“Jesus põe a
humildade na
categoria das
virtudes que
aproximam de
Deus e orgulho
entre os vícios
que dele afastam
a criatura.”
(O Evangelho
segundo o
Espiritismo,
cap.VII, pág.
134.)
Adriana procurou
o Atendimento
Fraterno do
Centro Espírita
de sua cidade
com a saúde em
frangalhos e o
sono perturbado.
Espírita já há
alguns anos,
sabia que os
sintomas acima
poderiam bem ser
provocados por
algum obsessor,
já que
experimentara
diversos
tratamentos
médicos sem
resultado.
Assim foi que
Adriana
conversou com
amoroso amigo da
Casa Espírita e
este, com a
mediunidade mais
aflorada, logo
percebera que de
fato uma
entidade a
acompanhava.
Encaminhou a
fichinha para a
reunião de
desobsessão,
onde o Espírito
seria ouvido,
aconselhado e
encaminhado para
esfera mais
apropriada.
Quanto à
Adriana,
lembrou-lhe da
necessidade do
‘orar e vigiar’,
bem como
recomendou-lhe
que voltasse a
fazer o
Evangelho no Lar
e a estudar O
Livro dos
Espíritos
com mais
dedicação.
A moça foi
embora pra casa
confiante de
que, a partir
daquele momento,
estaria em boas
mãos. Pensou na
mensagem do
instrutor amigo:
“Orai e vigiai”
e resolveu que
iria fazê-lo. Ao
deitar-se,
Adriana orou:
– Senhor,
preciso da sua
proteção e da
proteção dos
bons Espíritos!
Vigiai a minha
casa para que
obsessores não
venham nos
perturbar!!!
Naquela noite,
tendo Ronaldo –
o Espírito que a
estava
acompanhando –
ficado no Centro
em companhia dos
mentores que o
acolheram,
Adriana
conseguiu
conciliar melhor
o sono. No dia
seguinte,
entendeu que a
oração havia
funcionado,
embora sentisse
ainda seu corpo
pesado.
*
Na reunião
mediúnica da
noite anterior,
Ronaldo fora
chamado a
conversar com o
doutrinador da
Casa.
– O que faz em
companhia
daquela jovem,
caro amigo?
– Eu desencarnei
há muitos anos e
confesso que não
sei para onde
ir. Então, fico
à espera de
alguém com quem
ocupar meu
tempo. Eu não
quero fazer
nenhum mal pra
moça, só quero
ficar lá. É
divertido!
– Por que acha
divertido?
– Ela alimenta
pensamentos de
grandeza e
inveja tão
desmedidos que
chegam a ser
ridículos!
Enxergo sua tela
mental como um
filme de comédia
e confesso que
até me
surpreende as
coisas que ela
faz com as
colegas de
trabalho pra se
sobressair...
– Mas você não
pode ficar lá,
amigo. Mesmo sem
querer
prejudicá-la,
você acaba se
alimentando de
seus fluidos
energéticos, é
por isso que ela
não consegue
sarar.
– Ah, só saio de
lá se acabar a
brincadeira,
senão eu fico!
A equipe
mediúnica
encerrou a
reunião
convidando
Ronaldo para uma
nova conversa na
reunião da
semana seguinte,
na esperança de
conseguir então
demovê-lo de seu
propósito.
Ronaldo até
prometeu voltar
porque gostou de
poder conversar
de novo com
alguém, andava
meio solitário
na casa de
Adriana. Mas,
enquanto isso,
não ia perder os
próximos
episódios que a
moça
protagonizava.
*
Adriana foi
trabalhar com o
mesmo astral dos
dias anteriores.
Sentia-se fraca
e sonolenta, não
conseguia se
concentrar bem
no trabalho e,
pior ainda,
soubera que uma
colega mais
jovem e com
menos tempo de
casa recebera
uma incumbência
de máxima
confiança do
chefe. Seu
espírito
imediatamente se
rebelou e tal
foi a vibração
de raiva emitida
de seu cérebro
que
imediatamente
Ronaldo foi
atraído para o
local,
satisfeito por
presenciar a
cena. As ondas
de nervosismo
que Adriana
“engoliu” caíram
em seu corpo
astral como um
novelo negro
que,
depositando-se
no estômago
perispiritual,
transferiu para
o referido órgão
físico um
mal-estar
imediato. Foi
quando
lembrou-se da
mensagem do
amigo fraterno:
“orai e vigiai”.
Rumou para o
banheiro
feminino e, a
sós no
compartimento
privado, orou:
– Senhor,
proteja-me das
injustiças!
Vigia meu
ambiente de
trabalho, para
que meus chefes
percebam como eu
sou a pessoa
certa pra estar
em evidência!!!
O restante do
dia passou
arrastado e de
gosto azedo. Em
casa, achou por
bem acender uns
incensos e velas
de proteção,
ritual que
herdara de sua
formação
católica e que
poderia ter
buscado
compreender a
inutilidade de
tais
procedimentos em
O Livro dos
Espíritos,
questão 552, mas
não o fez.
Ronaldo gostou
do incenso,
achou cheiroso.
Enquanto Adriana
deixava o corpo
em descanso, em
sua cama, logo
sua viagem
mental a levou –
para alegria de
Ronaldo – às
cenas de glória
e reconhecimento
que julgava
merecer. Via-se
recebendo do
chefe importante
incumbência e,
imediatamente,
procurando pelos
olhares
cabisbaixos e
invejosos das
colegas de
trabalho. Esse
era seu prazer
maior, e hoje –
em sua visão
distorcida sobre
a felicidade –
ela merecia dar
a si mesma esse
pensamento de
consolo.
