MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Entre a Terra e o Céu
André Luiz
(Parte
11)
Continuamos a apresentar
o
estudo da obra
Entre a Terra e o Céu,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1954 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Como foi o encontro
de Leonardo Pires com
Esteves?
O encontro não foi dos
mais agradáveis. Esteves
percebeu, ao chegar ao
recinto, a presença de
Lola e Leonardo, a quem
reconheceu, estarrecido
e agoniado. Leonardo,
dando um salto para
trás, bradou: "Agora!
agora, sim!... Vieste
mesmo! Vejo-te, fora de
minha cabeça, vejo-te
como és!... Liquidemos
nossa conta... Risca-me
dentre os vivos ou eu te
riscarei!..." Esteves,
sacudido pelas próprias
reminiscências,
respondeu-lhe,
agressivo: "Conheço-te
e odeio-te!...
Assassino,
assassino!..." Como as
duas entidades se
engalfinhariam,
Clarêncio interferiu,
imobilizando-os
prontamente.
(Entre a Terra e o Céu,
cap. XIV, págs. 90 a
92.)
B. Esteves, ao despertar
no corpo físico,
lembrou-se do que
aconteceu?
Sim, mas interpretou de
modo particular o
ocorrido. Ele – que
agora se chamava Mário
Silva e era enfermeiro
de profissão – disse à
sua mãe que sonhara que
alguém o chamara, a
distância, em alta voz.
Pensando tratar-se de
algum doente em estado
grave, ele foi, mas, ao
invés de topar um
doente, viu-se numa cela
mal iluminada e úmida.
"Era um perfeito
cubículo de prisão,
onde me surpreendi
encarcerado, de repente,
junto de um criminoso
de mau aspecto e de
infortunada mulher em
pranto...", relatou
ele. "Senti tanta
simpatia pela moça
desventurada, quanta
aversão pelo réu de
medonha catadura. Tive,
porém, a impressão
nítida de que nos
conhecíamos. Um misto de
ódio e sofrimento me
tomou de assalto, junto
deles, principalmente ao
lado do infeliz, cujo
olhar se me afigurava
cruel..."
(Obra citada, cap. XV,
págs. 93 a 95.)
C. André Luiz quis
seguir o enfermeiro para
obter novos informes,
mas Clarêncio o impediu.
Por que Clarêncio agiu
assim?
André pretendia, de
fato, seguir Mário
Silva, para recolher
novas informações acerca
do caso que começava a
tornar-se fascinante.
Mas Clarêncio
explicou-lhe que não é
bom incomodar os
encarnados durante o
dia, provocando
elucidações que seriam
desagradáveis e fora de
ocasião. "Aguardemos a
noite – propôs o
Instrutor –, porque
enquanto o corpo físico
se refaz a alma
invariavelmente procura
o lugar ou o objeto a
que imanta o coração."
(Obra citada, cap. XV,
págs. 97 e 98.)
Texto
para leitura
40. Esteves
aparece - Alguns
instantes se passaram, e
nova personagem deu
entrada na sala. Era
José Esteves,
parcialmente liberto
pelo sono, que favorece
tais entendimentos, pela
atração magnética mais
intensivamente
facilitada, quando o
envoltório de matéria
densa exige recuperação.
Parecia contar então
trinta e cinco anos e
não perceber no recinto
a presença de outros
Espíritos que não fossem
Lola e Leonardo, a quem
reconheceu, estarrecido
e agoniado. Aliás, os
três protagonistas
daquele encontro jaziam
repentinamente
hipnotizados por
vibrações de assombro e
desespero. Leonardo,
então, dando um salto
para trás, bradou:
"Agora! agora, sim!...
Vieste mesmo! Vejo-te,
fora de minha cabeça,
vejo-te como és!...
Liquidemos nossa
conta... Risca-me dentre
os vivos ou eu te
riscarei!..." Antonina
pedia-lhe piedade, e
Esteves, sacudido pelas
próprias reminiscências,
respondeu-lhe,
agressivo: "Conheço-te
e odeio-te!...
Assassino,
assassino!..." Como as
duas entidades se
engalfinhariam, sem
dúvida, como animais
enfurecidos, Clarêncio
interferiu,
imobilizando-os
prontamente. Tocado pelo
Ministro, Esteves
enxergou os benfeitores
espirituais,
acalmando-se. O
Ministro, dirigindo-se
então a Leonardo com voz
segura, concitou: "Meu
amigo, extirpa da mente
a ideia do crime.
Achas-te cansado,
enfermo. Receberás a
medicação de que
necessitas". Num átimo,
Clarêncio ausentou-se e
regressou trazendo
consigo dois amigos
espirituais que
transportaram Leonardo,
semi-inconsciente, para
uma casa de reajuste,
onde mais tarde
receberia a assistência
de André e seus amigos.
Esteves foi acomodado
numa poltrona e Antonina
restituída a seu quarto,
mas foi grande a
dificuldade para
recompô-la em espírito e
religá-la à vestimenta
carnal, quase inerte.
Por mais de duas horas
ela exigiu atenção das
entidades e, mesmo
assim, quando acordou
estava exausta e
entontecida. Antonina
acreditou-se liberta de
estranho pesadelo e, sem
saber explicar a razão,
continuava soluçando...
(Cap. XIV, págs. 90 a
92)
41. O sonho
- Esteves, amedrontado,
suplicou que não o
prendessem, porque ele
fora a vítima, e
retirou-se para a via
pública, vagarosamente,
regressando ao seu lar.
Clarêncio e os demais
seguiram-no a pequena
distância. Novo dia se
iniciava: eram cinco
horas e trinta minutos.
Esteves entrou em seu
apartamento e se
esforçou por reaver o
corpo físico, contando
para isso com a ajuda
afetuosa de Clarêncio,
com o que ele pôde
recuperar a calma
natural. Quinze minutos
depois, o despertador
tilintou e o rapaz
acordou, guardando a
impressão de ter tido um
mau sonho. Ele se
chamava então Mário
Silva, enfermeiro de
profissão. Na sala do
apartamento, sua mãe o
saudou, carinhosa, e
ele, para explicar o
semblante carregado logo
cedo, relatou-lhe o
sonho que tivera.
Alguém o chamara, a
distância, em alta voz.
Pensando tratar-se de
algum doente em estado
grave, ele foi, mas, ao
invés de topar um
doente, viu-se numa cela
mal iluminada e úmida.
"Era um perfeito
cubículo de prisão,
onde me surpreendi
encarcerado, de repente,
junto de um criminoso
de mau aspecto e de
infortunada mulher em
pranto...", relatou
ele. "Senti tanta
simpatia pela moça
desventurada, quanta
aversão pelo réu de
medonha catadura. Tive,
porém, a impressão
nítida de que nos
conhecíamos. Um misto de
ódio e sofrimento me
tomou de assalto, junto
deles, principalmente ao
lado do infeliz, cujo
olhar se me afigurava
cruel..." (Cap. XV,
págs. 93 a 95)
42. A
explicação do sonho
- Mário explicou à sua
mãe não entender por que
não se retirara daquele
lugar, visto que sua
vontade era agredir o
homem que o repelia, ao
mesmo tempo em que
desejava acariciar a
infeliz mulher. Eles só
não se engalfinharam
numa luta de resultados
imprevisíveis, porque
apareceu de repente um
delegado policial,
seguido de dois guardas.
Seu adversário fora
então conduzido para
fora e a jovem levada
para o interior do
cárcere... "Depois...
depois, não consigo
precisar as
recordações... Sei
apenas que me pus a
correr, em fuga para
nossa casa, de vez que
os policiais se
mostravam igualmente
dispostos a
recolher-me", concluiu o
enfermeiro, explicando
com isso o seu
abatimento. A mãe lhe
perguntou: "Meu filho, o
sonho terá alguma
relação com a nossa
Zulmira? A mulher com
quem simpatizou não
seria, acaso, nossa
velha amiga, e o homem
que lhe inspirou tanta
repugnância não poderia
ser interpretado como
sendo o esposo dela?"
Mário não soube
responder e alegou que
nunca mais tivera
notícia de Zulmira,
sabendo apenas que ela
morava no mesmo bairro e
que o marido era
ferroviário de
importância. A mãe
ponderou: "Nunca pude
entender-lhe a atitude.
Tantos anos de
convivência, tantos
projetos de
felicidade!... Trocar
tudo, assim, por um
viúvo, acompanhado de
dois filhos!..." O
rapaz, denotando certa
amargura, observou:
"Ora, mamãe, evitemos
recordações sem
proveito. Zulmira não
deve reaparecer em minha
memória e esse Amaro que
ela desposou é um ponto
negro em meu coração.
Creio que o melhor
sentimento para eles
dois em minha vida
íntima é o ódio com que
os reúno em minha
lembrança. Não desejo
revê-los e, francamente,
se eu soubesse que
residiam aqui, em nossa
vizinhança, decidiria
nossa transferência para
outro rumo..." (Cap. XV,
págs. 95 e 96)
43. Um triângulo
amoroso - A mãe
de Mário Silva tinha a
convicção de que as
pessoas, no sono,
procuram os afetos ou os
desafetos do caminho,
mas o filho não se
ligava a isso e,
visivelmente enfadado,
beijou-a e saiu para o
hospital, onde o serviço
cirúrgico de duas
crianças, às oito em
ponto, o aguardava.
André estava surpreso!
Zulmira, a quem Mário se
referiu, seria a esposa
de Amaro? Clarêncio
elucidou o caso:
"Realmente, o nosso novo
amigo foi noivo de
Zulmira, a senhora
obsidiada que
conhecemos. Pretendia
desposá-la, mas foi
preterido no coração
dela por Amaro, que lhe
deve assistência e
carinho. O passado fala
do presente. Acham-se
enredados numa teia de
compromissos que lhes
reclamam resgate". Nesse
comenos, a mãe do
enfermeiro, devotada e
sensível, meditando no
sonho do filho, enquanto
varria a casa, orava por
ele, rogando a Jesus o
abençoasse. Ela sabia
quanto seu filho sofreu
ao perder a noiva
querida e receava vê-lo
de novo atormentado e
vencido... O pensamento
em prece escapava-lhe da
cabeça, como tênue
esguicho de luz.
Clarêncio abeirou-se
dela e transmitiu-lhe
forças calmantes,
sossegando-lhe o
coração. Depois,
explicou aos pupilos que
já a conhecia: "Nossa
irmã Minervina é velha
conhecida. Recebeu nos
braços meia dúzia de
filhos que tem sabido
conduzir,
admiravelmente. Coração
abnegado, alma rica de
fé". André pretendia
seguir Mário Silva, para
obter novos informes
acerca do caso que
começava a tornar-se
fascinante. Clarêncio,
contudo, explicou-lhe
(pela segunda vez nesta
história) que não é
bom incomodar os
encarnados durante o
dia, provocando
elucidações que seriam
desagradáveis e fora de
ocasião. "Aguardemos a
noite – propôs o
Instrutor –, porque
enquanto o corpo físico
se refaz a alma
invariavelmente procura
o lugar ou o objeto a
que imanta o coração".
(Cap. XV, págs. 97 e 98)
(Continua no próximo
número.)