– Em alguns meios
divulga-se a tese de que
as crianças índigo
representam uma nova
geração, a que Kardec se
teria referido em A
Gênese. Em sua
opinião, o tema crianças
índigo enquadra-se na
seriedade e
racionalidade com que
devem ser tratados os
conceitos espíritas?
Raul Teixeira:
É muito conhecido o
impulso que temos nós,
os humanos, pelas
novidades que vão
surgindo ao nosso redor,
e tudo o de que
gostamos, julgamos
importante ou especial,
desejamos de modo velado
ou declarado trazer para
o universo do
Espiritismo. Foi o que
ocorreu com a tese dos
psicólogos americanos
Dr. Lee Carrol e Dra.
Jan Tober.
Muito embora os
referidos autores
americanos tenham feito
questão de afirmar que
seu trabalho era um
relatório inicial e não
a palavra final sobre
certo tipo de crianças
que vinham nascendo, o
fato é que isso já
chegou em nosso meio
popular, e não foi
diferente no meio
espírita, como algo
pronto, acabado e
“espírita”. Lastimável!
Vale a pena verificar
como é que os
supracitados psicólogos
americanos definem uma
criança índigo (Dra. Jan
Tober informa ter
chamado assim a esse
tipo de crianças, por
ser a cor índigo a que
via ao redor delas): é
aquela que apresenta um
conjunto de
características
psicológicas incomuns e
um padrão de
comportamento ainda não
classificado pela
ciência. Esse tipo de
comportamento faz com
que todos os que
interagem com ela
(principalmente seus
pais) tenham de se
adaptar a circunstâncias
diferentes e a um tipo
específico de criação.
Até aqui, não vemos nada
que seja diferente do
que observamos em nossas
crianças, aquelas com as
quais temos tido contato
diariamente, dando-nos
conta de que são, de
fato, crianças
diferentes, não
importando os nomes com
que as rebatizemos.
Contudo, todas elas
estão no mundo sob
cuidados pater-maternais
para evoluírem para
Deus. Todos sabemos que
não é fácil entender,
nortear, corrigir,
educar, enfim, esses
pequenos, tendo em vista
as bagagens que
trouxeram de outras
vivências
reencarnatórias.
O psicólogo argentino
Egidio Vecchio, que se
radicou em Porto Alegre,
no Rio Grande do Sul,
também dedicou-se aos
estudos dessas crianças
índigo, somando seus
esforços aos de notáveis
estudiosos como Ingrid
Cañete e Teresa Guerra.
Afirma ele num dos seus
livros que na década de
1970 vieram ao mundo
seres humanos muito
especiais, portadores de
uma mudança potencial em
seu DNA. Descobriu-se
que têm uma missão a
cumprir e um grande
potencial a desenvolver.
Como nós, também dotados
do livre-arbítrio,
portanto podem não
aceitar esse encargo.
Não são predestinados.
Nenhuma diferença vemos
nos dizeres de Vecchio
daquilo que temos
aprendido, há mais de
150 anos, nos
ensinamentos espíritas.
Todos nós chegamos ao
mundo com uma missão a
cumprir, seja de grande
ou de pequeno porte,
seja em nível do grupo
familiar ou em termos
sociais e mesmo missões
mundiais. Reencarnamos,
exatamente, para fazer
brilhar a nossa luz,
conforme orientou Jesus
Cristo, ou seja, para
desenvolver nossos
potenciais espirituais,
ou intelecto-morais, se
assim o quisermos.
Notemos como continua
Vecchio a falar sobre os
índigos: Essas crianças,
fruto dessa evolução
genética que está
acontecendo, necessitam
de apoio para
adaptarem-se e
desenvolverem-se entre
nós. Para elas é
necessária uma pedagogia
adequada ao seu grau de
evolução, porque são
portadoras de
ferramentas psicológicas
e espirituais muito além
daquelas que a
psicologia tradicional
conhece. Se bem
compreendidas e
orientadas, as crianças
índigo mudarão a vida do
planeta de forma
assombrosa e nunca
imaginada até hoje.
Não há nenhuma novidade
nisso, para quem lida
com ensino-aprendizagem,
para quem lida com
crianças e escolaridade.
