LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Liberdade! Libertação!
O conceito de liberdade
faz supor que ela seja
algo fora e acima de
nós, ideia mais
ou menos presente na
consciência coletiva do
homem quando, desejoso
de voar, construiu asas
de cera. É Ícaro
representando essa
humanidade. Essa
mesma ideia encontramos também
nos desejos de
velocidade, de mergulho
em profundezas oceânicas
ou, simplesmente, na
vontade de sentir o
vento batendo no corpo.
A sensação, em todos os
casos, é física. Algo
exterior a nós que
desejamos conquistar.
Podemos pensar, ainda,
lembrando Joanna de
Ângelis5, que
outras ambições humanas
associam-se a esse
conceito, quais sejam:
ver-se livre do jugo, da
opressão de qualquer
natureza, dos muitos
impositivos que esmagam
os sentimentos, do
cerceamento à livre
movimentação, da
necessidade de segurança
e apoio...
Todavia, liberdade é
mais um estado
consciencial do que
sensorial,
caracterizando a
individualidade do Ser,
na sua maneira de ser,
agir, expressar-se
diante dos outros,
estabelecendo, assim, as
relações com Deus e com
o próximo.
Na questão 833, de O
Livro dos Espíritos,
Kardec pergunta se há no
homem alguma coisa que
escapa a todo
constrangimento e pela
qual ele desfruta de uma
liberdade absoluta. E os
Espíritos respondem que “é
no pensamento que o
homem goza de uma
liberdade sem limites,
porque não conhece
entraves. Pode-se
deter-lhe o voo, mas não
aniquilá-lo”. Estabelece-se,
assim, no nosso
entender, que somente o
próprio homem, através
do seu pensamento,
determina se é ou não
livre e que não depende
de sistema político,
social, econômico ou
religioso a “sensação”
de liberdade. Sob esse
ponto de vista, enquanto
o homem estiver preso a
interesses materiais,
amarrado às imperfeições
morais que lhe balizam
as reencarnações, ele
não se sentirá liberto.
Ele próprio se fixa,
cada vez mais, à matéria
e à consequente
escravidão que se impôs,
através do egoísmo, do
orgulho, da vaidade, da
ambição etc. São as
amarras psicológicas que
o mantêm escravo de si
mesmo.
É no cerne dessas
viciações e imperfeições
que se encontram homens
e mulheres, grupos e
nações lutando para
escravizarem outros
homens, outras mulheres,
grupos e nações,
esquecidos de que o
movimento da libertação
chega, pois renascem
Espíritos lúcidos que
apontam os caminhos para
ela. E o maior deles
foi, é e será sempre
Jesus.
Daí a importância da
autolibertação.
Autolibertar-se não
significa fazer tudo
quanto achar necessário
e conveniente à
conservação e ao
desenvolvimento de sua
vida, pois que essa
liberdade não é
absoluta. O homem vive
em sociedade e tem o
dever de respeitar esse
mesmo direito em cada
um, conforme lembra
Kardec.
A evolução do homem,
através do
desenvolvimento
intelectual e moral,
propicia os recursos
necessários para que ele
conquiste essa
liberdade. Mas, atenção,
pois quanto maior for o
conhecimento, maior será
a liberdade e,
consequentemente, maior
deverá ser a nossa
vigilância em relação às
nossas escolhas. Se o
pensamento é livre,
então o homem é
responsável por ele
perante Deus. Isto é
fato, pois não ignoramos
que pensamento é energia
que se plasma, e o homem
é responsável pela
emissão e absorção dessa
energia, podendo trazer
desajustes para si e
para os outros. A
escolha é sempre nossa e
os resultados dela
advindos também.
A questão 843, na obra
supracitada, confirma
nossa colocação.
Pergunta Kardec: “O
homem tem livre arbítrio
dos seus atos?” Os
Espíritos Superiores
respondem: “Visto
que ele tem a liberdade
de pensar, tem a de
agir. Sem livre-arbítrio
o homem seria uma
máquina”.
Martins Peralva, no seu
livro “O
Pensamento de Emmanuel”¹,
lembra que o Espiritismo
assegura que:
- pelo uso do
livre-arbítrio, a alma
fixa seu destino,
prepara suas alegrias e
dores;
- o destino é resultante
das vidas sucessivas, de
nossas próprias ações e
livres resoluções;
- a liberdade e a
responsabilidade são
correlatas no Ser e
aumentam com sua
elevação;
- fatalidade
(determinismo) e
livre-arbítrio coexistem
nos mínimos ângulos de
nossa jornada
planetária.
O autor explica essa
colocação na página 201,
lembrando que, antes de
reencarnar, o Espírito
escolhe a família, o
meio social e as provas
(moral e/ou física) por
que tenha de passar,
usando seu
livre-arbítrio, tendo em
vista situações
pretéritas vividas.
Segundo a maneira como
se comporta diante
disso, o Espírito cria
um “quadro de resgates”
para o futuro: é o determinismo
relativo. Esse
quadro pode sofrer
alterações, não
essenciais, em função da
Misericórdia Divina e
dos próprios méritos do
Espírito. Portanto, o livre-arbítrio
é relativo –
relativo à posição
ocupada pelo homem na
escala de valores
espirituais.
Léon Denis,
reportando-se ao
livre-arbítrio, declara: “O
primeiro uso que o homem
fizesse da liberdade
absoluta seria para
afastar de si as causas
de sofrimento e para
assegurar, desde logo,
uma vida de felicidade”. Esse
conceito exalta a
Sabedoria Divina ao
graduar o
livre-arbítrio, por cujo
uso o homem pode fugir
das provas ou
superá-las. Conclui-se,
portanto, com o
Espiritismo: 1- O homem
não é absolutamente
livre, nem determinado
por fatores biológicos
ou sociais - como
produto do meio; 2 - O
homem subordina-se ao
livre-arbítrio relativo
e ao determinismo
relativo. Enquanto a
escolha está no campo
das ideias, o homem é
livre; mas, uma vez
feita a escolha, ele se
subordina à Lei de Ação
e Reação.
Recorda Joanna de
Ângelis que “a
libertação física do
jugo hediondo de
dominadores humanos é
mais fácil do que aquela
que se refere aos vícios
e às dependências morais
danosas, porquanto, o
escravo pode,
perfeitamente,
realizar-se no mundo
interno, pensando,
construindo sentimentos,
mesmo que dependente do
senhorio...” porque “ao
Espírito está destinada a glória
solar. Alcançá-la é a
meta oferecida pelas
reencarnações, por cujas
experiências burila os
sentimentos, ilumina os
conhecimentos, supera os
limites. (...)
Libertar-se das amarras
internas, a fim de que o
solo do coração
reverdeça, ensejando
flores e frutos de
misericórdia e amor,
tornando-se seara de
luz, constitui a razão
de uma existência lúcida
e operosa”.
A responsabilidade, no
entanto, não é igual
para todos e, em
consonância com a
justiça divina, temos:
“Ao que mais recebeu,
mais será exigido”. Isso
vale dizer que o homem
com menor evolução
espiritual não saberá
escolher com segurança
entre o bem e o mal.
Em conclusão: O homem é
um Espírito imortal
criado por Deus para ser
feliz. Se não o é, é
porque não age em
harmonia com as leis
divinas e traz para si a
dor e o sofrimento.
“Para a liberdade Cristo
nos libertou;
permanecei, pois,
firmes, e não vos
dobreis novamente ao
jugo de escravidão”,
lembra-nos o amado
Apóstolo dos Gentios.
4
Referências:
1 –
PERALVA, Martins – O
Pensamento de Emmanuel –
[psicografado por]
F.C.Xavier- FEB- Rio de
Janeiro/RJ – 4ª ed.,
Cap. 32, pg.200 e 201.
2 -
EMMANUEL (Espírito) – Palavras
de Vida Eterna –
[psicografado por]
F.C.Xavier – CEC –
Uberaba/MG – 17ª ed.,
1995 – Lição 27.
3 -
_____________________ Fonte
Viva –
[psicografado por] F. C.
Xavier – FEB – Rio de
Janeiro/RJ – 31ª ed.,
2005 – Lição 47.
4 –
PAULO. Gálatas, 5:1.
5 –
JOANNA DE ÂNGELIS
(Espírito) – O
Amor como solução –
[psicografado por]
Divaldo P. Franco – LEAL
– Salvador/BA, 2006 –
Cap. 7. pp.51-57.