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Raul Teixeira responde
Ano 3 - N° 148 - 7 de Março de 2010

  
 

– Em alguns meios divulga-se a tese de que as crianças índigo representam uma nova geração, a que Kardec se teria referido em A Gênese. Em sua opinião, o tema crianças índigo enquadra-se na seriedade e racionalidade com que devem ser tratados os conceitos espíritas?  

Raul Teixeira: É muito conhecido o impulso que temos nós, os humanos, pelas novidades que vão surgindo ao nosso redor, e tudo o de que gostamos, julgamos importante ou especial, desejamos de modo velado ou declarado trazer para o universo do Espiritismo. Foi o que ocorreu com a tese dos psicólogos americanos Dr. Lee Carrol e Dra. Jan Tober.

Muito embora os referidos autores americanos tenham feito questão de afirmar que seu trabalho era um relatório inicial e não a palavra final sobre certo tipo de crianças que vinham nascendo, o fato é que isso já chegou em nosso meio popular, e não foi diferente no meio espírita, como algo pronto, acabado e “espírita”. Lastimável!

Vale a pena verificar como é que os supracitados psicólogos americanos definem uma criança índigo (Dra. Jan Tober informa ter chamado assim a esse tipo de crianças, por ser a cor índigo a que via ao redor delas): é aquela que apresenta um conjunto de características psicológicas incomuns e um padrão de comportamento ainda não classificado pela ciência. Esse tipo de comportamento faz com que todos os que interagem com ela (principalmente seus pais) tenham de se adaptar a circunstâncias diferentes e a um tipo específico de criação. Até aqui, não vemos nada que seja diferente do que observamos em nossas crianças, aquelas com as quais temos tido contato diariamente, dando-nos conta de que são, de fato, crianças diferentes, não importando os nomes com que as rebatizemos. Contudo, todas elas estão no mundo sob cuidados pater-maternais para evoluírem para Deus. Todos sabemos que não é fácil entender, nortear, corrigir, educar, enfim, esses pequenos, tendo em vista as bagagens que trouxeram de outras vivências reencarnatórias.

O psicólogo argentino Egidio Vecchio, que se radicou em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, também dedicou-se aos estudos dessas crianças índigo, somando seus esforços aos de notáveis estudiosos como Ingrid Cañete e Teresa Guerra. Afirma ele num dos seus livros que na década de 1970 vieram ao mundo seres humanos muito especiais, portadores de uma mudança potencial em seu DNA. Descobriu-se que têm uma missão a cumprir e um grande potencial a desenvolver. Como nós, também dotados do livre-arbítrio, portanto podem não aceitar esse encargo. Não são predestinados. Nenhuma diferença vemos nos dizeres de Vecchio daquilo que temos aprendido, há mais de 150 anos, nos ensinamentos espíritas.

Todos nós chegamos ao mundo com uma missão a cumprir, seja de grande ou de pequeno porte, seja em nível do grupo familiar ou em termos sociais e mesmo missões mundiais. Reencarnamos, exatamente, para fazer brilhar a nossa luz, conforme orientou Jesus Cristo, ou seja, para desenvolver nossos potenciais espirituais, ou intelecto-morais, se assim o quisermos.

Notemos como continua Vecchio a falar sobre os índigos: Essas crianças, fruto dessa evolução genética que está acontecendo, necessitam de apoio para adaptarem-se e desenvolverem-se entre nós. Para elas é necessária uma pedagogia adequada ao seu grau de evolução, porque são portadoras de ferramentas psicológicas e espirituais muito além daquelas que a psicologia tradicional conhece. Se bem compreendidas e orientadas, as crianças índigo mudarão a vida do planeta de forma assombrosa e nunca imaginada até hoje.

Não há nenhuma novidade nisso, para quem lida com ensino-aprendizagem, para quem lida com crianças e escolaridade. É gritante o atraso em que se encontra a instituição escolar, mundo afora. Chegamos a constatar que das instituições do mundo a que mais resiste a mudanças é exatamente a escolar. Parece um afrontoso paradoxo. As nossas crianças que são tão mal cuidadas pela escola contemporânea com suas características velhas, com suas metodologias, suas provas, suas notas, etc., antiquadas, que conseguem matar o poder criador dos alunos pelas atitudes ingênuas, laissez-faire, excessivamente diretivas ou ditatoriais de profissionais malformados, caso tivessem esses recursos aos quais se refere Egidio Vecchio, com certeza não teríamos os altos índices de êxodo escolar, as altas taxas de reprovações; não veríamos o horror com que grande número de crianças se vê obrigado a ir à escola, a alegria com folgas, feriados ou com a ausência dos professores.

Num mundo de computadores e internets, de blogs e orkuts, desejar manter as crianças presas a um espaço físico por meio de “cuspe e giz”, convenhamos que não precisarão ser tão índigos para viverem “indignadas” (o trocadilho é proposital) com o sistema.

No século XIX, Kardec já falava da transição por que passava o mundo. Logo, não é um fenômeno novo. Possivelmente, somente agora os psicólogos americanos se deram conta de que deveriam estudar tal coisa. Mas, com certeza, não foi a partir de 1970 que essas coisas começaram a acontecer no planeta. Leiamos o que nos diz o livro A Gênese, publicado em 1868: A época atual é de transição; confundem-se os elementos das duas gerações. Colocados no ponto intermédio, assistimos à partida de uma e à chegada da outra, já se assinalando cada uma, no mundo, pelos caracteres que lhes são peculiares. Têm ideias e pontos de vista opostos as duas gerações que se sucedem. Pela natureza das disposições morais, porém, sobretudo das disposições “intuitivas” e “inatas”, torna-se fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo.

Observemos como continua Kardec: Cabendo-lhe fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento “inato” do bem e a crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento “anterior”. Não se comporá exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e aptos a secundar o movimento de regeneração.

Aprendemos, assim, desde a época de Allan Kardec, que, se bem compreendida e orientada, toda e qualquer criança que chega à Terra mudará a vida do planeta, de maneira bastante significativa, jamais imaginada atualmente. Quando o lar e a escola se tornarem locais de satisfação, de aprendizado e de segurança para as nossas crianças de agora e para as que virão, conseguiremos auxiliar a todos os Espíritos que, chegados ao mundo para desempenhar seus papéis missionários, de homens e mulheres de bem, possam realizar com êxito aquilo que vieram fazer sobre o solo do mundo.

O que lamento é que, com tantos ensinamentos do Espiritismo, desde O Livro dos Espíritos até A Gênese, a respeito do conduzimento educacional das nossas crianças, sem que nunca tenha isso provocado qualquer furor educacional, nenhuma emoção ou frisson social, bastou que chegasse ao nosso país a tradução do livro de Carrol e Tober para que o Movimento Espírita, em consideráveis expressões e localidades, se sentisse abalado em suas crenças e práticas, sem dar-se conta de que o que vinha acontecendo, e ainda ocorre, é uma agigantada defasagem entre a nossa confissão labial de fé espírita e a nossa integração ao espírito do Espiritismo. 

 

Extraído de entrevista publicada na edição de fevereiro de 2009 do jornal O Imortal.




 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita