Ciência, Espiritualidade
e Ciência Espírita
Em seus estudos sobre as
relações possíveis entre
a Nova Ciência e o campo
da espiritualidade, Dalai Lama (1),
autoridade máxima do
budismo em sua corrente
tibetana, destaca o
papel espiritual e
profundamente humanista
que deveria ser assumido
pela Ciência no mundo em
que estamos de
passagem.
Nesse sentido, a Ciência
como um campo de
conquistas tecnológicas
e intelectuais deveria
se deixar orientar pelo
exercício indiscriminado
da compaixão, ou seja,
se permitir conduzir
pelo desejo acendrado de
aliviar o sofrimento
onde ele esteja
instalado.
Para tanto, seria
preciso que a Ciência,
falo aqui das ciências
ordinárias em suas
diversas ramificações,
fosse afetada pela
temática espiritualidade
e se visse provocada a
abrir mão do
reducionismo
materialista, cujo
paradigma bem se encaixa
aos interesses egoístas
que hegemonicamente
ainda comandam o
desenvolvimento
científico.
A crise ecológica se
coloca à Ciência como
forte questão que
problematiza a ética que
a tem orientado, aliás,
a ética que tem sido
assumida pelos homens e
mulheres, no mundo, que
pautam suas existências
numa perspectiva
materialista e
imediatista que advoga
pelo desejo, pela posse,
pelo egoísmo, enfim.
Essa crise também
denuncia o destino
infausto que estamos
produzindo para a nossa
espécie – estabelecendo
na dinâmica de ação e
reação, que rege o
cosmos, duros resgates
coletivos –, pelo modo
nada sábio que temos
agido para conosco, com
os demais seres vivos e
para com a Mãe-Terra.
Como é fácil perceber
não é a Ciência que é
má. Os adjetivos
niilista, reducionista e
materialista não se
aplicam somente ao campo
do saber científico,
pois, apesar de tanta
oferta religiosa na
sociedade, faltam-nos
valores de
espiritualidade que
reorientem o nosso modo
de ser e estar na
realidade planetária,
afinal, ainda nos
deixamos conduzir por um
paradigma empobrecido do
ser humano.
Segundo Allan Kardec, o
Espiritismo tem um
importante papel a
realizar, fazendo-se
ponte entre a Ciência e
o campo espiritual,
sobretudo por ser uma
ciência ética que estuda
um objeto ignorado pelas
outras ciências, cujos
métodos de investigação
estabelecidos em bases
materialistas são
incapazes de sondar.
Escreve o pensador
orientado pelo Espírito
de Verdade que:
“O Espiritismo não
descobriu, nem inventou
este princípio [da união
do princípio espiritual
para animar e organizar
a matéria]; mas foi o
primeiro a
demonstrar-lhe, por
provas inconcussas, a
existência; estudou-o,
analisou-o e tornou-lhe
evidente a ação. Ao
elemento material,
juntou ele o elemento
espiritual. Elemento
material e elemento
espiritual, esses os
dois princípios, as duas
forças vivas da
Natureza. Pela união
indissolúvel deles,
facilmente se explica
uma multidão de fatos
até então inexplicáveis”.
(2)
Verifiquemos que o
Espiritismo encara sob o
ponto de vista
científico uma questão
até então centralizada
pelas conjecturas
metafísicas e que as
religiões tentaram tomar
somente para si: o
elemento espiritual.
Com Kardec, entendamos o
elemento espiritual como
um dos princípios
constitutivos do
universo, assim como a
matéria e Deus, a Causa
Primeira. Mas vale
lembrar que “Individualizado,
o elemento espiritual
constitui os seres
chamados Espíritos,
como, individualizado, o
elemento material
constitui os diferentes
corpos da Natureza,
orgânicos e inorgânicos”.
(3)
Voltando à crítica do
Dalai Lama à ciência
oficial, conforme
podemos inferir de seus
escritos, a Ciência
precisa descobrir a
consciência, a causa dos
fenômenos subjetivos ou
espirituais e, a partir
desse ponto,
reconfigurar seu
direcionamento ético
para o altruísmo.
Nessa linha de análise
precisaríamos de uma
ciência da consciência,
ou seja, uma ciência que
nos ensine a perceber a
realidade espiritual e a
prestarmos atenção em
nossa verdadeira
natureza.
Essa é a proposta mesmo
da Ciência Espírita ao
descortinar, baseada em
evidências científicas
acerca dos fenômenos
mediúnicos recolhidas na
metodologia kardequiana,
a realidade do Espírito
imortal.
Entretanto, a utilidade
desse saber está na
razão direta de sua
aplicação por parte
daqueles que dele tomam
conhecimento. Logo,
quando se fala numa
ciência da consciência é
oportuno não esquecermos
que a consciência
não-localizada no corpo
físico é o próprio
Espírito (somos nós), a
individualidade
incorpórea dotada de
inteligência, pensamento
e vontade.
Desse modo, é preciso
que nos apropriemos de
tal forma do saber
exarado nas obras
fundamentais da Doutrina
dos Espíritos que, por
consequência, nos
façamos senhores de nós
mesmos, ou seja,
emancipados
intelectualmente da
cegueira espiritual do
materialismo, tanto
quanto das
superstições.
Estudando Kardec:
“Demonstrando a ação
do elemento espiritual
sobre o mundo material,
alarga o domínio da
ciência e, por isto
mesmo, abre uma nova via
ao progresso material.
Então terá o homem uma
base sólida para o
estabelecimento da ordem
moral na Terra;
compreenderá melhor a
solidariedade que existe
entre os seres deste
mundo, desde que esta se
perpetue
indefinidamente; a
fraternidade deixa de
ser palavra vã; ela mata
o egoísmo, em vez de ser
morta por ele e, muito
naturalmente, imbuído
destas ideias, o homem a
elas conformará as suas
leis e suas instituições
sociais.” (4)
Referências: