A sabedoria do desapego
“Tudo passa e o Bem
permanece.” (Bezerra
de Menezes.)
Pode parecer utopia
falar em desapego em uma
época em que uma das
frases mais pronunciadas
é: “E o que eu ganho
com isso?” e a troca
de interesses impera nos
relacionamentos sociais
e profissionais,
resultando numa
sociedade calculista,
egoísta e inescrupulosa.
As consequências destas
atitudes são as
desigualdades sociais, a
corrupção como regra
comum e o individualismo
predominante.
O Bhagavad Gita
¹, a “sublime canção
da Índia”, há 7.000
anos já tratava do
necessário exercício do
desapego, trazendo uma
proposta de vida que
merece reflexão. Expõe a
obra que “a
autorrealização consiste
em trabalhar
intensamente e renunciar
a cada momento ao fruto
do trabalho”.
Convida-nos a agir no
bem não mais dependendo
dos frutos dessa ação,
com desinteresse de
lucro pessoal,
desapegando-se dos
desejos egoísticos.
Em O Livro
dos Espíritos
² vamos encontrar a
informação que o sinal
mais característico de
imperfeição é o
interesse pessoal,
sendo sinal notório de
inferioridade o apego
às coisas materiais.
Quando o nosso ego
domina nossas ações
temos atitudes
egoísticas de somente
satisfazer nossos
desejos e vontades, sem
medir as consequências
por essa escolha.
Sábio é aquele que
renuncia pela força da
verdade a si mesmo,
libertando-se do egoísmo
– caminho seguro para a
felicidade plena. Os
Espíritos Superiores ³
nos orientam a agir no
bem sem segunda
intenção, a sacrificar o
interesse pessoal pelo
bem do próximo,
exercitando a mais
meritória das virtudes:
a verdadeira e
desinteressada caridade.
Desapegar-se é preservar
a alma livre das coisas
exteriores,
libertando-se das
paixões e do ódio (e dos
impulsos que o geram). O
meio mais eficaz de
combater o predomínio da
natureza corpórea é
praticar a abnegação e o
desprendimento de si
mesmo. 4
Quando se propõe o
desapego, não significa
abandonar o “mundo”, mas
entender a existência
terrena como
transitória e
impermanente; o que
é imortal e verdadeiro é
o Espírito.
Desconhecendo ou
abdicando desta verdade
muitos comprometem a
saúde, a família, os
amigos e a própria
felicidade em busca das
conquistas temporárias.
Esquecer ou deixar para
mais tarde a evolução
espiritual, a aquisição
das riquezas “que as
traças não corroem” em
troca dos prazeres e dos
tesouros materiais, é
marca inegável de apego
e imperfeição.
A vida é feita em
ciclos. É preciso saber
quando uma etapa chega
ao final e permitir que
ela se encerre. O fim de
um emprego, de um
relacionamento, um filho
que parte para longe, um
amigo que desencarna...
A felicidade consiste em
desapegar-se das coisas,
pessoas, situações e
sentimentos e permitir
que uma nova etapa se
inicie em nossa vida,
assegurando-nos de não
ficarmos magoados e nem
deixarmos mágoas nos
outros. Isso não
significa amar menos ou
descuidar, mas, ao
contrário, enquanto o
amor liberta e cuida, o
apego aprisiona e
sufoca.
Allan Kardec 5
afirma: ”o egoísmo é
a fonte de todos os
vícios, como a caridade
é a fonte de todas as
virtudes. Destruir um e
desenvolver a outra, tal
deve ser o alvo de todos
os esforços do homem,
caso queira assegurar a
sua felicidade tanto
neste mundo quanto no
futuro”.
Desapegar-se é deixar de
ser egoísta é estar cada
vez mais próximo de si
mesmo, de Deus, e muito
- mas muito mais -
próximo da felicidade.
Notas:
¹ ROHDEN, Huberto.
Bagavad Gita, 8 ed.
Ed. Alvorada;
², ³, 4,
5 KARDEC, Allan.
O Livro dos
Espíritos, 1ª ed.
Comemorativa do
Sesquicentenário. Rio de
Janeiro: Federação
Espírita Brasileira,
questões
895,893,912,917.