282. Outro fenômeno que
parece ainda mais
original e faz sorrir os
incrédulos é o dos
objetos materiais que o
Espírito julga possuir.
Como pode o Sr. Pierre
imaginar ter dinheiro e
haver pago a passagem do
trem que tomou para
fazer uma viagem? O
fenômeno - explica
Kardec - encontra
solução nas propriedades
do fluido perispiritual,
que não passa de uma
concentração do fluido
cósmico ou elemento
universal, uma
transformação parcial,
que produz o objeto que
se deseja. Tal objeto
para nós é uma
aparência, mas para o
Espírito é uma
realidade. (P. 341)
283. Tudo deve estar em
harmonia no mundo
espiritual, como no
mundo material. Aos
homens são necessários
objetos materiais; aos
Espíritos, cujo corpo é
fluídico, são
necessários objetos
fluídicos. Querendo
fumar, o Espírito
criaria um cachimbo que
para ele tem a realidade
de um cachimbo
terrestre. É assim que
se explicam as
vestimentas dos
Espíritos, as insígnias
e as várias aparências
que podem tomar os
desencarnados. (PP. 341
e 342)
284. A
que se deve essa ilusão
que tantos Espíritos
conservam, crendo-se
vivos? O assunto foi
tratado pelo Espírito de
Santo Agostinho, na
Sociedade Espírita de
Paris, em 21-7-1864, o
qual disse, em síntese,
o seguinte: I) Nem tudo
é provação na existência
humana. II) A vida do
Espírito continua desde
o nascimento até o
infinito: a morte nada
mais é que um acidente,
que em nada influi no
destino do que morre.
III) A morte separa o
Espírito do seu
invólucro material, mas
o envoltório
perispiritual conserva,
pelo menos em parte, as
propriedades do corpo
morto. IV) A ilusão
mencionada para alguns
dura muito tempo; tal
estado é uma
continuidade da vida
terrena, um estado misto
entre a vida corporal e
a vida espiritual. V)
Por que - se o indivíduo
foi simples e prudente -
sentiria o frio do
túmulo? por que passaria
bruscamente da vida à
morte, da claridade do
dia à noite? VI) Deus
não é injusto e deixa
aos pobres de
espírito esse
prazer, esperando que
vejam o seu estado pelo
desenvolvimento das
próprias faculdades e
passem, calmos, da vida
material à vida real do
Espírito. (P. 343)
285. Nem todos que
morrem subitamente caem
nesse estado - lembra
Santo Agostinho. Mas não
há um só cuja matéria
não tenha de lutar com o
Espírito que se
encontra. (P. 343)
286. Diferentemente -
ensina o iluminado
Espírito - ocorre com
aqueles para os quais a
ilusão quanto ao seu
estado é uma provação.
Oh! como ela é penosa!
Julgando-se vivos e bem
vivos, creem possuir um
corpo capaz de sentir e
saborear os prazeres
terrenos, mas, quando
suas mãos os querem
tocar, as mãos se
dissolvem; quando querem
aproximar os lábios de
uma taça ou de uma
fruta, os lábios se
aniquilam; veem, querem
tocar e nem podem sentir
nem tocar. Como o
paganismo apresenta uma
bela imagem deste
suplício em Tântalo,
sentindo fome e sede e
jamais podendo tocar os
lábios na fonte de água,
que sussurra ao seu
ouvido, ou no fruto, que
amadurece para ele! Que
fizeram esses infelizes
para suportarem tais
sofrimentos? Perguntai a
Deus: é a lei, que foi
escrita por ele. Quem
mata à espada morrerá
pela espada; quem
profanou o próximo, por
sua vez será profanado.
(PP. 343 e 344)
287. Um novo suicídio
atribuído às ideias
espíritas pelos jornais
de Marselha foi, logo em
seguida, esclarecido
pelo Sr. Chavaux, doutor
em Medicina, que contou
a Kardec, em carta
transcrita pela Revue,
ter sido conhecido do
infeliz e seu colega de
loja maçônica. Segundo o
dr. Chavaux, o
industrial - que se
matou motivado por
dificuldades financeiras
- jamais se ocupara de
Espiritismo e não tinha
lido nenhuma publicação
sobre esta matéria. (PP.
344 e 345)
288. Em Lyon, a
faculdade auditiva do
capitão B... evitou que
uma pessoa que ele mal
conhecia se suicidasse.
Foi o seu próprio filho
desencarnado, do qual
ele recebia frequentes
comunicações, quem lhe
murmurou no ouvido que
determinado homem
decidira suicidar-se.
Arrastando-o para fora
do estabelecimento onde
se encontravam, o
capitão revelou ao homem
que sabia do seu intento
e procurou, com as
ideias espíritas,
demovê-lo desse
propósito. (PP. 345 e
346)
289. O infeliz, que fora
ortopedista, agora com
76 anos de idade, tinha
sido arruinado por um
sócio, após o que caíra
doente. Uma vez curado,
ele se viu sem nenhum
recurso, quando foi
recolhido por uma
operária pobre, criatura
sublime que durante
meses o alimentou. (P.
346)
290. Após fazer um
resumo pungente do caso,
o Espírito de Cárita
mostra como é importante
a ajuda que prestamos
aos deserdados do
bem-estar social. “Os
pobres, amigos, são os
enviados de Deus”,
afirma Cárita. “Sorride
ao infortúnio, ó vós que
sois ricamente dotados
de todas as qualidades
de coração; ajudai-me em
minha tarefa; não
deixeis fechar-se esse
santuário de vossa alma,
onde mergulhou o olhar
de Deus; e um dia,
quando entrardes na
mãe-pátria, quando, com
o olhar incerto e o
passo inseguro,
buscardes o vosso
caminho através da
imensidade, eu vos
abrirei de par em par a
porta do templo onde
tudo é amor e caridade e
vos direi: Entrai, meus
amados; eu vos conheço!”
(PP. 346 e 347)
291. Kardec comenta o
episódio e a mensagem, e
indaga: “A quem fariam
crer seja esta a
linguagem do diabo?” Foi
a voz do diabo que se
fez ouvir ao ouvido do
capitão, sob o nome de
seu filho, para o
advertir que o velho ia
suicidar-se? (P. 347)
292. Publicada a
história da pobre
operária e do médico
arruinado pelo sócio,
vários donativos foram
encaminhados a eles,
através da Revue.
Um deles foi enviado por
um padre, que pediu
ocultasse seu nome. Com
o donativo, o padre
enviou a Kardec uma
carta. Eis um trecho
desta: “À sua pergunta
se nele eu reconhecia a
linguagem do demônio,
respondi que os nossos
melhores santos não
falam melhor”. “Senhor,
sou um pobre padre, mas
vos envio o óbolo da
viúva, em nome de
Jesus-Cristo, para essa
brava e digna mulher.”
(P. 348)
293. Kardec expõe, em um
artigo especial, por que
razão a Revue não
assumia a periodicidade
quinzenal ou mesmo
semanal, como muitos lhe
haviam proposto. O
primeiro motivo era a
multiplicidade dos
trabalhos desenvolvidos
pelo Codificador, cuja
extensão era difícil de
imaginar. O segundo
motivo estava ligado à
própria natureza da
publicação, que era
menos um jornal do que o
complemento e o
desenvolvimento de suas
obras doutrinárias.
Sendo a Revue uma
obra pessoal, cuja
responsabilidade ele
assumira inteiramente,
Kardec não desejava ser
entravado por nenhuma
vontade estranha, fato
que forçosamente
ocorreria se a
periodicidade fosse
alterada. (PP. 348 a
350)
(Continua no próximo
número.)