MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Entre a Terra e o Céu
André Luiz
(Parte
14)
Continuamos a apresentar
o
estudo da obra
Entre a Terra e o Céu,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1954 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Armando teve alguma
influência no suicídio
de Júlio?
Sim, uma influência
indireta. Júlio vivia
com Lina Flores, mas ela
se insinuou para
Armando. Foi então que
em certa manhã de maio
Júlio encontrou-os
juntos. Desesperado, o
rapaz ingeriu grande
quantidade de
corrosivo, mas foi
amparado e salvo. Não
sabendo, porém,
suportar os
padecimentos da
garganta e do esôfago,
bem como as provações
morais que o acometeram,
ele arrastou-se até às
águas do Paraguai e
suicidou-se.
(Entre a Terra e o Céu,
cap. XVIII, pp. 112 a
114.)
B. Armando encontrou
Lina Flores depois de
sua desencarnação?
Sim. Lina Flores morreu
no Rio de Janeiro,
revoltada e sofredora,
amaldiçoando o mundo e
as criaturas. Armando
(hoje Amaro) encontrou-a
mais tarde na vida
espiritual. Achava-se
unida a Júlio em
aflitivas condições de
sofrimento depurador.
Foi então que ele,
compreendendo a extensão
de seu débito, prometeu
ressarci-lo amparando a
ambos na senda
terrestre.
(Obra citada, cap.
XVIII, pp. 114 a 116.)
C. Lina Flores se
encontrava naquele
momento reencarnada?
Sim. Lina era Zulmira,
atual esposa de Amaro, o
Armando do passado.
Clarêncio explicou que
ela voltou em companhia
de Armando em dolorosas
reparações. O consórcio
para eles não era um
castelo de flores de
laranjeira, mas uma
associação de
interesses espirituais
para o trabalho
regenerativo.
Arrependido de sua
conduta no passado,
Armando reparava seus
erros acolhendo no mesmo
teto Júlio e Lina
Flores, que reclamava
alguém que a recambiasse
ao serviço renovador, a
fim de auxiliar Júlio.
"Nossas ações são
pesadas na Justiça
Divina... Não podemos
enganar o Supremo
Senhor. Nossos débitos,
por isso mesmo, devem
ser resgatados, ceitil a
ceitil...", acrescentou
o Ministro. (Obra
citada, cap. XIX, pp.
118 a 120.)
Texto
para leitura
51. O suicídio de
Júlio -
Enfermeiro bem
conceituado e protegido
do Conselheiro Silva
Paranhos, não foi
difícil para Esteves sua
saída de Assunção, e
assim se deu. Ele
afastou-se,
primeiramente rio
abaixo, na direção de
Villeta, onde deveria
prestar assistência a
alguns soldados
enfermos. "Nada mais
soube dele – informou
Amaro, – a não ser que
havia morrido
misteriosamente em
Piraju..." Agoniado em
extremo com tais
recordações, Mário
estremeceu e bradou,
indagando de Amaro qual
fora sua participação no
infortúnio de seu lar.
Quem garantiria que ele
não estivera de parceria
com Júlio? Clarêncio
interveio, afetuoso,
recomendando a Mário
esperar a narração até o
fim. Amaro manteve a
calma, e continuou:
"Sim, minha confissão
deve ser exata e
completa... Entendendo
que Lina e Júlio se
haviam ajustado para a
vida comum, tentei
distanciar-me... Temia
por mim mesmo". "A
princípio, tentei
evitá-la; contudo, o
afastamento do Marquês
de Caxias deixava as
tropas com larga
provisão de tempo para
diversões...",
acrescentou Amaro, que,
com isso, passou a
frequentar-lhes a casa,
noites e noites
seguidas, para jogar e
tomar chá. O sentimento
que a moça lhe
despertava o assustava
e, por isso, receando o
assédio de Lina,
resolveu dedicar-se
mais ao trabalho,
passando a servir na
vigilância noturna do
Palacete Resquin, onde a
ocupação concentrava
todos os assuntos e
documentos de interesse
de nosso País. Lina,
porém, não desistiu do
propósito que a animava
e, certa noite,
procurou-o, disfarçada
em mulher do povo,
confessando-se
atormentada por uma
louca paixão. Amaro fez
breve pausa e continuou:
"Quem poderá explicar os
enigmas do coração
humano? quem possuirá
bastante visão para
surpreender os caminhos
da alma? Incapaz de
dominar-me, cometi a
falta de assumir um
compromisso espiritual
que não me competia...
Lina agarrou-se ao meu
afeto com o vigor da
hera numa construção sem
defesa... E foi assim
que, em certa manhã de
maio, meu companheiro
encontrou-nos
juntos..." Amaro
relatou, na sequência,
que Júlio ingeriu grande
quantidade de
corrosivo, mas fora
amparado e salvo,
submetendo-se a
tratamento na caserna.
Não sabendo, porém,
suportar os
padecimentos da
garganta e do esôfago,
bem como as provações
morais que o acometeram,
ele arrastou-se até às
águas do Paraguai,
supondo encontrar na
morte a paz que
procurava... (Cap.
XVIII, págs. 112 a 114)
52. Reencontro com
Lina - Em
seguida, Amaro informou
que, experimentando
pesados remorsos,
perdera a afeição que o
algemava à mulher que os
atraíra e infelicitara,
e fugiu dela,
incorporando-se às
tropas que iriam
combater os derradeiros
remanescentes de Solano
López, na Cordilheira.
Terminada a luta, voltou
à pátria por outros
caminhos, decidido a
jamais reencontrá-la.
Dez anos então se
passaram. Novamente no
Rio, casou-se e foi
feliz. Aconteceu, no
entanto, um
acontecimento
inusitado. Numa certa
noite de chuva forte,
sua esposa e ele
tornavam do teatro,
quando os cavalos em
disparada colheram pobre
mulher embriagada na
via pública. O cocheiro
sofreou os animais e ele
desceu para socorrê-la:
era Lina Flores, que,
recolhida ao hospital,
por dois dias lutou
contra a morte. "A
infeliz reconheceu-me –
disse Amaro, –
relacionou as desditas
que atravessara, desde
que se viu sozinha no
Paraguai, esclareceu que
viera ao Rio à minha
procura e emocionou-me
com a narrativa do drama
angustioso em que vivia,
tentando a recuperação
da felicidade que
perdera para sempre...
Morreu revoltada e
sofredora, amaldiçoando
o mundo e as
criaturas..." Nesse
ponto, Amaro
interrompeu-se,
titubeante, enquanto
Mário o fixava, entre o
desespero e o pavor.
Clarêncio indagou,
então, se ele voltou a
ver Lina, mais tarde. Um
pouco mais aliviado,
Amaro narrou: "Ah!
sim... reencontrei-a na
vida espiritual.
Achava-se unida a Júlio
em aflitivas condições
de sofrimento
depurador... Compreendi
a extensão de meu débito
e prometi ressarci-lo...
Ampará-los-ia...
Auxiliaria os dois na
senda terrestre...
Lutaríamos, lado a
lado, para conquistar a
coroa da redenção...
Sim, sim, o destino!...
É preciso solver os
compromissos do
passado, conquistando o
futuro!..." Amaro
calou-se, mas o
enfermeiro, apesar de
contido por Clarêncio,
começou a chamar por
Júlio, emitindo brados
terríveis. (Cap. XVIII,
págs. 114 a 116)
53. Em casa de
Zulmira - O
enfermeiro (que fora
Esteves à época dos
fatos) dizia em
alta voz: "Júlio! Júlio!
comparece, covarde!" E
acrescentava:
"Comparece para
desmascarar o patife que
procura comover-nos!
Júlio, odeio-te! Mas é
necessário apareças!
Acusa teu desalmado
assassino!..." Júlio,
evidentemente, não
respondeu à chamada, mas
alguém surgiu,
surpreendendo a todos.
Era a irmã Blandina, em
pessoa, que, após
saudá-los, rogou,
humilde: "Irmãos, por
amor a Jesus,
atendei!... Temos Júlio,
sob a nossa guarda.
