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Estudando as obras de Kardec
Ano 3 - N° 132 - 8 de Novembro de 2009

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A Revue Spirite de 1864

Allan Kardec 

(Parte 21)

Damos prosseguimento nesta edição ao estudo da Revue Spirite correspondente ao ano de 1864. O texto condensado do volume citado será aqui apresentado em 26 partes, com base na tradução de Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Questões preliminares

A. No processo da chamada incorporação, que é preciso fazer para que um Espírito atormentado, como Jaques Latour, se acalme?

No caso de Latour, que transmitia todo o seu desespero, suas angústias e seus sofrimentos ao médium, os assistentes, tocados por seus lamentos, dirigiram-lhe palavras de  encorajamento e de consolo e um deles orou, após o que, mais calmo, o Espírito agradeceu e se retirou comovido. Essa providência serve de exemplo para casos semelhantes, em que a oração será sempre um recurso indispensável. (Revue Spirite de 1864, pp. 309 a 311.) 

B. A expiação pode ser imediata, ou seja, verificar-se com relação a atos praticados no curso da mesma existência?

Sim. Kardec diz que os exemplos de castigos imediatos são mais comuns do que se pensa. Se o homem remontasse à fonte de suas vicissitudes – lembra o Codificador –, veria que quase sempre elas decorrem de sua própria conduta nesta vida, mas, longe de se acusar por seus infortúnios, ele prefere atribuí-los à fatalidade e à má sorte. (Obra citada, pp. 313 e 314.) 

C. Depende apenas de nós evitar esses infortúnios?

Sim. É preciso que deixemos de ver nas misérias que sofremos em virtude de faltas cometidas no passado um mistério inexplicável, certos de que depende de nós evitá-las. Saldadas as dívidas, Deus não nos fará pagá-las segunda vez. Mas, se ficarmos surdos a seus avisos, exigirá de nós até o último ceitil, ainda que após séculos ou milhares de anos. A morada dos eleitos só é aberta aos Espíritos purificados; qualquer mancha lhes interdita o acesso. Cabe a nós retirá-la. (Obra citada, pág. 314.) 

Texto para leitura

246. Encantado com a novidade tiptológica, o Codificador observou: “De todos os aparelhos imaginados para constatar a independência do pensamento do médium, nenhum vale este processo”. Nada porém, segundo ele, seria capaz de substituir a facilidade das comunicações escritas. (PP. 308 e 309)

247. Em Bruxelas, na presença de Kardec, comunicou-se o Espírito de Latour, que mais tarde se identificou como autor de vários crimes. Escrevendo com uma agitação extraordinária, Latour registrou estas palavras: “Arrependo-me, arrependo-me”. Indagado por que ali se comunicara, uma vez que ninguém o havia evocado, Latour falou por meio da mesma médium, dotada da faculdade de psicofonia: “Vi que éreis almas compadecidas e que teríeis piedade de mim, ao passo que outros me evocam mais por curiosidade que por verdadeira caridade, ou de mim se afastam com horror”. (P. 309)

248. Começou então uma cena indescritível, que não durou menos de meia hora: a médium, juntando à palavra os gestos e a expressão da fisionomia, transmitia o desespero do Espírito, suas angústias e seus sofrimentos com um tom tão pungente, que os assistentes ficaram profundamente comovidos. Alguns estavam mesmo apavorados com a superexcitação da médium, mas Kardec sabia que um Espírito que se arrepende e implora piedade não ofereceria qualquer perigo. (P. 309)

249. Latour fora levado à guilhotina, mas isto nada era diante do fogo que o devorava, porque suas vítimas o rodeavam e perseguiam com seu olhar.  Tocados por seus lamentos, os assistentes lhe dirigiram palavras de  encorajamento e de consolo e um deles orou, após o que, mais calmo, o Espírito agradeceu e se retirou comovido. (PP. 310 e 311)

250. Finda a cena, durante algum tempo a médium ficou quebrada e abatida; seus membros estavam fatigados. Sua lembrança era, a princípio, confusa, mas pouco a pouco recordou-se de algumas palavras que pronunciou, mau grado seu, sentindo que não era ela quem falara. (P. 311)

251. No dia seguinte, Latour manifestou-se de novo, mas uma sensível melhora se havia operado nele, por efeito, sobretudo, da prece que o grupo proferiu em seu benefício. (N.R.: O caso Jaques Latour e todo o seu desdobramento constam do cap. VI da Parte Segunda do livro “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec.) (PP. 311 e 312)

252. O Siècle de 5 de junho de 1864 relatou um fato intrigante que envolveu um berlinense abastado e seu pai que, em consequência de vários reveses, havia caído numa pobreza absoluta. Abandonado pelo filho rico, o pai recorreu à justiça, que condenou o filho a fornecer-lhe uma pensão alimentícia. Quando a sentença saiu, o filho já havia transferido seus bens a um tio paterno, tornando, desse modo, infrutífera a decisão judicial. Um fato imprevisto veio, contudo, tudo mudar: o tio do rapaz morreu subitamente, sem deixar testamento, e sua fortuna acabou sendo transmitida ao parente mais próximo, isto é, seu irmão, justamente o pai repelido pelo filho. Os papéis ficaram então invertidos: o pai está rico, e o filho, pobre. (PP. 312 e 313)

253. Comentando o fato, Kardec diz que os exemplos de castigos imediatos são mais comuns do que se pensa. Se o homem remontasse à fonte de suas vicissitudes, veria que quase sempre elas decorrem de sua própria conduta nesta vida, mas, longe de se acusar por seus infortúnios, ele prefere atribuí-los à fatalidade e à má sorte. (P. 313)

254. Se o homem aproveitasse os avisos que recebe, se se arrependesse e reparasse seus erros desde esta vida, satisfaria a justiça de Deus e não teria que expiar e reparar, seja no mundo dos Espíritos, seja em nova existência. (P. 314)

255. É preciso que deixemos de ver nas misérias que sofremos em virtude de faltas cometidas no passado um mistério inexplicável, certos de que depende de nós evitá-las. Saldadas as dívidas, Deus não nos fará pagá-las segunda vez. Mas, se ficarmos surdos a seus avisos, exigirá de nós até o último ceitil, ainda que após séculos ou milhares de anos. A morada dos eleitos só é aberta aos Espíritos purificados; qualquer mancha lhes interdita o acesso. Cabe a nós retirá-la. (P. 314)

256. Em Marselha, um dos mais honrados negociantes da cidade deu um tiro de pistola no vigário de Saint-Barnabé. A causa foi uma carta anônima que lhe informou que sua esposa mantinha relações íntimas com aquele padre. Comprovada a denúncia, o marido traído decidiu agir. (PP. 314 e 315)

257. Qual o mais culpado neste caso: a mulher, o marido ou o padre? A esta pergunta, Kardec não teve dúvida em atribuir maior responsabilidade no fato ao vigário, que, de sangue frio, com premeditação, violou os seus votos, abusou de seu caráter e enganou a confiança dos fiéis, lançando a desordem, o desespero e a desunião numa família honrada. Concluindo a análise do triste episódio, observa Kardec: “Se o medo das penas eternas não detém na via do mal e na violação dos mandamentos de Deus aqueles que os preconizam, é que eles próprios neles não acreditam”. “A primeira condição para inspirar confiança seria pregar o exemplo.” (P. 315) (Continua no próximo número.)



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita