AURECI
FIGUEIREDO
MARTINS
aureci@globo.com
Porto Alegre,
Rio Grande do
Sul (Brasil)
Dialogar é
preciso
“Ao fundar-se no
amor, na
humildade, na fé
nos homens,
o diálogo se
faz uma
realização
horizontal”.
(Paulo
Freire) (1)
Na lição de
Paulo Freire, o
diálogo é uma
arte.
Os atores da
relação dialogal
são sujeitos —
jamais, objetos
— de uma
interação
horizontal em
que a permuta de ideias deve,
necessária e
naturalmente,
fluir num clima
de respeito e
acatamento
recíprocos.
Cabe frisar que
a postura
dialogal implica
silenciar
afirmações
pretensamente
definitivas e/ou
conclusivas,
pois
manifestações
interpretativas
somente têm
cabimento quando
existe
ascendência de
um dos
interlocutores
sobre o outro,
situação que
descaracteriza a dialogicidade da
relação.
Considere-se
também que
quem ainda não
se acostumou a
relativizar suas
crenças e
concepções
encontra
dificuldades
para respirar no
clima sereno do
diálogo. Bom
ator dialógico é
aquele que,
desapaixonado
por suas
próprias ideias,
tem consciência
de que elas nada mais
são do que meras
hipóteses que
serão, no tempo
certo,
descartadas por
ele mesmo quando
seus níveis
conscienciais,
ampliados ao
influxo da força
incoercível da
evolução
ascensional,
vierem a lhe
franquear acesso
a entendimentos
mais
aprofundados.
Por outro lado e
sempre a
raciocinar por
hipóteses, o
sujeito
dialógico deve,
prévia e
conscientemente,
reservar espaço
nos escaninhos
da memória para
acomodar
confortavelmente
as ideias
alheias e
deixá-las lá
permanecer
arquivadas como
concepções mais
ou menos
plausíveis a
serem validadas
ou descartadas
pela sabedoria
do tempo.
Certo é que a
predisposição
para raciocinar
por hipóteses
desativa os
nossos
mecanismos de
defesa,
enraizados nas
zonas do
inconsciente,
que costumam
colocar nossas
unhas de fora ao
primeiro eriçar
de pelos.
Ressaltemos
ainda, a bem da
clareza, que o
entendimento
relacional,
quando restrito
ao campo das
ideias, jamais
ultrapassará as
fronteiras de um
sempre limitado
acordo
consensual, uma
vez que as
interpretações
são construções
subjetivas de
cada um e,
ipso facto,
divergem
inevitavelmente
nos encontros
intersubjetivos.
Diante dessa
realidade
inarredável da
condição humana,
a tão desejada
fraternização
das relações
interpessoais só
será possível no
acatamento
recíproco,
incondicional,
alicerçado na
conjugação do
respeito às
diferenças
individuais com
sincera
afetividade
fraternal. Sem a
postura dialogal
e a ética da
alteridade,
nosso discurso
será excludente,
antifraterno.
Retomando o
ensino do grande
educador
brasileiro,
concluamos que o
diálogo é o
remédio para os
distúrbios do
convívio humano
e que o amor, a
humildade e a fé
são as
substâncias
ativas deste
precioso
medicamento.
Dialoguemos,
pois.
Referência:
(1)Pedagogia
do oprimido.
Editora Paz e
Terra, 18. ed.