186. A
consulta, considerando a
natureza supostamente
pacífica dos povos
indígenas dizimados
pelos espanhóis,
indagava que benefício
moral teria sido colhido
de tanto sangue
derramado e se não teria
sido melhor que a velha
Europa tivesse ignorado
o Novo Mundo. Erasto
respondeu dizendo que os
costumes daqueles povos
eram mais doces que
virtuosos e que eles
viviam
despreocupadamente, sem
progredir nem se elevar.
Faltava-lhes a luta
capaz de retemperar suas
fontes vitais, o que
seria viabilizado com o
cruzamento dos
aborígines com os
europeus. Surgiu então
dessa raça cruzada uma
nação nova e vivaz que,
por um vigoroso impulso,
não tardaria a atingir o
nível evolutivo dos
povos europeus. (PP. 241
e 242)
187. Comentando os
esclarecimentos de
Erasto, Kardec
asseverou: I) Do ponto
de vista antropológico,
a extinção dos grupos
étnicos é um fato
positivo. II) Com
efeito, os grupos
étnicos que se extinguem
são sempre grupos
étnicos inferiores aos
que os sucedem. III) Na
extinção dos grupos
étnicos geralmente não
se leva em conta senão o
ser material, que se
destrói, enquanto se
esquece o ser
espiritual, que é
indestrutível e apenas
muda de vestimenta,
visto que a primeira não
estava mais em relação
com o seu
desenvolvimento moral e
intelectual. IV) Assim,
não se deve perder de
vista que a extinção dos
grupos étnicos só atinge
o corpo e em nada afeta
o Espírito. V) Longe de
sofrer com isto, ganha o
Espírito um instrumento
mais aperfeiçoado,
provido de cordas
cerebrais e respondendo
a um maior número de
faculdades. (P. 242)
188. Depois de asseverar
que a raça branca
caucásica é a que ocupa
o primeiro lugar na
Terra, embora esteja
ainda muito longe da
perfeição possível,
Kardec diz que o
desaparecimento dos
grupos étnicos opera-se
de duas maneiras: uns
extinguem-se
naturalmente, em
consequência de
condições climatéricas e
do abastardamento,
quando ficam isolados;
outros, pelas conquistas
e pela dispersão, que
determinam cruzamentos.
A fusão do sangue traz
depois a aliança dos
Espíritos, em que os
mais avançados ajudam o
progresso dos outros,
mas são necessários
séculos para a educação
dos povos, o que se
opera apenas pela
transformação de seus
elementos constitutivos.
(P. 243)
189. A
França - pergunta Kardec
- seria o que é hoje sem
a conquista dos romanos?
E os bárbaros ter-se-iam
civilizado se não
tivessem invadido a
Gália? “A sabedoria
gaulesa e a civilização
romana, unidas ao vigor
dos povos do Norte,
fizeram o povo francês
atual.” (P. 243)
190. Concluindo, observa
o Codificador: “Sem
dúvida, é penoso pensar
que o progresso por
vezes precisa da
destruição. Mas é
preciso destruir as
velhas cabanas,
substituindo-as por
casas novas, mais belas
e cômodas”. “Aliás, é
preciso levar em conta o
estado atrasado do
globo, onde a Humanidade
está apenas no progresso
material e intelectual.
Quando entrar no rumo do
progresso moral e
espiritual, as
necessidades morais
ultrapassarão as
necessidades materiais.
Os homens serão
governados segundo a
justiça e não mais terão
que reivindicar seu
lugar à força. Então a
guerra e a destruição
não mais terão razão de
ser.” (P. 244)
191. A
Revue publica
carta do confrade E.
Edoux, diretor do jornal
La Vérité, o
qual, contestando as
críticas proferidas pelo
padre Barricand, deão da
Faculdade de Teologia de
Lyon, reafirma o
conteúdo da reportagem
feita a respeito dos
cursos de Espiritismo
ministrados pelo aludido
padre na cidade de Lyon.
(PP. 244 e 245)
192. Juliana-Maria, uma
pobre enferma que vivia
da caridade pública,
comunicou-se em Paris,
ocasião em que informou
que sua vida de miséria
fora a consequência de
um vão orgulho que a
fizera repelir, em
existência passada, quem
fosse pobre e miserável.
Dotada agora de certa
elevação, Juliana-Maria
transmitiu em sua
mensagem, dirigida a um
médium que muito a
ajudou na existência ora
finda, lições valiosas
acerca do exercício da
mediunidade, que adiante
resumimos: I) Tem
confiança em Deus;
inspira aos teus doentes
uma fé sincera, e
triunfarás quase sempre.
II) Não te ocupes jamais
com a recompensa que
disso virá: ela
ultrapassará a tua
expectativa. III) Deus
sabe recompensar o
mérito de quem se dedica
ao alívio de seus
semelhantes e exerce
suas ações com um
completo desinteresse.
IV) Fizeste bem em não
desprezar os humildes: a
voz do que sofreu e
suportou com resignação
as misérias deste mundo
é sempre escutada. (PP.
245 a 247)
193. Disse ainda
Juliana-Maria a seu
amigo: “Quando pedires a
Deus que permita que os
bons Espíritos derramem
sobre ti seus fluidos
benéficos, se o pedido
não te fizer sentir um
arrepio involuntário, é
que tua prece não foi
bastante fervorosa para
ser escutada”. (P. 246)
194. A
Revue noticia o
surgimento em Paris de
um novo periódico
espírita: Avenir -
Monitor do Espiritismo,
que contava entre
seus colaboradores o Sr.
d’Ambel, redator-chefe.
E, na seção de livros
novos, anuncia ainda o
lançamento de uma
brochura de autoria da
sra. J.B., intitulada
Cartas sobre o
Espiritismo,
escritas a padres
diversos. A autora, além
de médium e membro da
Sociedade Espírita de
Paris, era uma católica
muito esclarecida, o que
diz tudo, segundo
Kardec. (PP. 250 e 251)
195. Na mesma seção, é
divulgado também o
lançamento de Os
Milagres de Nossos Dias,
de autoria do Sr.
Aug. Bez, de Bordeaux,
sobre o notável médium
Jean Hillaire, cujas
faculdades lembram, sob
muitos aspectos, as do
Sr. Home e mesmo as
ultrapassam em certos
pontos. Ao contrário de
Home, que havia
penetrado a alta
aristocracia, Jean
Hillaire era um simples
cultivador da
Charente-Inférieure,
pouco letrado, que vivia
do próprio trabalho.
Crivado de pedidos e de
convites de toda a
sorte, Hillaire jamais
aceitou as ofertas de
dinheiro que recebia de
todos os lados. (PP. 251
a 254)
196. Com múltiplas
faculdades, Jean
Hillaire era vidente,
audiente, falante,
extático e escrevente,
além de médium de
efeitos físicos. Obteve
a escrita direta e
transportes admiráveis,
e várias vezes transpôs
o espaço sem tocar o
solo. Era no estado de
sono sonambúlico que se
produziam, por seu
intermédio, os mais
extraordinários
fenômenos. (P. 254)
197. Felicitando Jean
Hillaire por seu
devotamento à causa,
Kardec assevera que o
principal mérito de um
médium não é a
transcendência de suas
faculdades, que podem
ser retiradas de um
momento a outro, mas o
bom uso que delas faz.
Desse uso depende a
continuação da
assistência dos bons
Espíritos, porque há uma
grande diferença entre
um médium bem dotado e o
que é bem assistido. O
primeiro não excita
senão a curiosidade; o
segundo reage moralmente
sobre os outros, em
razão de suas qualidades
pessoais. (P. 254)
(Continua no próximo
número.)