305. Tendo sido
divulgado por
determinada sonâmbula
que o Espírito de Jobard
lhe havia dado uma
comunicação recomendando
aos médiuns cobrar as
consultas dos ricos e
dá-las gratuitamente aos
pobres e aos operários,
Kardec resolveu, sem
contar a ninguém, fazer
a seguinte experiência:
pediu a seis médiuns que
perguntassem a Jobard se
ele havia ditado
referida mensagem,
tendo, porém, o cuidado
de não contar a nenhum
deles que a mesma
pergunta fora proposta
aos outros médiuns. (P.
368)
306. Recolhidas as
comunicações obtidas
pelos médiuns Sr.
Leymarie, sra. Costel,
Sr. Rul, Sr. Vézy, sra.
Delanne e Sr. d’Ambel,
em todas o Espírito de
Jobard desmentiu a
propalada comunicação e
reiterou sua convicção
de que a mediunidade não
pode, em nenhuma
hipótese, ser objeto de
exploração pecuniária.
(PP. 368 a 374)
307. Comentando o
resultado da
experiência, Kardec
reafirmou sua conhecida
postura contrária à
exploração da
mediunidade, lembrando
que Jesus e seus
apóstolos não marcavam
preço às suas palavras
nem aos seus cuidados,
conquanto não tivessem
renda com que viver.
“Nossos esforços - diz
Kardec - tenderão sempre
a preservar o
Espiritismo da invasão
da venalidade. O momento
presente é o mais
difícil, mas, à medida
que a doutrina for
melhor compreendida,
essa invasão será menos
de temer.” (PP. 374 a
377)
308. Numa horrível
água-furtada, em Clichy,
vivia um homem chamado
Luís-Henrique, de 64
anos, que mais pareciam
noventa. Era trapeiro,
mas tão trêmulo, tão
fraco estava nos seus
últimos dias, que não
recolhia quase nada.
Quando morreu,
encontraram-no já roído
pelos ratos, deitado no
seu leito, que era
formado dos trapos e das
imundícies que recolhia.
Foi o odor infecto, a
exalar de seu
alojamento, que atraiu a
atenção dos vizinhos.
(PP. 377 e 378)
309. Evocado na
Sociedade Espírita de
Paris, o Espírito de
Luís-Henrique resumiu a
sua história. Ele não
cometera nenhum dos
crimes punidos pelas
leis dos homens, mas
vivera em meio aos
vícios e excessos que a
sociedade tolera e,
contudo, não ficam
impunes pela justiça de
Deus. Jamais ele recuara
ante nenhuma falta para
satisfazer suas paixões
e, certa vez, num duelo
de sangue, exterminou
seu próprio filho, que
ele abandonara e não
pudera então reconhecer.
De rico e belo que fora,
os excessos o levaram ao
último degrau da
miséria, do aviltamento
e do desprezo. (PP. 378
a 382)
310. Comentando o caso,
Kardec examina o papel
da sociedade nessa e
noutras circunstâncias,
lembrando que a
verdadeira chaga da
sociedade, a causa
primeira de todas as
desordens, é a
incredulidade. A negação
do princípio espiritual,
a crença no nada após a
morte, as ideias
materialistas se
infiltram na juventude,
que as suga, por assim
dizer, com o leite. Daí
a querer gozar a vida a
todo o preço, a
distância é curta. (P.
383)
311. Quantas desordens,
quantas misérias,
quantos crimes têm sua
fonte nesta maneira de
encarar a vida! E quem
são os culpados? Os
primeiros culpados são
os que a erigem em
dogma, em crença,
troçando e tratando como
loucos os que acreditam
que nem tudo está na
matéria e na vida
visível. Luís-Henrique
não foi bastante forte
para resistir a essa
corrente de ideias e
sucumbiu, vítima de suas
paixões, que encontravam
justificação nas ideias
materialistas, ao passo
que uma fé sólida e
raciocinada lhe teria
posto um freio mais
poderoso que todas as
leis repressivas. (P.
383)
312. Na seção de
passamentos, a Revue
noticia a morte do
Sr. Bruneau, antigo
aluno da Escola
Politécnica e ex-coronel
de artilharia que fundou
no Egito a escola de
cavalaria. Membro da
Sociedade Espírita de
Paris, o Sr. Bruneau
comunicou-se na
Sociedade poucos dias
após a sua morte e deu
prova da elevação de seu
Espírito, pela justeza e
profundidade de suas
apreciações. (P. 385)
313. Comentando os
princípios da escola
são-simoniana, de que o
Sr. Bruneau participara
antes de tornar-se
espírita, Kardec
assevera que em todas as
religiões, sem excetuar
o Cristianismo, o
elemento divino é
imperecível, mas o
elemento humano cairá se
não estiver em harmonia
com a lei do progresso.
Como o progresso é
incessante, deduz-se que
nas religiões o elemento
humano deve
modificar-se, sob pena
de perecer. (P. 387)
314. O erro de quase
todas as doutrinas
sociais, apresentadas
como a panaceia dos
males da Humanidade, é o
de apoiar-se
exclusivamente nos
interesses materiais.
Disso resulta que a
solidariedade que buscam
estabelecer entre os
homens torna-se frágil
como a vida corporal.
(P. 388)
315. Com o Espiritismo
dá-se o contrário,
porque, respondendo a
todas as aspirações da
alma, satisfaz ao mesmo
tempo ao espírito, à
razão e ao coração e
assenta em base sólida o
princípio de igualdade,
liberdade e
fraternidade. Ele é,
assim, o pivô sobre o
qual poderão apoiar-se
todas as reformas
sociais sérias. (PP. 388
e 389)
316. Na seção de notas
bibliográficas, a
Revue faz dois
registros: o lançamento
do livro Como e
porque me tornei
espírita, escrito
pelo grande magnetizador
J. B. Borreau, de Niort,
e o surgimento do
semanário O Mundo
Musical, de
Bruxelas, que
constituía, segundo
Kardec, um primeiro
passo da imprensa
independente na via do
Espiritismo. (PP. 390 a
395)
317. O número de
dezembro se encerra com
uma nota a respeito da
arrecadação feita pela
Sociedade Espírita de
Paris em favor das
vítimas do incêndio de
Limòges e uma
comunicação recebida no
mês de maio em Bordeaux,
a propósito do livro
Imitação do Evangelho
segundo o Espiritismo,
de Kardec. Assinada
pelo Espírito de
Verdade, a mensagem diz
que um novo livro acaba
de aparecer: “é uma luz
mais brilhante que vem
clarear a vossa marcha”.
“Pelos frutos - diz a
mensagem - se reconhece
a árvore. Vede quais são
os frutos do
Espiritismo: casais onde
a discórdia tinha
substituído a harmonia
voltaram à paz e à
felicidade; homens que
sucumbiam ao peso de
suas aflições,
despertados aos acentos
melodiosos das vozes de
além-túmulo,
compreenderam que
seguiam caminho errado
e, corando de suas
fraquezas,
arrependeram-se e
pediram ao Senhor a
força para suportar suas
provações.” (PP. 395 a
397)
- Fim -