A Revue Spirite
de 1865
Allan Kardec
(Parte
11)
Damos prosseguimento ao
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1865. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 20
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Por que o homem
enfrenta na Terra tantos
obstáculos?
Esta questão foi tratada
pelo Espírito de Pascal
na Sociedade Espírita de
Paris, Segundo ele, em a
Natureza nada se perde e
nada é inútil. Tudo, até
as criaturas mais
perigosas e os mais
sutis venenos, tem a sua
razão de ser. As coisas
nocivas obrigam o homem
a exercitar a
inteligência. Se existem
obstáculos, é para
despertar no homem os
recursos adormecidos; é
para dar impulso aos
tesouros da
inteligência, que
ficariam enterrados, se
uma necessidade, um
perigo a evitar, não
viessem forçá-lo a velar
por sua conservação. “O
instinto nasce; a
inteligência o segue, as
ideias se encadeiam e
está inventado o
raciocínio”, concluiu o
conhecido filósofo.
(Revue Spirite de 1865,
pp. 151 e 152.)
B. Podemos dizer que o
mundo espiritual é um
reflexo do mundo
material?
Não. O mundo dos
Espíritos não é um
reflexo do mundo
material; este é que é
uma imagem grosseira e
imperfeita do reino de
além-túmulo, porque as
relações entre os dois
mundos são uma constante
e sempre se verificaram
em nosso planeta.
(Obra citada, pp. 153 a
155.)
C. Qual é o segredo que
faz com que a doutrina
espírita seja facilmente
aceita pelos que a
conhecem?
Kardec tratou deste
assunto ao comentar uma
carta recebida de uma
pessoa simples de
Touraine. Observou então
o Codificador que não é
preciso diploma para
compreender o
Espiritismo, porque sua
doutrina é tão clara e
tão lógica que chega sem
esforço a todas as
inteligências. Além
disso, ela toca o
coração: eis o seu maior
segredo.
(Obra citada, pp. 166 e
167.)
Texto para leitura
119. Comentando o
assunto, Kardec afirma
que a mediunidade exige
um estudo sério da parte
de quem quer que veja no
Espiritismo uma coisa
séria. À medida que as
molas dessa faculdade
forem mais bem
conhecidas, estaremos
menos expostos às
decepções e haverá menos
vítimas do
charlatanismo. (Pág.
150.)
120. Escrevendo sobre o
progresso, em
comunicação dada na
Sociedade Espírita de
Paris, diz Pascal que no
mundo nada se perde, não
apenas na matéria, onde
tudo se renova
incessantemente, mas
também no domínio da
inteligência. “A
humanidade – afirma
Pascal – é como um só
homem, que vivesse
eternamente, e
adquirisse
incessantemente novos
conhecimentos.” (Pág.
151.)
121. Pascal lembra que
tais palavras não são
apenas uma imagem,
porque o Espírito é
imortal, só o corpo é
transitório. Na natureza
nada se perde e nada é
inútil. Tudo, até as
criaturas mais perigosas
e os mais sutis venenos,
tem a sua razão de ser.
As coisas nocivas
obrigam o homem a
exercitar a
inteligência. Ora, se a
necessidade é a mãe da
indústria, a indústria
também é filha da
inteligência. Se existem
obstáculos, é para
despertar no homem os
recursos adormecidos; é
para dar impulso aos
tesouros da
inteligência, que
ficariam enterrados, se
uma necessidade, um
perigo a evitar, não
viessem forçá-lo a velar
por sua conservação. “O
instinto nasce; a
inteligência o segue, as
ideias se encadeiam e
está inventado o
raciocínio”, conclui o
notável filósofo.
(Págs. 151 e 152.)
122. Em outra mensagem
transmitida na Sociedade
de Paris e assinada por
Mokí, é reiterada a
importância de se
observar a seriedade e o
recolhimento nas
reuniões espíritas. A
linguagem usada no trato
com os Espíritos pode
variar, mas jamais a
seriedade e a
benevolência podem
faltar às reuniões.
Todas as comunicações,
diz o Espírito, têm sua
utilidade para aquele
que sabe tirar delas
proveito. Uma
mistificação reconhecida
e provada pode agir com
mais eficácia sobre as
pessoas, fazendo-as
perceber melhor os
pontos a reforçar, do
que instruções que são
às vezes admiradas, mas
não postas em prática.
(Págs. 152 e 153.)
123. Duas mensagens
assinadas por Mesmer,
valendo-se da
mediunidade do sr.
Delanne, fecham a edição
de maio de 1865. A
primeira fala da
imigração de Espíritos
para a Terra; a segunda
trata do tema criações
fluídicas. Eis em resumo
parte do que nelas se
contém: A) A Terra treme
ao sentir em seu seio
aqueles que ela outrora
viu passar por aqui, e
se alegra em os rever,
porque pressente que
eles vêm para a conduzir
à perfeição. B) Sim,
grandes mensageiros
estão entre nós neste
mundo: são eles que se
tornarão os
sustentáculos da geração
futura. C) À medida que
o Espiritismo crescer e
se desenvolver, os
Espíritos de uma ordem
cada vez mais elevada
virão sustentar a obra,
em razão das
necessidades da causa.
Por toda a parte Deus
espalhou esteios para a
doutrina. D) A
imigração de Espíritos
superiores se opera para
ativar a marcha
ascendente da humanidade
terrena. É preciso,
pois, redobrar de
coragem, de zelo, de
fervor pela causa,
porque nada deterá a
marcha progressiva do
Espiritismo e poderosos
protetores continuarão a
obra. E) O mundo dos
invisíveis é como o
mundo terráqueo. Em vez
de ser material e
grosseiro, é fluídico,
etéreo, da natureza do
perispírito, que é o
verdadeiro corpo do
Espírito, tirado desses
meios moleculares, como
o corpo físico se forma
de coisas mais palpáveis
e materiais. F) O mundo
dos Espíritos não é um
reflexo do mundo
material: este é que é
uma imagem grosseira e
imperfeita do reino de
além-túmulo. G) As
relações entre os dois
mundos sempre existiram.
Mas agora é chegado o
momento em que todas
essas afinidades irão
ser reveladas,
demonstradas e tornadas
palpáveis. (Págs. 153
a 155.)
124. No dia 5 de maio de
1865, Kardec apresentou
à Sociedade Espírita de
Paris um relatório a que
ele chamou de
Relatório da Caixa do
Espiritismo.
Trata-se de uma
detalhada prestação de
contas de natureza
eminentemente
financeira, em que o
Codificador especifica
os recursos movimentados
desde fevereiro de 1860
e as suas respectivas
aplicações. (Págs.
157 a 164.)
125. Eis algumas
informações importantes
extraídas do documento
citado: A) Kardec jamais
dispôs de recursos
financeiros fartos para
a execução do seu
trabalho à frente do
movimento espírita. Mas
compreendia que, não
pondo recursos
abundantes em suas mãos,
os Espíritos quiseram
provar que o Espiritismo
não devia o seu sucesso
senão a si mesmo, à sua
própria força, e não ao
emprego de meios
vulgares. B) Se ele
pudesse contar com uma
soma vultosa, não a
utilizaria – como
pensava anteriormente –
em gastos publicitários
em prol da doutrina, mas
sim na edificação de um
retiro espírita, cujos
habitantes recolhessem
os benefícios da
doutrina, e na
constituição de um fundo
que produzisse uma renda
inalienável
destinada: 1o
– a manter o
estabelecimento; 2o
– a assegurar uma
existência digna a quem
lhe sucedesse e aos que
o ajudassem em sua
missão; 3o –
a cobrir as necessidades
correntes do
Espiritismo. C) O
Espiritismo, segundo
Kardec, ainda se achava
no estado de esboço; os
princípios gerais
estavam estabelecidos,
mas as suas
consequências não
estavam, nem podiam
estar claramente
definidas. Até aquele
momento ele não passava
de uma doutrina
filosófica e somente
mais tarde é que as
pessoas compreenderiam o
seu verdadeiro alcance e
utilidade. (Págs. 159
a 164.)
126. A
Revue publica
duas cartas, uma enviada
a Kardec por um general
da Rússia e a outra
remetida por um simples
pastor de Touraine. O
objetivo da transcrição
é mostrar que o
Espiritismo satisfaz a
todas as camadas da
sociedade. A carta do
militar russo noticia o
surgimento do primeiro
grupo espírita de São
Petersburgo, ocorrido a
23 de outubro de 1864. O
objetivo principal do
grupo, diz ele, é o
alívio dos Espíritos
sofredores, encarnados e
desencarnados. Com duas
reuniões por semana, o
grupo já contava com 40
membros. O missivista
diz ainda ter aparecido
a primeira brochura
espírita na Rússia,
impressa em São
Petersburgo, com
autorização da censura.
Foi uma resposta que ele
próprio deu a um artigo
do arcipreste Debolsky
publicado no jornal
Radougaf. “Até
agora – acrescenta o
militar – nossa censura
não permitia publicar
artigos senão contra,
mas nunca pró
Espiritismo. Pensei que
a melhor refutação fosse
a tradução de vossa
brochura O
Espiritismo em sua mais
simples expressão,
que fiz inserir naquele
jornal.” (Págs. 164 e
165.)
127. Comentando a
segunda carta, enviada
por uma pessoa simples
de Touraine, Kardec
observa que não é
preciso diploma para
compreender o
Espiritismo, porque sua
doutrina é tão clara e
tão lógica que chega sem
esforço a todas as
inteligências. Além
disso, ela toca o
coração: eis o seu maior
segredo. (Págs. 166 e
167.)
128. O confrade J.M.F.,
do grupo espírita de
Barcelona, relata
detalhadamente a cura de
uma mulher chamada Rosa
N..., que durante 15
anos esteve presa de uma
obsessão das mais
cruéis. Casada em 1850,
poucos dias depois do
casamento Rosa foi
atingida por ataques
espasmódicos que se
repetiam muitas vezes e
com violência, até
engravidar. (Págs.
167 e 168.)
129. Durante a gravidez
Rosa nada experimentou,
mas após o parto os
ataques se renovaram. As
crises duravam três a
quatro horas e era
preciso muitas pessoas
para a dominar. Os
médicos que a examinaram
diziam uns que era uma
doença nervosa; outros,
que era loucura. O certo
é que o fenômeno se
repetia em cada
gravidez: cessavam os
ataques durante a
gestação e recomeçavam
após o parto. (Págs.
168 e 169.)
130. Em julho de 1864 o
grupo espírita de
Barcelona se interessou
pelo caso e bastaram
alguns minutos para se
reconhecer a causa da
moléstia: Rosa
enfrentava, na verdade,
uma obsessão das mais
terríveis e foi muito
difícil fazer com o que
o obsessor atendesse ao
chamado que o grupo
espírita lhe fez.
(Pág. 169.)
(Continua no próximo
número.)