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Estudando as obras de Kardec
Ano 3 - N° 146 - 21 de Fevereiro de 2010

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A Revue Spirite de 1865

Allan Kardec 

(Parte 9)

Damos prosseguimento ao estudo da Revue Spirite correspondente ao ano de 1865. O texto condensado do volume citado será aqui apresentado em 20 partes, com base na tradução de Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Questões preliminares

A. Os animais são dotados também, como os Espíritos humanos, de uma visão espiritual?

Sim. Kardec diz que lhe parecia positivamente provado que existem animais que veem Espíritos e com estes se impressionam. Ora, se eles veem os Espíritos, não é pelos olhos do corpo. Eles devem ter também uma espécie de visão espiritual. (Revue Spirite de 1865, pp. 127 e 128.) 

B. O animal que desencarnou pode manifestar-se às pessoas encarnadas?

Sim. Citando expressamente o relato de uma pessoa que disse ter ouvido o gemido de um animal recentemente morto, um instrutor espiritual explicou que tal pessoa não se enganou ao ouvir o gemido em causa. Tais manifestações podem dar-se, mas são passageiras, aduziu o Espírito. (Obra citada, pp. 128 e 129.)  

C. Os que desencarnam tornam-se melhores apenas porque voltaram à vida espiritual?

Claro que não. Só as pessoas que têm uma ideia ingênua do que se passa na vida espiritual pensam assim. A esse respeito o ensino espírita é taxativo: o homem perverso, o assassino, o bandido, o mais vil dos malfeitores não se tornam santos só porque desencarnam. (Obra citada, pp. 131 a 133.) 

Texto para leitura 

95. A Revue noticia o lançamento da obra A confusão no Império de Satã, autoria de L.A. G. Salgues, de Angers, em que o autor demonstra que Satã e o inferno dos satanistas são um mito. (Pág. 123.)

96. O surgimento do jornal L’ Echo d’Outre-Tombe (O Eco de Além-Túmulo), de Marselha, é divulgado na Revue , que acrescenta ter referido jornal periodicidade semanal. No alto, o jornal continha a célebre divisa do Espiritismo: “Fora da caridade não há salvação”. (Pág. 123)

97. Num estilo elegante e correto, e dizendo as verdades sem ferir a ninguém, foi lançado mais um livro de M. J. B., intitulado Concordância da Fé e da Razão e dedicado ao clero católico. Nele o autor trata mais especificamente da questão religiosa. O outro livro de sua lavra chama-se Lettres sur le Spiritisme écrites à des ecclesiastiques. (Pág. 124.)

98. Uma carta procedente de Dieppe relata fatos interessantes ocorridos após a morte de uma cadelinha chamada Mika. Estando o seu dono – a quem ela era muito apegada – deitado em seu leito, ele ouviu em determinada noite um pequeno gemido em tudo semelhante ao que Mika emitia quando queria algo. Como a mulher e a filha também ouvissem os estranhos sons, cuja causa não pôde ser determinada, apesar das buscas que se fizeram na casa, o correspondente remeteu suas dúvidas ao Codificador. (Págs. 125 a 127.)

99. Kardec comenta o caso dizendo, de início, que lhe parecia positivamente provado que existem animais que veem Espíritos e com estes se impressionam. Ora, se eles veem os Espíritos, não é pelos olhos do corpo. Eles devem ter também uma espécie de visão espiritual. Mas, examinando diretamente a hipótese de haver a cadelinha Mika comparecido em Espírito à casa onde vivera, diz ele que um fato importante a registrar é que, entre os seres do mundo espiritual, jamais se fez menção de que existissem Espíritos de animais. (Pág. 127.)

100. Disso parece resultar que os animais não conservam a sua individualidade após a morte, mas a manifestação da cadelinha Mika, caso tenha se manifestado, provaria exatamente o contrário. A carta foi lida então na Sociedade Espírita de Paris, onde se recebeu a comunicação que se segue, pelo médium E. Vézy. (Págs. 127 e 128.)

