que gostaria de acrescentar?

Agradeço muito a oportunidade desta divulgação, pois entendo que a propaganda é "a alma do negócio", e leia-se negócio como oportunidade de difundir o livro de modo pertinente e constante, por todos os meios disponíveis. O propósito é de que seu conteúdo possa auxiliar pessoas que se deparem com as drogas.

O Consolador: Suas palavras finais.

Parabenizo o esforço da equipe por manter o periódico eletrônico, em face de tantas publicações fúteis que encontramos na rede mundial. Esforços como este devem ser elogiados com o objetivo de estimular e apoiar iniciativas que possam colaborar com o bem comum. Estão de parabéns. Grande abraço a todos.
 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita