Há três anos a
Casa de
Eurípedes -
Hospital
Espírita
Eurípedes
Barsanulfo,
Goiânia (GO) -
promoveu a
realização de
Seminário sobre
apometria. E
permitiu que um
grupo estudasse
e aplicasse a
técnica, em
caráter
experimental.
Sendo a Casa de
Eurípedes
instituição
técnico-científica,
como deve ser
qualquer
hospital
psiquiátrico
moderno, com
filosofia e
práticas
espíritas,
existe espaço
para a discussão
e experimentação
de novas
técnicas, sem
preconceito e
espírito de
segregação, mas
sempre com
supervisão e
acompanhamento
técnico.
Como veremos,
essa postura não
se aplica a
experimentações
de natureza
mediúnica. (*)
Nesse sentido, a
técnica
apométrica foi
aplicada,
principalmente
em pacientes
internos,
associando de
alguma forma o
Departamento
Doutrinário e
Mediúnico dessa
Instituição à
apometria.
Decorridos três
anos e não tendo
sido, ainda,
realizada
qualquer
avaliação mais
ampla sobre esse
trabalho, o
assunto foi
levantado,
buscando
respostas para
as questões:
a) "A teoria e a
prática da
técnica
conhecida como
apometria (e
suas leis) estão
em pleno acordo
com os
princípios
doutrinários
codificados por
Allan Kardec,
nas obras
básicas do
Espiritismo, ou
seja, a
apometria pode
ser considerada
uma técnica
espírita?"
b) "Caso a
apometria não
seja uma técnica
espírita (como
várias técnicas
terapêuticas
anímicas e/ou
mediúnicas não o
são), é
aconselhável
incluí-la dentro
do corpo do
Departamento
Doutrinário e
Mediúnico da
Casa?"
c) "Sendo ou não
uma técnica
espírita, a
aplicação da
técnica tem
resultado em
benefícios
terapêuticos
reais para os
pacientes em
tratamento nesta
instituição
hospitalar?"
Neste artigo,
resumimos
parecer da
Comissão formada
com o objetivo
de oferecer
respostas às
questões acima,
levando-se em
conta que a
Instituição tem
se prezado pela
fidelidade aos
fundamentos da
Doutrina
Espírita.
Não se trata de
julgar a técnica
dita apométrica,
de saber se ela
funciona ou não.
Nem de julgar
pessoas ou
grupos que a
praticam.
EXAME DO
ASSUNTO, À LUZ
DA DOUTRINA
ESPÍRITA:
1.1) Por que
Allan Kardec
atribuiu a ela o
nome de Doutrina
Espírita?
A Doutrina é dos
Espíritos. E
isso porque foi
revelada por
eles, a muitos
médiuns, em
inúmeros
lugares,
simultaneamente:
"(...) a
Doutrina dos
Espíritos não é
de concepção
humana. Foi
ditada pelas
próprias
inteligências
que se
manifestam,
quando ninguém
disso cogitava,
quando até a
opinião geral a
repelia. (...)
Perguntamos
ainda mais: por
que estranha
coincidência
milhares de
médiuns
espalhados por
todos os pontos
do globo
terráqueo, e que
jamais se viram,
acordaram em
dizer a mesma
coisa?" (2)
Allan Kardec não
aceitava tudo
que vinha dos
Espíritos - nem
recomenda que o
façamos -,
submetendo seus
ensinos ao crivo
da razão,
aplicando o
preceito de
Jesus:
"Meus
bem-amados, não
creiais em
qualquer
Espírito;
experimentai se
os Espíritos são
de Deus,
porquanto muitos
falsos profetas
se têm levantado
no mundo." (3)
(I Jo, 4:1)
Kardec utilizou
na Codificação
do Espiritismo o
"Controle
universal do
ensino dos
Espíritos",
conforme se lê
em "O Evangelho
Segundo o
Espiritismo"
item "II -
AUTORIDADE DA
DOUTRINA
ESPÍRITA".
Afirmou ser
progressiva a
Terceira
Revelação, mas
publicou -
"Revista
Espírita",
agosto/1861,
mensagem "Da
Influência Moral
dos Médiuns nas
Comunicações",
Espírito
Erasto:
"Mais vale
repelir dez
verdades que
admitir uma só
mentira, uma só
teoria falsa."
