A influência
moral do médium
nas comunicações
(Parte 2 e
final)
Segundo os
ensinamentos
espíritas, se o
médium, do ponto
de vista da
execução, não
passa de um
instrumento,
exerce, todavia,
influência muito
grande, sob o
aspecto moral
Um hotentote
desencarnado, em
se comunicando
com um sábio
terrestre, ainda
jungido ao
envoltório
físico, não lhe
poderá oferecer
notícias outras,
além dos
assuntos
triviais em que
se lhe
desdobraram no
mundo as
experiências
primitivistas, e
um sábio, sem o
indumento
carnal, entrando
em relação com o
hotentote, ainda
colado ao seu
“habitat”
africano, não
conseguirá
facultar-lhe
cooperação
imediata, senão
no trabalho
embrionário em
que se lhe
encravam os
interesses
mentais, como
sejam o auxílio
a um rebanho
bovino ou a cura
de males do
corpo denso. Por
isso mesmo, o
hotentote não se
sentiria feliz
na companhia do
sábio e o sábio,
a seu turno, não
se demoraria com
o hotentote, por
falta desse
alimento quase
imponderável a
que podemos
chamar
“vibrações
compensadas”.
É da lei que
nossas maiores
alegrias sejam
recolhidas ao
contacto
daqueles que, em
nos compreendendo,
permutam conosco
valores mentais
de qualidades
idênticas aos
nossos, assim
como as árvores
oferecem maior
coeficiente de
produção se
colocadas entre
companheiras da
mesma espécie,
com as quais
trocam seus
princípios
germinativos.
Em mediunidade,
portanto, não
podemos olvidar
o problema da
sintonia.
Atraímos os
Espíritos que se
afinam conosco,
tanto quanto
somos por eles
atraídos; e se é
verdade que cada
um de nós
somente pode dar
conforme o que
tem, é
indiscutível que
cada um recebe
de acordo com
aquilo que dá.
Achando-se a
mente na base de
todas as
manifestações
mediúnicas,
quaisquer que
sejam os
característicos
em que se
expressem, é
imprescindível
enriquecer o
pensamento,
incorporando-lhe
os tesouros
morais e
culturais, os
únicos que nos
possibilitam
fixar a luz que
jorra para nós,
das Esferas Mais
Altas, através
dos gênios da
sabedoria e do
amor que
supervisionam
nossas
experiências.
Procederam
acertadamente
aqueles que
compararam nosso
mundo mental a
um espelho.
Refletimos as
imagens que nos
cercam e
arremessamos na
direção dos
outros as
imagens que
criamos.
Médiuns somos
todos nós, nas
linhas de
atividade
em que
nos situamos
E, como não
podemos fugir ao
imperativo da
atração, somente
retrataremos a
claridade e a
beleza se
instalarmos a
beleza e a
claridade no
espelho de nossa
vida íntima...
... Missões
santificantes e
guerras
destruidoras,
tarefas nobres e
obsessões
pérfidas
guardam
origem nos
reflexos da
mente individual
ou coletiva,
combinados com
as forças
sublimadas ou
degradantes dos
pensamentos de
que se nutrem.
Saibamos, assim,
cultivar a
educação,
aprimorando-nos
cada dia.
Médiuns somos
todos nós, nas
linhas de
atividade em que
nos situamos.
A força
psíquica, nesse
ou naquele teor
de expressão, é
peculiar a todos
os seres, mas
não existe
aperfeiçoamento
mediúnico sem
acrisolamento da
individualidade.
É
contraproducente
intensificar a
movimentação da
energia sem
disciplinar-lhe
os impulsos.
É perigoso
possuir sem
saber usar.
O espelho
sepultado na
lama não reflete
o esplendor do
Sol.
O lago agitado
não retrata a
imagem da
estrela que jaz
no infinito.
Elevemos nosso
padrão de
conhecimento
pelo estudo bem
conduzido e
apuremos a
qualidade de
nossa emoção
pelo exercício
constante das
virtudes
superiores, se
nos propomos
recolher a
mensagem das
Grandes Almas.
Mediunidade não
basta só por
si.
É imprescindível
saber que tipo
de onda mental
assimilamos para
conhecer da
qualidade de
nosso trabalho e
ajuizar de nossa
direção.
Com facilidade
identificamos os
valores do
indivíduo
pelos
raios que emite
Capítulo II:
Áulus esclarece
a André Luiz e
seu companheiro
Hilário sobre a
possibilidade do
plano espiritual
aquilatar as
possibilidades
dos grupos de
trabalhadores do
plano físico na
tarefa
mediúnica, com o
auxílio de um
aparelho
especial chamado
Psicoscópio.
“... Em nosso
esforço de
supervisão,
podemos
classificar sem
dificuldade as
perspectivas
desse ou daquele
agrupamento de
serviços
psíquicos que
aparecem no
mundo.
Analisando a
psicoscopia de
uma
personalidade ou
de uma equipe de
trabalhadores, é
possível
anotar-lhes as
possibilidades e
categorizar-lhes
a situação.
Segundo as
radiações que
projetam,
planejamos a
obra que podem
realizar no
tempo. Se o
espectroscópio
permite ao homem
perquirir a
natureza dos
elementos
químicos,
localizados a
enormes
distâncias,
através da onda
luminosa que
arrojam de si,
com muito mais
facilidade
identificamos os
valores da
individualidade
humana pelos
raios que emite.
A moralidade, o
sentimento, a
educação e o
caráter são
claramente
perceptíveis,
através de
ligeira
inspeção.
Mas – indagou
Hilário,
investigador -,
e na hipótese de
surgirem
elementos
arraigados ao
mal, numa
formação de
cooperadores do
bem? De posse da
ficha
psicoscópica, os
instrutores
espirituais
providenciar-lhes-ão
a expulsão?
Não será
preciso. Se a
maioria
permanece
empenhada na
extensão do bem,
a minoria
encarcerada no
mal se distancia
do conjunto,
pouco a pouco,
por ausência de
afinidade.
Contudo – alegou
ainda o meu
companheiro -,
que acontece
numa instituição
cujo programa
elevado se
degenera em
desequilíbrio,
induzindo-nos a
reconhecer que a
virtude aí não
passa de
bandeira
fictícia,
acobertando a
ignorância e a
perversidade?
Então, nesse
caso – adiantou
o interpelado,
tolerante -,
dispensamos
qualquer regime
de perseguição
ou denúncia.
Encarrega-se a
vida de
colocar-nos no
lugar que nos
compete...”
O Espírito em
turvação é um
alienado mental
requisitando-nos
o auxílio
“... Não podemos
realizar
qualquer estudo
de faculdades
medianímicas,
sem o estudo da
personalidade.
Considero,
assim, de
extrema
importância a
apreciação dos
centros
cerebrais, que
representam
bases de
operação do
pensamento e da
vontade, que
influem de modo
compreensível em
todos os
fenômenos
mediúnicos,
desde a intuição
pura à
materialização
objetiva. Esses
recursos, que
merecem a defesa
e o auxílio das
entidades sábias
e benevolentes,
em suas tarefas
de amor e
sacrifício junto
dos homens,
quando os
medianeiros se
sustentam no
ideal superior
da bondade e do
serviço ao
próximo, em
muitas ocasiões
podem ser
ocupados por
entidades
inferiores ou
animalizadas, em
lastimáveis
processos de
obsessão...
... Muitos
médiuns se
arrojam a
prejuízos dessa
ordem. Depois de
ensaios
promissores e
começo
brilhante,
acreditam-se
donos de
recursos
espirituais que
lhes não
pertencem ou
temem as
aflições
prolongadas da
marcha e
recolhem-se à
inutilidade,
descendo de
nível moral ou
conchegando-se a
improdutivo
repouso,
porquanto
retomam
inevitavelmente
a cultura dos
impulsos
primitivos que o
trabalho
incessante no
bem os induziria
a olvidar...
... Nossas
realizações
espirituais do
presente são
pequeninas
réstias de
claridade sobre
as pirâmides de
sombra do nosso
passado. É
imprescindível
muita cautela
com as
sementeiras do
bem para que a
ventania do mal
não as arrase. É
por isso que a
tarefa
mediúnica,
examinada como
instrumentação
para a obra das
Inteligências
superiores, não
é tão fácil de
ser conduzida a
bom termo, de
vez que, contra
o canal ainda
frágil que se
oferece à
passagem da luz,
acometem as
ondas pesadas de
treva da
ignorância, a se
agitarem,
compactas, ao
nosso
derredor...”
Capítulo III
“... O Espírito
em turvação é um
alienado mental,
requisitando
auxílio. Nas
sessões de
caridade, qual a
que
presenciamos, o
primeiro
socorrista é o
médium que o
recebe, mas, se
esse socorrista
cai no padrão
vibratório do
necessitado que
lhe roga
serviço, há
pouca esperança
no amparo
eficiente. O
médium, pois,
quando integrado
nas
responsabilidades
que esposa, tem
o dever de
colaborar na
preservação da
ordem e da
respeitabilidade
na obra de
assistência aos
desencarnados,
permitindo-lhes
que essa
manifestação não
colida com a
dignidade
imprescindível
ao recinto...”
Caminharemos
sempre ao
influxo de
nossas próprias
criações, seja
onde for
“... E numa
imagem feliz
para ilustrar o
assunto,
ajuntou:
– Um médium
passivo, em tais
circunstâncias,
pode ser
comparado à mesa
de serviço
cirúrgico,
retendo o
enfermo
necessitado de
concurso
médico.
Se o móvel
especializado
não possuísse
firmeza e
humildade,
qualquer
intervenção
seria de todo
impossível...”
Capítulo XIII
“Em matéria
de mediunidade,
não nos
esqueçamos do
pensamento.
Nossa alma vive
onde se lhe
situa o
coração.
Caminharemos, ao
influxo de
nossas próprias
criações, seja
onde for.
A gravitação no
campo mental é
tão incisiva,
quanto na esfera
da experiência
física.
Servindo ao
progresso geral,
move-se a alma
na glória do
bem.
Emparedando-se
no egoísmo,
arrasta-se, em
desequilíbrio,
sob as trevas do
mal.
A lei Divina é o
bem de todos.
Colaborar na
execução de seus
propósitos
sábios é
iluminar a mente
e clarear a
vida. Opor-lhe
entraves, a
pretexto de
acalentar
caprichos
perniciosos, é
obscurecer o
raciocínio e
coagular a
sombra ao redor
de nós mesmos.
É indispensável
ajuizar quanto à
direção dos
próprios passos,
de modo a
evitarmos o
nevoeiro da
perturbação e a
dor do
arrependimento.
Nos domínios do
espírito não
existe a
neutralidade.
Evoluímos com a
luz eterna,
segundo os
desígnios de
Deus, ou
estacionamos na
treva, conforme
a indébita
determinação de
nosso ‘eu’.”
Em nossos
círculos de
trabalho não nos
basta o
ato de crer
e convencer
“...
Satisfazer-se
alguém com o
rótulo, em
matéria
religiosa, sem
qualquer esforço
de sublimação
interior, é tão
perigoso para a
alma quanto
deter uma
designação
honorífica entre
os homens com
menosprezo pela
responsabilidade
que ela impõe.
Títulos de fé
não constituem
meras palavras,
acobertando-nos
deficiências e
fraquezas.
Expressam
deveres de
melhoria a que
não nos será
lícito fugir,
sem agravo de
obrigações.
Em nossos
círculos de
trabalho, desse
modo, não nos
bastará o ato de
crer e
convencer.
Ninguém é
realmente
espírita à
altura desse
nome, tão-só
porque haja
conseguido a
cura de uma
escabiose
renitente, com o
amparo de
entidades
amigas, e se
decida, por
isso, a aceitar
a intervenção do
Além-Túmulo na
sua existência;
e ninguém é
médium, na
elevada
conceituação de
termo, somente
porque se faça
órgão de
comunicação
entre criaturas
visíveis e
invisíveis.
Para conquistar
a posição de
trabalho a que
nos destinamos,
de conformidade
com os
princípios
superiores que
nos enaltecem o
roteiro, é
necessário
concretizar-lhes
a essência em
nossa estrada,
por intermédio
do testemunho de
nossa conversão
ao amor
santificante.
Não bastará,
portanto,
meditar a
grandeza de
nosso idealismo
superior. É
preciso
substancializar-lhe
a excelsitude em
nossas
manifestações de
cada dia.
É muito
importante que
nós, médiuns,
nos
conscientizemos
do grande
benefício que o
correto
exercício da
mediunidade nos
faculta, e
busquemos nos
aprimorar cada
vez mais nas
tarefas de
socorro
espiritual, para
subirmos alguns
degraus na
escalada do
progresso
espiritual que
tem em Jesus
Cristo o modelo
a ser seguido
por todos, para
que, exercitando
a prática da
caridade em prol
do mais
necessitado,
espalhando o bem
em torno dos
nossos passos,
seguindo seus
exemplos,
consigamos por
fim, levar a
efeito a nossa
necessária e tão
sonhada reforma
moral.
(A primeira
parte deste
artigo foi
publicada na
edição anterior
desta revista.)
Referências:
1) O Livro dos
Médiuns,
Capítulo XX.
2) Nos Domínios
da Mediunidade,
pelo Espírito
André Luiz,
Psicografia de
Chico Xavier.