Acha-se doente,
aflito... Vossos apelos
individuais alteram-lhe
o modo de ser... Poderia
colocar-se mentalmente
ao vosso encontro,
contudo, atravessa agora
difíceis provas de
reajuste... Venho
implorar-vos
caridade!...
Compadecei-vos de quem
hoje se esforça por
olvidar o que foi ontem
para regenerar-se
amanhã, com
eficiência!..." A
vibração do ambiente
modificou-se, de súbito.
Júlio, o menino doente,
era o companheiro de
Armando que voltava na
condição de filho do
amigo com quem outrora
se desaviera... Mário
Silva, revoltado com a
situação, passou a
reclamar, de novo: "Anjo
ou mulher, não lutarei
contra o sortilégio! Não
lutarei! mas preciso
arrojar este bandido ao
despenhadeiro que merece
por suas deslavadas
mentiras!... Que Júlio
permaneça no céu ou no
inferno, sob a custódia
dos arcanjos ou dos
demônios, todavia, exijo
que a verdade surja,
inteira!..." Dito isto,
ele bradou: "Recorro ao
testemunho de Lina! que
Lina compareça! que ela
deponha! Se nos achamos
aqui, convocados pelo
destino que nos algema
uns aos outros, que a
pérfida mulher seja
ouvida igualmente..."
Clarêncio, assumindo a
chefia espiritual do
grupo, convidou com
brandura: "Lina
encontra-se não longe de
nós. Entremos". E foi
assim que eles
penetraram o quarto de
Zulmira, a segunda
esposa de Amaro, que
jazia subjugada por
Odila. (Cap. XIX, págs.
117 e 118)
54. Esteves revê
Lina Flores -
Clarêncio enlaçou Mário,
como um pai que recolhe
um filho, e, apontando a
enferma, informou:
"Amigo, acalma-te! Lina
Flores, atualmente,
padece na forja da luta
e do sacrifício, a fim
de recuperar-se. Apaga a
labareda de ódio que te
requeima o coração!
Deixa que nova
compreensão te beneficie
a alma ulcerada!... Não
nos cabe prejudicar o
caminho de quem procura
a regeneração que lhe é
necessária!..." Mário
estava evidentemente
espantado e agoniado
ante a visão de Lina,
que, com imensas
dificuldades, tentava
alcançar a altura do
casamento digno e
construir os alicerces
da missão da
maternidade para a qual
se encaminhava...
"Ajudemo-la com as
nossas vibrações de
compreensão e carinho",
propôs Clarêncio.
"Quando amamos
realmente, antes de tudo
é a felicidade da
criatura amada que nos
interessa..." O grupo
aproximou-se mais, e o
Ministro mostrou o rosto
da enferma ao
enfermeiro, que viu
então que Lina Flores
era a mesma Zulmira que
ele tanto amava.
Clarêncio explicou que
Lina voltou em
companhia de Armando em
dolorosas reparações; o
consórcio para eles não
era um castelo de flores
de laranjeira, mas uma
associação de
interesses espirituais
para o trabalho
regenerativo. "Quer
dizer então que Zulmira
me traiu duas vezes?",
exclamou Mário,
cambaleante. Não se
tratava de traição,
disse o Ministro.
Armando, arrependido de
sua conduta no passado,
reparava seus erros
acolhendo no mesmo teto
Júlio e Lina Flores, que
reclamava alguém que a
recambiasse ao serviço
renovador, a fim de
auxiliar Júlio,
devidamente. "Todos
somos devedores uns dos
outros", asseverou
Clarêncio. "As almas
aprimoram-se, grupo a
grupo, à maneira de
pequenas constelações,
gravitando em torno do
Sol Magno,
Jesus-Cristo!..." Do
mesmo modo que ele,
Esteves, se insinuara
entre Lola e Leonardo,
Armando também separou
Lina e Júlio,
estabelecendo
espinheiros dilacerantes
entre os dois. "Nossas
ações são pesadas na
Justiça Divina... Não
podemos enganar o
Supremo Senhor. Nossos
débitos, por isso mesmo,
devem ser resgatados,
ceitil a ceitil...",
acrescentou o Ministro.
(Cap. XIX, págs. 118 a
120)
(Continua no próximo
número.)