(4)
Máxima repetida
em "O Livro dos
Médiuns", Ed.
FEB, cap. XX,
item 230, p.
292.
Em muitas partes
de sua obra, o
Codificador
recomenda-nos
submeter a exame
severo as
comunicações dos
Espíritos, como,
por exemplo, nos
itens 266 e 267,
de "O Livro dos
Médiuns".
Desaconselhável,
pois, a crença
cega no que
dizem os
mentores. O
ideal é estudar
mais e buscar
respostas nas
obras
confiáveis, já
existentes,
transmitidas por
médiuns de
reconhecida
idoneidade.
A Doutrina
Espírita não
está engessada
em verdades
acabadas,
absolutas. Não é
nem se diz dona
da Verdade, em
parte alguma.
1.2) Por que os
Espíritos não
revelaram aos
homens a técnica
dita apométrica,
quando tiveram à
mão excelentes
médiuns, ao
longo do século
XX? Se é, como
afirmam os
apômetras, mais
eficiente que a
reunião de
desobsessão, por
que o silêncio
dos Espíritos
Superiores?
Seu divulgador
no Brasil, Dr.
José Lacerda de
Azevedo
adotou-a, após
demonstração, em
Porto Alegre -
RS, pelo
porto-riquenho
Luiz Rodrigues,
na década de
sessenta do
século passado.
A essa época
ainda se
encontrava entre
nós, vigoroso,
nosso irmão
Francisco
Cândido Xavier.
Seria uma falha
dos Espíritos
Superiores,
embora
interessados na
regeneração da
humanidade?
Hipótese esta
absolutamente
inadmissível!
1.3) Quanto à
desobsessão,
utilizada na
prática
Espírita, o
Espírito André
Luiz transmitiu,
ao médium
Francisco C.
Xavier,
instruções de
como realizá-la,
em 1964 -
coincidentemente
na mesma década
da divulgação da
apometria entre
nós -, na grande
obra intitulada
"Desobsessão",
editada pela
Federação
Espírita
Brasileira.
1.4) No que se
refere à
apometria, o
silêncio dos
Espíritos
Superiores é
sintomático. Que
saibamos, não
houve
manifestações
sobre o tema em
várias partes do
mundo, através
de médiuns
conceituados.
Devemos
considerar,
portanto, que
não houve o
controle
universal dos
ensinos da
técnica, como
preconizava
Kardec. Também
não se confirmou
o que preceitua
o seguinte
pensamento:
"Estai certos,
igualmente, de
que quando uma
verdade tem de
ser revelada aos
homens, é, por
assim dizer,
comunicada
instantaneamente
a todos os
grupos sérios,
que dispõem de
médiuns também
sérios, e não a
tais ou quais,
com exclusão dos
outros." ESE,
Cap. XXI, item
10, 6º §. (5)
Por outro lado,
a Ciência ainda
não comprovou a
eficácia da
técnica
apométrica. E se
é por ela
admitida, também
desconhecemos.
Por estes fatos,
não pode ser
admitida como
vinculada à
Doutrina dos
Espíritos, pois
não atende a
nenhum dos dois
critérios
definidos por
Kardec:
"Por sua
natureza, a
revelação
espírita tem
duplo caráter:
participa ao
mesmo tempo da
revelação divina
e da revelação
científica."
(6)
Assim, não deve
ser adotada em
Instituições
verdadeiramente
Espíritas.
(A segunda parte
deste artigo
será publicada
na próxima
edição.)
(*) Colaborou na
redação do
artigo o
confrade Jeziel
Silva Ramos,
médico e
presidente do
Hospital
Espírita
Eurípedes
Barsanulfo, de
Goiânia (GO).
Bibliografia:
1
- BARBOSA,
Elias. No Mundo
de Chico Xavier.
Edição Calvário,
São Paulo, 1968,
p. 78;
2
- KARDEC, Allan.
O Livro dos
Espíritos. Ed.
FEB, RJ.
Introdução, p.
44;
3
- Bíblia
Sagrada;
4
- KARDEC, Allan.
Revista
Espírita. Edicel,
SP,Tomo IV,
1863, p. 257;
5
- KARDEC, Allan.
O Evangelho
Segundo o
Espiritismo.
118ed. FEB, Rio
de Janeiro,
2001, C. XXI,
item 10, 6º §;