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Crônicas e Artigos
Ano 3 - N° 137 - 13 de Dezembro de 2009

LUIS ROBERTO SCHOLL 
robertoscholl@terra.com.br
Santo Ângelo, Rio Grande do Sul (Brasil)
 

A verdadeira medalha de ouro


Era verão de 1936. As Olimpíadas estavam sendo realizadas em Berlim, no coração da Alemanha nazista. Como Hitler afirmava que os seus atletas eram representantes de uma “raça superior”, os sentimentos nacionalistas estavam excepcionalmente exacerbados.


Jesse Owen, jovem atleta negro norte-americano, era promessa de muitas medalhas olímpicas para seu país, especialmente na sua especialidade, o salto em distância.


Quando chegou o momento das eliminatórias para a prova, Jesse espantou-se com a performance de outro jovem, alto, ariano, que ele ficara sabendo ser Luz Long – o representante alemão para o salto em distância.


Pensou que se Long vencesse, isso iria fortalecer a teoria da superioridade ariana dos nazistas. Um tanto aborrecido, Owen resolveu mostrar ao Führer e à sua raça “quem era superior e quem não era”.


Um atleta irritado é um atleta que comete muitos erros. Nos dois primeiros saltos de qualificação, Jesse cometeu vários erros e não atingiu a marca mínima para a classificação, algo impensado para um atleta de sua categoria. Muito raivoso, encaminhou-se para a última tentativa, quando sentiu uma mão pousar suavemente em seu ombro. Era o jovem alemão:


– Meu nome é Luz Long, Jesse Owen. Creio que ainda não nos conhecemos – disse o imenso saltador, com muita cordialidade.


– Prazer em conhecê-lo – murmurou o norte-americano. Como vai?

 

– Eu vou muito bem. Eu quero saber como vai você? Deve estar preocupado com alguma coisa. Sei que tem condições para se classificar com um pé nas costas!

 

Os minutos de conversa foram tranquilizadores para Owen, que sentiu no seu rival um amigo. A raiva contra o povo germânico havia passado e, seguindo uma dica do alemão, saltou 30 centímetros antes da marca, para não queimá-la, atingindo a distância necessária para a classificação para a prova final.


À noite, Jesse procurou Luz Long na Vila Olímpica para conversarem – sabia que, não fora por ele, provavelmente não iria saltar nas finais do dia seguinte. Ao se despedirem, sabiam que uma verdadeira amizade se formara.


Nas finais, era óbvio que ambos queriam a vitória, mas o que mais desejavam era dar o máximo de si, mesmo que isso significasse a vitória do outro.


Long saltou batendo seu recorde anterior. Isso estimulou Owen a uma atuação excepcional. Quando tocou no chão estabelecendo novo recorde mundial e ganhando a medalha de ouro, Luz estava ao seu lado felicitando-o. Embora Hitler, visivelmente abatido, estivesse a menos de 100 metros de distância, ele apertou a mão efusivamente do vencedor, demonstrando verdadeiro carinho e respeito pelo atleta negro.


Alguns anos mais tarde, Jesse Owen teve a oportunidade de dizer que “se fundissem todas as medalhas de ouro e taças que possuo, não seria o suficiente para revestir a amizade de 24 quilates que senti por Luz Long naquele momento. Compreendi, quando o Barão de Coubertin pensou ao declarar que 'o importante não é vencer, mas competir', que o essencial na vida não é conquistar, mas lutar bem”.




*
História baseada em depoimento de Jesse Owen.
 



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita