27 anos sem Edgard Armond
O conhecido líder e estudioso do Espiritismo desencarnou em
1982, após décadas de serviço prestado ao
movimento
espírita brasileiro e à Federação Espírita
do Estado de São Paulo
Edgard Pereira Armond
(foto), que nasceu
em Guaratinguetá (SP) em
14 de junho de 1894 e
desencarnou na Capital
paulista em 29 de
novembro de 1982, aos 88
anos de idade, foi
militar, maçom,
professor e um dos
grandes estudiosos do
Espiritismo,
especialmente os
assuntos relacionados
com a mediunidade.
Responsável pela implantação da
Federação Espírita do Estado de São
Paulo (FEESP), a que serviu por mais de
três décadas, sistematizou o estudo da
Doutrina em termos evangélicos e
estabeleceu cursos para auxiliar o
desenvolvimento de médiuns. Em 1973, a
Aliança Espírita Evangélica
nasceu sob sua
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inspiração. Foi, também, pioneiro do
movimento de unificação, tendo lançado a
ideia de criação da União das Sociedades
Espíritas (USE). |
Antecedentes familiares e juventude
Filho de Henrique Ferreira Armond e de Leonor
Pereira de Souza Armond, ambos de Minas Gerais,
os antepassados da família remontam a fidalgos
franceses huguenotes, expatriados durante as
perseguições religiosas motivadas por Catarina
de Médicis a partir da Noite de São Bartolomeu
(Paris, 1519), e que se estenderam por todo país
até 1582.
Nesse período, os Armonds refugiaram-se em
Amsterdã, Holanda, dedicando-se ao comércio,
transferindo-se depois para a ilha da Madeira e
dali para o Brasil, em meados do século XVIII,
quando se fixaram em uma sesmaria recebida da
Coroa Portuguesa, entre Juiz de Fora e Barbacena,
onde estabeleceram a primitiva Fazenda dos
Moinhos.
Em Guaratinguetá (SP) fez os cursos primário e
secundário, transferindo-se para São Paulo em
1912, aos 18 anos de idade, e no mesmo ano para
o Rio de Janeiro, onde, além de ingressar no
comércio, prosseguiu seus estudos.
A carreira militar
Em 1914, ao eclodir a Primeira Guerra Mundial,
retornou para São Paulo, alistando-se em 10 de
maio de 1915 na Força Pública do Estado de São
Paulo, como praça de Pré.
Em 1916, ingressou na Escola de Oficiais, como
1° Sargento, saindo aspirante em 1918. No ano
seguinte casou-se com Nancy de Menezes, filha do
Marechal de Exército Manoel Félix de Menezes.
Armond comandou destacamentos em Santos, São
João da Boa Vista e Amparo, vindo depois a fixar-se
na Capital paulista. Como 2° Tenente, organizou
e foi nomeado diretor da Biblioteca da Força
Pública, sendo no mesmo período nomeado
professor de História, Geografia e Geometria na
Escola de Oficiais da antiga Força Pública.
Participou então de vários movimentos militares,
atuando nos movimentos tenentistas de 1922 e
1924, quando integrou a tropa de ocupação nas
fronteiras com a Argentina e o Paraguai até
1925.
Na Revolução de 1930, como capitão, serviu no
Estado Maior, voltando a exercer o magistério
militar na Escola de Oficiais e no Curso de
Aperfeiçoamento de Oficiais, quando lecionou
Administração e Legislação Militar.
Com a eclosão da Revolução Constitucionalista de
1932, Armond assumiu o comando da defesa do
litoral entre a divisa com o Estado do Rio de
Janeiro até Santos, com a missão adicional de
monitorar os movimentos da Armada, que mantinha
diversos navios de guerra nas águas da ilha de
São Sebastião.
Organizou e comandou tropas inicialmente em
Paraibuna e Caraguatatuba e, logo depois, no Sul
do Estado, nas cidades de Itaí, Taquari e Avaré.
Com o fim do conflito, foi nomeado Chefe de
Polícia do Estado de São Paulo, vindo a compor a
Casa Militar do Governador Militar do Estado,
General Waldomiro Lima. Sessenta dias após sua
nomeação, pediu demissão dessa função e foi,
então, nomeado comandante de um Batalhão de
Sapadores, até agosto de 1934.
De volta à cidade de São Paulo, assumiu o
subcomando da Escola de Oficiais em 1934.
Organizou em seguida a Inspetoria Administrativa
da Força e, por conveniência da organização, fez
o concurso para o quadro de Administração da
Força Pública, vindo a ser classificado como
Tenente Coronel, na chefia do Serviço de
Intendência e Transporte, cargo que exerceu até
1938, quando sofreu um acidente grave. Tendo
solicitado a sua reforma, foi julgado inválido
para o serviço militar, dando baixa no início de
1940, época em que redigiu o "Tratado de
Topografia Ligeira (2 v.)" e "Guerra Cisplatina"
(Discursos).
Da vivência espiritualista à militância espírita
Edgard Armond conhecia bem o espiritualismo em
geral. Desde 1910, em sua cidade natal, iniciara
estudos sobre religiões e filosofias, demorando-se
nos conhecimentos orientais.
Em 1921, enquanto comandante na cidade de Amparo,
aceitou um convite para ingressar na Maçonaria,
tendo deixando de frequentá-la alguns anos mais
tarde, no grau de Mestre.
De regresso à cidade de São Paulo, manteve
contato com líderes esoteristas, ocultistas e
espiritualistas, entre os quais Krishnamurti,
Krum Heler, Jenerajadasa, Raul Silva (sobrinho
de Batuíra) e o famoso médium de efeitos físicos,
Carmine Mirabelli. Em 1932, trabalhou ao lado do
famoso médium Dr. Luiz Parigot de Souza, do
Paraná.
Em 1936, a convite de Silvino Canuto de Abreu,
integrou o grupo de estudos e práticas
espiritistas que funcionou na residência deste.
Entre os seus participantes, encontravam-se o
Dr. Carlos Gomes de Souza Shalders e Antônio
Carlos Cardoso, ambos diretores da Escola
Politécnica, tendo o grupo trabalhado com o Sr.
Ramalho, médium de incorporação e uma única vez
com Linda Gazear, conhecida médium de efeitos
físicos que atuara na Europa, com Charles Richet
e outros investigadores. O grupo também promovia
visitas a outros grupos particulares que se
dedicavam à prática de trabalhos mediúnicos de
efeitos físicos, nos arredores da capital, todos
incentivados pelos resultados obtidos pela
família Prado em Belém do Pará.
A conversão de Armond ao Espiritismo deu-se após
sofrer um grave acidente automobilístico, em 28
de junho de 1938, quando quebrou ambos os
joelhos. Após diversas cirurgias, ficou quase
sem poder andar durante seis meses, passando, em
seguida, a usar muletas, com grande redução de
movimentos.
Nessa fase de convalescença, já estava
desenvolvendo trabalhos de cooperação espírita,
auxiliando amigos a preparar palestras e
conferências. Já lera, a essa altura, grande
parte da literatura espírita então disponível e,
num domingo à tarde, em 1939, passando pela rua
do Carmo, notou uma aglomeração à porta da
Associação das Classes Laboriosas. Curioso, foi
informado que ali estava se realizando uma
comemoração de Allan Kardec. Entrou e presenciou
parte do evento, reconhecendo então, dentre os
presentes, alguns líderes espíritas amigos, como,
por exemplo, João Batista Pereira, Lameira de
Andrade, Américo Montagnini, bem como o médium
Chico Xavier, que apenas iniciava sua tarefa
mediúnica.
Nessa reunião recebeu um livreto intitulado "Palavras
do Infinito", de autoria do Espírito de Humberto
de Campos, contendo mensagens avulsas de
entidades desencarnadas, distribuído pela
recém-formada Federação Espírita do Estado de
São Paulo. A leitura desse opúsculo aumentou
fortemente seu interesse pela Doutrina.
O serviço na Federação Espírita do Estado de São
Paulo
Nesse mesmo ano, passando pela Rua Maria Paula,
para onde a Federação havia se mudado dias
antes, percebendo à entrada uma placa com a
inscrição "Casa dos Espíritas do Brasil", entrou,
sendo recebido por João dos Santos e por este
apresentado aos outros ali presentes, com os
quais conversou alguns momentos, sendo convidado
a colaborar com as atividades, o que aceitou.
Dias depois, recebeu um memorando assinado por
Américo Montagnini, presidente recém-eleito,
comunicando-lhe haver sido eleito para o cargo
de secretário geral da Federação.
Como a Federação apenas se instalara naquele
prédio, adaptado para sede própria, nada
encontrou organizado ou em funcionamento
regular, estando tudo por fazer, em todos os
setores. João Batista Pereira, na eleição então
realizada, deixara a presidência para Américo
Montagnini e, sob a denominação de Casa dos
Espíritas do Brasil, se fundiram a Sociedade
Espírita São Pedro e São Paulo, até então
dirigida pelo Dr. Augusto Militão Pacheco, a
Sociedade de Metapsíquica de São Paulo, dirigida
pelo Dr. Shalders, e a própria Federação
Espírita do Estado de São Paulo.
Em 1944, atendendo a projeto da Secretaria Geral
da Casa dos Espíritas do Brasil, Armond fundou,
com Pedro de Camargo (Vinícius) e Marta Cajado
de Oliveira, o periódico "O Semeador", para
difusão das ideias doutrinárias e o movimento
geral da Casa. Nele, sob diversos pseudônimos,
Armond colaborou ininterruptamente até fevereiro
de 1972, alcançando um total de quatrocentos e
vinte e cinco artigos. Além do periódico, para
incrementar a difusão da Doutrina e prestigiar a
Casa, propôs ainda a criação de um programa
intitulado "Hora Espírita", que passou a ser
veiculado na Rádio Tupi, semanalmente, aos
domingos, sob a direção de João Rodrigues
Montemor.
Em 1947, Armond fundou a União Social Espírita
(USE), posteriormente denominada de União das
Sociedades Espíritas, com a finalidade de
fortalecer o movimento Espírita do Estado de São
Paulo e unificar as suas práticas religiosas.
Em 1950, Armond criou as Escolas de Aprendizes
do Evangelho, cursos de Espiritismo previstos
por Allan Kardec, em "Obras Póstumas", tarefa já
tentada anteriormente pelo Dr. Bezerra de
Menezes, no Rio de Janeiro, no início do século.
Complementarmente instituiu também as Escolas de
Médiuns, visando à melhoria do intercâmbio com o
plano espiritual.
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Suas principais obras
espíritas são: "Contribuições
ao Estudo da Mediunidade"
(1942), "Mediunidade de
Prova" (1943), "Desenvolvimento
Mediúnico" (1944), "Missão
Social dos Médiuns"
(1944), "Os Exilados da
Capela" (1949), "Passes
e Radiações" (1950), "Na
Cortina do Tempo" (1962)
e "O Redentor".
Em 1967, por motivos de doença, Armond
solicitou o próprio afastamento da
administração da Federação, embora tenha
continuado a colaborar à distância no
setor
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da publicidade, da organização de
centros e organizações espíritas,
inclusive em países estrangeiros.
Em 1973, em uma reunião em sua
residência, Armond, com alguns
companheiros, fundou a Aliança Espírita
Evangélica. A partir de 1980 assessorou
a formação do Setor III da Fraternidade
dos Discípulos de Jesus, que reúne
diversos Grupos Espíritas.
Seu falecimento ocorreu
no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo,
tendo sido sepultado no Cemitério de
Vila Mariana, na mesma cidade. |
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