WASHINGTON
L. N.
FERNANDES
washingtonfernandes@terra.com.br
São
Paulo -
SP
(Brasil)
|
A Inquisição na
Espanha só
acabou em 1834
Em outubro, no
Movimento
Espírita, além
de ser recordada
a data natalícia
do Codificador
do Espiritismo,
Allan Kardec, em
3 de outubro de
1804, costuma-se
também evocar a
dia do
Auto-de-Fé de
Barcelona,
ocorrido em
09/10/1861,
quando cerca de
300 obras
espíritas foram
queimadas em
praça pública,
sob orientação
do bispo da
cidade. Em
verdade, este
Auto-de-Fé
não foi o
primeiro, pois a
Espanha possui
uma trajetória
religiosa com
várias
implicações
inquisitoriais,
as quais vale a
pena comentar.
Apesar de a
Revista Espírita,
no mês de
novembro de
1861, trazer
como primeiro
artigo de Allan
Kardec, Os
Restos da Idade
Média, em
verdade a
Inquisição na
Espanha não se
encerrou na
Idade Média, mas
sim em 1834,
conforme
veremos.
Fogo contra
Ideias
Os Reis
católicos
Fernando
(1452-1516) e
Isabel
(1451-1504) que
reorganizaram em
Espanha, em
1478, a
Inquisição (lat.
Inquisitio,
onis –
indagação,
investigação,
pesquisa),
ou Santo Ofício,
a qual havia
sido criada em
1184, pelo
Concílio de
Verona, como
tribunal
permanente da
Igreja Católica,
para investigar
e combater as
heresias. A bem
dizer, ela se
revestiu de
maior força na
França, Alemanha
e Itália, tendo
pouca atuação na
Hungria, Boêmia
e Polônia, e
nunca penetrou
na Escandinávia.
Na Inglaterra,
atuou uma única
vez, em 1309,
contra os
templários
ingleses. Na
Espanha, ela se
revestiu de
particular
violência contra
judeus, cristãos
novos e mouros
não convertidos.
Somente
contando-se os
judeus,
estima-se cerca
de 165 mil o
número de
emigrados. A
razão alegada
para o seu
estabelecimento
(bula de Sisto
IV, de
1/11/1478),
quando no resto
da Europa já
estava
praticamente
extinta, foi de
que na sociedade
espanhola um
grande número de
conversos ou
cristãos-novos
continuava a
praticar
clandestinamente
a religião e os
costumes
judaicos,
negligenciando
os preceitos
impostos pela
Igreja Católica.
A prática de
queimar hereges
em autos-de-fé
foi introduzida
nos últimos anos
do séc. XII, e o
uso de tortura
foi autorizado
em 1252 pelo
papa Inocêncio
IV (1243-1254) e
confirmado por
Urbano IV
(1261-1264).
Aquele que
tivesse ciência
de algum
comportamento
mencionado no
edital e não o
viesse revelar,
era perseguido
também pela
Inquisição como
fautor de
hereges, isto é,
pelo crime de
acobertar culpas
de hereges.
Depois de preso,
o réu era
submetido a
longos
interrogatórios,
não lhes sendo
comunicado o
motivo de sua
prisão, nem o
crime de que era
acusado, ou qual
o seu
denunciante.
Tomás de
Torquemada
(1420-1498),
considerado um
dos mais
importantes
teólogos do séc.
XV, foi nomeado
inquisidor-mor
dos reinos de
Castela e Leão,
e logo a seguir
teve sua
jurisdição
estendida a
Aragão,
Valência,
Catalunha e
Majorca. Em
1484,
estabeleceu um
código de
processo de 28
artigos, mais
tarde publicado
sob o título de
Compilación
de las
Instruciones del
Oficio de la
Santa
Inquisición.
Este período
conheceu tanta
barbárie, que
chegou ao ponto
do papa
Alexandre VI
(1492-1503) ter
que conter os
excessos que se
cometiam. A
Inquisição ficou
em atividade até
a invasão
francesa, sendo
abolida por José
Bonaparte
(1768-1844), em
1808. Foi
reimplantada em
1814, extinta
por decreto
real, durante a
revolução
constitucional,
a 9 de março de
1820. Com o
movimento
contra-revolucionário
de 1823, reviveu
novamente,
sendo, a 26 de
julho de 1826,
enforcada e
queimada em
efígie a última
vítima do
tribunal
peninsular.
Somente a 15 de
julho de 1834 é
que a Inquisição
foi abolida
definitivamente
de Espanha, pela
Rainha Maria
Cristina
(1806-1878).
O número de
hereges
queimados na
Espanha pela
Inquisição é
estimado em
31.912; os
queimados em
efígie, 17.659.
O Auto-de-Fé de
Cadiz
Coisa que poucos
sabem é de um
Auto-de-Fé
anterior ao de
Barcelona, dez
vezes mais
importante,
porque foram
queimados não
trezentos, mas
sim três mil
exemplares de um
livro espírita
em praça
pública, a mando
do padre da
cidade. Isto
ocorreu em 1855,
em Cadiz,
conforme se pode
ler em o
periódico
espírita
espanhol El
Criterio
Espiritista,
Madrid, de 1868,
o qual consta na
Biblioteca
Nacional de
Espanha.
Chamamos de
espírita este
livro, apesar de
ter sido
publicado antes
de 1857, porque
o Sr. Francisco
de Paula Coli
reuniu nesta
obra as
perguntas e
respostas que se
faziam nas
reuniões para
consultar os
Espíritos, isto
é, trabalho
semelhante ao
que fez o
Codificador em
O Livro dos
Espíritos.
Os espíritas não
se intimidaram,
e mandaram
reimprimir a
obra, sofrendo
novas
perseguições.
Sem dúvida, o
Sr. Francisco
Coli é um
autêntico
precursor de
Allan Kardec,
que chegou a
comentar esta
obra, em artigo
publicado na
Revista Espírita,
de abril de
1868, achando-o
sério.
Portanto, o
Auto-de-Fé de
Cadiz, em
1855, e o
Auto-de-Fé de
Barcelona,
em 1861,
traduzem
historicamente a
perseguição e a
intolerância
contra o
Espiritismo, bem
como a
inutilidade de
se apresentar o
fogo contra o
pensamento,
atributo do
Espírito
imortal.