Jamais
abandonados
“... o Senhor pôs o seu
selo em todos os que
creem nele. Cristo vos
disse que a fé
transporta montanhas. Eu
vos digo que aquele que
sofre e que tiver a fé
como apoio será colocado
sob a sua proteção e não
sofrerá mais... Felizes
os que sofrem e choram!
Que suas almas se
alegrem, porque serão
atendidas por Deus.” (“O
mal e o remédio”, Santo
Agostinho, O
Evangelho segundo o
Espiritismo.)
Quando adquirimos uma
compreensão da dor
através da razão e das
leis de Causa e Efeito,
realmente a vemos não
como um mal, mas como um
remédio eficaz para o
aprimoramento do
Espírito que o recebe
com resignação, galgando
degraus de luz com a
maturidade espiritual
que adquire, maturidade
do senso moral, que
acompanhará esse
Espírito em suas vidas
sucessivas, independente
da idade corporal. Um
dia, talvez não tão
distante, a humanidade
há de compreender que o
Espírito que anima um
corpo jovem não é uma
criancinha pequenina,
mas tem uma bagagem
milenar que se revela
desde o berço. Um dia se
compreenderá que não é a
idade do corpo físico
que faz um entendimento,
mas sim a maturidade do
Espírito. Há jovenzinhos
que parecem mais velhos
que os pais ou os avós,
nesse sentido, por isso,
tantos se surpreendem
hoje com a infância, que
parece ensinar a
muitos.
A vida é uma
oportunidade de luz e as
provações são
necessárias para o
Espírito ascender na
sabedoria, mas jamais
uma dor será maior que o
amor. Convém lembrar que
o amor cobre uma
multidão de pecados,
como disse o apóstolo
Pedro, e sempre o amor
estará à frente, pronto
a diminuir os
sofrimentos, quando as
provações chegarem ao
seu limite e puderem ser
minimizadas ou até
retiradas.
Dentro disso que
tratamos, temos uma
história assim, de amor,
provação, fé e
amadurecimento.
Uma senhora ainda jovem
levou-nos dois meninos
para atender, quase da
mesma idade, muito
amigos. Um, filho dela,
de cerca de 8 anos, a
quem poderíamos chamar
de Jonathan, e outro,
filho do atual marido
dela, de 8 anos também,
que chamaríamos de
Mateus.
Jonathan estava com uma
intoxicação alimentar –
comeu algo que não lhe
fez bem, estava com
vômito, diarreia, mas
quadro passageiro. Uma
criança feliz que sempre
teve o amor dessa mãe.
O outro, Mateus, parecia
um adulto, uma linguagem
racional e uma
maturidade incomuns.
Estava com lesões na
cabeça, uma micose,
“tinea capitis”.
Conversando, a madrasta
foi contando a história
e o menino confirmando e
dando os seus
apontamentos. Quem
conhece os mecanismos
das leis de Causa e
Efeito, do amor de Deus
socorrendo sempre,
entenderia bem esse
momento.
Disse-nos ela que o
marido e a mãe do Mateus
há cerca de 4 anos
tinham se separado e a
ex-esposa desapareceu
com as crianças, mudando
para outro Estado e não
dando o endereço a ele.
Eles tinham 3 filhos –
uma menina que hoje tem
10 anos, o Mateus, e um
mais novo, hoje com 5
anos.
Esse pai ficou
desesperado procurando
esses filhos, até que se
resignou, confiando em
Deus e em que um dia ele
encontraria os meninos
de novo.
Há cerca de uns dois
meses, um amigo dele,
viajando a trabalho,
reconheceu o Mateus,
depois de quatro anos,
numa cidade do interior
de São Paulo, e o
avisou. Poucos dias
após, o “ex-cunhado”
dele telefonou-lhe
dizendo que fizesse de
tudo para buscar os
filhos, porque estavam
abandonados pelas ruas
da cidade, completamente
descuidados pela mãe,
sofrendo, e que ele, o
“ex-cunhado”, lhe daria
todo o apoio que
precisasse para reaver
as crianças.
A madrasta, contando,
era de emocionar. Ela e
o marido foram
imediatamente, e os
filhos, quando o viram
chegando, correram para
abraçá-lo de tal modo
que ele parecia-lhes a
última tábua de
salvação, o último
recurso.
Ele conseguiu trazer os
dois mais velhos,
convenceu a “ex-esposa”
a deixá-los ficar pelo
menos um tempo, na
esperança de que
ficassem em definitivo.
O Mateus, nesse momento,
interferiu e disse que
não volta mais para a
casa da mãe, de jeito
nenhum. Agora ele é
cuidado com amor e
carinho pela madrasta,
fez amizade com o
Jonathan, toma banho
todos os dias, tem
comida todos os dias,
dorme numa cama limpinha
e não sofre agressões.
Relatou-nos ele que o
padrasto bebe e batia
todos os dias nele e na
irmã.
A madrasta disse que a
irmã dele não se afasta
dela, tal o amor por se
sentir bem tratada. A
preocupação do Mateus
agora é com o irmãozinho
de 5 anos que ficou lá
com a mãe: saudades do
irmão e preocupação,
pois acha que ele deve
estar apanhando do
padrasto e sofrendo.
Não volta mais, disse
ele, e o pai e a
madrasta vão tentar tudo
para que amigavelmente a
mãe se convença a
deixá-los em definitivo
aqui e que permita que o
mais novo também venha.
Víamos o Mateus assim,
relatando os fatos com
desassombro e sem
revolta, um menino bom,
a despeito dos
sofrimentos passados,
muito amadurecido, bem
mais que o Jonathan, da
mesma idade.
Parece coisa de novela,
mas é do dia-a-dia de
milhões de pessoas por
aí afora.
Nesse caso, parece que
chegou o fim do
sofrimento. O amor
divino interveio para
que aqueles que não
necessitassem de tamanha
provação pudessem ser
socorridos. Merecimento
deles e do pai que deve
ter sofrido demais
nesses quatro anos de
buscas.
Era hora de parar de
sofrer. Assim é a vida.
Há momentos de sofrer,
de crescer, de parar de
sofrer, de ser feliz. A
cada um segundo as suas
obras. Jamais
desamparados pelo amor,
jamais abandonados. Em
nenhuma circunstância
deve um Espírito
imaginar-se abandonado,
sem esperanças. O amor
sempre socorre e ampara,
se não diretamente aqui
na Terra, nas ações
humanas, indiretamente
na ação da
espiritualidade,
socorrendo nas horas
dolorosas do caminho.
Como diz o Espírito
Emmanuel, no livro
Justiça Divina, “...
Por amor, os
bem-aventurados, que já
conquistaram a Luz
Divina, descerão até
nós, quais flamas
solares que não apenas
se retratam nos
minaretes da Terra, mas
penetram igualmente nas
reentrâncias do abismo,
aquecendo os vermes
anônimos...”.