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Crônicas e Artigos
Ano 3 - N° 140 - 10 de Janeiro de 2010

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)
 

Verdadeira caridade

“A Lei de Amor extingue as misérias sociais.” -
Lázaro

 
A cena foi constrangedora... Compungiu-nos o coração ver aquele jovem de apenas vinte e dois anos ser conduzido pela polícia, com as mãos algemadas para trás, causando tumulto e curiosidade dentro da agência bancária...  Aquelas mãos que poderiam estar sendo utilizadas para a semeadura do bem ou compulsando as folhas de um livro nobre estavam imobilizadas como medida preventiva contra a fuga. 

Chegam-nos, então, à mente, as palavras registradas em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 4: “Caridade para com os criminosos”. 

Os comentários se atropelaram dentro do nervosismo gerado pelo triste acontecimento: “Tomara que ele tome umas boas borrachadas”; “ladrão devia ter as mãos cortadas”; “não tenho pena de ladrão” etc.  Tais eram as palavras de ordem Raros os que se abstiveram de comentários desairosos... 

As criaturas estão realmente ainda muito distantes de ver e sentir como Jesus: além das aparências. 

Imaginamos, então, o que faríamos se estivéssemos no lugar daquele jovem.  Se tivéssemos reencarnado no mesmo meio, recebido durante os primeiros e mais importantes anos de vida as mesmas desorientações e negligências dos pais que se somam às tendências atávicas do Espírito ancestral, que faríamos?   Teríamos resistido ou cederíamos à tentação do roubo?!... 

Como seriam hoje os circunstantes que anatematizavam o jovem infeliz se os seus caminhos fossem os mesmos trilhados por ele? Era de se esperar pelo menos um pouco de indulgência de quem (aparentemente) recebeu boa educação e melhor berço. 

Quanta falta faz o Espiritismo na vida das pessoas!... 

Quanta falta faz a prática do Espiritismo nas pessoas que o conhecem!... 

Sem pieguismos e sem deixar-nos envolver pelas vibrações malsãs que carregavam o ambiente, conquanto achando que o jovem devia pagar pelo delito, uma onda de ternura e carinho invadiu nosso coração e procuramos canalizar tais vibrações na direção daquele jovem. Quem sabe, aquele infausto acontecimento iria frenar suas atividades infelizes? Era jovem, teria ainda toda uma vida pela frente... Afinal, não ensina a novel Doutrina Espírita que devemos ter caridade para com os criminosos? 

Ficamos, então, pensando: quão importante e nobre é a tarefa abençoada das Casas Espíritas que se desdobram na evangelização dos jovens, numa verdadeira profilaxia, cortando no nascedouro as más tendências inatas e direcionando-as para uma vida sadia e plena de bênçãos. 

Colocamo-nos no lugar dos pais daquele jovem e imaginamos como deve ser triste ver o filho querido que acalentamos desde a mais tenra infância e para o qual sonhávamos um porvir risonho ser conduzido algemado, cabisbaixo e aterrorizado para as grades de uma prisão!... 

É grande a responsabilidade dos pais. E quantos pais (espíritas?!) nem ao menos se preocupam em levar os filhos às aulinhas de evangelização, perdendo assim, preciosa oportunidade de oferecer-lhes subsídios valiosíssimos para a vida de adultos nesses tempos tão difíceis. É uma omissão que pode custar muito caro.   Não convém arriscar... 

Sentimos, então, a cada dia, que a honra e a glória de ser espírita é um talento que não podemos enterrar. Temos que multiplicá-lo, a exemplo dos dois servos fiéis da parábola. 

É imprescindível divulgar o Espiritismo, vez que, segundo Emmanuel, a maior caridade que podemos fazer-lhe é exatamente a sua propagação. 

Estivesse já nas mentes e corações o conhecimento espírita, jamais ouviríamos aqueles comentários descaridosos e o mundo agitado de hoje por múltiplas convulsões sociais teria mais paz, mais harmonia, mais felicidade, mais honestidade, menos corrupção, menos crimes, menos tragédias de variegado matiz... 

Sem o conhecimento espírita jamais passaria pela nossa mente que aquele jovem “é tanto nosso próximo, como o melhor dos homens; sua alma transviada, revoltada, foi criada, como a nossa, para se aperfeiçoar e que, orando por ele, quem sabe conseguiria sair do lameiro?” (1) 

Desconhecendo o Evangelho de Jesus, desconheceríamos também a portentosa lição do “bom samaritano” que socorreu um estranho quando os que deveriam fazê-lo se omitiram.  A situação era a mesma: os pais se omitiram e ali estava o necessitado de ajuda à mercê da polícia, esperando mão amiga para socorrê-lo no infortúnio que cavara com as próprias mãos. 

Com o Espiritismo sabemos que a verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que se dá, nem mesmo nas palavras de consolação que lhe aditemos.  Não, não é apenas isso o que Deus espera de nós, que nos proclamamos cristãos. 

A caridade sublime, apregoada e exemplificada pelo Mestre, também consiste na benevolência de que usamos sempre e em todas as coisas para com o próximo.              

 

Referência

(1) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 125. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, cap. XI, item 14.


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita