MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Entre a Terra e o Céu
André Luiz
(Parte
4)
Continuamos a apresentar
o
estudo da obra
Entre a Terra e o Céu,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1954 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que provações
enfrentava Antonina
naquele momento?
Primeiro, o marido a
abandonara, fato que
ocorrera quatro anos
antes, mas Antonina não
desanimou. Trabalhava
numa fábrica de tecidos,
para sustentar a casa, e
educava os filhos com
acendrado amor ao
Evangelho, sabendo,
assim, resgatar com
valor as dívidas
trazidas do pretérito
próximo. Meses antes
perdera o pequeno
Marcos, de oito anos,
atacado de fulminante
pneumonia. Viviam com
ela três lindas
crianças, dois
rapazinhos entre onze e
doze anos e uma loura
pequerrucha, a caçula da
família.
(Entre a Terra e o Céu,
cap. VI, pp. 35 a 37.)
B. Como era o culto do
Evangelho na casa de
Antonina?
Os participantes eram a
mãe e as três crianças.
No dia em que André Luiz
se encontrava presente,
Lisbela, a caçula, fez a
prece de abertura,
recitando as lindas
palavras da oração
dominical, ensinada por
Jesus. Henrique, um dos
filhos, abriu o
Evangelho ao acaso,
restituindo o livro às
mãos da mãe, que leu,
emocionada, os
versículos 21 e 22 do
capítulo 18 das
anotações do apóstolo
Mateus: "Então Pedro,
aproximando-se dele,
disse: – Senhor, até
quantas vezes pecará meu
irmão contra mim e eu
lhe perdoarei? Até sete?
Jesus lhe disse: – Não
te digo que até sete,
mas até setenta vezes
sete". Antonina
calou-se, como quem
aguardava as perguntas
dos jovens aprendizes.
Henrique, iniciando a
conversação, perguntou:
"Mãezinha, por que Jesus
recomendava um perdão,
assim tão grande?"
Demonstrando vasto
treinamento evangélico,
a senhora respondeu, e
assim transcorreu o
culto, na forma de uma
conversação de que todos
participaram. Ao final,
depois da prece de
encerramento, beberam a
água magnetizada por
André e Hilário.
(Obra citada, cap. VI,
pp. 37 a 41.)
C. Além da família, quem
mais estava presente na
casa de Antonina?
Encontrava-se ali um
ancião desencarnado que
se apresentava abatido
e trêmulo e parecia
inquieto e dementado.
Era alguém que sentia
imenso remorso por haver
matado seu amigo
Esteves, por ocasião da
guerra entre Brasil e
Paraguai. Soube-se mais
tarde que ele era avô de
Antonina e ali estava
para rogar ajuda à neta
querida.
(Obra citada, cap. VII,
pp. 42 a 44.)
Texto
para leitura
13. No lar de
Antonina -
Clarêncio explicou a
André que, para entender
melhor o drama que se
desenrolava no lar de
Amaro, seria conveniente
contactar com outras
personagens ligadas ao
caso, sugerindo uma
visita ao pequeno Júlio,
o que foi prontamente
aceito por André e por
Hilário. Na noite
seguinte, Eulália
deveria acompanhar duas
senhoras encarnadas à
visitação dos filhinhos
que as precederam na
grande viagem ao mundo
espiritual e que se
encontravam no mesmo
sítio em que o menino
estava asilado. Na hora
aprazada, o grupo foi em
busca das referidas
irmãs. Clarêncio
substituía Eulália.
Primeiro eles estiveram
numa casa singela de
remota região suburbana,
onde vivia Antonina com
três dos quatro filhos
que o Senhor lhe
confiou. O marido a
havia abandonado quatro
anos antes, para
comprometer-se em
delituosas aventuras,
mas Antonina não
desanimou. Trabalhava
numa fábrica de tecidos,
para sustentar a casa, e
educava os filhos com
acendrado amor ao
Evangelho, sabendo,
assim, resgatar com
valor as dívidas
trazidas do pretérito
próximo. Meses antes
perdera o pequeno
Marcos, de oito anos,
atacado de fulminante
pneumonia, e era com ele
que se encontraria,
depois da prece feita
com os demais. André e
Hilário ali ficaram,
para auxiliarem nas
orações e nos estudos de
Antonina, enquanto o
Ministro seguiu em busca
da outra mãe. Numa sala
desataviada e estreita,
uma senhora ainda jovem,
mas extremamente
abatida, achava-se de
pé, junto de três lindas
crianças, dois
rapazinhos entre onze e
doze anos e uma loura
pequerrucha, a caçula da
família, que pousava na
mãe seus belos olhos
azuis. Num recanto do
humilde compartimento,
triste velhinho
desencarnado parecia
estar à escuta. Antonina
colocou sobre a toalha
muito alva dois copos
com água pura, tomou um
exemplar do Novo
Testamento e sentou-se.
