Almerinda
Terezinha
Medeiros de
Souza:
“Deve fazer
parte da nossa
vivência cristã
a preocupação
com o outro”
A confreira
gaúcha fala
sobre a Gestão
da Qualidade, um
programa de
administração de
organizações que
pode ser
aplicado às
pessoas, dentro
de uma filosofia
que tem muitos
pontos em comum
com a Doutrina
Espírita
|
Almerinda
Terezinha
Medeiros de
Souza ou Tereca
(foto),
como prefere ser
chamada, gaúcha
da Região das
Missões e, por
isso mesmo, uma
aficionada do
chimarrão,
reside em Santa
Maria (RS) há 29
anos e tem uma
filha do
coração.
Aposentada pelo
Banco do Brasil,
é administradora
de empresas,
atualmente
exercendo a
função de
consultora e
educadora em
Gestão
Empresarial.
Nesta
entrevista, ela
nos fala sobre
sua jornada para
semear
conhecimentos
que auxiliem
nos
processos de
gestão, mas com
ênfase na
valorização das
pessoas.
|
O Consolador:
Como se tornou
espírita? |
Graças a Deus,
procurei um
Centro Espírita
pela primeira
vez movida pela
curiosidade,
pela busca de
respostas às
inúmeras dúvidas
existenciais,
não tendo que
passar pelo
crivo da dor.
Hoje, pela
bondade dos
Espíritos
amigos, sei que
vim para a
Doutrina
Espírita para
melhor me
preparar e
receber a minha
filha, com a
qual tinha
vínculos
anteriores
bastante
profundos e o
consequente
comprometimento
em resgatar
velhos débitos,
bem como ajudar
na sua educação
para os valores
e objetivos
elevados da
vida. Ela também
é uma
trabalhadora
espírita e
juntas estamos
construindo uma
nova etapa na
nossa
existência,
consolidando os
laços afetivos,
morais e
espirituais.
O Consolador: Em
quais atividades
atua no Centro
Espírita?
Estou vinculada
à Sociedade
Espírita União
dos Fiéis (SEUF)
de Santa Maria,
desde que
conheci e assumi
o Espiritismo
como diretriz de
vida, em 1987,
onde desempenho,
atualmente, as
atividades de
Diretora do
Departamento
Doutrinário
(DEDO) e
Coordenadora do
ESDE.
O Consolador: E
no Movimento
Espírita?
Colaboro como
secretária do
Conselho
Regional
Espírita (CRE)
da 4ª Região
Federativa do
Rio Grande do
Sul. Também atuo
como expositora
e facilitadora
de cursos,
jornadas e/ou
seminários da
Federação
Espírita do Rio
Grande do Sul (FERGS).
O Consolador:
Você tem artigos
publicados?
Quais?
Tenho 4 artigos
publicados na
revista A
Reencarnação,
editada pela
Federação
Espírita do Rio
Grande do Sul, a
saber: o 1º faz
uma comparação
dos princípios
da Gestão da
Qualidade com os
postulados
espíritas, ambos
centrados na
pessoa humana e
na constante
busca de
aperfeiçoamento
(edição nº.
416); o 2º
aborda a
capacitação
administrativa
para os
dirigentes de
casas espíritas
(edição nº.
430); o 3º e o
4º tratam,
respectivamente,
da eficiência e
eficácia na
administração do
centro espírita
com vista aos
resultados
produzidos e da
gestão de
processos e
solução de
problemas
(edição nº
435).
O Consolador:
Qual o retorno
dos leitores e
dirigentes
espíritas que
tiveram contato
com seus
artigos?
Tenho recebido
diversos
feedbacks,
sendo alguns bem
significativos.
Um deles veio de
uma pessoa não
espírita, que
utilizou um dos
nossos artigos
em seu trabalho
de monografia de
conclusão de
curso
universitário.
Outro, de um
dirigente da
nossa Federativa
Estadual que
utilizou o
material para
melhorar a
gestão do seu
trabalho. E,
ainda, vários
dirigentes de
Casas Espíritas
que também nos
disseram estar
aplicando nossas
sugestões e
alcançando
resultados
positivos no seu
dia-a-dia.
O Consolador:
Você tem
desenvolvido
treinamentos
administrativos
em empresas e
organizações
visando à
melhoria da
qualidade nos
processos? Qual
o enfoque
principal dessas
atividades?
Sim, em todo o
Rio Grande do
Sul,
especialmente em
micro e pequenas
empresas de
setores diversos
da economia, bem
como em
organizações do
chamado 3º
Setor. O enfoque
principal do
trabalho é
melhorar os
processos e
agregar valor
aos resultados,
através das
ferramentas e
técnicas da
Gestão da
Qualidade,
sempre voltados
para a
valorização das
pessoas, porque
de nada adiantam
as melhorias em
outras
dimensões, se
não atentarmos
para a dimensão
humana. Afinal,
a Qualidade deve
estar nas mãos,
nas mentes e nos
corações das
pessoas, porque,
se atingir a
excelência da
produtividade
nas empresas é
um imperativo,
muito maior é o
da busca da
qualidade no
nosso esforço de
progresso moral
e espiritual,
individual e
coletivo.
O Consolador:
Que experiências
ou lições tem a
relatar dessas
atividades?
Com certeza,
cada vez que nos
propusemos a
ensinar, a
assessorar
pessoas e
organizações, os
maiores
beneficiados
somos nós
mesmos, pelos
diferentes
resultados e
aprendizados
obtidos. Ao
utilizarmos uma
ferramenta de
gestão, como,
por exemplo, o
Planejamento
Estratégico,
cujo roteiro é
basicamente o
mesmo para
qualquer empresa
ou organização,
as diretrizes, a
análise do
ambiente interno
e externo e
respectivas
ações variam em
extensão,
quantidade e
abrangência
infinitas, o que
torna os
processos mais
desafiadores,
ricos em
conhecimento e
geradores de
satisfação e
motivação para o
trabalho,
mudamos,
portanto, o
conteúdo; a
forma permanece
a mesma. Algo
que considero
muito
interessante
acontece comigo.
Quanto mais me
aprofundo no
conhecimento e
no trabalho em
Gestão da
Qualidade, mais
encontro
paralelo com a
Doutrina
Espírita e os
ensinos do
Evangelho de
Jesus, pois
afinal Ele é o
Administrador
por excelência,
cujo modelo deve
ser perseguido
por todos os que
se propõem a
trabalhar com
educação e
aperfeiçoamento
de processos
gerenciais. Isto
só vem a
confirmar o que
já sabemos: a
Doutrina
Espírita está em
tudo, comporta
todas as
ciências e nos
apresenta não só
uma visão
integral do
homem, como
matéria e
espírito, mas,
também, do
Universo. Tudo o
que fizermos em
uma das partes
acaba afetando,
de alguma
maneira, o
todo.
O Consolador:
Qual a
importância da
qualidade para o
trabalhador
espírita e para
as Instituições
Espíritas?
Fundamental,
porque os
princípios
administrativos
como o da
melhoria
contínua, do
trabalho
cooperativo,
motivado pela
compreensão da
racionalidade
das tarefas, do
uso adequado e
necessário dos
recursos,
encontram
correspondência
no Espiritismo.
A Gestão da
Qualidade é um
programa de
administração de
organizações que
pode ser
aplicado às
pessoas, dentro
de uma filosofia
que tem muitos
pontos em comum
com a Doutrina
Espírita, pois,
como seres
humanos, nos
movemos em
função das
necessidades,
progressivamente,
dos instintos
básicos às
motivações
superiores,
colocadas pela
vida social e
pelo impulso de
autodesenvolvimento.
O Consolador:
Sua atuação no
Movimento
Espírita
destaca-se pelas
frequentes
atividades
doutrinárias
(palestras e
seminários).
Qual é sua
principal
motivação para
desempenhá-las?
Pelo prazer de
ensinar e
aprender; pelo
desafio de
levantar
questionamentos,
pesquisar e
buscar
respostas, que
levam sempre a
novos
questionamentos;
pela necessidade
e vontade de
repartir com o
outro o pouco
que já
conseguimos
compreender e,
finalmente,
porque
entendemos que
“muito se pedirá
àquele que muito
recebeu”, mas,
também, “mais
será dado àquele
que já tem”,
simbolizando o
ensino do
Mestre: “pelas
obras é que se
reconhece o
cristão”.
O Consolador:
Como a amiga tem
encarado as
turbulências da
economia mundial
e como o
espírita deve
preparar-se para
enfrentar essas
tempestades?
Como um processo
natural da
jornada humana
na Terra. Ainda
prevalece no
coração do homem
o orgulho, a
vaidade, o
egoísmo, a
cupidez etc., de
forma que, pela
ganância de
alguns, uma
grande maioria
acaba pagando um
preço bastante
elevado. Pela
Doutrina
Espírita,
sabemos que a
Terra tem
recursos
suficientes para
dar sustento,
dignidade e
qualidade de
vida a toda a
população, mas a
concentração de
riquezas nas
mãos de uma
minoria impede o
acesso de grande
parte dessa
população a
essas riquezas.
O espírita, como
qualquer outra
pessoa, também
sofre as
consequências
das crises
econômicas,
políticas e
sociais com
reflexos,
inclusive, em
nossas
Instituições. E
como qualquer
outro ser
humano, diante
da dificuldade,
deve trabalhar
com mais afinco,
estudar, buscar
estar informado
sobre o panorama
mundial e
brasileiro e
preparar-se para
vencer o
desafio, com
equilíbrio e com
a convicção de
que sairá
fortalecido e
com mais
segurança para
novos embates.
No meio
empresarial
costuma-se dizer
que é nas épocas
de crises que se
conhecem os
verdadeiros
empreendedores,
aqueles que têm
atitudes para
enfrentar as
turbulências e
inovar em
produtos e
serviços. Esse
também deve ser
o pensamento do
espírita.
O Consolador:
Têm sido objeto
de debate nos
seus círculos de
estudos temas
como as
desigualdades
sociais? Quais
as principais
conclusões?
