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Crônicas e Artigos
Ano 3 - N° 148 - 7 de Março de 2010

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)


Os bálsamos da esperança


Um traço saliente das almas que estão abertas às realizações humanas, inclusive no campo da fé, é a esperança. O indivíduo esperançoso combate com destemor o vírus da desesperança e do desespero que está sempre à espreita, pronto a derrubar as almas menos avisadas. Na essência, esperança é atributo das almas que lutam e esperam sempre pelo melhor. Pondera o Espírito Irmão José, na obra Senhor e Mestre, que “A esperança é o alento da Vida”.
 

Desse modo, conjecturamos que sem esperança a vida se extinguiria, pois não teríamos vontade de superar os duros desafios da existência. Posto isto, acreditamos que o momento vivido – repleto de provas e experiências dolorosas - é oportuno para resgatarmos o tema. Embora os dicionários tratem basicamente esperança e fé como sinônimas, os mentores espirituais fazem clara distinção entre os dois termos. Por exemplo, o Espírito Emmanuel, na obra Vinha de Luz, observa que “Nem todos conseguem, por enquanto, o voo sublime da fé, mas a força da esperança é tesouro comum”.  

Além disso, na resposta dada à questão no. 257 do livro O Consolador somos informados pelo mesmo mentor espiritual que “A esperança é a filha direta da fé. Ambas estão uma para outra, como a luz reflexa dos planetas está para a luz central e positiva do Sol”. Ele ainda acrescenta o seguinte: “A Esperança é como o luar que se constitui dos bálsamos da crença. A Fé é a divina claridade da certeza”. 

Por outro lado, renomados cientistas sociais também têm se dedicado ao estudo desse tópico. O acadêmico Louis W. Fry, respeitado pesquisador dos temas espiritualidade e liderança, argumenta que a esperança constitui-se de um desejo com ardente expectativa de realização. Na sua opinião, pessoas portadoras de esperança e fé têm uma clara visão para onde estão indo e como chegarão lá.  

Para Fred Luthans e Carolyn M. Youssef, referências na área do estudo do comportamento organizacional positivo, um dos mecanismos-chave da esperança é o senso de agência (isto é, a capacidade de agir e de se desincumbir de uma tarefa) ou o chamado controle internalizado que cria a determinação e a motivação para a realização de metas. Por fim, C.R. Snyder e seus colegas - cientistas devotados ao estudo da psicologia positiva - propõem que a esperança serve de direção às emoções e bem-estar das pessoas.  

Portanto, torna-se perceptível que esperança é apanágio das pessoas otimistas; das pessoas que possuem uma visão positiva da vida; das pessoas, enfim, que têm metas e objetivos. A esperança pode ser considerada também como uma espécie de energia ou, melhor ainda, de energia superior, pois, conforme observa Emmanuel: 

“... vem de cima, à maneira do Sol que ilumina do alto e alimenta as sementeiras novas, desperta propósitos diferentes, cria modificações redentoras e descerra visões mais altas”. 

Nesse sentido, para nós espíritas ou simpatizantes da doutrina, a virtude da esperança sugere despertamento – e, por extensão, alento - para outras importantes questões da vida, tais como: 

– a imortalidade da alma; 

– a confiança de que não perdemos os nossos entes amados que já se foram; 

– a certeza de que o amanhã será melhor do que hoje; 

– a compreensão de que um dia atingiremos a perfeição;  

– a confiança de que, por mais dolorosa que seja a atual encarnação, ela é passageira (precisamos dessa experiência para avançar); 

– a convicção, enfim, de que não estamos sozinhos; e, 

– a certeza de que retornaremos um dia à pátria espiritual em melhores condições.    

Irmão José sugere, por sua vez, alguns conselhos práticos que merecem a nossa reflexão. Assim sendo, se temos por objetivo sermos espiritualmente melhores, então devemos “Não nos desviarmos da trajetória traçada, no que buscamos alcançar”. Os pressupostos são agir sempre com disciplina, coerência e força de vontade. Para ele, “Haja o que houver, não devemos enveredar por nenhum atalho”. Aliás, não existe tal possibilidade em se tratando das coisas da alma. Por isso, consideramos que alguns pilares são imprescindíveis, ou seja: o hábito do estudo do Evangelho no Lar, leituras edificantes, meditação, oração e trabalho constante no bem. 

