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Estudando as obras de Kardec
Ano 3 - N° 127 – 4 de Outubro de 2009

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A Revue Spirite de 1864

Allan Kardec 

(Parte 16)
 

Damos prosseguimento nesta edição ao estudo da Revue Spirite correspondente ao ano de 1864. O texto condensado do volume citado será aqui apresentado em 26 partes, com base na tradução de Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Questões preliminares

A. Que benefício decorreu da destruição dos aborígines do México por parte dos espanhóis?

A dúvida proposta a Erasto era se não teria sido melhor, para o progresso do planeta, que a velha Europa tivesse ignorado o Novo Mundo. Erasto respondeu dizendo que não, visto que os costumes daqueles povos eram mais doces que virtuosos e que eles viviam despreocupadamente, sem progredir nem se elevar. Faltava-lhes a luta capaz de retemperar suas fontes vitais, o que seria viabilizado com o cruzamento dos aborígines com os europeus. Surgiu então dessa raça cruzada uma nação nova e vivaz que, por um vigoroso impulso, não tardaria a atingir o nível evolutivo dos povos europeus. (Revue Spirite de 1864, pp. 241 e 242.)

B. O progresso pode, então, por vezes, necessitar da destruição?

Sim. Que seria hoje a França – pergunta Kardec – sem a conquista dos romanos? E os bárbaros ter-se-iam civilizado se não tivessem invadido a Gália? “A sabedoria gaulesa e a civilização romana, unidas ao vigor dos povos do Norte, fizeram o povo francês atual.” Após dizer tais palavras, o Codificador escreveu: “Sem dúvida, é penoso pensar que o progresso por vezes precisa da destruição. Mas é preciso destruir as velhas cabanas, substituindo-as por casas novas, mais belas e cômodas”. (Obra citada, pp. 243 e 244.)

C. Qual é o principal mérito de um médium?

Logo após haver felicitado o médium Jean Hillaire – vidente, audiente, falante, extático e escrevente, além de médium de efeitos físicos – por seu devotamento à causa, Kardec disse que o principal mérito de um médium não é a transcendência de suas faculdades, que podem ser retiradas de um momento a outro, mas o bom uso que delas faz. Desse uso depende a continuação da assistência dos bons Espíritos, porque há uma grande diferença entre um médium bem dotado e o que é bem assistido. O primeiro não excita senão a curiosidade; o segundo reage moralmente sobre os outros, em razão de suas qualidades pessoais. (Obra citada, pág. 254.)

Texto para leitura

186. A consulta, considerando a natureza supostamente pacífica dos povos indígenas dizimados pelos espanhóis, indagava que benefício moral teria sido colhido de tanto sangue derramado e se não teria sido melhor que a velha Europa tivesse ignorado o Novo Mundo. Erasto respondeu dizendo que os costumes daqueles povos eram mais doces que virtuosos e que eles viviam despreocupadamente, sem progredir nem se elevar. Faltava-lhes a luta capaz de retemperar suas fontes vitais, o que seria viabilizado com o cruzamento dos aborígines com os europeus. Surgiu então dessa raça cruzada uma nação nova e vivaz que, por um vigoroso impulso, não tardaria a atingir o nível evolutivo dos povos europeus. (PP. 241 e 242)

187. Comentando os esclarecimentos de Erasto, Kardec asseverou: I) Do ponto de vista antropológico, a extinção dos grupos étnicos é um fato positivo. II) Com efeito, os grupos étnicos que se extinguem são sempre grupos étnicos inferiores aos que os sucedem. III) Na extinção dos grupos étnicos geralmente não se leva em conta senão o ser material, que se destrói, enquanto se esquece o ser espiritual, que é indestrutível e apenas muda de vestimenta, visto que a primeira não estava mais em relação com o seu desenvolvimento moral e intelectual. IV) Assim, não se deve perder de vista que a extinção dos grupos étnicos só atinge o corpo e em nada afeta o Espírito. V) Longe de sofrer com isto, ganha o Espírito um instrumento mais aperfeiçoado, provido de cordas cerebrais e respondendo a um maior número de faculdades. (P. 242)

188. Depois de asseverar que a raça branca caucásica é a que ocupa o primeiro lugar na Terra,  embora esteja ainda muito longe da perfeição possível, Kardec diz que o desaparecimento dos grupos étnicos opera-se de duas maneiras: uns extinguem-se naturalmente, em consequência de condições climatéricas e do abastardamento, quando ficam isolados; outros, pelas conquistas e pela dispersão, que determinam cruzamentos. A fusão do sangue traz depois a aliança dos Espíritos, em que os mais avançados ajudam o progresso dos outros, mas são necessários séculos para a educação dos povos, o que se opera apenas pela transformação de seus elementos constitutivos. (P. 243)

