JORGE
HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília,
Distrito
Federal
(Brasil)
Fidedignidade
kardequiana
O que caracteriza o
homem, habitante da
Terra há milhões de
anos, é a inteligência
de que é dotado. Essa
inteligência
complementa-se com a
vontade e com a
liberdade para pensar e
agir. Mas o ser humano,
com sua inteligência e
atributos, tem uma
causa, uma geratriz, um
Criador, que está fora
de si mesmo. Essa causa
primeira, a Inteligência
Suprema, nos ensinos da
Espiritualidade
Superior, é o Criador
não somente do homem,
mas de tudo que existe
em todo o Universo.
Esses ensinos
sintéticos, que se
encontram na obra básica
do Espiritismo, foram
complementados por
outros para que o homem
pudesse formar ideia de
si mesmo, de sua origem
e de seu destino, do
mundo em que vive e do
Universo infinito. As
noções que a Doutrina
dos Espíritos oferece do
Criador e da criação -
Deus, espírito e matéria
- facilitam a
compreensão de tudo o
que existe, máxime
quando esses
conhecimentos básicos
são complementados pela
revelação das leis
divinas estabelecidas
para o funcionamento de
tudo o que foi criado.
Pelas leis naturais, ou
divinas, pode a
Humanidade hoje perceber
que a Inteligência
Suprema não só criou os
dois elementos -
espírito e matéria -,
mas regulou o
funcionamento de toda a
criação dentro de uma
harmonia total,
universal. Matéria e
espírito estão ligados
de tal forma que,
regidos por leis
perfeitas e imutáveis,
podemos, hoje, perceber
o sentido da vida na
Terra e em outros
mundos, numa realidade
que se contrapõe ao que
as religiões e as
escolas filosóficas do
passado e do presente
têm ensinado.
A
sabedoria dos Espíritos
Reveladores procurou não
definir Deus
A Nova Revelação
desvenda, assim, os
grandes mistérios do
passado, com os quais se
depararam tanto o homem
primitivo das cavernas
quanto os sistemas
filosóficos e religiosos
de todas as épocas. Deus
é a causa primária, é o
Criador Divino de tudo
que existe, mas é também
o Legislador que
estabeleceu as leis
eternas para o
funcionamento de toda a
sua criação, nos
domínios da Natureza e
da Vida. A sabedoria dos
Espíritos Reveladores
procurou não definir
Deus, o Criador, para
evitar erros e
limitações ao Ser
perfeito e infinito.
A linguagem e a
inteligência humanas,
limitadas, não têm
condições de definir o
que é infinito e
ilimitado. São muito
importantes para a
Humanidade as Revelações
da Espiritualidade
Superior formuladas na
Codificação Espírita,
sob todos os seus
aspectos. Mas, no que
concerne às noções sobre
Deus, o Criador e o
Universo, as Revelações
assumem excepcional
importância, pela
diversidade de
concepções reinantes nas
religiões, nas
filosofias e nas
ciências, mostrando que
Deus não pode ser
confundido com sua
criação, como no
panteísmo oriental; nem
é um Deus antropomorfo,
como nas concepções
religiosas do Ocidente;
ou não existe, para o
materialismo multifário
e o ateísmo dominantes
em determinadas ciências
e filosofias.
As condições de vida na
Terra foram elaboradas
de forma tal que o
homem, dispondo de
livre-arbítrio,
outorgado por seu
Criador, chegou às mais
variadas conclusões a
respeito de si mesmo e
de seu Deus, no decorrer
dos milênios.
Entretanto, em
determinado momento da
vida planetária, quando
a Humanidade já
alcançara considerável
progresso em
conhecimentos
científicos sobre a
matéria e modificara
muitos aspectos da
organização social, essa
evolução alcançada
contrastava com suas
concepções sobre seu
Criador e sobre as leis
divinas que regem tudo
no Universo. É nesse
momento histórico da
Humanidade, em pleno
século XIX da Era
Cristã, que a
Misericórdia Divina,
representada pelo
Governador Espiritual do
Orbe, o Cristo de Deus,
vem em socorro dos
habitantes deste
Planeta, trazendo-lhes
os esclarecimentos que
se transformaram em
luzes iluminando causas
e efeitos não percebidos
até então.
A Revelação Espírita vem
em socorro de todos os
que já se encontram em
condições de entender o
Poder, a Bondade e a
Misericórdia de Deus,
suas múltiplas formas de
manifestação por todo o
Universo, inclusive em
nosso mundo de expiações
e provas. Essa
revelação, como todas as
anteriores, está à
disposição daqueles que
estão em busca de
conhecimentos reais, em
demanda da coerência e
da verdade. Entretanto,
as novas revelações não
obrigam nem constrangem
os negadores ou os
céticos a aceitá-las.
Elas representam a
solidariedade, o amor e
a bondade do Alto aos
que já fazem jus à ajuda
e à compreensão.
O
espírita não teme o
progresso das ciências
O Espiritismo não se
apresenta à Humanidade
como uma imposição do
Superior ao Inferior.
Busca, sim, abrir a
mente humana ao
conhecimento geral sobre
a vida, sobre tudo o que
existe, suas causas e
manifestações. Seus
postulados básicos não
só explicam e aclaram os
grandes problemas
defrontados pelo homem
como auxiliam o
pensamento a evoluir
sempre, não se detendo
em colocações dogmáticas
que cerceiam futuros
desdobramentos da
realidade e da verdade.
É o que ocorreu, após a
Codificação formulada
pelo missionário Allan
Kardec, através de vasta
literatura, mediúnica ou
não, que se ocupou em
desdobrar conceitos,
definições e verdades
reveladas nas obras
básicas, sem lhes
alterar a essência,
mostrando-nos a
continuação da vida nos
mundos e esferas
espirituais, o
funcionamento perfeito
das leis divinas, nas
mais diferentes
situações, e a
confirmação da
insuperável Mensagem do
Cristo, sem as
distorções
interpretativas das
diversas seitas
denominadas cristãs.
Além da segurança que a
Doutrina Consoladora e
Esclarecedora
proporciona ao
pensamento lógico e
racional de seus
seguidores sinceros, a
própria Doutrina
assegura que qualquer
ponto mal-entendido ou
equivocado que as
ciências e o progresso
geral comprovem como
tal, ela aceita a
verdade comprovada ou o
fato novo, antes
desconhecido, já que seu
compromisso é com a
realidade, e esta não
lhe afeta a estrutura
essencial. Em
decorrência desse
princípio, o espírita
não teme o progresso das
ciências, nem se
preocupa com o confronto
dos princípios de sua
Doutrina com os ensinos
de outras filosofias e
religiões.
A certeza da continuação
da vida, após a morte do
corpo físico, o contato
com as realidades
transcendentes, a
percepção de um Deus
justo e misericordioso,
o conhecimento e a
comprovação das vidas
sucessivas e a
demonstração da presença
permanente das leis
divinas na Natureza, nos
seus diversos reinos e
em todos os bilhões de
mundos do Universo, dão
ao seguidor da Doutrina
Espírita uma percepção
diferente da vida na
Terra, diante das
vicissitudes e do
futuro, induzindo-o a
não se apegar às coisas
transitórias do mundo e
a valorizar tudo que diz
respeito ao ser imortal
que ele é - o Espírito.
Dilatando a importância
da vida, a Doutrina
auxilia seu adepto a
aceitar os fatos
afligentes e as
circunstâncias
dolorosas, com confiança
e resignação. Sabendo
que a morte só atinge o
corpo, aceita com
naturalidade o próprio
decesso e o daqueles que
o precederam, certo de
que o reencontro é
questão de tempo. Essas
e outras motivações,
reais e não ilusórias,
influem poderosamente no
crescimento espiritual e
na renovação moral do
ser, dando-lhe uma outra
dimensão da vida, em
cuja realidade se
encontra imerso, para
sempre.
Por isso, considerando
que a lei do progresso e
da evolução, como norma
divina, renova toda a
criação, inclusive o
mundo ainda atrasado em
que vivemos, é lícito
que se espere a
regeneração deste orbe,
com o predomínio dos
ensinos do Cristo, em
espírito e verdade, e do
Consolador por Ele
enviado, propiciando a
substituição da
mentalidade atual,
oriunda de um passado de
erros, por outra,
calcada na realidade e
na Verdade... Desde a
Antiguidade clássica, na
qual os gregos
predominaram com suas
filosofias na
civilização ocidental, o
campo dos conhecimentos
encontra-se dividido em
duas partes: numa
prevalece o pensamento
materialista, presente
em diversas correntes
filosóficas; na outra, o
pensamento
espiritualista embasa as
religiões. Filosofias e
religiões tradicionais
não conseguiram
solucionar
satisfatoriamente todos
os problemas humanos. A
Doutrina dos Espíritos,
compreendendo aspectos
filosóficos,
científicos, morais,
religiosos, educacionais
e sociais, veio, no
momento certo, aclarar
os problemas e dar-lhes
soluções corretas, com a
revelação de realidades
desconhecidas e
aproveitamento de
verdades antigas, como a
doutrina da
reencarnação, ou das
vidas sucessivas,
conhecida há milênios no
Oriente.
