A Revue Spirite
de 1864
Allan Kardec
(Parte
18)
Damos prosseguimento
nesta edição ao estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1864. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 26
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela
EDICEL.
Questões preliminares
A. Os bons Espíritos
vieram até nós com o
objetivo de destruir o
Cristianismo?
Não. Deus enviou os bons
Espíritos para lembrar o
sentido verdadeiro de
sua lei. “Eles não vêm -
adverte o Codificador -
para destruir o
Cristianismo, mas
desligá-lo das falsas
interpretações e dos
abusos que nele
introduziram os homens.”
(Revue Spirite de 1864,
pág. 275.)
B. Nos mundos superiores
ao nosso, os princípios
espíritas constituem
crença geral?
Sim. Segundo uma
comunicação dada em
Múrcia, Espanha, nos
mundos superiores ao
nosso, a crença em Deus,
na imortalidade e na
reencarnação é admitida
por todos os que ali
vivem, e a comunicação
com os Espíritos é, por
isso mesmo, muito fácil.
Ali não existem
barreiras a separar os
povos, nem guerras, pois
todos vivem em paz
praticando entre si a
caridade e a verdadeira
fraternidade.
(Obra citada, pp. 278 e
279.)
C. A ignorância a
respeito da própria
desencarnação pode se
dar com uma espírita
fervorosa?
Claro. Foi o que ocorreu
com a Sra. Gaspard,
amiga da Sra. Delanne e
fervorosa espírita.
Vítima de uma morte
súbita, acreditou por
algum tempo que
continuava a viver. Como
podia agora ver os
Espíritos que lhe eram
caros, julgou ter
desenvolvido a vidência.
A ilusão foi, porém, de
curta duração. No dia
seguinte, completamente
desprendida, a Sra.
Gaspard ditou uma
mensagem dirigida ao
marido e aos amigos,
felicitando-se por haver
conhecido em vida o
Espiritismo.
(Obra citada, pp. 280 e
281.)
Texto para leitura
210. Após escrever essas
palavras, o Codificador
reitera que a
manifestação dos
Espíritos não é apenas
uma crença, mas um fato.
Diante de um fato a
negação não tem valor.
Uma crença só é ridícula
quando falsa; desde que
repouse sobre uma coisa
positiva, não o é mais.
“O ridículo - afirma
Kardec - é para o que se
obstina em negar a
evidência.” (P. 268)
211. O Espiritismo
também diz que aos
Espíritos não é dado
revelar o futuro, e
condena formalmente o
emprego de comunicações
de além-túmulo como meio
de adivinhação. Os
Espíritos vêm para nos
instruir e nos melhorar,
e não para nos ler a
buena-dicha. Dito
isto, acrescenta Kardec:
“É desnaturar
maldosamente o seu
objetivo pretender que
ele faça a necromancia”.
(P. 269)
212. A
nova ordenação do
Monsenhor Pantaleón
culmina, no seu último
parágrafo, por condenar
a leitura e a posse de
“O Livro dos Espíritos”,
ordenando aos seus
diocesanos, sem exceção,
que entreguem a seus
Curas os exemplares que
lhes caírem nas mãos.
(P. 273)
213. Transcrito o
documento inteiro,
Kardec observa, de forma
um tanto jocosa: “Toda a
argumentação do Sr.
bispo de Barcelona assim
se resume: As
manifestações dos
Espíritos são fábulas,
imaginadas pelos
incrédulos para destruir
a religião. Só se deve
crer no que dizemos,
porque somente nós
estamos de posse da
verdade. Não examineis
nada além, receando não
serdes seduzidos”.
(P. 273)
214. Complementando o
assunto, Kardec observa
que é de admirar ver que
a Igreja ainda utiliza
certos costumes próprios
da Idade Média no
combate às ideias
espíritas. E cita como
exemplo esta fórmula
canônica publicada pela
Correspondência
de Madri em junho de
1864: “Maldito seja
Auguste Vincent;
malditas as roupas que o
cobrem, a terra em que
pisa, a cama onde dorme,
a mesa em que come;
malditos sejam o pão e
todos os outros
alimentos de que se
nutre, a fonte onde bebe
e todos os líquidos que
toma. Que a terra se
abra e ele seja
enterrado nesse momento;
que Lúcifer esteja à sua
direita”. É possível -
indaga Kardec - que isso
tenha sido pronunciado
dentro de uma igreja
cristã? Foi um ministro
do Evangelho quem a
pronunciou? Ora, Jesus
jamais usou de
semelhante linguagem e
mandou até que
perdoássemos aos nossos
inimigos e orássemos por
eles. (PP. 274 e 275)
215. À vista de tais
absurdos, não admira que
a incredulidade haja
crescido tanto no mundo.
Se aqueles que estão
encarregados de ensinar
a religião do Cristo
agem dessa forma, não
existe nenhuma surpresa
no fato de haver Deus
enviado os bons
Espíritos para lembrar o
sentido verdadeiro de
sua lei. “Eles não vêm -
adverte o Codificador -
para destruir o
cristianismo, mas
desligá-lo das falsas
interpretações e dos
abusos que nele
introduziram os homens.”
(P. 275)
216. Reportando-se a uma
comunicação obtida em
Barcelona e assinada por
Júlio, o mesmo Espírito
que perseguira a jovem
obsidiada de Marmande,
Kardec rememora aquele
episódio e lembra que,
graças à ação dos
espíritas, a jovem foi
curada e o Espírito
conduzido ao bem. Indaga
então o Codificador: -
Que há nisso de
ridículo e de imundo?
(P. 277)
217. Com a certeza de
que o Monsenhor
Pantaleón, quando
morrer, verá as coisas
de outro modo, Kardec
reproduz a primeira
comunicação dada à
Sociedade Espírita de
Paris pelo bispo que
determinou em 1861 o
chamado auto-de-fé de
Barcelona. (N.R.: A
comunicação já havia
sido publicada pela
Revue em
agosto de 1862.) (P.
278)
218. Em Múrcia, Espanha,
um Espírito protetor
dissertou sobre o estado
das almas encarnadas em
mundos superiores ao
nosso. Eis, em síntese,
o que o Espírito
revelou: I) Em tais
mundos, a crença em
Deus, na imortalidade e
na reencarnação é
admitida por todos os
que ali vivem, e a
comunicação com os
Espíritos é, por isso
mesmo, muito fácil. II)
Menos materiais do que
os que vivem na Terra,
eles não estão sujeitos
a todas as necessidades
que nos pesam. III) Não
existem ali barreiras a
separar os povos, nem
guerras, pois todos
vivem em paz praticando
entre si a caridade e a
verdadeira fraternidade.
IV) Muito mais
adiantados do que os
terrenos, eles estão,
todavia, longe ainda da
perfeição. V) Nossos
maiores sábios ali
seriam os últimos
ignorantes. VI) As
produções da natureza
nada têm ali em comum
com as da Terra. Não é
pelo suor do rosto e
pelo trabalho material
que tiram o alimento: o
solo produz naturalmente
o que lhes é necessário.
VII) A morte é
considerada ali um
benefício: o dia em que
a alma deixa o seu
invólucro é um dia
feliz. (PP. 278 e 279)
219. Amiga da Sra.
Delanne e fervorosa
espírita, nem por isso a
Sra. Gaspard, vítima de
uma morte súbita,
livrou-se da ilusão de
que continuava a viver.
Como podia agora ver os
Espíritos que lhe eram
caros, ela julgou ter
desenvolvido a vidência.
A ilusão foi, porém, de
curta duração. No dia
seguinte, completamente
desprendida, a Sra.
Gaspard ditou uma
mensagem dirigida ao
marido e aos amigos,
felicitando-se por haver
conhecido em vida o
Espiritismo. (PP. 280 e
281)
220. O jornal Pays
publicou uma notícia que
chocou seus leitores:
uma camponesa dos
arredores de Lutter
tinha acabado de dar à
luz uma criança com
todas as aparências de
um macaco. Casada há
doze anos, ela não
tivera até então um só
filho que não fosse
atingido por
enfermidades mais ou
menos horríveis: a filha
mais velha era
completamente corcunda;
o segundo filho,
aleijado; o terceiro,
surdo-mudo e idiota; o
quarto, cego. (PP. 281 e
282)
221. Explicando o fato,
Kardec assevera que duas
forças partilham o
mundo: o espírito e a
matéria, cada um com
leis próprias. As
monstruosidades têm, sem
dúvida, uma causa
fisiológica, que
pertence ao campo da
ciência material. Mas
sua causa primária e a
conciliação do fato com
a justiça divina fogem à
competência dessa
ciência e, para a
religião, constituem um
mistério
impenetrável. (PP. 282 e
283)
(Continua no próximo
número.)