O citado mentor nos aconselha a “Fugirmos a qualquer facilidade aparente”. Desse modo, devemos redobrar a nossa atenção, desconfiarmos das promessas vãs e ativarmos a consciência no mais alto grau do que somos capazes. Na verdade, facilidades e avanço espiritual são coisas incompatíveis. No mesmo sentido, Irmão José também nos alerta a não pensarmos em “economia de suor”.  Tal recomendação, portanto, nos remete ao indelegável esforço próprio, à autodeterminação e ao desenvolvimento da paciência e da caridade. Com efeito, já dizia Allan Kardec que, sem a caridade, não existiria salvação, ou ainda Jesus: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me”. (Marcos, 8: 34.)

Irmão José analisa que as “pedras do caminho podem representar escoras para os nossos pés”. De fato, não há como negar que elas nos acordam para a realidade, bem como nos dão experiência e sabedoria, quando bem interpretadas. Tal conclusão nos faz recordar de uma recente entrevista do ator Michael J. Fox, que sofre do Mal de Parkinson, na qual ele declarou que aprendera a ser humilde. Ele igualmente admitiu, entre outras coisas, que: “À medida que minha saúde se deteriora, minha condição mental e espiritual melhora. Estou muito mais feliz em relação a certas coisas do que quando era mais jovem. Sou mais tolerante, tenho mais entusiasmo e compaixão [...]”. 

Por fim, Irmão José nos alerta para nunca tirarmos a esperança de alguém, mesmo porque nada sabemos em relação ao futuro. Nesse sentido, o tema ora sob apreço nos faz recordar de um episódio relativo ao Sermão do Monte, brilhantemente narrado pelo Espírito Humberto de Campos, na obra Boa Nova.

Ao que nos consta, o Sermão do Monte constitui o mais profundo hino de esperança legado à humanidade. Resumidamente, conforme relata o benfeitor, um pequeno grupo de necessitados procurou Levi – mais conhecido como o apóstolo Matheus – na sua confortável residência logo no início do apostolado. Manifestaram-lhe sincero desejo de entender o Evangelho e, assim, “trabalharem com mais acerto na observância dos ensinamentos do Cristo”. Entretanto, foram recebidos com certa estranheza pelo apóstolo que, em certo momento, lhes indagou friamente:   

“Que poderás realizar, Lisandro, aleijado como és?! E tu, Áquila, não foste abandonado pela própria família, sob o peso de sérias acusações? E tu, Pafos? Acaso edificarias alguma coisa nas tuas atuais aflições?” 

Humberto de Campos esclarece que aquelas almas sofridas “... entreolharam-se cabisbaixos, humilhados. Somente então chegavam a reconhecer as suas penosas deficiências [...]”. Na verdade, a palavra rude de Levi, além de os despertar, lhes trouxera uma dor terrível no fulcro da alma. Achavam-se embalados pelas pregações carinhosas de Jesus e acreditavam que “... seu amor viera buscar todos os que se encontrassem em tristeza e em angústias do coração [...]”. 

 Graças ao Mestre “... haviam experimentado a restauração de todas as energias”. Mais ainda: “Jubilosos, guardavam as suas promessas, relativamente ao Pai justo e bom, que amava os filhos infelizes, renovando nos corações as esperanças mais puras [...]”. 

Não obstante o fato de se encontrarem exaustos, “... a lição de Jesus lhes trouxera novo consolo às almas desamparadas de qualquer conforto material”. No entanto, como o Mestre pregaria no famoso monte, naquela mesma tarde, acalentaram a possibilidade de lhe ouvirem os ensinamentos de que tanto careciam. 

Decorrido algum tempo, Jesus acompanhado de André adentrou a casa do coletor de impostos e os três puseram-se a conversar animadamente. Levi relatou, de maneira quase pueril, o fato ocorrido minutos antes. Em dado momento, expôs com franqueza que não via como os aleijados e mendigos poderiam contribuir para a edificação do Evangelho. Mas Jesus - que nunca perdia oportunidade de ensinar - falhou-lhe brandamente: 

“No entanto, Levi, precisamos amar e aceitar a preciosa colaboração dos vencidos do mundo!... Se o Evangelho é Boa Nova, como não há de ser a mensagem divina para eles, tristes e deserdados na imensa família humana? Os vencedores da Terra não necessitam de boas notícias. Nas derrotas da sorte, as criaturas ouvem mais alto a voz de Deus [...]. Já observaste algum vencedor do mundo com mais alta preocupação do que a de defender o fruto de sua vitória material?” 

