MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Entre a Terra e o Céu
André Luiz
(Parte
12)
Continuamos a apresentar
o
estudo da obra
Entre a Terra e o Céu,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1954 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. A paixão pode
cegar-nos?
Segundo o Ministro
Clarêncio, sim. "A
paixão cega sempre.
Nossa vida mental é a
nossa vida verdadeira e,
por isso, quando a
paixão nos ocupa a
fortaleza íntima, nada
vemos e nada registramos
senão a própria
perturbação."
(Entre a Terra e o Céu,
cap. XVI, pp. 99 e 100.)
B. A prece pode
ajudar-nos a que
evitemos algum conflito?
Sim. Foi o que ocorreu
no caso da discussão
entre Mário Silva e
Amaro, que não revidou
nem respondeu às
agressões do outro, mas
baixou a cabeça em
oração fervorosa. Suaves
irradiações de
esmeraldina luz
escaparam-lhe, então, da
fronte, e as palavras
inarticuladas de que se
servia, para implorar
socorro, alcançaram o
grupo socorrista que a
tudo via, qual se fossem
ondas caloríferas e
harmoniosas de humildade
e confiança. Clarêncio
resolveu então que era
hora de ajudar,
respondendo à rogativa
de Amaro.
(Obra citada, cap. XVI,
pp. 103 e 104.)
C. Amaro teve culpa na
morte de Esteves, hoje
Mário Silva?
Não. Foi Leonardo Pires
quem o envenenou. Amaro
não sabia do fato.
Esteves não supunha que
Leonardo conhecesse a
deserção da esposa e
procurou, então,
agradá-lo, aceitando-lhe
a companhia. O suculento
repasto de que se
serviram exigia algum
trago de vinho e
Leonardo não hesitou,
ministrando-lhe o veneno
que trazia às ocultas.
Foi assim que o crime
ocorreu.
(Obra citada, cap. XVII,
pp. 105 e 106.)
Texto
para leitura
44. Nossa vida
mental é a verdadeira
- À noite, o grupo
retornou à casa de Mário
Silva, o enfermeiro,
que, estirado nos
lençóis, debalde
procurava dormir. O
sonho da véspera
castigava-lhe o
pensamento. Ele julgava
ter visto ali Amaro, que
se casara com Zulmira,
companheira de infância
do enfermeiro, a quem
este amara
verdadeiramente e cuja
perda considerava
irreparável. Conhecia
Amaro de relance, mas o
suficiente para
detestá-lo, com todas as
reservas de ódio de que
se sentia capaz. Essas
ideias e dúvidas o
atormentavam, e Mário
passou a acalentar,
então, o desejo de
voltar ao sonho da noite
anterior, para tentar
uma solução. A figura de
Amaro, seu rival,
crescia-lhe na mente.
"Se as almas podiam
efetivamente
reencontrar-se, fora do
corpo – prosseguia Mário
em suas divagações –,
decerto conseguiria
rever o adversário e
revidar... Se fora
invocado em sonho, era
lícito invocar quem
quisesse... Chamaria o
renegado esposo de
Zulmira a explicar-se.
Concentraria nele o
poder do pensamento.
Buscá-lo-ia onde
estivesse". O Ministro,
que o contemplava
compadecido, observou:
"A paixão cega sempre.
Nossa vida mental é a
nossa vida verdadeira e,
por isso, quando a
paixão nos ocupa a
fortaleza íntima, nada
vemos e nada registramos
senão a própria
perturbação". Em
seguida, aplicou passes
balsamizantes sobre o
rapaz, que, qual se
houvera sorvido brando
anestésico, relaxou os
nervos e descansou o
corpo, desprendendo-se
parcialmente do veículo
denso. Espantadiço e
tateante, sem notar ali
a presença de Clarêncio
e dos demais, Mário
vagueou pelo quarto,
chamando a atenção de
André o seu corpo
espiritual, que se
apresentava extremamente
condensado. (Cap. XVI,
págs. 99 e 100)
45. Mário evoca e
afronta seu rival
- Mário Silva detinha-se
em aflitivos quadros
íntimos. Qual ocorria
com Leonardo Pires, ele
padecia angustioso
complexo de fixação.
Evidente que seu caso
particular era
suavizado pelas lutas
da carne, mas mesmo isso
não era bastante para
diluir a obcecante
recordação do rival. A
mágoa feria-o
profundamente. Se as
tarefas de cada dia, na
Terra, o distraíam,
quando se via
espiritualmente a sós
dava curso ao ódio
coagulado, desde muito,
no coração. De fato,
Mário desceu à rua, como
um louco e passou a
gritar, com voz
estridente: "Amaro,
ladrão! Amaro,
usurpador! aparece! Se
tens dignidade,
afronta-me a
vingança!... Não
tremerei!... Onde
ocultaste a mulher que
eu amo?! Responde,
responde!..." Dizendo
isto, Mário caminhava
semiébrio, sem direção,
arremessando tais
palavras no ar, com
veemência e segurança.
Eis que, então, surgiu
alguém que vinha ao seu
encontro, em plena via
pública. Era Amaro, que,
desligado parcialmente
do corpo denso, copiando
o impulso do ferro
atraído pelo ímã,
atendia ao chamado. A
princípio,
defrontaram-se
altivamente, mas, logo
após, com as maneiras de
homem mais educado,
Amaro recuou,
revelando-se
preocupado em evitar
conflitos. O enfermeiro,
porém, de ânimo agitado,
bradou: "Não te
acovardes, bandido! Não
fujas!... Temos contas
a ajustar" Amaro,
contudo, afastou-se,
rápido, até que chegou à
porta de sua casa, onde
estacou, disposto a
defender a tranquilidade
doméstica. Mário o
seguiu e, erguendo os
punhos em posição de
combate, prosseguiu nas
ofensas, rixento, em que
lamentava a perda de
Zulmira: "Infame
enganador, onde puseste
a mulher que era minha
felicidade e minha vida?
Quebraste-me os sonhos,
aniquilaste-me os
ideais!... Homem
terrível, que fizeste
de mim? Sou apenas
máquina de trabalho, sem
fé e sem esperança!..."
Em resposta, Amaro
disse-lhe que não sabia
de sua afeição por
Zulmira e que nunca
tivera a intenção de
ofendê-lo. O diálogo
prosseguiu então, áspero
da parte de Mário, com
seu interlocutor na
defensiva. (Cap. XVI,
págs. 101 e 102)
46. Amaro roga
auxílio numa prece
- Havendo reconhecido a
pessoa que o agredia
verbalmente, Amaro
revelou-lhe que só
soubera de sua afeição
por Zulmira quando os
compromissos no
matrimônio não admitiam
qualquer recuo. Mário
chamou-o de hipócrita e
insistiu em que ele lhe
roubara a única
felicidade que esperava
do mundo, a única
felicidade que supunha
ser apenas sua... Amaro,
que vivia momentos
aflitivos em seu lar,
fixou triste sorriso e
obtemperou: "E acreditas
que eu seja feliz?
Admites no casamento
apenas a exaltação dos
sentidos inferiores?
Crês que o homem
consorciado deva
encontrar na mulher
simplesmente uma
escrava? Amo em Zulmira
a companheira e a irmã
que me cabe proteger.
Nem ela e nem eu
encontramos na
experiência conjugal a
ventura das afeições
cor-de-rosa, em que o
desejo contentado é como
a flor que morre num
dia..." Dito isto,
revelou que ele e sua
segunda mulher estavam
padecendo muito. Desde
que seu filho caçula
morrera, num acidente
terrível, sua casa
tornara-se um espinheiro
de sofrimento. Zulmira
adoecera gravemente e
ele mesmo continuava
agoniado e desfalecente.
"Saberias, porventura, o
que seja a desdita de um
pai que chora sem
lágrimas, mortalmente
ferido?", indagou-lhe
Amaro. "Se dívidas
possuo para com a Divina
Providência, podes
acreditar que não tenho
amargado pouco, a fim de
ressarci-las... A morte
para mim não passaria de
bênção libertadora."
Feito esse desabafo, o
infeliz rogou ao
enfermeiro compreensão
e ajuda. Se ele lhe
fizera algum mal, que o
perdoasse... Mário
Silva, para espanto de
André Luiz, retribuiu
com escandalosa
gargalhada: "Desculpar?
