MILTON R.
MEDRAN MOREIRA
medran@via-rs.net
Porto Alegre,
Rio Grande do
Sul (Brasil)
Olhos e ouvidos
de Deus
Quem, como eu,
teve educação
religiosa na
infância, sabe.
Para que a gente
não caísse na
tentação dos
pecados que nos
levariam ao
inferno,
ensinavam-nos
que Deus tinha
um olho muito
poderoso e tudo
via. Quando
estávamos ali
para cometer um
daqueles
pecadinhos
próprios de
nossa idade,
lembrávamos que
o olho de Deus
estava vendo e...
segurávamos!
Nada escapava
àquele olho. Nem
nossos
pensamentos mais
íntimos. Ele
invadia nossa
alma, sabia de
nossos secretos
desejos. E o
pior de tudo é
que, mesmo que
ficássemos só na
vontade, ele
também nos
puniria. Porque
por pensamento
também se
pecava.
Eram tempos em
que se
acreditava num
Deus severo, que
não tolerava as
fraquezas
humanas e nos
obrigava a andar
na linha.
Obedecíamos por
medo.
Há quem tenha
saudade desses
tempos. Eu não.
Pode-se
compreender,
hoje, que a
ética está
dentro da alma
humana. A vida
já nos
possibilita
entender que ser
bom, correto,
viver de acordo
com a
consciência, só
traz vantagens.
Para nós e para
os que nos
rodeiam.
Pena que nem
todo o mundo se
dá conta disso.
Deixaram de crer
naquele Deus de
antigamente, mas
também não foram
capazes de
descobrir esse
outro que está
dentro da gente.
E porque em nada
creem e acham
que de seus atos
não resultam
consequências,
tentam enganar
todo mundo. Às
vezes, uma
comunidade
inteira. Como
julgam que
ninguém está
vendo, tornam-se
capazes de
tudo.
Mas a vida tem
seus mecanismos
inteligentes,
independentemente
de nossas
crenças.
Atribuições que,
antes,
julgávamos serem
da competência
exclusiva dos
“deuses” são
assumidas pelo
próprio homem. E
é assim que,
pouco a pouco,
eles vão sendo
descobertos:
Um repórter que
se faz passar
por corruptor...
Uma câmara
escondida capta
o momento exato
em que o figurão
recebe a
propina...
Uma
interceptação
telefônica
flagrando o
acerto entre a
empreiteira e o
político...
Os que antes
julgavam tudo
poder vão, dessa
forma, caindo
nas malhas da
lei e se
desmoralizando
perante a
sociedade.
Aparatos
eletrônicos que
desmascaram
políticos
desonestos,
empresários ou
profissionais
safados são,
pode-se dizer
hoje, os olhos e
os ouvidos de
Deus a serviço
do homem.
Talvez, por aí,
um dia, eles
possam entender
que, realmente,
não vale a pena.
E, mesmo que,
por um tempo
ainda, não sejam
descobertos,
eles sofrerão,
no íntimo de
suas
consciências, os
efeitos do mal
praticado.