ANGÉLICA
REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
A Evolução Anímica
Gabriel
Delanne
(Parte
9)
Damos continuidade nesta edição
ao
estudo do clássico A
Evolução Anímica,
que será aqui estudado
em 17 partes.
A fonte do estudo é a
8ª edição do livro,
baseada em tradução de
Manoel Quintão publicada pela Federação
Espírita Brasileira.
Questões preliminares
A. Como se efetua a
ligação do perispírito
com o corpo físico?
O perispírito se liga a
todas as moléculas do
corpo, mas é por meio do
fluido vital, impregnado
no gérmen, que a
encarnação pode
realizar-se, pois o
Espírito só pode atuar
sobre a matéria por
intermédio da força
vital.
(A Evolução Anímica,
pp. 103 a 112.)
B. Qual o meio que
conduz o indivíduo ao
progresso?
É a luta pela vida, por
mais impiedosa, que
obriga a alma infantil a
manifestar suas
faculdades latentes,
assim como o sofrimento
é indispensável ao
progresso espiritual.
Saímos todos do limbo da
bestialidade. Longe de
sermos criaturas
angélicas que decaíram;
longe de havermos
habitado um paraíso
imaginário, foi com
imensa dificuldade que
conquistamos o exercício
de nossas faculdades. Só
o esforço individual
pode conduzir ao
progresso geral, e a
mesma potência que nos
trouxe ao estado animal
abrir-nos-á as infinitas
perspectivas da vida
espiritual, a
desdobrar-se na
ilimitada extensão do
Cosmo.
(Obra citada, pp. 112
a 122.)
C. Que fato demonstrou
que a alma não é uma
função do cérebro, como
argumenta a doutrina
materialista?
A manifestação do
Espírito após a morte,
que provou de modo cabal
que pode haver
pensamento sem o
cérebro. O perispírito é
o molde do corpo.
Estudar as modificações
do sistema nervoso
equivale, pois, a
estudar o funcionamento
do perispírito, do qual
o sistema nervoso mais
não é que uma reprodução
material.
(Obra citada, pág.
124.)
Texto para leitura
89. Os fluidos são, como
sabemos, constituídos
por estados de matéria
eterizada. A rapidez do
seu movimento molecular
é proporcional ao grau
de rarefação das
moléculas. Quanto mais
densos, opacos,
viscosos, maior
resistência oporão a
toda e qualquer
modificação. É
necessário, pois, que a
alma chegue a mudar a
direção dos movimentos
do seu invólucro e a
regularizar-lhe a
atividade, para que
possa manifestar-se
exteriormente. Supondo
que em cada experiência
o vapor não se aclara
senão em quantidades
diminutíssimas, ter-se-á
uma ideia aproximada do
que ocorre com a alma e
com o seu invólucro,
enquanto percorre a
série animal. (Págs.
101 e 102)
90. Dito isso, Delanne
desenvolve um longo
estudo baseado na obra
“Psychologie générale”,
de Charles Richet, de
1887, procurando
explicar como se
formaram os órgãos dos
sentidos e o papel do
perispírito nesse
processo. Eis de forma
resumida algumas das
proposições formuladas
pelo Autor: I – A vida
de relação dos seres
animados compreende dois
termos: ação do mundo
exterior sobre o animal,
traduzindo
sensibilidade, e
ação do animal sobre o
mundo exterior,
traduzindo movimento.
II – A faculdade de
corresponder por
movimentos a uma força
externa é peculiar a
todos os seres viventes
e se chama
irritabilidade. III
– Em toda a natureza, a
força jamais se destrói.
Ela não se perde, não se
cria e, talvez, se
transforme, mas
persistirá sempre e se
encontrará,
absolutamente
integral, na matéria
inerte que lhe sofreu a
ação. IV – Um fato que
demonstra à saciedade
esse princípio de
conservação da força é a
impressão que certas
substâncias, como a
obreia, deixam num metal
polido, como uma lâmina
de navalha. V – Desse
modo, ainda que uma
força não determine
movimentos aparentes num
corpo, não deixa de lhe
modificar a constituição
molecular,
transformando-se e
imprimindo no corpo um
novo estado diferente.
VI – O perispírito se
liga a todas as
moléculas do corpo. VII
– É por meio do fluido
vital, impregnado no
gérmen, que a encarnação
pode realizar-se, pois o
Espírito só pode atuar
sobre a matéria por
intermédio da força
vital. VIII –
Participando da vida
geral nos organismos
complexos, cada célula
goza de tal ou qual
autonomia, de modo que
todo movimento nela
produzido altera-lhe o
equilíbrio vital e essa
modificação dinâmica
determina no duplo
fluídico um movimento.
IX – Toda ação interna
ou externa produz,
portanto, um movimento
no invólucro
perispiritual, fato esse
que, aliado à teoria
exposta por Delboeuf em
“Éléments de
psycho-physique”, nos
permite compreender de
que maneira puderam
formar-se os órgãos dos
sentidos. X – Os
exemplos citados pelo
Autor prendem-se ao
órgão do tato, mas
poderiam ser igualmente
utilizados para
explicar-se o advento da
audição e da visão.
(Págs. 103 a 112)
91. Encerrando o
capítulo III desta obra,
Delanne examina o tema
sistema nervoso e ação
reflexa e trata, por
fim, do instinto. Eis,
de forma resumida,
algumas das proposições
aí formuladas: I – O
sistema nervoso não é
senão a condição
orgânica das ações
psíquicas da alma;
depois de sua
destruição, com a morte
corpórea, a alma
continua a viver
normalmente. II –
Durante a encarnação ele
é a reprodução material
do perispírito e toda
alteração grave de sua
substância engendra
consecutivas desordens
nas manifestações do
princípio pensante. III
– A medula espinhal é
considerada pelos
fisiologistas sob um
duplo aspecto, a saber:
como fio condutor,
transmite ao encéfalo as
sensações e reconduz
dele as excitações
motrizes; como centro
nervoso, é a sede das
ações reflexas. IV – As
propriedades notáveis do
sistema nervoso não
podem subsistir na
matéria mutável,
fluente, incessantemente
renovada. É preciso para
isso que tenham o seu
fundamento na
estabilidade natural do
invólucro fluídico. V –
Podemos comparar o corpo
a uma nação, e o
mecanismo fisiológico às
leis que regem o povo.
As personalidades mudam;
umas morrem, outras
nascem, mas as leis
subsistem sempre, não
obstante passíveis de
aperfeiçoamento. VI – O
instinto é a mais baixa
forma mediante a qual
manifesta-se a alma. VII
– Na lebre que dispara
ao menor ruído, o
movimento de fuga é
involuntário,
inconsciente, em parte
reflexo, em parte
instintivo, mas é
sobretudo um movimento
adaptado à vida do
animal, tendo por
finalidade a sua
salvação. VIII – As
ações e reações são
sempre as mesmas, mais
ou menos, para uma
espécie. Incessantemente
repetidas, essas
operações incrustam-se
de alguma sorte no
perispírito e passam a
fazer parte daquele ser.
IX – A aptidão para
manifestar exteriormente
essas operações é
transmitida por
hereditariedade - diz a
ciência; -
perispiritualmente, diz
Delanne. Tal é, segundo
ele, a gênese dos
instintos naturais
primitivos. X – A
inteligência um tanto
desprendida do meio
perispiritual grosseiro
intervém, contudo, para
que o Espírito alicie,
em proveito dos
instintos naturais,
melhor apropriação das
condições ambientes. XI
– Era indispensável que
o princípio espiritual
passasse por essas
tramas sucessivas, a fim
de fixar no invólucro as
leis que regem a vida e,
depois, entregar-se aos
trabalhos de
aperfeiçoamento
intelectual e moral que
o devem elevar à
condição superior. XII –
A luta pela vida, por
mais impiedosa que seja,
é o meio único, natural
e lógico para obrigar a
alma infantil a
manifestar as suas
faculdades latentes,
assim como o sofrimento
é indispensável ao
progresso espiritual.
XIII – Saímos todos do
limbo da bestialidade.
Longe de sermos
criaturas angélicas que
decaíram; longe de
havermos habitado um
paraíso imaginário, foi
com imensa dificuldade
que conquistamos o
exercício de nossas
faculdades. XIV – Só o
esforço individual pode
conduzir ao progresso
geral, e a mesma
potência que nos trouxe
ao estado animal
abrir-nos-á as infinitas
perspectivas da vida
espiritual, a
desdobrar-se na
ilimitada extensão do
Cosmo. (Págs. 112 a
122)
92. Os progressos da
fisiologia evidenciaram
a ligação íntima da alma
com o corpo. Ficou
assentado, sem qualquer
dúvida, que as
manifestações do
Espírito encarnado são
absolutamente
dependentes do sistema
nervoso e que toda
alteração ou destruição
do elemento nervoso
acarreta distúrbios e
mesmo supressão de
manifestações
intelectuais. (Pág.
124)
93. Essa correlação do
estado mórbido do corpo
com o desaparecimento de
uma fração do intelecto
é a base da doutrina
materialista, que faz da
alma uma função do
cérebro. Há, no entanto,
um fato peremptório que
demonstra haver
pensamento sem cérebro:
a manifestação do
Espírito após a morte. O
perispírito, como já foi
dito, é o molde do
corpo. Estudar as
modificações do sistema
nervoso equivale, pois,
a estudar o
funcionamento do
perispírito, do qual o
sistema nervoso mais não
é que uma reprodução
material. (Pág. 124)
94. A força vital que
impregna simultaneamente
a matéria organizada e o
perispírito é o agente
intermediário do corpo e
da alma. Qualquer
modificação na
substância física
produzirá modificação da
força vital, que, por
sua vez, modificará o
perispírito, na mesma
intensidade. (Pág.
124)
95. A noção de
perispírito – adverte
Delanne – não é uma
inventiva humana, uma
concepção filosófica
adrede destinada a
remover todas as
dificuldades, mas, sim,
uma realidade física, um
órgão até então ignorado
e que, por sua
composição física e pela
função que exerce no
homem, explica todas as
anomalias que as
investigações de sábios
e filósofos jamais
puderam elucidar. A
indestrutibilidade e a
estabilidade
constitucional do
perispírito fazem dele o
conservador das formas
orgânicas. Graças a ele,
compreendemos que os
tecidos possam
renovar-se, ocupando os
novos o lugar exato dos
antigos, e daí a
manutenção da forma
física, tanto interna
quanto externa. (Pág.
125)
96. O princípio vital é,
por sua vez, o motor do
perispírito. É ele que
lhe desenvolve as
energias latentes e lhe
ministra atividade
durante a vida. Alma e
perispírito não fazem
mais que um todo
indissolúvel e, se os
distinguimos, é porque
só a alma é inteligente,
quer e sente. O
invólucro é sua parte
material, isto é,
passiva: é a sede dos
estados conscienciais
pretéritos, o armazém
das lembranças, em que o
Espírito se abastece
quando necessita de
cabedais intelectuais
para raciocinar,
imaginar, comparar etc.
O Espírito é, assim, a
forma ativa, o
perispírito a forma
passiva, e ambas, em
seus aspectos, nos
representam todo o
princípio pensante.
(Pág. 126)
97. Quando um agente
externo impressiona os
sentidos, produz-se no
aparelho sensorial uma
certa alteração a que
chamamos sensação, a
qual é transmitida ao
cérebro pelos nervos
sensitivos. Dois casos
podem então
apresentar-se: ou a alma
toma conhecimento da
alteração e dizemos que
há percepção, ou
a alma não é advertida
da ocorrência, ficando a
sensação registrada, mas
inconsciente. Como já
visto, essa
transformação da
sensação (fenômeno
físico) em percepção
(fenômeno psíquico)
torna-se absolutamente
inexplicável desde que
se não admita a
existência do eu,
ou seja, do ser
consciente. (Pág.
127)
98. Tudo é movimento na
natureza. Os corpos que
nos parecem em repouso
não o estão nem
exteriormente, uma vez
que participam do
movimento da Terra, nem
interiormente, porque as
moléculas são
incessantemente agitadas
por forças invisíveis
que lhes dão suas
propriedades físicas
particulares: o estado
sólido, líquido ou
gasoso, a consistência,
a cor, o brilho etc. O
movimento abarca
igualmente os tecidos do
corpo, e vimos como
certas partes do corpo,
durante a longo
travessia pelas formas
inferiores, se
diferenciaram pouco a
pouco do conjunto, para
engendrar os órgãos dos
sentidos. Essas
modificações foram se
fixando no perispírito e
encarnando-se na
substância, à medida que
aumentava o número de
passagens pela Terra.
(Págs. 127 e 128)
99. Qual a natureza das
modificações produzidas?
“Ensaiemos demonstrar –
propõe Delanne – que ela
reside nos movimentos.”
Toda sensação – visual,
auditiva, tátil ou
gustativa – procede
originalmente de um
movimento vibratório do
aparelho receptor. O
raio luminoso que
impressiona a retina, o
som que faz vibrar o
tímpano, a irritação dos
nervos periféricos da
sensibilidade, tudo isso
se traduz por um
movimento diferente,
segundo a natureza e a
intensidade do
excitante. O abalo
propaga-se ao longo dos
nervos sensitivos e
chega, conforme a
natureza da irritação, a
uma zona especial da
camada cortical, dando
aí origem à percepção.
Desde então, a força
vital modificou-se num
certo sentido, sofreu um
movimento vibratório
particular, e este se
comunicou ao
perispírito. É então que
se dá o fenômeno da
percepção, se a atenção
for despertada. (Pág.
128)
(Continua no próximo
número.)