Nunca! Pelo tom da
conversa, concluo que a
justiça começou a
expressar-se,
devidamente, mas
abreviá-la-ei com as
minhas próprias mãos...
Meu desforço é certo,
meu ódio é
inexorável!..." Amaro
não revidou, nem
respondeu, mas baixou a
cabeça em oração
fervorosa. Suaves
irradiações de
esmeraldina luz
escapavam-lhe, então, da
fronte, e as palavras
inarticuladas de que se
servia, para implorar
socorro, alcançaram o
grupo socorrista que a
tudo via, qual se fossem
ondas caloríferas e
harmoniosas de humildade
e confiança. O
enfermeiro, incapaz de
sensibilizar-se,
prosseguiu gritando, e
Clarêncio resolveu que
era hora de ajudar,
respondendo à rogativa
de Amaro. (Cap. XVI,
págs. 103 e 104)
47. Mário rememora
seu passado com Lola e
sua morte -
Depois do esforço de
autocondensação, para o
necessário ajuste
vibratório, Clarêncio
abeirou-se dos dois
amigos, com o amoroso
poder que lhe era
característico, e Mário
associou sua presença ao
pesadelo da véspera,
passando a clamar: "Meu
caso não é com a
polícia!... não
precisamos de qualquer
delegado aqui!..." O
Ministro pediu-lhe calma
e informou que ali
estava para que ele
recordasse o passado. E,
situando a destra na
fronte de Mário, este
se aquietou, de repente,
acusando estranha
metamorfose. O
enfermeiro estava agora
mais elegante, mais
jovem e, depois de
alguns momentos,
exclamou, semiaterrado:
"Ah! agora!... agora me
lembro!... Meu agressor
de ontem é Leonardo
Pires... Como poderia
esquecê-lo assim tão
infantilmente? como não
rememorar? Disputávamos
a mesma mulher...
Achávamo-nos em Luque,
quando conheci a cantora
e bailarina
admirável... Lola
Ibarruri! Quem senão ela
poderia oferecer-me o
bálsamo do
esquecimento?!" E Mário,
transmudado em Esteves,
prosseguiu em suas
reminiscências:
"Realmente fiz tudo para
separá-los... Ele não
era o tipo de homem
capaz de fazê-la feliz!
Lola trazia consigo a
beleza, a juventude e a
arte reunidas e eu
carregava no peito o
esquife dos sonhos
mortos... Deu-me o
repouso de que minhalma
necessitava...
restaurou-me. Mas...
que domingo terrível
aquele da praça
embandeirada, em
Piraju!... Deslocavam-se
as forças para a caça ao
inimigo... Imaginava,
porém, a melhor maneira
de reencontrar a mulher
querida e, naquela
manhã de terrível
memória, consegui a
simpatia de Frei
Fidélis, antes da
missa... O caridoso
capuchinho
auxiliar-me-ia,
advogando-me a causa...
Lola não deveria
movimentar-se,
entretanto, poderia, por
minha vez, tornar à
retaguarda!... Os
maiorais eram meus
amigos!... Obteria, por
isso, o favor do
Príncipe!..." Mário
rememorou, então, o
crime de que ele fora a
vítima: "Arquitetava
meus planos, quando
encontrei Leonardo...
Não supunha conhecesse
ele a deserção da
companheira e procurei
agradá-lo, aceitando-lhe
a companhia... O
suculento repasto
exigia algum trago de
vinho e Pires não
hesitou, ministrando-me
o veneno que trazia às
ocultas!...Ah! bandido!
bandido!..." Dito
isto, Mário levou as
mãos à garganta, como se
aí registrasse enorme
sofrimento e caiu,
desamparado, gemendo de
dor. Clarêncio o
socorreu com recursos
magnéticos balsamizantes
e ele levantou-se,
aturdido. Amaro, que
estava igualmente
transtornado,
acompanhava a cena com
manifesta aflição.
Parecia que ele nada
entendia dos fatos que
acabavam de ser
relatados. (Cap. XVII,
págs. 105 e 106) (Continua no próximo
número.)