MARCUS
VINICIUS DE AZEVEDO
BRAGA
acervobraga@gmail.com
Guará II, Distrito
Federal (Brasil)
Vidas
em set
Quanto
maior o erro, maior o
tempo consumido pelo
remorso (Victor Hugo).
Acabei de assistir, em
DVD, ao filme "Sete
vidas" ("Seven Pounds",
EUA, 2008), de Gabriele Muccino, com Will Smith
no papel principal. É um
filme triste, de dramas
pessoais e que causou
grande espécie entre o
público religioso, pois,
em uma visão
superficial, ele
promoveria a ideia do
suicídio. Deixando essa
polêmica questão de
lado, pareceu-me que a ideia central do filme
era outra. Assim como no
romance "Crime e
Castigo", de
Dostoievski, em que a ideia do castigo
persegue o criminoso,
como aplacadora do
crime, o filme trata do
remorso e da necessidade
de reparação que
perseguem o
protagonista, como
aplacadores de sua falha
que deu cabo à vida de
sete pessoas.
A questão do remorso é
complexa. Os Espíritos
abordam-no como uma
questão ambivalente,
como moto de progresso
que pode vir a se tornar
peso na caminhada.
Segundo André Luiz, "o
remorso é sempre o ponto
de sintonia entre o
devedor e o credor".
Emmanuel já assevera que
"alguns centímetros de
remorso pesam no coração
muito mais que uma
tonelada de
sacrifícios". O mesmo
remorso que imprime a
falha na nossa
consciência, como
elemento de avanço na
reparação, quase que um
registro, pode assumir
dimensões de fim em si
mesmo, convertendo-se em
chave de inação. Esse
ponto de ligação entre
irmãos em dívida pesa no
coração e demanda
esforço para a sua
superação, o que pode
demandar várias
reencarnações.
Nesse ponto, o filme nos
faz pensar muito na
bênção do esquecimento,
mecanismo da divindade
que nos permite superar
esse passado
reencarnatório,
mitigando a sua
lembrança, para permitir
em um novo recomeço, nem
sempre começando do
zero, com algumas
páginas apagadas,
reescrever o livro da
nossa existência. Alguns
lembram-se de parte do
seu passado, como uma
necessidade particular,
para permitir o seu
avanço. Mas a regra é a
bênção do esquecimento.
Esse esquecimento é uma
lembrança do respeito
que devemos ter a essa
força poderosa que é o
remorso, que pode ser
convertida em AÇÃO
visando à reparação, ou
pode se
transformar em fardo de
autocomiseração. O
remorso deve ser irmão
amigo do desejo de
reparação e não
companheiro da
depressão.
Assim como no filme, em
que vidas surgem à
frente do protagonista à
busca de uma mão amiga,
sempre surge para nós a
oportunidade da
reparação, pela prática
do bem, não se
importando se o objeto
da ação é diretamente
aquele prejudicado, pois
a economia divina também
circula capitais e a
nossa ajuda de hoje se
transmite na ajuda de
outrem amanhã. O remorso
fica em quem pratica,
mas o amor reparador
pode se destinar à
humanidade, representada
em cada irmão.
Para concluir, falando
também de filmes, um
grande Espírito que
passou em nosso planeta
tem uma passagem
belíssima sobre o
assunto, retratado nas
cenas finais do filme
"Gandhi", 1982 (UK/Índia),
direção de Richard
Attenborough. Um hindu
se vira para Gandhi e
diz que tinha um filho
pequeno que foi
assassinado pelos
muçulmanos. Então ele
pegou a primeira criança
muçulmana que conseguiu
encontrar deu fim à sua
vida.
Gandhi então lhe diz que
conhecia um jeito de
escapar daquele inferno.
Muitos meninos agora
estão sem os pais por
causa da matança. Diz ao
hindu que encontre um
menino muçulmano da
mesma idade do seu filho
e adote-o. Só que não
deixe de criá-lo como
muçulmano. Essa bela
lição do ícone indiano
prova que mesmo diante
da maior culpa, é sempre
possível, pela força
reparadora do amor,
aplacar o remorso. Mas
demanda tempo. E tempo
demanda Fé...