A sublime sentença
Francisco Antônio de
Carvalho Júnior
Ao pé de templo enorme,
a praça tumultua.
Ansiosa expectação na
calçada poeirenta...
A massa encontra o
Cristo e, trágica,
apresenta
Consternada mulher a
chorar seminua...
– “Adúltera, Senhor!” –
velho escriba insinua.
– “Que dizes, Mestre?” –
insiste a multidão
violenta
– “Somos o tribunal que
a tradição sustenta,
A lei é apedrejar nos
libelos da rua!”
Fita o Mestre a infeliz
que a miséria alanceia;
Inclina-se, em seguida,
e escreve sobre a areia,
Como quem grava o sonho
onde a vida não medra.
Depois, contempla em
torno a malícia, o
veneno,
E exclama para a turba,
entre nobre e sereno:
– “Quem for puro entre
vós, lance a primeira
pedra!”
Francisco
Antônio de Carvalho
Júnior nasceu no Rio de
Janeiro em 6 de maio de
1855 e desencarnou na
mesma cidade em 3 de
maio de 1879. Poeta,
folhetinista, crítico
literário, dramaturgo,
foi nomeado promotor de
Angra dos Reis em 1878,
transferindo-se depois
para o Rio, onde viria a
desencarnar no ano
seguinte, como juiz
municipal. O soneto
acima integra o livro
Antologia dos Imortais,
obra psicografada pelos
médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo
Vieira.