LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
A
renovação exige coragem
e perseverança
O trabalho de renovação
das disposições íntimas
vai exigir, de todo
aquele que se proponha
executá-lo, perseverança
e determinação.
Perseverança, por causa
da necessidade da
repetição contínua e
sistemática na correção
do desvio feito nos
caminhos da existência,
e determinação, para que
não se abandone o
comprometimento com essa
nova atitude.
As ideias fantasiosas
que temos sobre
renovação deixam-nos
manietados a outros
erros, e iludidos na
certeza de que a estamos
realizando. Quase
sempre, por
desconhecimento, apenas
trocamos o nome, o
rótulo de antigos
enganos, que insistimos
em manter – nos apraz
tal situação –,
distorcendo o verdadeiro
significado de tal fato. Esse
engano, parece-nos, está
ligado à noção
equivocada de que
estamos, realmente,
comprometidos com a
mudança e que a estamos
realizando. Mas a
verdade é que, se
observarmos nossa
conduta, poderemos
perceber, muitas vezes,
que insistimos em
cometer os mesmos erros,
fazendo as mesmas
escolhas e guardando a
certeza de que já
havíamos superado essa
fase. Todavia, a
consciência dessa
repetência permitirá que
nos coloquemos em
alerta, porque nos
permitirá saber que,
ainda, estamos no início
da caminhada e distantes
dessa superação.
As situações, nas quais
somos chamados a dar
testemunho daquilo que
já aprendemos – e quase
sempre supomos que já o
fizemos –, constituem-se
em excelentes
vitrines para essas
observações. São
armadilhas que surgem
para que nos testemos,
para que tenhamos um
parâmetro da nossa
evolução, para que
possamos medir o quanto,
ainda, a paciência, a
tolerância com as
diferenças, o
entendimento fraterno a
quem nos agride, a
capacidade de perdoar e
esquecer e tantos
outros, que imaginávamos
já dominar, estão longe
do ideal da prática
amorosa que Jesus nos
ensinou.
São decepções que
infligimos a nós mesmos
e que sacodem a nossa
acomodação, no pouco que
fizemos, mas que supomos
ser muito. É importante
lembrar aqui que
qualquer avanço na senda
do progresso é louvável
e, às vezes, requer
muito esforço de quem o
executa. O que não pode
ocorrer é a estagnação
desse movimento
renovador, com a
justificativa de que
muito já foi feito. Isso
nos desequilibra e nos
adoece física e
emocionalmente,
permitindo que, inúmeras
vezes, sejamos alvos
fáceis de aproximação de
outras mentes em
desalinho, sejam elas
encarnadas ou
desencarnadas.
Por essa razão, a
superação de sentimentos
inferiores, sob o ponto
de vista de Jesus, como
os de revide, vingança,
vaidade, personalismo,
por exemplo – expressões
do egoísmo na vida de
relação –, é de vital
importância para a
recuperação e manutenção
do equilíbrio e da
harmonia no âmbito da
vida íntima. É essa
condição que nos
permitirá não sermos
feridos pelas correntes
aflitivas e conflitantes
que nos cercam,
proporcionando um outro
olhar sobre essas
armadilhas, um olhar com
objetividade, dando a
cada situação o justo
peso de importância.
Para que isso ocorra,
faz-se mister buscar
conhecer nossos
sentimentos – raiz de
nossas escolhas –,
dimensioná-los,
estabelecendo
prioridades para serem
trabalhadas, com foco
nas suas transformações,
partindo do mais simples
e, portanto, do mais
fácil – aquele mais
imediato, mais próximo,
que está mais claro para
nós – para o mais
complexo e mais difícil.
O mais importante nesse
processo, em última
análise, é ter a coragem
de identificar esses
sentimentos malsãos,
iniciar a tarefa de
renovação e, depois,
permanecer nesse
caminho. Passeando entre
a luz e a sombra, a
razão e a emoção, nunca
acertaremos a rota se
não nos comprometermos
com a mudança e
perseverar nela, mesmo
que se tenha de refazer
os passos mil vezes.
Muitos de nós creem que
somente a fé em Deus
seja suficiente para que
essas mudanças ocorram.
Entretanto, a proposta
de renovação, que Jesus
nos convida a realizar,
transcende a simples fé
divina. Ela vai além e
toca na essência do
Espírito, na vontade
genuína de realizá-la. Daí,
a presença dessas duas
forças transformadoras
em nós: a fé humana e a
fé divina, porque, ainda
que se aceite a soberana
presença de Deus em
nossa vida; ainda que a
fé nos leve a adorá-lO em
Espírito e Verdade;
ainda que a Natureza O
revele através das
belezas que nos cercam,
se não O sentirmos e
mostrarmos ao mundo,
através de nossas
atitudes, nada terá
sentido. Aceitar a Sua
presença e não vê-lO no
próximo é cegueira
mental; adorá-lO em
Espírito e Verdade e só
colocá-lO em altares
terrenos é diminuir-Lhe
a majestade; e vê-lO
revelado em Suas obras e
não entendê-lO é
olhar-se no espelho e
não reconhecê-lO em si
mesmo.
É na busca dessa
identidade com o Criador
que reside nossa luta
renovadora. “O
Pai e eu somos um só”, disse
Jesus, mostrando que
somente pela superação
de nós mesmos e da
materialidade na qual
insistimos em
permanecer, seremos
livres e nos
reconheceremos,
finalmente, como filhos
de Deus.