– Uma das maiores
preocupações atuais são
os rumos do movimento
espírita, visto que, em
face do seu crescimento
quantitativo, tem havido
desvios e distorções
graves. Todavia, o que é
muito interessante,
cresce também o
interesse pela genuína
divulgação espírita.
Vivemos um paradoxo ou
esses são mesmo os
caminhos do
amadurecimento da
mentalidade humana,
inclusive dentro do
movimento espírita?
Raul Teixeira:
É historicamente
comprovado que todo
movimento que se torna
massivo costuma perder
em qualidade. Isso
aconteceu com o Budismo,
com o Cristianismo e o
Espiritismo não
escaparia. Vejo, no
entanto, em nosso
Movimento Espírita um
fenômeno que para mim é
muito preocupante,
trata-se do espírito de
descomprometimento de
muitos companheiros que
tomam a frente das suas
atividades. Caso esses
líderes, coordenadores,
dirigentes, presidentes,
ou que outros nomes
recebam, sentissem mais
ardor pelo Espiritismo,
se o conhecessem a ponto
de compreenderem que
somos nós que crescemos
quando o elevamos, com
certeza haveria esse
crescimento que
acompanhamos no
Movimento, sem perder,
contudo, a qualidade.
Seria preciso que os
centros espíritas fossem
dirigidos por pessoas ou
por grupos de pessoas
bastante lúcidas,
conhecedoras dos
fundamentos do
Espiritismo e com
acendrado respeito pelo
público que, ávido,
chega às nossas
instituições desejando
aprender ou necessitando
de algum tipo de ajuda,
ou as duas coisas em
conjunto. Seria
importantíssimo se os
dirigentes
compreendessem a
afirmação do Espírito
Bezerra de Menezes,
quando escreveu pelas
mãos de Chico Xavier que
o centro espírita é o
educandário básico da
mente popular, e que, a
partir daí, levassem a
sério a sua missão de
educar a mente humana,
de orientar ou
reorientar o espírito
humano para que ele
alcance seus nobres
destinos ao largo da
reencarnação. Enquanto
isso for apenas um
sonho, um devaneio
nosso, não poderemos
impedir que o Movimento
Espírita sofra essa
invasão de
descomprometidos, de
incautos e mesmo de
alguns aventureiros, que
se adonam das casas
espíritas e de suas
atividades e que impedem
─
estando a serviço do
caos, dos inimigos do
Cristo, consciente ou
inconscientemente
─
o salutar
desenvolvimento da sua
mensagem pelo mundo.
Mesmo percebendo essa
perda de qualidade na
medida em o nosso
Movimento cresce em
quantidade de pessoas,
aqueles que primam pela
genuína divulgação da
mensagem espírita devem
continuar nesse afã,
nessa empreitada, uma
vez que cada um de nós
dará conta à consciência
do que tenha feito com
os talentos da Doutrina,
baseados que estamos na
orientação que Jesus
transmitiu aos
Discípulos (Lc. 16,2) ao
dizer que o
administrador de um
homem rico foi
denunciado por
defraudar-lhe os bens, e
que foi chamado diante
do dono dos bens,
sendo-lhe indagado: Que
isto que ouço contar a
teu respeito? Dá conta
da tua administração...
Repito, então, que cada
qual terá que prestar
conta da administração
que fez desse tesouro,
desse bem formoso que é
a Doutrina Espírita.
Extraído de entrevista
publicada pelo jornal
O Imortal na edição
de março de 2009.