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Clássicos do Espiritismo
Ano 3 - N° 135 - 29 de Novembro de 2009

ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 
 

A Evolução Anímica

  Gabriel Delanne

 (Parte 14)

Damos continuidade nesta edição ao estudo do clássico A Evolução Anímica, que será aqui estudado em 17 partes. A fonte do estudo é a 8ª edição do livro, baseada em tradução de Manoel Quintão publicada pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares

A. Pode um Espírito ao reencarnar ter cerceada a manifestação de sua capacidade intelectual em sua plenitude?

Sim. Assim como há Espíritos reencarnados que apresentam aptidões extraordinárias e precoces para as artes e as ciências, como no caso de Pascal e Mozart, pode dar-se fenômeno inverso, quando as leis da hereditariedade põem entraves ao indivíduo, de maneira que, durante a existência corporal, lhe fique cerceada a manifestação da inteligência em toda a sua amplitude e fulgurância. (A Evolução Anímica, pp. 194 e 195.)

B. Por que tal fato se dá?

Como vivemos na Terra muitas vezes, é preciso desenvolver, em cada vez, virtudes como a humildade, cuja aquisição se torna quase incompatível com um intelectualismo brilhante. O Espírito escolhe, então, um invólucro refratário que lhe impede as mais altas expressões da atividade intelectual e, durante uma etapa terrena, poderá consagrar-se a tarefas mais humildes, imprescindíveis ao seu progresso espiritual. (Obra citada, pág. 197.)

C. Uma vez que se admite a hereditariedade fisiológica, haverá também uma hereditariedade psicológica?

Delanne responde deste modo a tal pergunta: “Não”, se por isso entendermos a transmissão das faculdades intelectuais em si mesmas, e “Sim”, se quisermos com isso dizer transmissão dos órgãos necessários à manifestação do pensamento. Não é raro vermos numa família filhos que em nada se parecem com os pais, quer física, quer intelectual, quer moralmente. A História mostra-nos, a cada passo, filhos de homens notáveis que foram verdadeiras antíteses das virtudes e talentos paternos. Péricles teve dois filhos cretinos. Aristipo engendrou o infame Lisímaco. De Tucídides proveio Milésias. Sófocles, Temístocles e Sócrates tiveram filhos degenerados. A história contemporânea apresenta-nos também todo um quadro de filhos nada comparáveis aos pais. Nos domínios da ciência temos visto surgir gênios em meios rústicos ou de pais ignorantes, como Bacon, Comte, Copérnico, Descartes, Kant, Kepler, Spinoza, atestados vivos de que a genialidade não é hereditária.  (Obra citada, pp. 203 e 204.)

Texto para leitura 

144. As aquisições do passado permanecem latentes, não se destroem, e são elas que fazem o substrato do Espírito, isso que denominamos o caráter, a marca própria de cada qual, assim como os seus pendores cada vez mais amplos para as ciências, as artes, as letras, as indústrias etc. Essa base é fundamental, tanto que se inculcarmos a um Espírito menos evoluído, ou insuficientemente evoluído, conhecimentos muito superiores ao seu estado mental inconsciente, pode parecer-nos que ele os assimila; a verdade, porém, é que apenas dormitarão nele e acabarão logo esquecidos. (Págs. 192 e 193)

145. Todos nós revelamos aptidões desde o berço. A criança traz consigo aptidões intelectuais e vícios ou paixões que jazem latentes no seu invólucro perispiritual, para aflorarem depois, sob o influxo das circunstâncias contingentes da vida terrena. Quanto mais velha for a alma, quanto mais tempo houver vivido na Terra, maior será a sua bagagem inconsciente e menores esforços lhe caberá fazer para ressuscitar seus antigos conhecimentos. Daí, o profundo sentido e a absoluta justiça do apotegma de Platão: “Aprender é recordar”(Págs. 194 e 195)

146. Assim se explicam as aptidões extraordinárias e precoces para as artes e as ciências que tornaram famosos indivíduos como Pico de la Mirandola, Pascal e Mozart. Por outro lado, pode dar-se fenômeno inverso, quando as leis da hereditariedade põem entraves ao indivíduo, de maneira que, durante a existência corporal, lhe fique cerceada a manifestação da inteligência em toda a sua amplitude e fulgurância. (Pág. 195)

147. Como vivemos na Terra muitas vezes, é preciso desenvolver, em cada vez, virtudes como a humildade, cuja aquisição se torna quase incompatível com um intelectualismo brilhante. O Espírito escolhe, então, um invólucro refratário que lhe impede as mais altas expressões da atividade intelectual e, durante uma etapa terrena, poderá consagrar-se a tarefas mais humildes, imprescindíveis ao seu progresso espiritual. Importante notar que a alma nem sempre pode dar ao corpo físico a forma que ela desejaria, uma vez que o invólucro corporal é construído mediante as leis da fecundação, e a hereditariedade individual dos genitores, transmitida pela força vital, opõe-se ao poder plástico da alma. (Pág. 197)