Iniciava-se então o
culto do Evangelho no
lar. (Cap. VI, págs. 35
a 37)
14. Porque Jesus
ensinou-nos o perdão
- Lisbela, a caçula da
casa, fez a prece de
abertura, recitando as
lindas palavras da
oração dominical,
ensinada por Jesus.
Henrique, um dos filhos,
abriu o Evangelho, ao
acaso, restituindo o
livro às mãos da mãe,
que leu, emocionada, os
versículos 21 e 22 do
capítulo 18 das
anotações do apóstolo
Mateus: "Então Pedro,
aproximando-se dele,
disse: – Senhor, até
quantas vezes pecará meu
irmão contra mim e eu
lhe perdoarei? Até sete?
Jesus lhe disse: – Não
te digo que até sete,
mas até setenta vezes
sete". Antonina
calou-se, como quem
aguardava as perguntas
dos jovens aprendizes.
Henrique, iniciando a
conversação, perguntou:
"Mãezinha, por que Jesus
recomendava um perdão,
assim tão grande?"
Demonstrando vasto
treinamento evangélico,
a senhora replicou:
"Somos levados a crer,
meus filhos, que o
Divino Mestre, em nos
ensinando a desculpar
todas as faltas do
próximo, inclinava-nos
ao melhor processo de
viver em paz. Quem não
sabe desvencilhar-se dos
dissabores da vida, não
pode separar-se do mal.
Uma pessoa que esteja
parada em lembranças
desagradáveis caminha
sempre com a irritação
permanente. Imaginemos
vocês na escola. Se não
conseguirem esquecer os
pequeninos
aborrecimentos nos
estudos, não poderão
aproveitar as lições.
Hoje é um colega menos
amigo a preparar
lamentável brincadeira,
amanhã é uma incorreção
do guarda enfadado em
razão de algum equívoco.
Se vocês imobilizarem o
pensamento na
impaciência ou na
revolta, poderão fazer
coisa pior, afligindo a
professora,
desmoralizando a escola
e prejudicando o próprio
nome e a saúde. Uma
pessoa que não sabe
desculpar vive comumente
isolada. Ninguém estima
a companhia daqueles que
somente derramam de si
mesmos o vinagre da
queixa ou da censura".
Dito isso, Antonina
fitou o primogênito e
perguntou: "Você,
Haroldo, quando tem sede
preferiria beber a água
escura de um cântaro
recheado de lodo?" O
menino respondeu que
não; ele escolheria água
pura, cristalina... A
mãe então asseverou:
"Assim somos também, em
se tratando de nossas
necessidades
espirituais. A alma que
não perdoa, retendo o
mal consigo,
assemelha-se ao vaso
cheio de lama e fel. Não
é coração que possa
reconfortar o nosso. Não
é alguém capaz de
ajudar-nos a vencer nas
dificuldades da vida. Se
apresentamos nossa mágoa
a um companheiro dessa
espécie, quase sempre
nossa mágoa fica maior.
Por isso mesmo, Jesus
aconselhava-nos a
perdoar infinitamente,
para que o amor, em
nosso espírito, seja
como o Sol brilhando em
casa limpa". (Cap. VI,
págs. 37 a 39)
15. Honrarás teu
pai e tua mãe -
Após breve intervalo, o
jovem Haroldo indagou:
"Mas a senhora crê,
mãezinha, que devemos
perdoar sempre?"
