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Crônicas e Artigos
Ano 3 - N° 139 - 3 de Janeiro de 2010
WASHINGTON L. N. FERNANDES
washingtonfernandes@terra.com.br
São Paulo - SP (Brasil)


Os incas conviviam
com os mortos


Neste artigo trazemos o testemunho da crença na vida espiritual na civilização Inca, no Peru, que existiu até o século XVI d.C.. Muitas destas informações obtivemos num documentário americano de TV a cabo, History Channel, o qual apresentou excelente nível histórico-científico.

Os Incas constituíam o maior império de todo continente americano, com mais de duzentos mil súditos e que foi derrotado, incrivelmente, por cerca de 170 conquistadores espanhóis e suas armas. Os espanhóis chegaram às terras americanas e, além de descobrir as grandes riquezas incas, se depararam com um impressionante culto aos mortos, que eram consultados nos mais elementares assuntos da sociedade e eles é que governavam o povo. 

OS MORTOS COABITAVAM COM OS VIVOS 

Os espanhóis ficaram impressionados com o que viram; os mortos, representados pelas múmias dos imperadores falecidos, não só eram consultados, mas viviam nas casas com os vivos, sendo vestidos, alimentados, iam ao banheiro etc. Até banquetes eram oferecidos a estes ancestrais mumificados, que eram vestidos com roupas finas e joias. Súditos fiéis pediam conselho e orientação a eles, que recebiam até terras para governar. 

Em 1532, um pequeno grupo de aventureiros espanhóis era liderado por Francisco Pizarro em Cuzco, a Capital do império. Pizarro decide premiar um aliado indígena com a mão de uma princesa inca. Um aliado de Pizarro foi incumbido de pedir a mão da princesa ao patriarca do clã, que governava todos os assuntos da família. A surpresa de Pizarro foi descobrir que este patriarca que orientava a família era um corpo seco e mumificado, isto mesmo, uma “múmia”. Após algum tempo, o patriarca (a múmia) deu a permissão para o casamento, deixando os espanhóis horrorizados com esse culto aos mortos, que continuavam a viver com os vivos e administrar sua vida social. Para os Incas, era como se a morte não existisse, pois o falecido continuava a viver nos assuntos carnais. Os egípcios, três mil anos antes de Jesus, preparavam seus mortos para a vida além da morte, acreditando que o falecido ia para um lugar distante. Mas as múmias da América do Sul, além de serem consideradas as mais antigas do mundo, pois aqui há registros de mumificação de sete mil anos, elas nunca deixavam o mundo dos vivos, pois eram consideradas seres vivos, que passavam a um outro estado da vida. Perto de Cuzco há Pikillacta, um grande sítio de restos arqueológicos peruanos, com objetos e múmias que ainda estão sendo objeto de estudo.  

Os Waris governaram o Peru por muito tempo, até mais ou menos mil anos depois de Jesus, quando os Incas passaram a governar o país. Pachacuti (1438-1471) (quer dizer aquele que transforma o mundo) foi o maior gênio político dessa época; ele organizou o Estado inca, suas instituições e o culto aos mortos, pois criou o culto oficial das múmias reais. As Múmias reais iam até as batalhas juntamente com os vivos e acreditava-se que elas controlavam as forças da natureza e aconselhavam os vivos prevendo o futuro, decidindo casamentos etc.  

Em 1471 morreu Pachacuti e após algum tempo as despesas para o culto aos mortos começaram a ruir o império. O Imperador Huascar (1491-1532) terminou com o culto aos mortos, mas não teve adesão do povo. Até que Atahualpa (1500-1533) o derrotou em batalha e reativou a homenagem, e foi quando chegaram os espanhóis. Interessante citar uma prece andina às cinzas dos mortos, que bem exemplifica suas convicções quanto à continuidade da vida após a morte:  

- Flores do fogo, resíduos do fogo, comam isto, bebam isto, senhores queimados, senhores em brasas. Donos das águas, donos dos campos, enviem água, enviem comida de onde estão... 

As adorações aos mortos permanecem ainda hoje na sociedade peruana e muitas múmias ainda não foram descobertas nas escavações referentes ao império inca. O que já foi descoberto demonstra sua crença na continuidade da vida após a morte, a ponto de manter o defunto na convivência da família.
 
 



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita