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Estudando as obras de Kardec
Ano 3 - N° 136 – 6 de Dezembro de 2009

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A Revue Spirite de 1864

Allan Kardec 

(Parte 25)

 
Damos prosseguimento nesta edição ao estudo da Revue Spirite correspondente ao ano de 1864. O texto condensado do volume citado será aqui apresentado em 26 partes, com base na tradução de Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Questões preliminares

A. Que significa a expressão comunhão do pensamento?

Comunhão de pensamento quer dizer pensamento comum, unidade de intenção, de vontade, de desejo. O pensamento é uma força, mas não uma força puramente moral e abstrata. O pensamento é o atributo característico do ser espiritual: é ele que distingue o espírito da matéria. Sem o pensamento o Espírito não seria espírito. O pensamento age sobre os fluidos ambientes, como o som age sobre o ar. Uma assembleia é um foco que irradia pensamentos diversos; é como uma orquestra. Se o conjunto for harmônico, a impressão é agradável; se for discordante, a impressão é penosa. Essa é a causa da satisfação que se experimenta numa reunião simpática. Aí como que reina uma atmosfera salubre, de onde saímos reconfortados, porque nela nos impregnamos de eflúvios salutares. (Revue Spirite de 1864, pp. 351 a 354.) 

B. Que diz Kardec a propósito destas palavras de Jesus: “Quando estiverdes reunidos em meu nome, eu estarei em vosso meio”?

Kardec diz que devemos entendê-las de modo restrito, visto que não se pode estar reunido em nome de Jesus sem assimilar seus princípios, sua doutrina, cujo princípio fundamental é a caridade em pensamentos, palavras e ação. Os egoístas e os orgulhosos equivocam-se, pois, quando se dizem reunidos em nome de Jesus, porque Jesus não os conhece por seus discípulos. (Obra citada, pág. 355.) 

C. São úteis as assembleias religiosas?

Sim, embora existam pessoas que neguem a utilidade delas e, consequentemente, dos edifícios a elas consagrados. Em seu radicalismo pensam até mesmo que seria melhor construir hospícios do que templos, visto que o templo de Deus está em toda a parte, ao passo que os pobres e os doentes necessitam de um local para se tratarem. Falar assim – diz Kardec – é desconhecer a fonte e os benefícios da comunhão de pensamentos, que deve ser a essência das assembleias religiosas; é ignorar as causas que a provocam. (Obra citada, pág. 355.) 

Texto para leitura

294. O número de dezembro, que fecha o volume de 1864, inicia-se com o relato de uma reunião especial promovida pela Sociedade Espírita de Paris no dia 2 de novembro, com vistas a oferecer uma piedosa lembrança a seus falecidos colegas e irmãos espíritas. (PP. 351 a 356)

295. Kardec proferiu na oportunidade uma alocução em que, justificando a realização do encontro, aproveitou o ensejo para desenvolver o princípio da comunhão do pensamento, cujas ideias adiante resumimos: I) Comunhão de pensamento quer dizer pensamento comum, unidade de intenção, de vontade, de desejo. II) O pensamento é uma força, mas não uma força puramente moral e abstrata. III) O pensamento é o atributo característico do ser espiritual: é ele que distingue o espírito da matéria. Sem o pensamento o Espírito não seria espírito. IV) O pensamento age sobre os fluidos ambientes, como o som age sobre o ar. V) Uma assembleia é um foco que irradia pensamentos diversos; é como uma orquestra. Se o conjunto for harmônico, a impressão é agradável; se for discordante, a impressão é penosa. VI) Essa é a causa da satisfação que se experimenta numa reunião simpática. Aí como que reina uma atmosfera salubre, de onde saímos reconfortados, porque nela nos impregnamos de eflúvios salutares. VII) As reuniões que têm por objeto a comemoração dos mortos repousam na comunhão de pensamentos. VIII) Se a ação dos Espíritos malévolos pode ser paralisada por um pensamento comum, é evidente que a ação dos bons Espíritos pode ser ajudada e, assim, sem obstáculos, seus eflúvios fluídicos espalhar-se-ão sobre todos os assistentes. IX) Desse modo, pela comunhão dos pensamentos, os homens se assistem entre si e, ao mesmo tempo, assistem os Espíritos e são por estes assistidos.  (PP. 351 a 354)

296. Explicando por que, ao escrever sobre as coisas espirituais, por vezes se servia de comparações materiais, que nem sempre devem ser tomadas ao pé da letra, Kardec diz que procedeu assim, desde o princípio, para que todos compreendessem as suas obras e a doutrina espírita. “Eis por que me esforcei em simplificá-la e torná-la clara a fim de a pôr ao alcance de todos, com o risco de a fazer contestada por certa gente quanto ao título de filosofia, porque não é bastante abstrata e saiu do nevoeiro da metafísica clássica.” (P. 353)

297. “Quando estiverdes reunidos em meu nome, eu estarei em vosso meio”, disse Jesus. Ora, não se pode estar reunido em nome de Jesus sem assimilar os seus princípios, a sua doutrina, cujo princípio fundamental é a caridade em pensamentos, palavras e ação. Os egoístas e os orgulhosos mentem, pois, quando se dizem reunidos em nome de Jesus, porque Jesus não os conhece por seus discípulos. (P. 355)

298. Tocados por esses abusos e desvios, algumas pessoas negam a utilidade das assembleias religiosas e, consequentemente, dos edifícios a elas consagrados. Em seu radicalismo pensam até mesmo que seria melhor construir hospícios do que templos, visto que o templo de Deus está em toda a parte, ao passo que os pobres e os doentes necessitam de um local para se tratarem. (P. 355)

299. Falar assim é desconhecer a fonte e os benefícios da comunhão de pensamentos, que deve ser a essência das assembleias religiosas; é ignorar as causas que a provocam. Que os materialistas assim pensem, compreende-se; mas da parte dos espiritualistas e dos espíritas seria insensatez. (P. 355)

300. O isolamento religioso, como o isolamento social, conduz ao egoísmo. Qual o homem que poderá dizer-se bastante esclarecido para nada ter a aprender no tocante aos interesses futuros? bastante perfeito para prescindir dos conselhos para a vida presente? bastante capaz para instruir-se por si mesmo? A maioria necessita de ensinamentos diretos em matéria de religião e moral, como em matéria de ciência. Certamente, esses ensinos podem ser dados em toda a parte, sob a abóbada do céu, como sob a de um templo. Mas, por que os homens não haveriam de ter lugares especiais para as coisas celestes, como os têm para as terrenas? Por que não teriam assembleias religiosas, como têm assembleias políticas, científicas e industriais? (PP. 355 e 356)

301. A sessão comemorativa dedicada aos falecidos iniciou-se com uma prece especial. A seguir, o presidente da Sociedade Espírita de Paris dirigiu uma breve alocução aos Espíritos, citando nominalmente os Espíritos de Jobard, Sanson, Costeau, Hobach e Poudra, antigos membros da Sociedade, além de João Evangelista, Erasto, Lamennais, Georges, François-Nicolas-Madeleine, Santo Agostinho, Sonnet, Lalouze, Vianney, Jean Reynaud, Delphine de Girardin, Mesmer e São Luís, presidente espiritual da Sociedade Espírita de Paris. (PP. 357 e 358)

302. Após essa alocução, foram ditas diversas preces para cada categoria de Espíritos, com a designação dos nomes daqueles a quem eram dedicadas. As preces foram tiradas, em parte, do Evangelho segundo o Espiritismo, culminando com a Oração Dominical desenvolvida, transcrita no número de agosto de 1864. (P. 359)

303.   Em seguida, os médiuns se puseram à disposição dos Espíritos que quiseram manifestar-se, sem qualquer evocação particular, sendo recebidas, ao todo, diversas comunicações, de que a Revue  transcreveu nove. (PP. 359 a 367)

304. Em síntese, eis os principais ensinamentos colhidos naquela noite: I) Uma estreita comunhão liga os vivos aos mortos. A morte continua a obra esboçada e não rompe os laços do coração. O amor é a lei do Espiritismo. O grande nome de Jesus deve flutuar como uma bandeira acima de vossos ensinos. (João Evangelista.)  II) Dizem que Paris não é espírita. Contudo, é ela que dá a luz espírita ao mundo e esta luz lhe voltará aumentada e depurada. Nossa doutrina, por mais bela, encontra um obstáculo na ignorância. Nosso dever é, pois, diminuir o número de nossos irmãos ignorantes, a fim de que O Livro dos Espíritos não fique na letra morta para tantos párias. Trabalhar em espalhar a instrução nas massas é abrir a via ao Espiritismo. É criar homens que viverão e morrerão bem. (Sanson.) III. Graças ao Espiritismo, muitas pessoas já entraram na via do arrependimento e puderam melhorar-se. Que os que choram enxuguem as lágrimas, porque virão encontrar-nos num mundo melhor, onde a lei de justiça reina soberana, porque emana de Deus. (Hobach.) IV. Muitos Espíritos são esquecidos, abandonados, mesmo pelos que deveriam neles mais pensar: os seus parentes mais próximos. É que eles não são espíritas e não conhecem o efeito que sobre o Espírito pode produzir a prece. Vós, porém, orai, porque vossas preces são ouvidas pelo Altíssimo. (Lalouze.) V. A prece feita com sinceridade sobe a Deus e dele recebemos a força necessária para combater as más influências que os Espíritos levianos procuram fazer sentir os que trabalham na obra santa. (Aimée Brédard.) VI. A identidade das comunicações é coisa difícil de estabelecer; contudo, se quisésseis ajudar um pouco os Espíritos, preparando-vos previamente para as evocações, haveria frequentemente real identidade. Os fluidos devem ser similares; sem esta similitude não há comunicação possível. Quando quiserdes evocar alguém, pensai nele algum tempo antes e, assim, lhe oferecereis melhores meios de pessoalmente comunicar-se. (Um Espírito.) (PP. 360 a 367) (Continua no próximo número.)



 


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