Doutrina
evolucionista
A Codificação Espírita
foi edificada em sólidas
bases, sob os auspícios
da Espiritualidade
Superior. Tão firmes são
seus fundamentos que,
apesar do enorme avanço
dos conhecimentos
científicos na segunda
metade do século XIX e
no século XX, não houve
necessidade de ajustar a
Doutrina Espírita a
quaisquer verdades ou
descobertas novas. Os
espíritas estudiosos
sabem que muitos dos
ensinos doutrinários
constituem-se em
antevisões de realidades
que só futuramente serão
reconhecidas pelos
diversos departamentos
científicos a que se
dedica o homem. Isto não
significa que o
Espiritismo seja obra
pronta e acabada. Os
próprios Espíritos
Instrutores e o
Codificador
caracterizaram-no como
doutrina evolucionista,
no sentido de agregar
sempre as novas verdades
descobertas e
comprovadas. Se há um
terreno em que a lei de
evolução opera com toda
nitidez, este é o das
revelações sucessivas. E
o Espiritismo é
precisamente a última
fase das Manifestações
Espirituais Superiores
junto à Humanidade.
Se há uma sucessividade
de revelações do Alto,
fácil será deduzir-se
sua continuação no
futuro. As Revelações
são suprimentos,
proporcionados pela
Espiritualidade Superior
aos homens, a povos,
raças e civilizações,
para que possam perceber
determinadas verdades
transcendentes, as quais
permaneceriam ocultas
sem a intervenção
superior, pela
incapacidade de
percepção humana em
determinadas fases
evolutivas. A iniciativa
das Revelações parte do
Alto, em função das
necessidades humanas.
Entretanto, nem todos os
homens estão aptos a
recebê-las e aceitá-las
de imediato.
Muitos se opõem a elas,
por não compreendê-las
devidamente, ou por
contrariarem elas seus
interesses imediatos.
Isto ocorreu com a
Mensagem de Jesus,
inovadora e retificadora
de muitas coisas
assentes, trazida
pessoalmente pelo Mestre
Incomparável. Com a Nova
Revelação ocorreria o
mesmo. São muitas as
oposições, umas frutos
da ignorância
espiritual, outras
resultantes de
interesses contrariados
e de preconceitos.
Entretanto, o que não se
justifica são os desvios
do pensamento espírita,
da sua moral
fundamentada totalmente
nos ensinos morais do
Cristo. Tornam-se
necessários um cuidado
permanente, uma
vigilância constante
para que não se
desvirtuem os princípios
espíritas. Esse é um
compromisso sério de
todo espírita sincero e
digno da Doutrina que
abraçou. Arvorados em
"espíritos fortes e
independentes", certas
criaturas, dos dois
planos da vida, imbuídas
de personalismo
excessivo, primam por
estabelecer no Movimento
Espírita a confusão, com
a negação de valores
consagrados,
alardeando-se em
árbitros do que está
além e acima de seu
entendimento. Falta-lhes
autocrítica, apesar de
se converterem em
críticos do Cristo, dos
Evangelhos, dos
Espíritos Instrutores,
dos médiuns.
Compreender a grandeza e
a beleza das Revelações
Espíritas
Questões de ordem
secundária são por esses
críticos transformadas
em pontos capitais, como
se fossem eles os
reconstrutores da
Doutrina. Eis alguns
exemplos das questões
levantadas, sem a menor
procedência, denotando
desconhecimento e
inconsequência,
resultantes do orgulho,
da vaidade e do
personalismo exagerado:
"Kardec está superado";
"a Doutrina precisa ser
atualizada"; "a moral
espírita é independente
da moral cristã";
debates e críticas sobre
questões perfeitamente
definidas no contexto
doutrinário;
preocupações com
aspectos sociais e
políticos, sem o
necessário embasamento
na Doutrina; preocupação
com a criação de termos
novos, como se a
adjetivação, só por si,
modificasse a substância
das coisas; confusão
entre liberdade
responsável, reconhecida
pela Doutrina Espírita,
com licença ampla para
se dizer e fazer o que
bem se entenda.
Essas referências,
meramente
exemplificativas, dão
ideia do que ocorre de
negativo no Movimento
Espírita, consequência
do posicionamento
individualista, no qual
falta sempre a
humildade, virtude
cristã e espírita que se
contrapõe ao orgulho e à
vaidade. Na vivência e
na divulgação da
Doutrina Espírita, o que
se requer, antes de
tudo, é a fidelidade aos
seus princípios.
Esquecem-se certos
divulgadores de que sua
liberdade encontra
limites naturais na
própria Doutrina, que
não pode e não deve ser
mutilada em seus
princípios. Vivenciar e
divulgar a Doutrina dos
Espíritos requer, antes
de tudo, seu
conhecimento e
fidelidade a ela. O
divulgador espírita não
pode ser, ao mesmo
tempo, crítico ou
inconformado com
princípios corretos da
Doutrina. A Codificação
e os Evangelhos são
valores assentes,
interpretados pela
Espiritualidade Superior
em auxílio aos homens.
Nós, espíritas de hoje e
do amanhã, somos seus
aprendizes, em demanda
do caminho certo
referido pelo Cristo, e
não reconstrutores desse
caminho. Para
compreender a grandeza e
a beleza das Revelações
Espíritas Superiores
torna-se necessário
evitar o preconceito, o
personalismo e a
precipitação, vícios
humanos comuns que
prejudicam e impedem o
conhecimento da verdade.