A Revue Spirite
de 1865
Allan Kardec
(Parte
9)
Damos prosseguimento ao
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1865. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 20
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Os animais são
dotados também, como os
Espíritos humanos, de
uma visão espiritual?
Sim. Kardec diz que lhe
parecia positivamente
provado que existem
animais que veem
Espíritos e com estes se
impressionam. Ora, se
eles veem os Espíritos,
não é pelos olhos do
corpo. Eles devem ter
também uma espécie de
visão espiritual.
(Revue Spirite de 1865,
pp. 127 e 128.)
B. O animal que
desencarnou pode
manifestar-se às pessoas
encarnadas?
Sim. Citando
expressamente o relato
de uma pessoa que disse
ter ouvido o gemido de
um animal recentemente
morto, um instrutor
espiritual explicou que
tal pessoa não se
enganou ao ouvir o
gemido em causa. Tais
manifestações podem
dar-se, mas são
passageiras, aduziu o
Espírito.
(Obra citada, pp. 128 e
129.)
C. Os que desencarnam
tornam-se melhores
apenas porque voltaram à
vida espiritual?
Claro que não. Só as
pessoas que têm uma
ideia ingênua do que se
passa na vida espiritual
pensam assim. A esse
respeito o ensino
espírita é taxativo: o
homem perverso, o
assassino, o bandido, o
mais vil dos malfeitores
não se tornam santos
só porque desencarnam.
(Obra citada, pp. 131 a
133.)
Texto
para leitura
95. A
Revue noticia o
lançamento da obra A
confusão no Império de
Satã, autoria de
L.A. G. Salgues, de
Angers, em que o autor
demonstra que Satã e o
inferno dos
satanistas são um
mito. (Pág. 123.)
96. O surgimento do
jornal L’ Echo d’Outre-Tombe
(O Eco de
Além-Túmulo), de
Marselha, é divulgado na
Revue , que
acrescenta ter referido
jornal periodicidade
semanal. No alto, o
jornal continha a
célebre divisa do
Espiritismo: “Fora da
caridade não há
salvação”. (Pág. 123)
97. Num estilo elegante
e correto, e dizendo as
verdades sem ferir a
ninguém, foi lançado
mais um livro de M. J.
B., intitulado
Concordância da Fé e da
Razão e dedicado ao
clero católico. Nele o
autor trata mais
especificamente da
questão religiosa. O
outro livro de sua lavra
chama-se Lettres sur
le Spiritisme écrites à
des ecclesiastiques.
(Pág. 124.)
98. Uma carta procedente
de Dieppe relata fatos
interessantes ocorridos
após a morte de uma
cadelinha chamada Mika.
Estando o seu dono – a
quem ela era muito
apegada – deitado em seu
leito, ele ouviu em
determinada noite um
pequeno gemido em tudo
semelhante ao que Mika
emitia quando queria
algo. Como a mulher e a
filha também ouvissem os
estranhos sons, cuja
causa não pôde ser
determinada, apesar das
buscas que se fizeram na
casa, o correspondente
remeteu suas dúvidas ao
Codificador. (Págs.
125 a 127.)
99. Kardec comenta o
caso dizendo, de início,
que lhe parecia
positivamente provado
que existem animais que
veem Espíritos e com
estes se impressionam.
Ora, se eles veem os
Espíritos, não é pelos
olhos do corpo. Eles
devem ter também uma
espécie de visão
espiritual. Mas,
examinando diretamente a
hipótese de haver a
cadelinha Mika
comparecido em Espírito
à casa onde vivera, diz
ele que um fato
importante a registrar é
que, entre os seres do
mundo espiritual, jamais
se fez menção de que
existissem Espíritos de
animais. (Pág. 127.)
100. Disso parece
resultar que os animais
não conservam a sua
individualidade após a
morte, mas a
manifestação da
cadelinha Mika, caso
tenha se manifestado,
provaria exatamente o
contrário. A carta foi
lida então na Sociedade
Espírita de Paris, onde
se recebeu a comunicação
que se segue, pelo
médium E. Vézy.
(Págs. 127 e 128.)