Levi sentia-se tomado de grande emoção e, desse modo, tentou se justificar. No entanto, Jesus esclareceu-lhe quanto à necessidade de se dar atenção aos brandos, humildes e vencidos, explicando que era para os seus corações que Deus enviava “bênçãos de infinita bondade”. E para que ficasse mais claro o seu ensinamento argumentou: “Esses quebraram os elos mais fortes que os acorrentavam às ilusões e marcham para o infinito do amor e da sabedoria”. Jesus concluiu concitando o apóstolo quanto ao imperativo de se amar mais intensamente os infelizes e desafortunados do mundo, pois através de suas lágrimas e esperanças mais ardentes o Evangelho desabrocharia. Feitas as sublimes ponderações, os apóstolos sentiam-se muito emocionados. No entanto, com a chegada de Tiago, João e Pedro, todo o grupo se dirigiu para o referido monte, onde o Mestre pretendia pregar.   

Lá chegando, diante de centenas de olhares sequiosos e alegres, o Mestre iniciou a sua pregação, deixando entrever “... que se dirigia aos vencidos e sofredores do mundo inteiro e, como esclarecendo o Espírito de Levi, que representava a aristocracia intelectual entre os seus discípulos..., Jesus, pela 1ª vez, pregou as bem-aventuranças celestiais [...]”.  

Esclarece Humberto de Campos que a voz de Jesus ecoava como uma espécie de “bálsamo terno” a cair sobre aqueles corações tão sofridos. Assim sendo, uma a uma as bem-aventuranças foram proferidas. Conforme o mentor espiritual, durante muito tempo Jesus “... falou do Reino de Deus, onde o amor edificaria maravilhas perenes e sublimadas [...]”. 

Ao terminar a sua exposição, as estrelas já brilhavam no firmamento e um emocionante congraçamento se estabeleceu entre ele e aquelas almas necessitadas. Em consequência do ensinamento, Levi, por sua vez, “... sentiu que, naquele crepúsculo inolvidável, uma emoção diferente lhe dominava a alma [...]”. Mais especificamente, compreendera a necessidade de se despojar das ilusões do mundo para se elevar a Deus. 

Nesse ínterim, reparou que os “... pobres amigos que o visitaram à tarde desciam o monte, abraçados, com uma expressão de grande ventura, como se os animasse em júbilo sem limite”. 

Deles se aproxima saudando-os com imensa alegria, demonstrando ter aprendido a lição momentos antes ensinada. Conta ainda Humberto de Campos que, no dia seguinte, o ex-publicano abriu as portas de sua casa a todos os convivas daquele crepúsculo memorável. Jesus participou da festa, chegando a partir o pão e se alegrar com eles e, quando notou Levi abraçando o deficiente físico Lisandro, “... com a sinceridade de sua alma fiel”, enternecido, assim se expressou: “Levi, meu coração se rejubila hoje contigo, porque são também bem-aventurados todos os que ouvem e compreendem a palavra de Deus!...”   

Concluindo, Emmanuel sugere, com sabedoria, para que “Levantemo-nos e prossigamos, convictos de que o Senhor nos ofereceu a luz da esperança, a fim de acendermos em nós mesmos a luz da santificação espiritual”.  

 

Referências:

BACCELLI, C.A. (Pelo Espírito Irmão José). Senhor e Mestre. Uberaba: Livraria Espírita Editora “Pedro e Paulo”, p. 15-16 e 93-94, 2008.

CARELLI, G. Entrevista Michael J. Fox. O Parkinson não me vence. Veja, ano 42, edição nº 2141, p. 24-25, 2 de dezembro de 2009.

FRY, L.W. Toward a theory of spiritual leadership. The Leadership Quarterly, 14: (6), 2003, p. 713.

LUTHANS, F. & YOUSSEF, C.M. Emerging Positive Organizational Behavior. Journal of Management, 33: (3), 2007, p. 330.

SNYDER, C.R., RAND, K.L., & SIGMON, D.R. Hope theory: a member of the positive psychology family. In C.R. SNYDER, & S.J. LOPEZ (Eds.), Handbook of positive psychology. New York: Oxford University Press, 2005, p. 257.

XAVIER, F.C. (Pelo Espírito Humberto de Campos). Boa Nova. 11ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1977, p.74-80.

XAVIER, F.C. (Pelo Espírito Emmanuel). O Consolador. 7ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1977, p. 154.

XAVIER, F.C. (Pelo Espírito Emmanuel). Vinha de luz. 4ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1977, p. 163-164.


 


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