É gritante o atraso em
que se encontra a
instituição escolar,
mundo afora. Chegamos a
constatar que das
instituições do mundo a
que mais resiste a
mudanças é exatamente a
escolar. Parece um
afrontoso paradoxo. As
nossas crianças que são
tão mal cuidadas pela
escola contemporânea com
suas características
velhas, com suas
metodologias, suas
provas, suas notas,
etc., antiquadas, que
conseguem matar o poder
criador dos alunos pelas
atitudes ingênuas,
laissez-faire,
excessivamente diretivas
ou ditatoriais de
profissionais
malformados, caso
tivessem esses recursos
aos quais se refere
Egidio Vecchio, com
certeza não teríamos os
altos índices de êxodo
escolar, as altas taxas
de reprovações; não
veríamos o horror com
que grande número de
crianças se vê obrigado
a ir à escola, a alegria
com folgas, feriados ou
com a ausência dos
professores.
Num mundo de
computadores e
internets, de blogs e
orkuts, desejar manter
as crianças presas a um
espaço físico por meio
de “cuspe e giz”,
convenhamos que não
precisarão ser tão
índigos para viverem
“indignadas” (o
trocadilho é proposital)
com o sistema.
No século XIX, Kardec já
falava da transição por
que passava o mundo.
Logo, não é um fenômeno
novo. Possivelmente,
somente agora os
psicólogos americanos se
deram conta de que
deveriam estudar tal
coisa. Mas, com certeza,
não foi a partir de 1970
que essas coisas
começaram a acontecer no
planeta. Leiamos o que
nos diz o livro A
Gênese, publicado em
1868: A época atual é
de transição;
confundem-se os
elementos das duas
gerações. Colocados no
ponto intermédio,
assistimos à partida de
uma e à chegada da
outra, já se assinalando
cada uma, no mundo,
pelos caracteres que
lhes são peculiares.
Têm ideias e pontos
de vista opostos as duas
gerações que se sucedem.
Pela natureza das
disposições morais,
porém, sobretudo das
disposições “intuitivas”
e “inatas”, torna-se
fácil distinguir a qual
das duas pertence cada
indivíduo.
Observemos como continua
Kardec: Cabendo-lhe
fundar a era do
progresso moral, a nova
geração se distingue por
inteligência e razão
geralmente precoces,
juntas ao sentimento
“inato” do bem e a
crenças espiritualistas,
o que constitui sinal
indubitável de certo
grau de adiantamento
“anterior”. Não se
comporá exclusivamente
de Espíritos
eminentemente
superiores, mas dos que,
já tendo progredido, se
acham predispostos a
assimilar todas as
ideias progressistas e
aptos a secundar o
movimento de
regeneração.
Aprendemos, assim, desde
a época de Allan Kardec,
que, se bem compreendida
e orientada, toda e
qualquer criança que
chega à Terra mudará a
vida do planeta, de
maneira bastante
significativa, jamais
imaginada atualmente.
Quando o lar e a escola
se tornarem locais de
satisfação, de
aprendizado e de
segurança para as nossas
crianças de agora e para
as que virão,
conseguiremos auxiliar a
todos os Espíritos que,
chegados ao mundo para
desempenhar seus papéis
missionários, de homens
e mulheres de bem,
possam realizar com
êxito aquilo que vieram
fazer sobre o solo do
mundo.
O que lamento é que, com
tantos ensinamentos do
Espiritismo, desde O
Livro dos Espíritos
até A Gênese, a
respeito do conduzimento
educacional das nossas
crianças, sem que nunca
tenha isso provocado
qualquer furor
educacional, nenhuma
emoção ou frisson
social, bastou que
chegasse ao nosso país a
tradução do livro de
Carrol e Tober para que
o Movimento Espírita, em
consideráveis expressões
e localidades, se
sentisse abalado em suas
crenças e práticas, sem
dar-se conta de que o
que vinha acontecendo, e
ainda ocorre, é uma
agigantada defasagem
entre a nossa confissão
labial de fé espírita e
a nossa integração ao
espírito do
Espiritismo.
Extraído de entrevista
publicada na edição de
fevereiro de 2009 do
jornal O Imortal.