148. A hereditariedade –  A hereditariedade é uma lei biológica mediante a qual todos os seres viventes procuram repetir-se nos seus descendentes. A ciência contemporânea não pode oferecer, para o estudo desse assunto, senão hipóteses. Destas, a mais recente e mais bem elaborada é a de Darwin no seu livro “A variação dos animais e das plantas”, cujos traços gerais se encontram em “Princípios de Biologia”, de Herbert Spencer. Chama-se Pangênese. (Págs. 197 e 198)

149. Eis de forma resumida os elementos constitutivos dessa teoria: I – O organismo é composto de células; cada célula tem vida própria e possui as propriedades fundamentais da vida, a saber: nutrição, evolução e reprodução. II – Esse elemento anatômico representa no organismo o mesmo papel do indivíduo no Estado, isto é, goza de tal ou qual independência e participa do corpo social. III – Os organismos inferiores possuem um grande poder de reprodução. Algumas plantas gozam também dessa propriedade em alto grau. IV – A Begonia phylomaniaca pode reproduzir-se simplesmente por meio de uma partícula mínima de suas folhas, de modo que uma só folha pode dar origem a uma centena de plantas. Isso significa que a célula original, destacando-se da planta-mãe, leva consigo não apenas a capacidade reprodutiva, mas a multiplica e distribui por todas as células reproduzidas, sem diminuição da energia própria, durante gerações inumeráveis. V – Para explicar essa potencialidade de reprodução, Darwin propõe a teoria pangenética, segundo a qual em todo organismo cada átomo, ou unidade componente, se reproduz por si mesmo. (Págs. 198 e 199)

150. A teoria pangenética é transcrita parcialmente, em seguida, por Delanne, antes de examinar a questão da hereditariedade fisiológica, que atuaria não só na conformação interna, como na estrutura externa. Desse modo, o albinismo, o raquitismo, a manqueira e todas as anomalias orgânicas podem ser transmitidas na procriação, mas isso nem sempre se dá. Ora, a transmissão hereditária não se faz de modo absoluto, porque a força vital do recém-vindo deriva de dois fatores que se modificam reciprocamente e também do fato de o perispírito do reencarnante prestar-se, mais ou menos, a essas modificações.  (Págs. 199 a 203)

151. A hereditariedade psicológica – Admitida a hereditariedade fisiológica, haverá também uma hereditariedade psicológica? Delanne responde a tal pergunta: “Não”, se por isso entendermos a transmissão das faculdades intelectuais em si mesmas; “Sim”, se quisermos com isso dizer transmissão dos órgãos necessários à manifestação do pensamento. Não é raro vermos numa família filhos que em nada se parecem com os pais, quer física, quer intelectual, quer moralmente. A História mostra-nos, a cada passo, filhos de homens notáveis que foram verdadeiras antíteses das virtudes e talentos paternos. Péricles teve dois filhos cretinos. Aristipo engendrou o infame Lisímaco. De Tucídides proveio Milésias. Sófocles, Temístocles e Sócrates tiveram filhos degenerados. (Págs. 203 e 204)

152. A história contemporânea é todo um quadro de filhos nada comparáveis aos pais. Nos domínios da ciência temos visto surgir gênios em meios rústicos ou de pais ignorantes, como Bacon, Comte, Copérnico, Descartes, Kant, Kepler, Spinoza, atestados vivos de que a genialidade não é hereditária. (Pág. 204)

153. As faculdades sensoriais e os hábitos corporais podem, no entanto, transmitir-se hereditariamente, tais como a percepção, a memória, a imaginação, que podem, muitas vezes, encontrar-se numa mesma família. Há numerosos casos de pintores, músicos e estadistas em que as aptidões parecem comunicar-se de pais a filhos. Temos de considerar, porém, em primeiro lugar, a função – que pertence à alma – e depois o órgão material, que lhe serve à manifestação. Para que lhe seja possível evidenciar suas faculdades em toda a plenitude, a alma precisa de um organismo material em perfeita correlação com o seu desenvolvimento intelectual. (Pág. 204)

154. Vimos anteriormente que o perispírito é a condição fluídica do mecanismo de atuação da alma sobre o corpo. É racional, pois, admitir que a alma, desejosa de reencarnar, procure na Terra genitores cujo valor intelectual e, por conseguinte, a sua constituição física tenham com ela maior afinidade, assegurando-se desse modo, dentro das leis mesmas da hereditariedade, um corpo propício ao desenvolvimento das suas aspirações. Nada a estranhar, portanto, que um músico prefira a paternidade de um maestro à de um pedreiro. (Pág. 205) (Continua no próximo número.)



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita