294. O número de
dezembro, que fecha o
volume de 1864,
inicia-se com o relato
de uma reunião especial
promovida pela Sociedade
Espírita de Paris no dia
2 de novembro, com
vistas a oferecer uma
piedosa lembrança a seus
falecidos colegas e
irmãos espíritas. (PP.
351 a 356)
295. Kardec proferiu na
oportunidade uma
alocução em que,
justificando a
realização do encontro,
aproveitou o ensejo para
desenvolver o princípio
da comunhão do
pensamento, cujas
ideias adiante
resumimos: I) Comunhão
de pensamento quer dizer
pensamento comum,
unidade de intenção, de
vontade, de desejo. II)
O pensamento é uma
força, mas não uma força
puramente moral e
abstrata. III) O
pensamento é o atributo
característico do ser
espiritual: é ele que
distingue o espírito da
matéria. Sem o
pensamento o Espírito
não seria espírito. IV)
O pensamento age sobre
os fluidos ambientes,
como o som age sobre o
ar. V) Uma assembleia é
um foco que irradia
pensamentos diversos; é
como uma orquestra. Se o
conjunto for harmônico,
a impressão é agradável;
se for discordante, a
impressão é penosa. VI)
Essa é a causa da
satisfação que se
experimenta numa reunião
simpática. Aí como que
reina uma atmosfera
salubre, de onde saímos
reconfortados, porque
nela nos impregnamos de
eflúvios salutares. VII)
As reuniões que têm por
objeto a comemoração dos
mortos repousam na
comunhão de pensamentos.
VIII) Se a ação dos
Espíritos malévolos pode
ser paralisada por um
pensamento comum, é
evidente que a ação dos
bons Espíritos pode ser
ajudada e, assim, sem
obstáculos, seus
eflúvios fluídicos
espalhar-se-ão sobre
todos os assistentes.
IX) Desse modo, pela
comunhão dos
pensamentos, os homens
se assistem entre si e,
ao mesmo tempo, assistem
os Espíritos e são por
estes assistidos. (PP.
351 a 354)
296. Explicando por que,
ao escrever sobre as
coisas espirituais, por
vezes se servia de
comparações materiais,
que nem sempre devem ser
tomadas ao pé da letra,
Kardec diz que procedeu
assim, desde o
princípio, para que
todos compreendessem as
suas obras e a doutrina
espírita. “Eis por que
me esforcei em
simplificá-la e torná-la
clara a fim de a pôr ao
alcance de todos, com o
risco de a fazer
contestada por certa
gente quanto ao título
de filosofia, porque não
é bastante abstrata e
saiu do nevoeiro da
metafísica clássica.”
(P. 353)
297. “Quando estiverdes
reunidos em meu nome, eu
estarei em vosso meio”,
disse Jesus. Ora, não se
pode estar reunido em
nome de Jesus sem
assimilar os seus
princípios, a sua
doutrina, cujo princípio
fundamental é a caridade
em pensamentos, palavras
e ação. Os egoístas e os
orgulhosos mentem, pois,
quando se dizem reunidos
em nome de Jesus, porque
Jesus não os conhece por
seus discípulos. (P.
355)
298. Tocados por esses
abusos e desvios,
algumas pessoas negam a
utilidade das
assembleias religiosas
e, consequentemente, dos
edifícios a elas
consagrados. Em seu
radicalismo pensam até
mesmo que seria melhor
construir hospícios do
que templos, visto que o
templo de Deus está em
toda a parte, ao passo
que os pobres e os
doentes necessitam de um
local para se tratarem.
(P. 355)
299. Falar assim é
desconhecer a fonte e os
benefícios da comunhão
de pensamentos, que deve
ser a essência das
assembleias religiosas;
é ignorar as causas que
a provocam. Que os
materialistas assim
pensem, compreende-se;
mas da parte dos
espiritualistas e dos
espíritas seria
insensatez. (P. 355)
300. O isolamento
religioso, como o
isolamento social,
conduz ao egoísmo. Qual
o homem que poderá
dizer-se bastante
esclarecido para nada
ter a aprender no
tocante aos interesses
futuros? bastante
perfeito para prescindir
dos conselhos para a
vida presente? bastante
capaz para instruir-se
por si mesmo? A maioria
necessita de
ensinamentos diretos em
matéria de religião e
moral, como em matéria
de ciência. Certamente,
esses ensinos podem ser
dados em toda a parte,
sob a abóbada do céu,
como sob a de um templo.
Mas, por que os homens
não haveriam de ter
lugares especiais para
as coisas celestes, como
os têm para as terrenas?
Por que não teriam
assembleias religiosas,
como têm assembleias
políticas, científicas e
industriais? (PP. 355 e
356)
301. A
sessão comemorativa
dedicada aos falecidos
iniciou-se com uma prece
especial. A seguir, o
presidente da Sociedade
Espírita de Paris
dirigiu uma breve
alocução aos Espíritos,
citando nominalmente os
Espíritos de Jobard,
Sanson, Costeau, Hobach
e Poudra, antigos
membros da Sociedade,
além de João
Evangelista, Erasto,
Lamennais, Georges,
François-Nicolas-Madeleine,
Santo Agostinho, Sonnet,
Lalouze, Vianney, Jean
Reynaud, Delphine de
Girardin, Mesmer e São
Luís, presidente
espiritual da Sociedade
Espírita de Paris. (PP.
357 e 358)
302. Após essa alocução,
foram ditas diversas
preces para cada
categoria de Espíritos,
com a designação dos
nomes daqueles a quem
eram dedicadas. As
preces foram tiradas, em
parte, do Evangelho
segundo o Espiritismo,
culminando com a Oração
Dominical desenvolvida,
transcrita no número de
agosto de 1864. (P. 359)
303. Em seguida, os
médiuns se puseram à
disposição dos Espíritos
que quiseram
manifestar-se, sem
qualquer evocação
particular, sendo
recebidas, ao todo,
diversas comunicações,
de que a Revue transcreveu
nove. (PP. 359 a 367)
304. Em síntese, eis os
principais ensinamentos
colhidos naquela noite:
I) Uma estreita comunhão
liga os vivos aos
mortos. A morte continua
a obra esboçada e não
rompe os laços do
coração. O amor é a lei
do Espiritismo. O grande
nome de Jesus deve
flutuar como uma
bandeira acima de vossos
ensinos. (João
Evangelista.) II)
Dizem que Paris não é
espírita. Contudo, é ela
que dá a luz espírita ao
mundo e esta luz lhe
voltará aumentada e
depurada. Nossa
doutrina, por mais bela,
encontra um obstáculo na
ignorância. Nosso dever
é, pois, diminuir o
número de nossos irmãos
ignorantes, a fim de que
O Livro dos Espíritos
não fique na letra
morta para tantos
párias. Trabalhar em
espalhar a instrução nas
massas é abrir a via ao
Espiritismo. É criar
homens que viverão e
morrerão bem.
(Sanson.) III.
Graças ao Espiritismo,
muitas pessoas já
entraram na via do
arrependimento e puderam
melhorar-se. Que os que
choram enxuguem as
lágrimas, porque virão
encontrar-nos num mundo
melhor, onde a lei de
justiça reina soberana,
porque emana de Deus.
(Hobach.) IV. Muitos
Espíritos são
esquecidos, abandonados,
mesmo pelos que deveriam
neles mais pensar: os
seus parentes mais
próximos. É que eles não
são espíritas e não
conhecem o efeito que
sobre o Espírito pode
produzir a prece. Vós,
porém, orai, porque
vossas preces são
ouvidas pelo Altíssimo.
(Lalouze.) V. A
prece feita com
sinceridade sobe a Deus
e dele recebemos a força
necessária para combater
as más influências que
os Espíritos levianos
procuram fazer sentir os
que trabalham na obra
santa. (Aimée Brédard.)
VI. A identidade das
comunicações é coisa
difícil de estabelecer;
contudo, se quisésseis
ajudar um pouco os
Espíritos,
preparando-vos
previamente para as
evocações, haveria
frequentemente real
identidade. Os fluidos
devem ser similares; sem
esta similitude não há
comunicação possível.
Quando quiserdes evocar
alguém, pensai nele
algum tempo antes e,
assim, lhe oferecereis
melhores meios de
pessoalmente
comunicar-se. (Um
Espírito.) (PP. 360
a 367)
(Continua no próximo
número.)