LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Amargura
“O fardo é proporcional
às forças, como a
recompensa será
proporcional à
resignação e à coragem.” – Lacordaire ¹
No nosso entender, a
palavra amargura pode
ter dois significados: o
primeiro, ligado à inconformação, à
rebeldia ante os
desígnios de Deus; e o
segundo, significando
queixume,
descontentamento com a
própria vida.
Independentemente de sua
significação, esta é uma
atitude que não combina
com o servidor de Jesus,
se desejamos ser –
pressupõe-se que essa
deva ser, cristãos que
somos, nossa busca
constante – Seus
discípulos.
Problemas todos nós
temos, até porque o
comprometimento ante as
leis divinas, que
criamos nas estações
planetárias pelas quais
transitamos, não nos
permitiria uma vida
isenta de preocupações.
Por exemplo, no lar,
jardim de espinheiro,
onde angústias e
inquietações exigem de
cada um de nós renúncias
e sacrifícios; no
trabalho profissional,
que não nos agrada
realizar, porque quase
sempre nos julgamos
merecedores de melhores
posições, mesmo que não
tenhamos as aptidões
necessárias para tal; no
grupo de assistência
social ou espiritual do
qual fazemos parte, que
não valoriza nossas ideias e esforços,
geralmente - segundo
nosso ponto de vista –
melhores e maiores do
que as que estão sendo
praticadas. Tudo isso
são dificuldades
colocadas em nosso
caminho, obrigando-nos a
refletir sobre o
verdadeiro significado
de sua presença em nossa
existência.
Somado a isso, surgem,
no campo de atuação no
qual estamos inseridos,
aqueles problemas
inerentes à própria
existência, uma vez que
o planeta onde
estagiamos,
presentemente, é eivado
de dificuldades para
nossa sobrevivência.
Isto quer dizer que,
vivendo em um planeta
ainda tão materializado,
habitando corpos ainda
tão grosseiros,
necessitamos de recursos
materiais para não
perecermos, sem termos
cumprido o programa
reencarnatório a nós
destinado. Evidentemente
que Deus sempre proverá
o planeta e a humanidade
que nele habita com os
recursos necessários,
para que a Lei do
Progresso se cumpra,
segundo Seus desígnios.
Então, não importa o
tamanho ou a importância
desses problemas –
recursos financeiros que
faltam, enfermidade que
chega a nós ou em ente
querido, desajustes
afetivos que não
conseguimos administrar,
tribulações que nos
intranquilizam –, o fato
é que o Pai precisa nos
encontrar executando as
tarefas que nos competem
para poder nos ajudar.
Destacamos isto porque,
muitas vezes,
pensamentos de pesar, de
vitimização (“Deus me
abandonou” ou “ninguém
olha por mim”)
afastam-nos das nossas
obrigações mais simples,
contaminam os
companheiros de jornada,
afetam o trabalho, o
grupo no qual atuamos e
nos adoecem. Agora, se
permanecemos atentos,
agradecendo ao Pai as
oportunidades
oferecidas, Seus
Mensageiros encontrarão,
na própria tarefa, os
meios de nos socorrer.
Por tudo isso, é
importante prosseguirmos
ajudando os outros
dentro das nossas
limitações. Poderemos
ser ou estar limitados
neste momento, mas não
poderemos ser ou estar
ociosos, física e/ou
intelectualmente.
Santo Agostinho nos
recorda que ainda na
condição de
desencarnados, vagando
no espaço, escolhemos a
prova, porque nos
considerávamos bastante
fortes para suportá-la.
E pergunta-nos, com toda
razão: “Por que
murmurais agora?”
E, prosseguindo, alerta:
“Vós, que pediste a
fortuna e a glória o
fizestes para sustentar
a luta com a tentação e
vencê-la. Vós, que
pedistes para lutar de
alma e corpo contra o
mal moral e físico,
sabeis que quanto mais
forte fosse a prova,
mais gloriosa seria a
vitória, e que se
saísseis triunfantes,
mesmo que vossa carne
fosse lançada sobre o
monturo, na ocasião da
morte, ela deixaria
escapar uma alma
esplendente de alvura,
purificada pelo batismo
da expiação do
sofrimento”. ²
Emmanuel destaca, ainda,
com propriedade, a
diferença entre amargura
real e amargura
injustificada. Na
primeira, é
compreensível, mas não
pode paralisar nossa
ação junto daqueles que
estão ligados a nós. Na
segunda, se os fatos são
de menor importância,
não merece de nós nem o
fato de ficarmos
descontentes ou
queixosos.
Judiciosamente, o
benfeitor espiritual
adverte para guardarmos
reflexão e prudência, a
fim de não perturbarmos
a obra do Mestre, e para
que aqueles que nos
cercam, sobretudo os
nossos amados, não se
privem da graça de Deus.
³
Assim, em qualquer
circunstância, não nos
esqueçamos de que, em
nos queixando do quê e
de quem quer que seja,
“estaremos intimando, a
nós mesmos, a viver em
nível mais alto e a
fazer coisa melhor”. 4
Referências:
1 –
KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o
Espiritismo –
cap. V, item 18.
2 – idem
- item 19.
3 –
EMMANUEL (Espírito). Vinha
de Luz – [psicografado
por] F.C.Xavier – 14ª
ed., FEB – Rio de
Janeiro/RJ – 1996 –
lição 123.
4 –
EMMANUEL (Espírito). Palavras
de Vida Eterna –
[psicografado por]
F.C.Xavier- 20ª ed.,
Edição Comunhão Espírita
Cristã – Uberaba/MG –
1995 – lição 100.