O criador
de Sherlock Holmes
A recém-lançada produção
cinematográfica Sherlock
Holmes nos dá uma
excelente oportunidade
para divulgarmos, para
quem não a conhece, por
meio de um pequeno
apanhado biográfico, a
vida do importante
espírita que foi o seu
criador, Sir
Arthur Conan Doyle. E o
fazemos, tomando por
base o trabalho
elaborado por Indalício
Hildegárdio Mendes
(mineiro de Leopoldina)
para a revista
Reformador, da qual foi
o Redator-Chefe.
Conan Doyle nasceu em
1859, na Escócia. Sua
família, conquanto
guardasse certos
privilégios de nobreza,
não era abastada, tanto
que ele enfrentou
dificuldades para
formar-se em Medicina.
Seus pais eram católicos
severos. Mary Doyle, sua
mãe, deu de si o melhor
que pôde para plasmar no
filho, “ídolo do seu
coração”, sua pureza de
caráter, franqueza e
respeito ao ser humano.
Sua máxima era: “Sem
temor diante dos fortes
e humilde diante dos
fracos”.
Com nove anos, Arthur
foi enviado para um
colégio de padres
jesuítas, um ambiente
rigorosamente católico.
Ali, sustentava
opiniões, mesmo que isso
lhe custasse punições,
não se abatendo diante
dos castigos e olhando
de frente aqueles que o
puniam. Nessa época, já
admirava o escritor
inglês Thomas Macaulay,
que se dizia agnóstico,
quando um dia ouviu um
padre irlandês afirmar
em público que todo
aquele que não era
católico iria para o
inferno. Esse pormenor
aparentemente
insignificante marcaria
o início de sua futura
atitude de abandonar a
religião tradicional da
família. Conan Doyle não
concordava com a
afirmação feita pelo
padre, pois isso
conferia um privilégio
aos católicos.
Lembrou-se, então, de
sua mãe, que dizia:
“Jamais acredites no
castigo eterno”. Embora
católica, não se
amoldara a conceitos
sectários e
irracionais.
Enquanto estudava
medicina, começou a
escrever pequenos
contos. Sua primeira
obra foi publicada antes
que ele completasse 20
anos. Concluída a
universidade, passou a
trabalhar como médico,
mas, na ocasião, fez uma
queixa à mãe: “O que
ganho é menos do que
poderia ganhar com a
minha pena”. Em 1883,
Conan Doyle vibrou de
satisfação. Finalmente,
teve um texto publicado
na rigorosa e exigente
Cornhill Magazine.
Dois anos depois,
completou o curso de
doutorado e casou-se
pela primeira vez.
No ano de 1887, travou
seu primeiro contato com
o Espiritismo. Estava,
então, inteiramente
preocupado com um novo e
delicado assunto: o
psiquismo. Havendo
renunciado ao
Catolicismo, era um
materialista mais de
superfície, tanto que
escreveu que haveria de
existir um Criador que
tivesse concebido o
mundo como um imenso
maquinismo. Ao visitar
um de seus doentes, o
General Drayson, um
astrônomo e matemático
notável, este lhe falou
de alguma coisa chamada
“Espiritismo”. Disse a
Doyle de suas
conversações com um
irmão já desencarnado.
Doyle, prudente, ouvia,
mas nada dizia. Desde
então, interessou-se em
investigar a
possibilidade da
existência além da
morte.
Junto com seu amigo Ball,
um arquiteto, resolveu
iniciar sessões
mediúnicas com um médium
experimentado. Fazia
relatórios
pormenorizados das
reuniões. Não era do
tipo que se deixa
convencer sem a obtenção
de provas consistentes.
E ainda não havia
chegado a uma
conclusão.
Muita coisa acontecera
depois daquela primeira
sessão espírita. Seu
êxito literário era
crescente. A famosa
personagem de seus
romances policiais,
Sherlock Holmes, havia
granjeado tanta
popularidade, que Doyle,
desejando maior atenção
do público para as suas
novelas históricas,
resolveu matá-lo. Logo
após, cedendo ao clamor
de milhares de leitores
no Reino Unido, na
Europa e nos Estados
Unidos, viu-se forçado a
“ressuscitar” o célebre
detetive.
Em 1901, confessa para
amigos que está
estudando cuidadosamente
as investigações do
notável físico William
Crookes, de Oliver Lodge
e de Frederic Myers
acerca da realidade dos
fenômenos espíritas.
