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Crônicas e Artigos
Ano 3 - N° 134 - 22 de Novembro de 2009

MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com

Guará II, Distrito Federal (Brasil)
 

 Vidas em set

 Quanto maior o erro, maior o tempo consumido pelo remorso (Victor Hugo).


Acabei de assistir, em DVD, ao filme "Sete vidas" ("Seven Pounds", EUA, 2008), de Gabriele Muccino, com Will Smith no papel principal. É um filme triste, de dramas pessoais e que causou grande espécie entre o público religioso, pois, em uma visão superficial, ele promoveria a ideia do suicídio. Deixando essa polêmica questão de lado, pareceu-me que a ideia central do filme era outra. Assim como no romance "Crime e Castigo", de Dostoievski, em que a ideia do castigo persegue o criminoso, como aplacadora do crime, o filme trata do remorso e da necessidade de reparação que perseguem o protagonista, como aplacadores de sua falha que deu cabo à vida de sete pessoas.  

A questão do remorso é complexa. Os Espíritos abordam-no como uma questão ambivalente, como moto de progresso que pode vir a se tornar peso na caminhada.

Segundo André Luiz, "o remorso é sempre o ponto de sintonia entre o devedor e o credor". Emmanuel já assevera que "alguns centímetros de remorso pesam no coração muito mais que uma tonelada de sacrifícios". O mesmo remorso que imprime a falha na nossa consciência, como elemento de avanço na reparação, quase que um registro, pode assumir dimensões de fim em si mesmo, convertendo-se em chave de inação. Esse ponto de ligação entre irmãos em dívida pesa no coração e demanda esforço para a sua superação, o que pode demandar várias reencarnações.

Nesse ponto, o filme nos faz pensar muito na bênção do esquecimento, mecanismo da divindade que nos permite superar esse passado reencarnatório, mitigando a sua lembrança, para permitir em um novo recomeço, nem sempre começando do zero, com algumas páginas apagadas, reescrever o livro da nossa existência. Alguns lembram-se de parte do seu passado, como uma necessidade particular, para permitir o seu avanço. Mas a regra é a bênção do esquecimento. Esse esquecimento é uma lembrança do respeito que devemos ter a essa força poderosa que é o remorso, que pode ser convertida em AÇÃO visando à reparação, ou pode se transformar em fardo de autocomiseração. O remorso deve ser irmão amigo do desejo de reparação e não companheiro da depressão.  

Assim como no filme, em que vidas surgem à frente do protagonista à busca de uma mão amiga, sempre surge para nós a oportunidade da reparação, pela prática do bem, não se importando se o objeto da ação é diretamente aquele prejudicado, pois a economia divina também circula capitais e a nossa ajuda de hoje se transmite na ajuda de outrem amanhã. O remorso fica em quem pratica, mas o amor reparador pode se destinar à humanidade, representada em cada irmão.  

Para concluir, falando também de filmes, um grande Espírito que passou em nosso planeta tem uma passagem belíssima sobre o assunto, retratado nas cenas finais do filme "Gandhi", 1982 (UK/Índia), direção de Richard Attenborough. Um hindu se vira para Gandhi e diz que tinha um filho pequeno que foi assassinado pelos muçulmanos. Então ele pegou a primeira criança muçulmana que conseguiu encontrar deu fim à sua vida.

Gandhi então lhe diz que conhecia um jeito de escapar daquele inferno. Muitos meninos agora estão sem os pais por causa da matança. Diz ao hindu que encontre um menino muçulmano da mesma idade do seu filho e adote-o. Só que não deixe de criá-lo como muçulmano. Essa bela lição do ícone indiano prova que mesmo diante da maior culpa, é sempre possível, pela força reparadora do amor, aplacar o remorso. Mas demanda tempo. E tempo demanda Fé... 


     


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita