A Revue Spirite
de 1865
Allan Kardec
(Parte
10)
Damos prosseguimento ao
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1865. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 20
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. As sessões de
doutrinação eram comuns
em 1865?
Em alguns lugares, sim,
como o Sr. Alexandre
Delanne pôde constatar
em visita a Barcelona,
onde acompanhou a cura
completa de uma senhora
atingida por uma
obsessão horrorosa, que
datava de quinze anos
pelo menos. Delanne
descreveu também, na
sequência, o tratamento
realizado em outra
sessão de um manobreiro
chamado Joseph, que
havia 18 anos sofria um
processo obsessivo.
Depois de relatar como
se realizou o
tratamento, Delanne
acrescentou: “Que
energia, que convicção,
que coragem não são
precisas para fazer
semelhantes curas! A fé,
a esperança e,
sobretudo, a caridade, e
só elas, podem vencer
tão grandes obstáculos e
afrontar tão
temerariamente um grupo
de tão temíveis
adversários. Eu saí
arrasado!”
(Revue Spirite de 1865,
pp. 138 e 139.)
B. Que tipo de fenômeno
Delanne presenciou em
Carcassone?
Em Carcassone, em visita
ao Sr. Jaubert,
presidente do grupo
espírita local, Delanne
assistiu a outra ordem
de fenômenos: os
transportes. Assim que
ele entrou no salão, uma
chuva de drágeas caiu
com ruído num canto da
sala. A médium, que
tinha o estômago
inchado, tomou seu lápis
e escreveu: “Dize a
Delanne que ponha a mão
no vazio de teu estômago
e essa inflamação
desaparecerá. Ora
antes”. Aí caiu uma nova
chuva, agora de bombons
e no canto oposto àquele
onde ocorrera o primeiro
fenômeno. Delanne
aproximou-se da doente,
que apresentava uma
inchação maior que na
véspera. Impôs-lhe a mão
e a inchação desapareceu
como por encanto.
Ocorreu então um
terceiro derrame de
drágeas.
(Obra citada, pp. 139 a
141.)
C. Que recomendação, no
tocante às comunicações,
fez em Lyon o Espírito
de Pascal?
A Revue
transcreveu três
dissertações recebidas
em Lyon, de autoria do
Espírito de Pascal, que
fez na ocasião inúmeras
recomendações. Com
respeito às comunicações
mediúnicas, ele foi
enfático: É preciso
examinar as comunicações
recebidas, submetendo-as
à análise da razão e não
tomando sem exame nem
mesmo as inspirações que
agitam a nossa alma.
(Obra citada, pp. 144 a
149.)
Texto para leitura
107. Doutor Vignal
disse, em seguida, que
há muita diferença entre
o desprendimento
pós-morte e o
desprendimento da alma
ainda encarnada, como se
dá durante o sono. “Hoje
sou livre”, exclamou o
Espírito, lembrando que
durante a encarnação a
matéria constringe a
alma com seu sistema
inflexível. (Págs.
134 e 135.)
108. A
Revue publica
duas cartas enviadas a
Kardec pelo autor do
opúsculo A confusão
no Império de Satã,
o Sr. Salgues, de Angers.
Confessando ter sido
anteriormente adversário
das ideias espíritas, o
Sr. Salgues reconhece o
bem que o Espiritismo
tem feito por toda a
parte e se diz leitor
atento dos escritos que
tanto se espalham, para
reafirmar a moralidade e
os sentimentos
religiosos, levados na
via mais racional.
(Págs. 136 e 137.)
109. Kardec lhe
respondeu de forma
carinhosa e, no final de
sua carta, asseverou:
“Se divergimos nalguns
pontos de doutrina, vejo
com verdadeira
satisfação que um grande
princípio nos une: `Fora
da caridade não há
salvação’.”(Pág.
138.)
110. Em carta a Kardec,
o Sr. Delanne fala de
sua visita a Barcelona,
onde encontrou adeptos
zelosos e fervorosos do
Espiritismo. “Num grupo
que visitei – refere o
pai de Gabriel Delanne –
vi dignos êmulos desse
caro Sr. Dombre, de
Marmande. Constatei a
cura completa de uma
senhora atingida por uma
obsessão horrorosa, que
datava de quinze anos
pelo menos, muito antes
que tivesse ouvido falar
de Espíritos.”(Págs.
138 e 139.)
111. Delanne descreve,
na sequência, o
tratamento realizado em
outra sessão de um
manobreiro chamado
Joseph, que havia 18
anos sofria um processo
obsessivo, agora em vias
de cura. O Espírito
obsessor parecia ser da
pior espécie, mas nunca
disse o motivo de sua
vingança, que impunha
sofrimentos inenarráveis
em sua vítima. Delanne
relata na carta o que
acontecia a Joseph nos
momentos de crise.
(Pág. 139.)
112. Premido pelo Sr.
Delanne, o algoz
desencarnado confessou
enfim que aquele homem
lhe havia roubado a
mulher a quem amava. O
doutrinador explicou que
se ele quisesse não
mais atormentar o
manobreiro e mostrasse
um arrependimento
sincero, ainda que
mínimo, Deus lhe
permitiria rever a
pessoa amada. “Por ela –
respondeu o Espírito –
farei tudo.” Delanne
pediu-lhe então que
repetisse estas
palavras: “Meu Deus,
perdoai minhas faltas”.
Ele hesitou, mas atendeu
escrevendo: “Meu Deus,
perdoai os meus erros!”
O momento era crítico.
Que iria acontecer? Tudo
correu, no entanto, como
o esperado e, operando
enérgicos passes
magnéticos em Joseph,
que estava efetivamente
esgotado como um
lutador, o Sr. B...
acabou acalmando-o
completamente. (Pág.
139.)
113. Concluindo o
relato, acrescentou
Delanne: “Que energia,
que convicção, que
coragem não são precisas
para fazer semelhantes
curas! A fé, a esperança
e, sobretudo, a
caridade, e só elas,
podem vencer tão grandes
obstáculos e afrontar
tão temerariamente um
grupo de tão temíveis
adversários. Eu saí
arrasado!” (Pág.
139.)
114. Em Carcassone,
visitando o Sr. Jaubert,
presidente do grupo
espírita local, Delanne
pôde assistir a outra
ordem de fenômenos: os
transportes. Assim que
ele entrou no salão, uma
grande peça despida,
apenas atapetada, uma
chuva de drágeas caiu
com ruído num canto da
sala. A médium, que
tinha o estômago
inchado, tomou seu lápis
e escreveu: “Dize a
Delanne que ponha a mão
no vazio de teu estômago
e essa inflamação
desaparecerá. Ora
antes”. Aí caiu uma nova
chuva, agora de bombons
e no canto oposto àquele
onde ocorrera o primeiro
fenômeno. Delanne
aproximou-se da doente,
que apresentava uma
inchação maior que na
véspera. Impôs-lhe a mão
e a inchação desapareceu
como por encanto.
Ocorreu então um
terceiro derrame de
drágeas. (Págs. 139 a
141.)
115. Comentando notícia
publicada no Siècle
a respeito da influência
do uso imoderado do
tabaco, que ocasionaria
uma debilidade no
cérebro e na medula
espinhal, podendo daí
resultar a loucura, a
Revue adverte que,
diante de tais perigos,
não é de admirar que
existam espíritas entre
os loucos. Ocorre que,
além das causas
materiais, como a
referida pelo Sr. Jolly
na Academia de Ciências
da França, há causas
morais e é contra estas
que os espíritas têm um
poderoso preservativo em
suas crenças. Com a
influência do
Espiritismo o número de
casos de loucura por
causas morais diminuiria
incontestavelmente, diz
a nota. (Págs. 142 e
143.)
116. A
Revue transcreve
três dissertações
recebidas em Lyon e
assinadas pelo Espírito
de Pascal. Eis de forma
resumida parte do que
nelas se contém: A) É
preciso examinar as
comunicações recebidas,
submetendo-as à análise
da razão e não tomando
sem exame nem mesmo as
inspirações que agitam a
nossa alma. B) A
inspiração encerra dois
elementos: o pensamento
e o calor fluídico
destinado a aquecer a
alma do médium,
dando-lhe o que chamamos
de veia da
composição. Se a
inspiração encontrar o
lugar ocupado por uma
ideia preconcebida, o
pensamento do Espírito
comunicante fica sem
intérprete e o calor
fluídico se gasta em
aquecer um pensamento
que não é dele. C) A
ideia, um dos dois
elementos da inspiração
medianímica, vem do
mundo extrafísico e é a
inspiração própria do
Espírito. D) O calor
fluídico é encontrado e
tomado dos encarnados: é
a parte quintessenciada
do fluido vital em
emanação, algumas vezes
recolhido ao próprio
inspirado, quando dotado
de um certo poder
fluídico ou medianímico,
e o mais das vezes
tomado em seu ambiente,
na emanação de
benevolência de que o
inspirado esteja mais ou
menos rodeado. É por
isso que se diz que a
simpatia torna
eloquente. E) A ideia,
sozinha, não basta, se
não se lhe dá a força de
exprimi-la. O calor é
para a ideia o que o
perispírito é para a
alma. F) Deus não se
vinga. É uma blasfêmia
dizer que Deus age como
os homens, porque estes,
sim, se vingam. G) Deus
não age assim. Ele
entrava o impulso de uma
paixão funesta, corrige
o orgulho inato,
endireita o egoísmo...
Como pai, corrige, mas
não se vinga jamais. H)
Só porque o Espiritismo
foi revelado, não
acreditemos num
cataclismo das
instituições sociais.
Desconfiemos, pois, dos
Espíritos impacientes,
que vos impelem para as
vias perigosas do
desconhecido.
Lembremo-nos de que o
Espírito humano se move
e se agita sob a
influência de três
causas – a reflexão,
a inspiração e a
revelação. I) A
reflexão é a
riqueza de nossas
lembranças, que agitamos
voluntariamente. Nela o
homem encontra o que lhe
é rigorosamente útil
para satisfazer as suas
necessidades. J) A
inspiração é a
influência dos Espíritos
extraterrenos, que se
mistura mais ou menos às
nossas próprias
reflexões para nos
impelir ao progresso.
L) A revelação é
a mais elevada das
forças que agitam o
Espírito humano, porque
vem de Deus e só se
manifesta por sua
vontade expressa. Ela é
rara e ordinariamente
dada como uma recompensa
à fé sincera, ao coração
devotado. (Págs. 144
a 149.)
117. Manifestando-se em
Paris, Georges diz que a
medianimidade é uma
faculdade inerente à
natureza do homem. Não é
uma exceção, nem um
favor, e está sujeita às
variações físicas e às
desigualdades morais.
“Jamais se devem
atribuir aos Espíritos,
refiro-me aos Espíritos
elevados, esses ditados
sem fundo nem forma, que
aliam à sua nulidade o
ridículo de serem
assinados por nomes
ilustres”, diz Georges.
(Pág. 149.)
118. Mais adiante, diz
ele que a ciência tem os
seus pseudo-sábios e a
medianimidade, os seus
falsos médiuns. Existe,
segundo Georges,
diferença entre os
médiuns inspirados pelos
fluidos espirituais e os
que agem apenas sob o
impulso do fluido
corporal, isto é, os que
vibram intelectualmente
e aqueles cuja
ressonância física só
conduz à produção
confusa e inconsciente
de suas próprias ideias,
ou de ideias vulgares.
(Págs. 149 e 150.)
(Continua no próximo
número.)