ANGÉLICA
REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
A Evolução Anímica
Gabriel
Delanne
(Parte
6)
Damos continuidade nesta edição
ao
estudo do clássico A
Evolução Anímica,
que será aqui estudado
em 17 partes.
A fonte do estudo é a
8ª edição do livro,
baseada em tradução de
Manoel Quintão publicada pela Federação
Espírita Brasileira.
Questões preliminares
A. Os animais também
conseguem comunicar-se
entre si?
Evidentemente. Se a
linguagem articulada é
apanágio do homem,
sabe-se que os animais
da mesma espécie podem
comunicar-se entre si.
Darwin notou que nos
cães domésticos temos o
ladrido da impaciência,
o da cólera, o grunhido
ou uivo desesperado do
prisioneiro, o da
alegria quando vai a
passeio, e finalmente o
da súplica. É
incontestável que
animais como os
elefantes, as formigas,
os castores, os cavalos,
se compreendem. Algumas
vezes se veem as
andorinhas deliberar
antes de tomar um
roteiro. As faculdades
intelectuais também
aumentam com exercícios
reiterados, sobretudo
nas espécies que mantêm
contacto com o homem.
(A Evolução Anímica, pp.
68 e 69.)
B. Os diversos graus das
manifestações do
princípio pensante são
correlativos ao
desenvolvimento orgânico
das formas?
Sim. Os povos primitivos
são vestígios que
demonstram as fases do
processo transformista,
mas esses seres, que nos
parecem tão degradados,
são, ainda assim,
superiores ao nosso
ancestral da época
quaternária, o que nos
permite compreender que
não existe diferença
essencial entre a alma
animal e a nossa e que
os diversos graus
observados nas
manifestações
inteligentes, à medida
que remontamos à série
dos seres animados, são
correlativos ao
desenvolvimento orgânico
das formas.
(Obra citada, pp. 70 e
71.)
C. Foi o acaso que gerou
as inúmeras espécies
vegetais e animais?
Não. Foram os inúmeros
avatares, em milhares de
organismos diferentes,
que dotaram a alma de
todas as forças que lhe
haveriam de servir mais
tarde. Tiveram eles por
objeto desenvolver o
envoltório fluídico,
dar-lhe a plasticidade
necessária e fixar nele
as leis cada vez mais
complexas que regem as
formas vivas. A
inteligência, que tanto
lutou para desprender-se
de suas formas
inferiores, guarda em si
as impressões do
instinto e vê
diminuir-se pouco a
pouco o egoísmo, pois
que no reino animal a
maternidade já havia
implantado na alma o
sentimento do amor.
(Obra citada, pp. 75 a
77.)
Texto para leitura
56. Casos de imitação
inteligente – como o ato
de abrir fechaduras, de
tocar uma campainha, de
abrir portas – são
também mencionados pelo
Autor, envolvendo
chimpanzés, cabras,
gatos, cães e macacos. A
faculdade de abstrair,
ou seja, de tomar
conhecimento dos objetos
e determinar-lhes as
qualidades sensíveis,
como a cor, a dureza, a
espécie, tem sido
verificada também por
diversos cientistas,
como o naturalista
Fisher que, por meio de
engenhosas experiências,
observou que os macacos
mais inteligentes
possuem a noção do
número e sabem avaliar o
peso dos objetos. Não é
novidade, diz Delanne,
que a pega (ave da
família dos corvídeos)
pode contar até cinco,
pois quando os caçadores
são em número menor ela
não voa, até que eles se
afastem. (Págs. 67 e
68)
57. Se a linguagem
articulada é apanágio do
homem, sabe-se que os
animais da mesma espécie
podem comunicar-se entre
si. Darwin nota que nos
cães domésticos temos o
ladrido da impaciência,
o da cólera, o grunhido
ou uivo desesperado do
prisioneiro, o da
alegria quando vai a
passeio, e finalmente o
da súplica. É
incontestável que
animais como os
elefantes, as formigas,
os castores, os cavalos,
se compreendem. Algumas
vezes se veem as
andorinhas deliberar
antes de tomar um
roteiro. As faculdades
intelectuais também
aumentam com exercícios
reiterados, sobretudo
nas espécies que mantêm
contacto com o homem.
(Págs. 68 e 69)
58. Se fizermos um
confronto da suspensão
do desenvolvimento da
inteligência humana e o
que ocorre com os
animais, ver-se-á que a
diferença não é
substancial. Quando a
função do espírito é
tolhida pela conformação
defeituosa do organismo,
a alma só pode
manifestar-se pelas
formas rudimentares da
inteligência. A idiotia
é uma prova disso. Os
idiotas completos são
reduzidos ao
automatismo: inertes,
despidos de
sensibilidade,
falta-lhes até o
instinto animal. Os
idiotas de segundo grau
têm instintos, mas a
faculdade de comparar,
julgar, raciocinar é
neles mais ou menos
nula. Os imbecis são os
que possuem instintos e
determinações
raciocinadas, mas não
podem elevar-se a noções
quaisquer de ordem geral
ou superior, ficando
mais ou menos nivelados
aos animais. (Págs.
69 e 70)
59. Se tivermos bem de
vista os fatos
retrocitados, a respeito
dos selvagens,
compreenderemos melhor a
marcha ascendente do
princípio pensante, a
partir das mais
rudimentares formas da
animalidade, até atingir
o máximo do seu
desenvolvimento no
homem. Os povos
primitivos são vestígios
que demonstram as fases
do processo
transformista, mas tais
seres que nos parecem
tão degradados são,
ainda assim, superiores
ao nosso ancestral da
época quaternária, o que
nos permite compreender
que não existe diferença
essencial entre a alma
animal e a nossa. Os
diversos graus
observados nas
manifestações
inteligentes, à medida
que remontamos à série
dos seres animados, são
correlativos ao
desenvolvimento orgânico
das formas. (Págs. 70
e 71)
60. Buffon adverte-nos
que as aves representam
tudo quanto se passa num
lar honesto. Observam a
castidade conjugal,
cuidam dos filhos e o
casal mostra-se valoroso
até ao sacrifício em se
tratando de defender a
prole. Não há quem
ignore o zelo da galinha
na defesa dos
pintainhos. O tigre, o
lobo, o gato selvagem,
embora ferozes, têm por
suas crias o mais terno
afeto. Darwin, Brahm e
Leuret citam a respeito
exemplos curiosos. E
Leuret afirma que um
macaco, cuja fêmea
morrera, cuidava
solícito do filhote
esquálido e enfermo. À
noite, ele o tomava ao
colo para adormecê-lo e,
durante o dia, não o
perdia de vista um
instante. (Pág. 71)
61. Os casos seguintes
atestam que o amor do
próximo é sentimento
comum aos animais: I –
Uma bugia (cinocéfalo,
gênero de macacos de
cabeça semelhante à do
cão), notável por sua
bondade, chegava a
furtar e adotar
cachorros e gatos
pequenos, que lhe faziam
companhia. Certa vez, um
gatinho adotado
arranhou-a. Ela,
admirada com o fato,
examinou-lhe as patas e,
de imediato, com os
dentes, aparou-lhe as
garras. II – O sr. Ball
relatou na Revue
Scientifique o
caso de um cão de fila
salvo em um lago
congelado por um
terra-nova que, notando
o seu desespero, decidiu
ajudá-lo. III – Segundo
Darwin, havia em Utah um
velho pelicano
completamente cego e
aliás muito gordo, que
devia o seu bem-estar ao
tratamento e assistência
dos companheiros. IV – O
sr. Blyth afiançou ao
notável naturalista ter
visto corvos indígenas
alimentando dois ou três
companheiros cegos. V –
O sr. Burton refere o
caso curioso de um
papagaio que tomara a
seu cargo uma ave de
outra espécie, raquítica
e estropiada, e a
defendia de outros
papagaios soltos no
jardim. VI – Revela o
sr. Gratiolet o caso de
um cavalo do antigo
regimento de
Beauvilliers, o qual,
devido à idade, não mais
podia mastigar o feno e
a aveia. Dois outros
animais passaram, então,
a cuidar dele, retirando
o feno da manjedoura e
pondo-o à sua frente,
depois de mastigado,
procedimento que
repetiam com a aveia,
depois de bem triturada.