Em 1902, considerando os
serviços prestados na
guerra, as autoridades
cogitaram conceder-lhe o
título nobiliárquico de
Sir. Fiel a seus
rígidos princípios,
Doyle esclareceu que, se
havia sido útil,
cumprira apenas o seu
dever. “Todo o meu
trabalho em favor do
Estado se macularia se
eu aceitasse uma dessas
‘recompensas’”, afirmou.
Contudo, apesar de sua
enérgica resistência,
acabou acatando a
argumentação materna de
que a recusa do título
significaria uma
descortesia com o rei.
Durante trinta anos,
aproximadamente, Doyle
buscou uma prova
objetiva das
comunicações dos
Espíritos. Finalmente,
conseguiu encontrá-la,
numa mensagem de Malcolm
Leckie que o
impressionou
profundamente, uma vez
que mencionava fatos de
caráter pessoal, somente
do conhecimento dele e
de Lily Loder-Symonds,
sua amiga, que havia
perdido três irmãos na
guerra, além de um
amigo, Leckie. Comentou
Doyle: “As mensagens
estavam cheias de
pormenores militares que
a moça ignorava”.
A partir de 1917, Doyle
passou a proferir
conferências espíritas,
expondo e analisando os
fenômenos psíquicos.
Nunca mais deixou essa
importante atividade de
divulgação do
Espiritismo-Religião.
Em 1918, publicou a obra
A Nova Revelação,
na qual escreveu o
seguinte: “O toque do
telefone é coisa em si
mesma pueril, mas
pode-se dar que seja a
chamada para uma
comunicação de vital
interesse.
Afigurou-se-me que todos
esses fenômenos eram
toques de telefones que,
sem significação em si
mesmos, bradavam aos
homens: ‘Levantai-vos!
Alerta! Atendei! Estes
sinais são para vós
outros! Eles vos
previnem da mensagem que
Deus vos quer enviar!’ O
que tem valor real é a
mensagem, não os
sinais”. Em sua obra,
Doyle manifesta
convicção na explicação
espírita para as
manifestações
paranormais estudadas a
esmo durante o século
XIX. “A revelação –
afirma ele – anula a
ideia de um inferno
grotesco e de um céu
fantástico, por conceber
uma elevação progressiva
na escala da vida, sem
mudanças monstruosas que
num instante nos
transformem em anjos ou
demônios”.
Sua convicção foi além.
Para receber o título de
Par (Peer) do
Reino Unido da
Grã-Bretanha, que é a
maior distinção a que um
homem pode aspirar no
Império Britânico,
foi-lhe imposta a
condição de renunciar às
suas crenças espíritas.
Confrontando a todos, e
ao sectarismo vigente,
permaneceu fiel à fé que
abraçara e que manteve
até seus últimos dias na
Terra. Compreensivo, não
se revoltou contra
aqueles que o criticaram
e o atacaram por causa
disso. Achava que eles
ainda não haviam sido
alcançados pela
revelação que lhe
iluminara o espírito,
nem haviam feito as
pesquisas e as
experiências a que ele
se dedicara
exaustivamente. Disse à
esposa: “Toda minha vida
veio culminar no
Espiritismo. É o mais
grandioso fato que
existe no mundo”.
Certa feita, na
Austrália, Doyle teve de
suportar venenosas
considerações de um
reverendo a respeito do
Espiritismo. Entre
muitas sandices lançadas
contra a “nova
revelação”, o reverendo
acusava o Espiritismo de
ser obra do demônio e os
espíritas de terem
firmado um pacto com
este. Encarando a
questão, Doyle escreveu:
“O melhor exemplo é o do
Cristo, que, quando os
fariseus lhe fizeram
essa imputação,
respondeu-lhes:
Conhecê-los-eis pelos
seus frutos. Não
posso compreender a
mentalidade de quem
pensa que é coisa do
demônio o querer provar
a existência da vida
além-túmulo, para poder
assim refutar os
materialistas. Se isso é
obra do demônio, então
parece que ele se
reformou”.
Muita gente pergunta se
Doyle era médium. Pelo
menos, médium intuitivo,
podemos afirmar que sim.
Ele mesmo, respondendo a
seus leitores, que lhe
pediam mais contos de
Sherlock Holmes, dizia:
“Só posso escrever o que
me chega do Além”.
De 1925 a 1930, foi
Presidente Honorário da
International
Spiritualist Federation,
além de Presidente da
Aliança Espírita de
Londres e Presidente do
Colégio Britânico de
Ciência Espírita. Dentre
suas obras, destacam-se
dois volumes de A
História do
Espiritismo.
Em 7 de julho de 1930,
partia da Terra um dos
Espíritos mais nobres e
valorosos que a
Humanidade tem
conhecido.