101. Eis resumidamente o que se contém na comunicação referida: A) O Espírito se desenvolve passando pela peneira do mineral, do vegetal e do animal, até chegar à humanimalidade, onde começa a ensaiar-se apenas a alma que encarnará na humanidade. B) Entre essas diversas fases há laços importantes, chamados períodos intermediários ou latentes, porque é aí que se operam as transformações sucessivas. C) As afinidades existentes entre os animais domésticos e o homem são produzidas pelas cargas fluídicas que nos rodeiam e sobre nós recaem. D) É um pouco a humanidade que se detém sobre a animalidade, sem alterar as cores de uma e outra. Daí é que resulta a superioridade inteligente do cão sobre o instinto brutal do animal selvagem, e é só a essa causa que poderão ser devidas as manifestações mencionadas na carta. E) O correspondente não se enganou ao ouvir o gemido do animal reconhecido pelos cuidados do dono, indo, antes de passar ao estado intermediário de um desenvolvimento a outro, levar-lhe uma lembrança. A manifestação pode dar-se, mas é passageira, porque o animal, para subir um degrau, necessita de um trabalho latente, que aniquila em todos eles qualquer sinal exterior de vida. F) Esse estado é a crisálida espiritual, onde se elabora a alma, de perispírito informe, sem nenhuma figura reprodutiva de traços. G) Os Espíritos de animais não existem no espaço, ou antes, sua passagem é tão rápida que é como se fosse nula. H) Quando um corpo material se dissolve, os elementos que o compõem voltam ao seu foco primitivo para alimentar outros corpos. Dá-se o mesmo para a parte espiritual: os fluidos organizados espirituais, à passagem, tomam cores, perfumes, instintos, até a constituição definitiva da alma. I) O cão, o gato, o burro, o cavalo ou o elefante não podem, portanto, manifestar-se por via mediúnica. Só os Espíritos chegados ao grau da humanidade podem fazê-lo, e ainda assim em razão de seu adiantamento, porque o Espírito de um selvagem não pode falar-nos como o Espírito de um homem civilizado. (Págs. 128 e 129.)

102. Um artigo publicado no Journal de la Vienne, em 22/11/1864, refere uma série de manifestações espíritas não resolvidas ocorridas em Poitiers em épocas diversas, conforme fontes confiáveis os relataram. Assim é que em 1249, segundo Guillaume d’Auvergne, então bispo de Paris, um Espírito batedor se introduziu numa casa de Poitiers, na qual atirava pedras e quebrava os vidros. Em 1447, na mesma região, fatos semelhantes se repetiram, só que nesse caso o Espírito, além de lançar pedras e quebrar vidros, mexia nos móveis e batia nas pessoas, embora de leve. Jean Delorme, então cura na região, visitou o local das manifestações e procedeu a vários exorcismos, sem qualquer resultado. (Págs. 129 a 131.)

103. O autor do artigo, sr. David (de Thiais), não é partidário, mas sim antagonista das ideias espíritas, e  seu objetivo é mostrar a falta de lógica e de razões em fatos desse naipe, para ele pueris e indignos de serem atribuídos aos Espíritos, indivíduos dotados de corpos imponderáveis que, planando sobre o mundo, devem escapar às enfermidades humanas, aproximando-se da luz e da bondade de Deus. (Págs. 131 e 132.)

104. Kardec agradece as informações preciosas constantes do artigo, visto que, ao contrário do que o sr. David pensa, elas servem de confirmação da veracidade das manifestações, além de mostrarem a antiguidade dos fenômenos espíritas. Mas o Codificador não perde a oportunidade de rebater as considerações pessoais do articulista, que tem, como muitas pessoas, uma ideia ingênua do que se passa na vida espiritual. (Pág. 132.)

105. O homem perverso, o assassino, o bandido, o mais vil dos malfeitores não se tornam santos só porque desencarnam. Seguramente não são Espíritos perfeitos que se divertem com semelhantes coisas. Ora, se os há imperfeitos, que há de admirável que cometam malícias? (Págs. 132 e 133.)

106. Morto a 25 de março de 1865, o doutor Vignal foi evocado no dia 31 na Sociedade de Paris. Seu desligamento do corpo material – informou Vignal – foi muito rápido, mais do que ele próprio esperava, no entanto não deixou o corpo completamente senão no momento em que ocorreu o sepultamento. (Págs. 133 e 134.) (Continua no próximo número.)

 


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