Sombra
e luz
Paulo Silva Araújo
Surde a aurora sublime –
angélica pintura...
Em breve, murcha a luz
qual bela flor sem
vaso...
Débil raio de sol
passeia pelo ocaso,
E cai, bruxuleante... E
morre em fímbria
escura...
Vai o vento brejeiro, ao
calor que o tortura,
A brincar de espremer
mil cachos, ao acaso,
De nuvens colossais do
firmamento raso...
Vem a chuva que esparze
o olor da terra pura...
Nosso espírito, assim
como o dia triunfante,
É vida e resplendor em
trânsitos nervosos,
Insaciáveis quanto o
fogo crepitante...
Alma! Doma o querer!
Vence o passo erradio!
Falena – subirás em voos
prodigiosos,
Nume estelar transpondo
o báratro sombrio!
Paulo Silva Araújo,
poeta simbolista,
médico, farmacêutico e
cientista, nasceu em
Niterói (RJ) em
25/7/1883 e desencarnou
no Rio de Janeiro em
22/10/1918. Foi membro
da Sociedade de Medicina
e Cirurgia do Rio de
Janeiro e patrono, na
Academia Fluminense de
Letras, da cadeira nº
31. Depois que se tornou
espiritista, na última
década de sua
existência, ele
proclamava com
desassombro suas novas
convicções. O soneto
acima faz parte do livro
Antologia dos
Imortais, obra
psicografada pelos
médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo
Vieira.