Com certeza! Em
primeiro lugar,
porque deve
fazer parte da
nossa vivência
cristã a
preocupação com
o outro, seja do
ponto de vista
material,
afetivo, moral
ou espiritual.
Em segundo,
porque pessoa ou
organização
alguma pode
pretender ser
uma ilha de
qualidade num
mar de misérias.
Desenvolver a
cultura da
Responsabilidade
Social é hoje
quase um
imperativo de
gestão, visando
à manutenção e
competitividade
das empresas. Na
Gestão da
Qualidade, a
Responsabilidade
Social é um dos
Fundamentos da
Excelência e se
define como uma
atuação ética e
transparente da
organização com
todos os
públicos com os
quais ela se
relaciona,
estando voltada
para o
desenvolvimento
sustentável da
sociedade, a
preservação dos
recursos
ambientais e
culturais para
gerações
futuras;
respeitando a
diversidade e
promovendo a
redução das
desigualdades
sociais como
parte integrante
de sua
estratégia.
Entram aí ações
em benefício do
meio ambiente,
da educação, da
saúde, enfim, do
resgate da
qualidade de
vida às pessoas.
Nem é preciso
ser um bom
observador para
verificar que as
empresas
socialmente
responsáveis,
que não pensam
somente no
lucro, mas acima
de tudo no ser
humano, são mais
valorizadas e
reconhecidas,
com a
preferência dos
seus clientes.
Essas ações
estão se
transformando
numa poderosa
vantagem
competitiva.
O Consolador:
Fale-nos da sua
visão do
movimento
espírita em sua
cidade e no
Estado do Rio
Grande do Sul.
Trata-se de um
movimento em
constante
evolução e
crescimento.
Cada vez mais,
as pessoas
procuram os
Centros
Espíritas não só
na busca de
consolo para
suas aflições,
mas muito,
também, pela
necessidade de
compreensão da
vida, em busca
de respostas
para dúvidas
milenares como:
quem eu sou, de
onde vim, o que
estou fazendo
aqui, para onde
vou depois da
morte? Isto só a
Doutrina
Espírita é capaz
de responder de
maneira lógica e
racional, sem
alegorias e
fantasias.
Andando pelo
Estado a serviço
da Doutrina,
percebemos que
as Casas, sem
perder a
simplicidade
original, também
estão crescendo
em termos de
organização e
estrutura
funcional, de
modo a se
adequar para
melhor atender a
essa demanda. Há
hoje, também,
uma preocupação
maior com gestão
das Casas, onde
os dirigentes
estão procurando
qualificar-se em
ferramentas e
técnicas
gerenciais, em
desenvolvimento
de lideranças e
em temas
específicos de
trabalhos
doutrinários.
O Curso de
Capacitação
Administrativa
para Dirigentes
Espíritas (CCA),
desenvolvido e
aprovado pelo
Conselho
Federativo
Nacional (CFN)
em 2002, vem
sendo trabalhado
e aperfeiçoado,
desde então, em
todo o País. Em
nosso Estado, a
FERGS (Federação
Espírita do Rio
Grande do Sul)
tem desenvolvido
e ministrado
diversos
programas de
capacitação,
envolvendo todas
as questões
acima
mencionadas,
através de
oficinas,
cursos,
seminários e
workshops.
O Consolador:
Quais suas
experiências na
área da
Administração?
Como é ser
administradora e
espírita?
É maravilhoso
poder trabalhar
com as mesmas
ferramentas
gerenciais no
movimento
espírita e no
campo
profissional,
mudando apenas o
conteúdo, pois o
roteiro é o
mesmo. A
Administração
como ciência é o
resultado do
conhecimento
humano acumulado
desde os
primórdios da
civilização e é
uma das que mais
tem evoluído nos
últimos tempos,
favorecendo o
gerenciamento
dos processos
organizacionais,
envolvendo as
pessoas e
contribuindo de
forma definitiva
com a Lei de
Evolução. Não
existe
organização
humana que
prescinda de uma
boa
administração e
compete ao
administrador
tomar as
decisões mais
eficazes,
através das
funções
tradicionais:
planejar,
dirigir,
controlar e
executar. A Casa
Espírita, sendo
uma organização,
não deve se
distanciar das
teorias, métodos
e técnicas da
moderna
administração,
para atingir com
eficiência e
eficácia os
resultados
almejados.
Também deve se
preocupar com a
produtividade em
suas atividades
de cunho
administrativo e
doutrinário. O
dirigente é,
antes de tudo, o
administrador de
uma organização
espírita.
Possui,
portanto, a
responsabilidade
de buscar o
melhor resultado
possível, dentro
dos objetivos da
Instituição.
O Consolador:
Suas palavras
finais.
Agradecemos a
oportunidade de
expormos nossas
ideias a
respeito de
temas que tanto
gostamos, e
esperamos que,
de alguma forma,
os assuntos aqui
abordados possam
servir, inspirar
e contribuir com
os nossos
companheiros, no
seu trabalho em
prol da
divulgação, do
esclarecimento e
do consolo que a
Doutrina
Espírita
propicia a todos
aqueles que
fazem dela o seu
ideal, na busca
do
aperfeiçoamento
e da felicidade.