Antonina disse-lhe que
sim. "Ainda mesmo quando
a ofensa seja a pior de
todas?", insistiu o
menino. "Ainda assim",
respondeu a genitora,
que quis saber por que o
filho tratava de tal
assunto com tamanha
preocupação. "Refiro-me
ao papai – disse o
menino, algo triste –,
papai abandonou-nos
quando mais precisávamos
dele. Seria justo
esquecer o mal que nos
fez?" Antonina,
revelando a nobreza de
sua alma,
respondeu-lhe: "Oh! meu
filho! não te detenhas
nesse problema. Porque
alimentar rancor contra
o homem que te deu a
vida? como condená-lo se
não sabemos tudo o que
lhe aconteceu? Seria
realmente melhor para o
nosso bem-estar se ele
estivesse conosco, mas,
se devemos suportar a
ausência dele, que os
nossos melhores
pensamentos o
acompanhem. Teu pai, meu
filho, com a permissão
do Céu, deu-te o corpo
em que aprendes a servir
a Deus. Por esse motivo,
é credor de teu maior
carinho. Há serviços
que não podemos pagar
senão com amor. Nossa
dívida para com os pais
é dessa natureza..." E
ela mencionou que uma
das mais importantes
determinações ouvidas
por Moisés no monte,
quando recebeu os Dez
Mandamentos, foi aquela
em que a Eterna Bondade
nos recomenda: "Honrarás
teu pai e tua mãe". "A
Lei enviada ao mundo –
acrescentou Antonina –
não estabelece que
devamos analisar a
espécie de nossos pais,
mas sim que nos cabe a
obrigação de honrá-los
com o nosso amoroso
respeito, sejam eles
quais forem". Haroldo
mostrou-se conformado,
mas ainda ponderou que
se o pai estivesse junto
deles talvez o Marcos
não tivesse morrido,
porque a família teria o
dinheiro suficiente para
tratá-lo. A genitora
enxugou, apressada, as
lágrimas que lhe caíram,
espontâneas, ante a
evocação do filhinho, e
continuou: "Seria um
erro permitir a queda de
nossa confiança no Pai
Celestial. Marcos partiu
ao encontro de Jesus,
porque Jesus o chamava.
Nada lhe faltou. Rogo a
vocês não darmos curso a
qualquer ideia triste,
em torno da memória do
anjo que nos precedeu.
Nossos pensamentos
acompanham no Além
aqueles que amamos".
Lisbela, aproveitando o
ensejo, perguntou à mãe
se Marcos podia vê-los,
ao que ela esclareceu:
"Sim, minha filha, ele
nos ajuda em espírito,
pedindo a Jesus forças e
bênçãos para nós. Por
nossa vez, devemos
auxiliá-lo com as nossas
preces e com as nossas
melhores recordações".
Em seguida, Henrique fez
a prece dominical e o
trabalho terminou. A
dona da casa repartiu
com os pequenos alguns
cálices da água
cristalina que Hilário e
André haviam magnetizado
e, logo após, pensativa
e saudosa, retirou-se
com os filhos para a
câmara em que se
recolheriam todos
juntos. (Cap. VI, págs.
39 a 41)
16. Paixão e
traição na guerra do
Paraguai - Após
o culto, André e
Hilário permaneceram na
casa de Antonina, onde
aguardariam a volta de
Clarêncio. Foi aí então
que puderam reparar, com
mais atenção, o ancião
desencarnado que se
encontrava na casa. Ele
se apresentava abatido
e trêmulo e parecia
inquieto e dementado.
Densificando o
perispírito, André e
Hilário puderam
tornar-se visíveis ao
velhinho, que lhes
perguntou se eles eram
oficiais ou praças e, em
seguida, referiu-se ao
tema tratado no culto
evangélico, pertinente
ao perdão. Ele não
entendia a necessidade
de se discutir tal
assunto com três
crianças... "Comentários
dessa natureza – afirmou
– devem ser reservados
para pessoas aflitas
como eu, que trazem um
vulcão no centro do
crânio..." Dito isso,
alteraram-se-lhe as
feições e ele pareceu
mais distante da
realidade, passando a
falar frases desconexas,
relacionadas com a época
da guerra entre Brasil e
Paraguai. Mencionou
então ter sido traído
por seu amigo Esteves,
que, aproveitando sua
ausência da cidade, se
insinuara em sua casa
para tomar-lhe a mulher,
Lola Ibarruri. "Durante
um mês longo e terrível,
suspirei pelo retorno
aos carinhos dela",
contou o velhinho.
"Quando tornei ao lar,
naquela estrelada noite
de maio, encontrei-a nos
braços do traidor...
Lola tentou
desculpar-se, mas
surpreendi-os juntos...
Quis vingar-me, de
imediato, espetando-o
com meu punhal, todavia,
as tropas deixariam a
cidade, daí a três dias,
e o meu inimigo, que se
esgueirara na sombra,
ante a minha
aproximação, deu-se
pressa em viajar, a
serviço..." (Cap. VII,
págs. 42 a 44)
(Continua no próximo
número.)