(Págs. 71 a 73)
62. O sentimento do
belo, que muitos
imaginam seja apanágio
da espécie humana, é
cultivado igualmente
pelos animais. Existem
aves femininas que são
atraídas pela beleza da
plumagem dos machos,
tanto quanto por seu
canto melodioso. Romanes
viu certa vez um galgo
(cão muito utilizado na
caça às lebres)
acompanhar certa canção
com latidos brandos. O
cão do professor
Delboeuf acompanhava
regularmente com a voz
um contralto na ária de
A Favorita. O
asseio é modalidade da
estética e podemos
assinalá-lo nas aves que
limpam o ninho, nos
gatos que fazem a sua
toalete com minúcias
e, principalmente, nos
macacos. Refere Cuvier o
curioso espetáculo das
macacas que conduzem as
crias ao banho, as
enxugam e secam,
dispensando-lhes tempo e
cuidados que muitas
crianças invejariam.
(Pág. 73)
63. As aves jardineiras
da Nova Guiné, pássaros
da família das
paradíseas, não se
contentam com um simples
ninho, pois constroem,
fora da moradia
ordinária, verdadeiras
casas de recreio, que se
tornam atestados de bom
gosto. Há cabanas que
atingem dimensões
consideráveis. Há uma
espécie que constrói sua
casinha colorida de
frutos e conchinhas e
outras, como a
Amblyornis inornata,
que cercam suas casas de
um jardinzinho
artificial, feito com
musgo disposto em
tabuleiros e decorado
com flores
constantemente
renovadas, bem como
frutos de matizes
fortes, seixos e conchas
brilhantes. (Págs. 73
e 74)
64. Os sentimentos
morais, como o remorso,
o senso moral, a ideia
do justo e do injusto,
encontram-se, pois, em
gérmen em todos os
animais, demonstrando
assim que não existe
entre a alma do homem e
a do animal mais que uma
diferença de graus,
tanto do ponto de vista
moral, como do
intelectual. O agente
imortal que anima os
seres é sempre uno e
único. Manifestando-se
de início sob as mais
rudimentares formas, vai
aperfeiçoando-se pouco a
pouco, ao mesmo passo
que se eleva na escala
dos seres. Nessa longa
evolução, desenvolve as
faculdades latentes e as
manifesta de modo mais
ou menos idêntico ao
nosso, à medida que se
aproxima da Humanidade.
(Pág. 74)
65. Assevera o grande
naturalista Agassiz: “A
gradação das faculdades
morais, nos tipos
superiores e no homem, é
tão imperceptível que,
para negar aos animais
uma certa dose de
responsabilidade e
consciência, é preciso
exagerar, em demasia, a
diferença entre uns e
outro”. Com efeito, se o
princípio inteligente
que anima os seres
inferiores fosse
condenado a permanecer
eternamente nessa
condição, Deus não seria
justo, porque estaria
favorecendo o homem em
detrimento das outras
criaturas. (Pág. 75)
66. Os inúmeros
avatares, em milhares de
organismos diferentes,
devem dotar a alma de
todas as forças que lhe
hajam de servir mais
tarde. Têm eles por
objeto desenvolver o
envoltório fluídico,
dar-lhe a plasticidade
necessária e fixar nele
as leis cada vez mais
complexas que regem as
formas vivas. Não foi o
acaso que gerou as
inumeráveis espécies
animais e vegetais. A
inteligência, que tanto
lutou para desprender-se
de suas formas
inferiores, guarda em
si, ainda entorpecida
pela viagem através das
formas subalternas, as
impressões do instinto e
vê diminuir-se pouco a
pouco o egoísmo, pois
que no reino animal a
maternidade já havia
implantado na alma o
sentimento do amor.
(Págs. 75 a 77)
(Continua no próximo
número.)