101. Eis resumidamente o
que se contém na
comunicação referida: A)
O Espírito se desenvolve
passando pela peneira do
mineral, do vegetal e do
animal, até chegar à
humanimalidade, onde
começa a ensaiar-se
apenas a alma que
encarnará na
humanidade. B) Entre
essas diversas fases há
laços importantes,
chamados períodos
intermediários ou
latentes, porque é
aí que se operam as
transformações
sucessivas. C) As
afinidades existentes
entre os animais
domésticos e o homem são
produzidas pelas cargas
fluídicas que nos
rodeiam e sobre nós
recaem. D) É um pouco a
humanidade que se detém
sobre a animalidade, sem
alterar as cores de uma
e outra. Daí é que
resulta a superioridade
inteligente do cão sobre
o instinto brutal do
animal selvagem, e é só
a essa causa que poderão
ser devidas as
manifestações
mencionadas na carta. E)
O correspondente não se
enganou ao ouvir o
gemido do animal
reconhecido pelos
cuidados do dono, indo,
antes de passar ao
estado intermediário de
um desenvolvimento a
outro, levar-lhe uma
lembrança. A
manifestação pode
dar-se, mas é
passageira, porque o
animal, para subir um
degrau, necessita de um
trabalho latente, que
aniquila em todos eles
qualquer sinal exterior
de vida. F) Esse estado
é a crisálida
espiritual, onde se
elabora a alma, de
perispírito informe, sem
nenhuma figura
reprodutiva de traços.
G) Os Espíritos de
animais não existem no
espaço, ou antes, sua
passagem é tão rápida
que é como se fosse
nula. H) Quando um corpo
material se dissolve, os
elementos que o compõem
voltam ao seu foco
primitivo para alimentar
outros corpos. Dá-se o
mesmo para a parte
espiritual: os fluidos
organizados espirituais,
à passagem, tomam cores,
perfumes, instintos, até
a constituição
definitiva da alma. I) O
cão, o gato, o burro, o
cavalo ou o elefante não
podem, portanto,
manifestar-se por via
mediúnica. Só os
Espíritos chegados ao
grau da humanidade podem
fazê-lo, e ainda assim
em razão de seu
adiantamento, porque o
Espírito de um selvagem
não pode falar-nos como
o Espírito de um homem
civilizado. (Págs.
128 e 129.)
102. Um artigo publicado
no Journal de la
Vienne, em
22/11/1864, refere uma
série de manifestações
espíritas não resolvidas
ocorridas em Poitiers em
épocas diversas,
conforme fontes
confiáveis os relataram.
Assim é que em 1249,
segundo Guillaume
d’Auvergne, então bispo
de Paris, um Espírito
batedor se introduziu
numa casa de Poitiers,
na qual atirava pedras e
quebrava os vidros. Em
1447, na mesma região,
fatos semelhantes se
repetiram, só que nesse
caso o Espírito, além de
lançar pedras e quebrar
vidros, mexia nos móveis
e batia nas pessoas,
embora de leve. Jean
Delorme, então cura na
região, visitou o local
das manifestações e
procedeu a vários
exorcismos, sem qualquer
resultado. (Págs. 129
a 131.)
103. O autor do artigo,
sr. David (de Thiais),
não é partidário, mas
sim antagonista das
ideias espíritas, e seu
objetivo é mostrar a
falta de lógica e de
razões em fatos desse
naipe, para ele pueris e
indignos de serem
atribuídos aos
Espíritos, indivíduos
dotados de corpos
imponderáveis que,
planando sobre o mundo,
devem escapar às
enfermidades humanas,
aproximando-se da luz e
da bondade de Deus.
(Págs. 131 e 132.)
104. Kardec agradece as
informações preciosas
constantes do artigo,
visto que, ao contrário
do que o sr. David
pensa, elas servem de
confirmação da
veracidade das
manifestações, além de
mostrarem a antiguidade
dos fenômenos espíritas.
Mas o Codificador não
perde a oportunidade de
rebater as considerações
pessoais do articulista,
que tem, como muitas
pessoas, uma ideia
ingênua do que se passa
na vida espiritual.
(Pág. 132.)
105. O homem perverso, o
assassino, o bandido, o
mais vil dos malfeitores
não se tornam santos
só porque desencarnam.
Seguramente não são
Espíritos perfeitos que
se divertem com
semelhantes coisas. Ora,
se os há imperfeitos,
que há de admirável que
cometam malícias?
(Págs. 132 e 133.)
106. Morto a 25 de março
de 1865, o doutor Vignal
foi evocado no dia 31 na
Sociedade de Paris. Seu
desligamento do corpo
material – informou
Vignal – foi muito
rápido, mais do que ele
próprio esperava, no
entanto não deixou o
corpo completamente
senão no momento em que
ocorreu o sepultamento.
(Págs. 133 e 134.)
(Continua no próximo
número.)