Alma
Augusto
dos Anjos
Nos combates ciclópicos,
titânicos,
Que eu às vezes na Terra
empreendia,
Nos vastos campos da
Psicologia,
Buscava as almas, seres
inorgânicos;
Nas lágrimas, nos risos
e nos pânicos,
Nos distúrbios sutis da
hipocondria,
Nas defectividades da
estesia,
Nos instintos soezes e
tirânicos,
Somente achava corpos na
existência,
E o sangue em continuada
efervescência
Com impulsos terríficos
e tredos.
Enceguecido e louco
então que eu era,
Que não via, dos astros
à monera,
As luzes dalma em
trágicos segredos.
Augusto dos Anjos nasceu
na Paraíba em 1884 e
desencarnou em 1914 na
cidade de Leopoldina
(MG). Foi professor no
Colégio Pedro II.
Inconfundível pela
bizarria da técnica bem
como dos assuntos de sua
predileção, deixou um só
livro — Eu — que foi,
aliás, suficiente para
lhe dar personalidade
original. O soneto acima
integra o livro
Parnaso de Além-Túmulo,
obra psicografada por
Francisco Cândido
Xavier.