*
Na semana
seguinte, a
reunião
mediúnica
começara e
Ronaldo veio de
boa vontade,
pensando poder
dividir com os
novos colegas
que o ouviam a
divertida semana
que teve. No
entanto, ao
chegar para a
conversa
costumeira,
percebeu que
algo diferente o
aguardava.
– Olá, amigo
Ronaldo – disse
o doutrinador.
Hoje é um dia
muito especial
pra você.
– Do que está
falando?
– Nós pedimos à
espiritualidade
que nos ajudasse
a encaminhar
você a uma
atividade que
realmente vai
trazer
satisfação ao
seu espírito.
Você não é uma
pessoa má,
tampouco pensa
em vingar-se,
apenas não
encontrou algo
de que goste e
que seja bom pra
todos. Da
maneira como
está não pode
ficar, está
prejudicando a
moça e isso será
ruim pra você.
– Já sei, você
vai vir com
aquela conversa
mole de
trabalhar, dar
assistência pros
outros... olha,
se eu quisesse
fazer isso, já
teria aceitado
convite de
outros grupos
antes. Pra quê
eu quero
trabalhar depois
de morto? Nem em
vida eu fui
muito dado ao
horário
comercial, não
vai ser agora!
Eu quero é me
divertir!
– Sim, mas quem
disse que o
trabalho não
pode ser
divertido? E
diga
verdadeiramente:
você se diverte
tanto assim,
sozinho,
assistindo à
tela mental dos
outros? Você nem
tem com quem
comentar depois!
E quanto a sua
própria tela
mental, o que
tem nela? Há
quanto tempo não
cuida de si
mesmo?
– Prefiro não
falar de mim.
– Não queremos
julgá-lo, amigo,
mas sua solidão
é evidente! E
você é uma
pessoa tão
alegre! Não nos
conformamos de
você desperdiçar
assim essa sua
jovialidade.
Ronaldo
estranhou ser
tratado com
tanta
consideração e
respeito.
Intimamente, seu
coração se
aqueceu. Nessa
hora, o
doutrinador
pediu que
entrasse na sala
um Espírito
convidado
especialmente
para aquela
ocasião.
– Temos uma
visita pra
você.
– Pai! –
diminuiu o
Espírito
Ronaldo, olhando
para seu genitor
com saudade e
vergonha,
enquanto recebia
dele o olhar
mais acolhedor
de sua vida.
– Meu querido!
Que bom que
finalmente posso
convidá-lo pra
se juntar a nós!
– Mas... por que
não veio antes?
– Porque você
ainda não estava
cansado da sua
frivolidade. Sei
que ainda tem
muito medo das
responsabilidades
e eu sou
responsável
também por não
tê-la
fortalecido em
você quando
encarnado. Mas
posso lhe
garantir, meu
filho, tudo o
que precisamos
agora, na
colônia
espiritual onde
trabalhamos, é
de alguém com a
sua alegria, seu
espírito jovem,
sua habilidade
para fazer os
outros rirem.
Trabalhamos com
crianças
recém-desencarnadas,
elas precisam
muito de alguém
como você!
– Mas... eu não
sei se sou assim
tão legal... eu
rio dos
outros... dos
ridículos
deles...
– Será que agora
Deus não está
lhe dando a
oportunidade de
fazer suas
estripulias –
ser o palhaço da
vez – para se
redimir? Venha
comigo, meu
filho, não sei
quantas vezes
terei a
oportunidade de
vir buscá-lo!
Ronaldo
finalmente
cedeu,
encontrando nos
braços do seu
pai da última
encarnação
terrena o rumo
que há anos
procurava.
*
Enquanto o
Espírito Ronaldo
estava no
Centro, naquela
noite, irmã
Genésia, mentora
espiritual de
Adriana,
aproximou-se
dela, observando
a mentalidade
raivosa e
arrogante que
alimentava. Sem
os fluidos do
obsessor,
interferiu em
sua linha de
raciocínio,
soprando-lhe ao
ouvido:
– Adriana, chega
de devaneios! De
onde vem tanto
orgulho? O que
tem você a
oferecer tanto
assim? Seja mais
humilde, você
ainda tem muito
a aprender!!!
A moça perdeu a
linha de
pensamento e
lembrou-se,
subitamente, da
orientação para
que fizesse o
Evangelho no
Lar. Levantou-se
e abriu o
Evangelho ao
acaso que, pelas
mãos abençoadas
de Genésia, foi
parar no
capítulo VII,
“Bem-aventurados
os pobres de
espírito”.
– Aquele que se
eleva será
rebaixado – leu
em voz alta.
Terminou
silenciosamente
a leitura e,
desta vez, em
sua tela mental
pôde enxergar -
intuída pela
irmã abnegada e
com vergonha de
si mesma - as
atitudes e
pensamentos
desregrados a
que dava curso.
Finalmente,
antes de dormir,
Adriana orou:
– Senhor,
ajuda-me a
vigiar meus
pensamentos e
atitudes! Que eu
perceba quando
estou deixando o
orgulho falar
alto dentro de
mim, ou quando
estou sendo
arrogante com os
outros. Que eu
consiga vencer a
mim mesma, Pai
Santíssimo!
Ajuda-me a
vigiar-me!
Naquela noite,
Adriana dormiu
um sono
profundo, sem
sonhos. Ronaldo
não se sentira
vibracionalmente
atraído mais ao
seu lado. Outros
Espíritos
zombeteiros que
passavam pela
redondeza também
não se
importaram com
ela.
No dia seguinte,
acordou com nova
disposição.
Agora sim,
intimamente
reformada.