189. A França - pergunta Kardec - seria o que é hoje sem a conquista dos romanos? E os bárbaros ter-se-iam civilizado se não tivessem invadido a Gália? “A sabedoria gaulesa e a civilização romana, unidas ao vigor dos povos do Norte, fizeram o povo francês atual.” (P. 243)

190. Concluindo, observa o Codificador: “Sem dúvida, é penoso pensar que o progresso por vezes precisa da destruição. Mas é preciso destruir as velhas cabanas, substituindo-as por casas novas, mais belas e cômodas”. “Aliás, é preciso levar em conta o estado atrasado do globo, onde a Humanidade está apenas no progresso material e intelectual. Quando entrar no rumo do progresso moral e espiritual, as necessidades morais ultrapassarão as necessidades materiais. Os homens serão governados segundo a justiça e não mais terão que reivindicar seu lugar à força. Então a guerra e a destruição não mais terão razão de ser.” (P. 244)

191. A Revue publica carta do confrade E. Edoux, diretor do jornal La Vérité, o qual, contestando as críticas proferidas pelo padre Barricand, deão da Faculdade de Teologia de Lyon, reafirma o conteúdo da reportagem feita a respeito dos cursos de Espiritismo ministrados pelo aludido padre na cidade de Lyon. (PP. 244 e 245)

192. Juliana-Maria, uma pobre enferma que vivia da caridade pública, comunicou-se em Paris, ocasião em que informou que sua vida de miséria fora a consequência de um vão orgulho que a fizera repelir, em existência passada, quem fosse pobre e miserável. Dotada agora de certa elevação, Juliana-Maria transmitiu em sua mensagem, dirigida a um médium que muito a ajudou na existência ora finda, lições valiosas acerca do exercício da mediunidade, que adiante resumimos: I) Tem confiança em Deus; inspira aos teus doentes uma fé sincera, e triunfarás quase sempre. II) Não te ocupes jamais com a recompensa que disso virá: ela ultrapassará a tua expectativa. III) Deus sabe recompensar o mérito de quem se dedica ao alívio de seus semelhantes e exerce suas ações com um completo desinteresse. IV) Fizeste bem em não desprezar os humildes: a voz do que sofreu e suportou com resignação as misérias deste mundo é sempre escutada. (PP. 245 a 247)

193. Disse ainda Juliana-Maria a seu amigo: “Quando pedires a Deus que permita que os bons Espíritos derramem sobre ti seus fluidos benéficos, se o pedido não te fizer sentir um arrepio involuntário, é que tua prece não foi bastante fervorosa para ser escutada”. (P. 246)

194. A Revue noticia o surgimento em Paris de um novo periódico espírita: Avenir - Monitor do Espiritismo, que contava entre seus colaboradores o Sr. d’Ambel, redator-chefe. E, na seção de livros novos, anuncia ainda o lançamento de uma brochura de autoria da sra. J.B., intitulada Cartas sobre o Espiritismo, escritas a padres diversos. A autora, além de médium e membro da Sociedade Espírita de Paris, era uma católica muito esclarecida, o que diz tudo, segundo Kardec. (PP. 250 e 251)

195. Na mesma seção, é divulgado também o lançamento de Os Milagres de Nossos Dias, de autoria do Sr. Aug. Bez, de Bordeaux, sobre o notável médium Jean Hillaire, cujas faculdades lembram, sob muitos aspectos, as do Sr. Home e mesmo as ultrapassam em certos pontos. Ao contrário de Home, que havia penetrado a alta aristocracia, Jean Hillaire era um simples cultivador da Charente-Inférieure, pouco letrado, que vivia do próprio trabalho. Crivado de pedidos e de convites de toda a sorte, Hillaire jamais aceitou as ofertas de dinheiro que recebia de todos os lados. (PP. 251 a 254)

196. Com múltiplas faculdades, Jean Hillaire era vidente, audiente, falante, extático e escrevente, além de médium de efeitos físicos. Obteve a escrita direta e transportes admiráveis, e várias vezes transpôs o espaço sem tocar o solo. Era no estado de sono sonambúlico que se produziam, por seu intermédio, os mais extraordinários fenômenos. (P. 254)

197. Felicitando Jean Hillaire por seu devotamento à causa, Kardec assevera que o principal mérito de um médium não é a transcendência de suas faculdades, que podem ser retiradas de um momento a outro, mas o bom uso que delas faz. Desse uso depende a continuação da assistência dos bons Espíritos, porque há uma grande diferença entre um médium bem dotado e o que é bem assistido. O primeiro não excita senão a curiosidade; o segundo reage moralmente sobre os outros, em razão de suas qualidades pessoais. (P. 254) (Continua no próximo número.)



 


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