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Crônicas e Artigos
Ano 3 - N° 147 - 28 de Fevereiro de 2010

JORGE HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília, Distrito Federal (Brasil)


Fidedignidade kardequiana


O que caracteriza o homem, habitante da Terra há milhões de anos, é a inteligência de que é dotado. Essa inteligência complementa-se com a vontade e com a liberdade para pensar e agir. Mas o ser humano, com sua inteligência e atributos, tem uma causa, uma geratriz, um Criador, que está fora de si mesmo. Essa causa primeira, a Inteligência Suprema, nos ensinos da Espiritualidade Superior, é o Criador não somente do homem, mas de tudo que existe em todo o Universo.  

Esses ensinos sintéticos, que se encontram na obra básica do Espiritismo, foram complementados por outros para que o homem pudesse formar ideia de si mesmo, de sua origem e de seu destino, do mundo em que vive e do Universo infinito. As noções que a Doutrina dos Espíritos oferece do Criador e da criação - Deus, espírito e matéria - facilitam a compreensão de tudo o que existe, máxime quando esses conhecimentos básicos são complementados pela revelação das leis divinas estabelecidas para o funcionamento de tudo o que foi criado.  

Pelas leis naturais, ou divinas, pode a Humanidade hoje perceber que a Inteligência Suprema não só criou os dois elementos - espírito e matéria -, mas regulou o funcionamento de toda a criação dentro de uma harmonia total, universal. Matéria e espírito estão ligados de tal forma que, regidos por leis perfeitas e imutáveis, podemos, hoje, perceber o sentido da vida na Terra e em outros mundos, numa realidade que se contrapõe ao que as religiões e as escolas filosóficas do passado e do presente têm ensinado.  

A sabedoria dos Espíritos Reveladores procurou não definir Deus 

A Nova Revelação desvenda, assim, os grandes mistérios do passado, com os quais se depararam tanto o homem primitivo das cavernas quanto os sistemas filosóficos e religiosos de todas as épocas. Deus é a causa primária, é o Criador Divino de tudo que existe, mas é também o Legislador que estabeleceu as leis eternas para o funcionamento de toda a sua criação, nos domínios da Natureza e da Vida. A sabedoria dos Espíritos Reveladores procurou não definir Deus, o Criador, para evitar erros e limitações ao Ser perfeito e infinito.  

A linguagem e a inteligência humanas, limitadas, não têm condições de definir o que é infinito e ilimitado. São muito importantes para a Humanidade as Revelações da Espiritualidade Superior formuladas na Codificação Espírita, sob todos os seus aspectos. Mas, no que concerne às noções sobre Deus, o Criador e o Universo, as Revelações assumem excepcional importância, pela diversidade de concepções reinantes nas religiões, nas filosofias e nas ciências, mostrando que Deus não pode ser confundido com sua criação, como no panteísmo oriental; nem é um Deus antropomorfo, como nas concepções religiosas do Ocidente; ou não existe, para o materialismo multifário e o ateísmo dominantes em determinadas ciências e filosofias. 

As condições de vida na Terra foram elaboradas de forma tal que o homem, dispondo de livre-arbítrio, outorgado por seu Criador, chegou às mais variadas conclusões a respeito de si mesmo e de seu Deus, no decorrer dos milênios. Entretanto, em determinado momento da vida planetária, quando a Humanidade já alcançara considerável progresso em conhecimentos científicos sobre a matéria e modificara muitos aspectos da organização social, essa evolução alcançada contrastava com suas concepções sobre seu Criador e sobre as leis divinas que regem tudo no Universo. É nesse momento histórico da Humanidade, em pleno século XIX da Era Cristã, que a Misericórdia Divina, representada pelo Governador Espiritual do Orbe, o Cristo de Deus, vem em socorro dos habitantes deste Planeta, trazendo-lhes os esclarecimentos que se transformaram em luzes iluminando causas e efeitos não percebidos até então. 

A Revelação Espírita vem em socorro de todos os que já se encontram em condições de entender o Poder, a Bondade e a Misericórdia de Deus, suas múltiplas formas de manifestação por todo o Universo, inclusive em nosso mundo de expiações e provas. Essa revelação, como todas as anteriores, está à disposição daqueles que estão em busca de conhecimentos reais, em demanda da coerência e da verdade. Entretanto, as novas revelações não obrigam nem constrangem os negadores ou os céticos a aceitá-las. Elas representam a solidariedade, o amor e a bondade do Alto aos que já fazem jus à ajuda e à compreensão.  

O espírita não teme o progresso das ciências 

O Espiritismo não se apresenta à Humanidade como uma imposição do Superior ao Inferior. Busca, sim, abrir a mente humana ao conhecimento geral sobre a vida, sobre tudo o que existe, suas causas e manifestações. Seus postulados básicos não só explicam e aclaram os grandes problemas defrontados pelo homem como auxiliam o pensamento a evoluir sempre, não se detendo em colocações dogmáticas que cerceiam futuros desdobramentos da realidade e da verdade. É o que ocorreu, após a Codificação formulada pelo missionário Allan Kardec, através de vasta literatura, mediúnica ou não, que se ocupou em desdobrar conceitos, definições e verdades reveladas nas obras básicas, sem lhes alterar a essência, mostrando-nos a continuação da vida nos mundos e esferas espirituais, o funcionamento perfeito das leis divinas, nas mais diferentes situações, e a confirmação da insuperável Mensagem do Cristo, sem as distorções interpretativas das diversas seitas denominadas cristãs.  

Além da segurança que a Doutrina Consoladora e Esclarecedora proporciona ao pensamento lógico e racional de seus seguidores sinceros, a própria Doutrina assegura que qualquer ponto mal-entendido ou equivocado que as ciências e o progresso geral comprovem como tal, ela aceita a verdade comprovada ou o fato novo, antes desconhecido, já que seu compromisso é com a realidade, e esta não lhe afeta a estrutura essencial. Em decorrência desse princípio, o espírita não teme o progresso das ciências, nem se preocupa com o confronto dos princípios de sua Doutrina com os ensinos de outras filosofias e religiões.  

A certeza da continuação da vida, após a morte do corpo físico, o contato com as realidades transcendentes, a percepção de um Deus justo e misericordioso, o conhecimento e a comprovação das vidas sucessivas e a demonstração da presença permanente das leis divinas na Natureza, nos seus diversos reinos e em todos os bilhões de mundos do Universo, dão ao seguidor da Doutrina Espírita uma percepção diferente da vida na Terra, diante das vicissitudes e do futuro, induzindo-o a não se apegar às coisas transitórias do mundo e a valorizar tudo que diz respeito ao ser imortal que ele é - o Espírito. Dilatando a importância da vida, a Doutrina auxilia seu adepto a aceitar os fatos afligentes e as circunstâncias dolorosas, com confiança e resignação. Sabendo que a morte só atinge o corpo, aceita com naturalidade o próprio decesso e o daqueles que o precederam, certo de que o reencontro é questão de tempo. Essas e outras motivações, reais e não ilusórias, influem poderosamente no crescimento espiritual e na renovação moral do ser, dando-lhe uma outra dimensão da vida, em cuja realidade se encontra imerso, para sempre.  

Por isso, considerando que a lei do progresso e da evolução, como norma divina, renova toda a criação, inclusive o mundo ainda atrasado em que vivemos, é lícito que se espere a regeneração deste orbe, com o predomínio dos ensinos do Cristo, em espírito e verdade, e do Consolador por Ele enviado, propiciando a substituição da mentalidade atual, oriunda de um passado de erros, por outra, calcada na realidade e na Verdade... Desde a Antiguidade clássica, na qual os gregos predominaram com suas filosofias na civilização ocidental, o campo dos conhecimentos encontra-se dividido em duas partes: numa prevalece o pensamento materialista, presente em diversas correntes filosóficas; na outra, o pensamento espiritualista embasa as religiões. Filosofias e religiões tradicionais não conseguiram solucionar satisfatoriamente todos os problemas humanos. A Doutrina dos Espíritos, compreendendo aspectos filosóficos, científicos, morais, religiosos, educacionais e sociais, veio, no momento certo, aclarar os problemas e dar-lhes soluções corretas, com a revelação de realidades desconhecidas e aproveitamento de verdades antigas, como a doutrina da reencarnação, ou das vidas sucessivas, conhecida há milênios no Oriente.  

Doutrina evolucionista 

A Codificação Espírita foi edificada em sólidas bases, sob os auspícios da Espiritualidade Superior. Tão firmes são seus fundamentos que, apesar do enorme avanço dos conhecimentos científicos na segunda metade do século XIX e no século XX, não houve necessidade de ajustar a Doutrina Espírita a quaisquer verdades ou descobertas novas. Os espíritas estudiosos sabem que muitos dos ensinos doutrinários constituem-se em antevisões de realidades que só futuramente serão reconhecidas pelos diversos departamentos científicos a que se dedica o homem. Isto não significa que o Espiritismo seja obra pronta e acabada. Os próprios Espíritos Instrutores e o Codificador caracterizaram-no como doutrina evolucionista, no sentido de agregar sempre as novas verdades descobertas e comprovadas. Se há um terreno em que a lei de evolução opera com toda nitidez, este é o das revelações sucessivas. E o Espiritismo é precisamente a última fase das Manifestações Espirituais Superiores junto à Humanidade.  

Se há uma sucessividade de revelações do Alto, fácil será deduzir-se sua continuação no futuro. As Revelações são suprimentos, proporcionados pela Espiritualidade Superior aos homens, a povos, raças e civilizações, para que possam perceber determinadas verdades transcendentes, as quais permaneceriam ocultas sem a intervenção superior, pela incapacidade de percepção humana em determinadas fases evolutivas. A iniciativa das Revelações parte do Alto, em função das necessidades humanas. Entretanto, nem todos os homens estão aptos a recebê-las e aceitá-las de imediato.  

Muitos se opõem a elas, por não compreendê-las devidamente, ou por contrariarem elas seus interesses imediatos. Isto ocorreu com a Mensagem de Jesus, inovadora e retificadora de muitas coisas assentes, trazida pessoalmente pelo Mestre Incomparável. Com a Nova Revelação ocorreria o mesmo. São muitas as oposições, umas frutos da ignorância espiritual, outras resultantes de interesses contrariados e de preconceitos. Entretanto, o que não se justifica são os desvios do pensamento espírita, da sua moral fundamentada totalmente nos ensinos morais do Cristo. Tornam-se necessários um cuidado permanente, uma vigilância constante para que não se desvirtuem os princípios espíritas. Esse é um compromisso sério de todo espírita sincero e digno da Doutrina que abraçou. Arvorados em "espíritos fortes e independentes", certas criaturas, dos dois planos da vida, imbuídas de personalismo excessivo, primam por estabelecer no Movimento Espírita a confusão, com a negação de valores consagrados, alardeando-se em árbitros do que está além e acima de seu entendimento. Falta-lhes autocrítica, apesar de se converterem em críticos do Cristo, dos Evangelhos, dos Espíritos Instrutores, dos médiuns. 

Compreender a grandeza e a beleza das Revelações Espíritas 

Questões de ordem secundária são por esses críticos transformadas em pontos capitais, como se fossem eles os reconstrutores da Doutrina. Eis alguns exemplos das questões levantadas, sem a menor procedência, denotando desconhecimento e inconsequência, resultantes do orgulho, da vaidade e do personalismo exagerado: "Kardec está superado"; "a Doutrina precisa ser atualizada"; "a moral espírita é independente da moral cristã"; debates e críticas sobre questões perfeitamente definidas no contexto doutrinário; preocupações com aspectos sociais e políticos, sem o necessário embasamento na Doutrina; preocupação com a criação de termos novos, como se a adjetivação, só por si, modificasse a substância das coisas; confusão entre liberdade responsável, reconhecida pela Doutrina Espírita, com licença ampla para se dizer e fazer o que bem se entenda.  

Essas referências, meramente exemplificativas, dão ideia do que ocorre de negativo no Movimento Espírita, consequência do posicionamento individualista, no qual falta sempre a humildade, virtude cristã e espírita que se contrapõe ao orgulho e à vaidade. Na vivência e na divulgação da Doutrina Espírita, o que se requer, antes de tudo, é a fidelidade aos seus princípios. Esquecem-se certos divulgadores de que sua liberdade encontra limites naturais na própria Doutrina, que não pode e não deve ser mutilada em seus princípios. Vivenciar e divulgar a Doutrina dos Espíritos requer, antes de tudo, seu conhecimento e fidelidade a ela. O divulgador espírita não pode ser, ao mesmo tempo, crítico ou inconformado com princípios corretos da Doutrina. A Codificação e os Evangelhos são valores assentes, interpretados pela Espiritualidade Superior em auxílio aos homens. Nós, espíritas de hoje e do amanhã, somos seus aprendizes, em demanda do caminho certo referido pelo Cristo, e não reconstrutores desse caminho. Para compreender a grandeza e a beleza das Revelações Espíritas Superiores torna-se necessário evitar o preconceito, o personalismo e a precipitação, vícios humanos comuns que prejudicam e impedem o conhecimento da verdade.


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita