VLADIMIR POLÍZIO
polizio@terra.com.br
Jundiaí, São Paulo
(Brasil)
Outros
tempos?
“A melhor escola ainda é
o lar, onde a criatura
deve receber as bases do
sentimento e do caráter.
Os estabelecimentos de
ensino, propriamente do
mundo, podem instruir,
mas só o instituto da
família pode educar. É
por
essa razão que a
universidade poderá
fazer o cidadão, mas
somente
o lar pode
edificar o homem.”
Esse conceito de
Emmanuel, mentor de
Chico Xavier durante 75
anos, é compreensível,
especialmente nos tempos
atuais, quando sabemos
que o ensino em nosso
país está na contramão
da história da educação,
visto que a progressão
continuada, que impede a
reprovação dos que não
sabem, está naufragando
a esperança que se
alimentava em concluir
um primário ‘sabendo
alguma coisa’. O que
antigamente se fazia em
quatro anos, se fosse
aprovado, para
posteriormente ir ao
ginásio, após o exame de
admissão, passou depois
a ser feito em oito
anos, com o nome de
‘ensino fundamental’.
Hoje, através da
imposição de lei
federal, o mesmo ‘ensino
fundamental’ é feito em
nove anos, em razão de
englobar o antigo ‘pré’,
que representa
atualmente o primeiro
ano, sistema esse com
prazo de implantação até
2010.
E para piorar a
situação, um número
elevado de casais, que
deveria constituir no
lar a base moral para a
edificação e manutenção
do homem de amanhã,
encontra-se atualmente
sem condições de
oferecer a menor dose de
dignidade para passar
aos seus rebentos, uma
vez que estão
desprovidos desse lastro
construtivo até para si
próprios.
O binômio liberdade
e democracia
não pode ser confundido
com falta de respeito e
educação.
Os que hoje estão na
faixa etária dos 60 anos
sabem perfeitamente que
as escolas públicas
sempre tiveram condições
de edificar cidadãos e
também homens.
Eram pouquíssimos os
alunos que conheciam o
penoso caminho da
“Diretoria”, como eram
raros os casos de
suspensão; e quando isso
ocorria, os motivos, se
comparados com os de
hoje, não mereceriam
tanta consideração.
A questão do uniforme
escolar não era
contestada pelos pais,
mesmo por parte dos que
tinham poucas condições
econômicas. Além da
organização
disciplinada, qualquer
aluno era facilmente
reconhecido nas ruas.
Na classe, o respeito ao
professor era sagrado.
Todos se levantavam para
a recepção solene ao
mestre.
Nas aulas de religião,
os que não eram
católicos, se quisessem,
poderiam deixar a classe
sem que a palavra
“constrangimento” fosse
levantada por esse gesto
discriminatório da parte
da escola.
O vidro de tinteiro na
carteira de cada um dava
sinal do emprego das
canetas com pena de
metal, que exigiam
habilidade para o seu
manuseio, sempre
acompanhadas do
indispensável
“mata-borrão”,
com a finalidade de
antecipar a secagem da
tinta e absorver os
excessos.
O caderno de caligrafia,
que auxiliava na boa
conformação das letras,
e os quadros, com belos
desenhos que ficavam
muitas vezes em
cavaletes, eram
utilizados para a
composição de histórias
à vista dessas gravuras,
contribuindo e muito no
desenvolvimento
criativo.
Na hora da prova ou do
exame quem aproveitava o
ano, passava. Os que
negligenciavam,
repetiam. Rico, pobre,
negro ou branco. Havia
respeito, disciplina e
educação, base de
qualquer cultura.
Rebeldia ou agressão em
sala de aula? Nada, nem
contra as carteiras,
paredes ou vidros da
classe ou da escola.
Alguns dirão sabiamente:
os tempos são outros! E
não estarão errados,
pois os tempos sempre
foram e serão outros, em
qualquer época da
existência. Sempre
tivemos e teremos outros
tempos.
Como nada é obra do
‘acaso’, estamos diante
de um desafio.
O esforço que se deve
empreender para minorar
os desarranjos de cada
um não pode ser deixado
de lado, pois é uma
oportunidade de
recuperação que está
sendo abandonada,
embora, individualmente,
muitos fazem o que podem
dentro de seu limite de
capacidade, não obstante
o dever e
responsabilidade das
autoridades.
É uma lamentável
realidade a que estamos
assistindo, com triste
reflexo em tudo.