A Revue Spirite
de 1865
Allan Kardec
(Parte
16)
Damos prosseguimento ao
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1865. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 20
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Benjamin Franklin era
reencarnacionista?
Franklin, um dos
principais vultos da
história dos Estados
Unidos, era
reencarnacionista e não
só acreditava em seu
renascimento na Terra,
como cria voltar ao
mundo melhorado por seu
trabalho. A prova disso
é seu próprio epitáfio
que pediu fosse posto em
seu túmulo: “Aqui
jaz, entregue aos
vermes, o corpo de
Benjamin Franklin,
tipógrafo, como a capa
de um velho livro cujas
folhas foram arrancadas
e cujo título e dourado
se apagaram. Mas nem por
isso a obra ficará
perdida, porque há de
reaparecer, como ele
acreditava, em nova e
melhor edição, revista e
corrigida pelo autor.”
(Revue Spirite de 1865,
pág. 237.)
B. Deus fornece aos
homens as provisões
materiais de que eles
carecem?
Lacordaire diz em
mensagem publicada na
Revue que Deus, ao
colocar o homem no
mundo, fornece-lhe as
provisões materiais de
que carece. Na mensagem,
ele exalta também a
importância da caridade
e o dever que temos de
praticá-la. Se algo nos
detém, não há dúvida: é
o egoísmo, e Deus o
descobre facilmente sob
os falaciosos pretextos
com que procuramos
desculpar-nos.
Despojados de nossa
opulência,
reapareceremos então
outra vez na Terra,
curvados ao peso da
indigência e sofrendo do
rico o desdém e a
indiferença que no
passado mostramos pelo
pobre.
(Obra citada, pp. 245 e
246.)
C. Todos detemos a
possibilidade de
suavizar certos
sofrimentos por meio da
imposição das mãos?
Sim. Diz Kardec que,
embora a mediunidade
curadora pura seja
privilégio das almas de
escol, a possibilidade
de suavizar certos
sofrimentos, e mesmo de
os curar, é dada a
todos, sem que haja
necessidade de ser
magnetizador. O
conhecimento dos
processos magnéticos é
útil em casos
complicados, mas não
indispensável. Como a
todos é dado apelar aos
bons Espíritos, orar e
querer o bem, basta
muitas vezes impor as
mãos sobre a dor para a
acalmar. É o que pode
fazer qualquer pessoa,
se tiver fé, fervor,
vontade e confiança em
Deus.
(Obra citada, pp. 251 a
255.)
Texto para leitura
182. A Revue
reproduz do jornal
“Indépendant de Douai”
de 6 e 8 de julho de
1865 reportagem a
respeito de
manifestações de efeitos
físicos ocorridas em
Fives, perto de Lille,
segundo a qual uma chuva
de projéteis que caíam a
certos intervalos
quebravam vidraças de
casas e atingiam até
mesmo pessoas, sem que
se pudesse determinar
sua causa. Depois de
alguns dias, em vez de
pedras e pedaços de
tijolos, passaram a cair
moedas belgas, enquanto
os móveis de uma das
casas se moviam.
(Págs. 230 a 233.)
183. Comentando o fato,
Kardec lembra sua
analogia com os
fenômenos verificados em
Poitiers, Marselha,
Noyers e uma porção de
outras localidades,
observando que em
presença de fatos tão
contundentes e vistos
por numerosas
testemunhas a negação já
não é mais possível. Os
Espíritos disseram que
manifestações de toda
natureza iriam
produzir-se em todos os
pontos, e é o que fazem.
Os incrédulos não pedem
fatos? Ei-los! E têm a
vantagem de não serem
provocados. Se apesar
disso não creem, que é
que se pode fazer?
(Pág. 233.)
184. A Revue
focaliza o caso de duas
crianças nascidas numa
família de operários de
Paris e atingidas, após
o nascimento, de
idiotia. Alfredo, o mais
velho, então com 17
anos, fora normal até os
três anos de idade. Após
uma ligeira doença,
perdeu o dom da palavra
e as faculdades mentais.
Paulino, de 15 anos,
conservou a razão até os
seis anos, quando
adoeceu e passou pelas
mesmas fases do irmão
mais velho. (Págs.
234 e 235.)
185. Em julho de 1865,
reportando-se ao caso,
Moki (Espírito) disse
que os dois irmãos
cumpriam juntos aquela
expiação porque juntos
estavam quando dos fatos
que a motivaram. “Não
esqueçais também – disse
Moki – que os pais têm
sua parte no que aqui se
passa.” Mas eles
deveriam ser felicitados
por não haverem falido,
porque essa compensação
que não encontram neste
mundo eles a encontrarão
mais tarde. Os cuidados
e a afeição que
prodigalizam aos dois
filhos bem poderiam ser
uma reparação feita a
eles, reparação que o
estado de
constrangimento da
família tornava ainda
mais meritória. (Pág.
236.)
186. Após transcrever o
epitáfio que Benjamin
Franklin redigiu e pediu
fosse colocado em seu
túmulo, Kardec destaca o
fato de que Franklin, um
dos principais vultos
dos EUA, era
reencarnacionista e não
só acreditava em seu
renascimento na Terra,
como cria voltar ao
mundo melhorado por seu
trabalho. Eis o teor do
epitáfio: “Aqui jaz,
entregue aos vermes, o
corpo de Benjamin
Franklin, tipógrafo,
como a capa de um velho
livro cujas folhas foram
arrancadas e cujo título
e dourado se apagaram.
Mas nem por isso a obra
ficará perdida, porque
há de reaparecer, como
ele acreditava, em nova
e melhor edição, revista
e corrigida pelo autor.”
(P. 237.)
187. Na seção de livros,
a Revue alude ao
livro “O Manual de
Xéfolius”, obra
atribuída a Félix de
Wimpfen, guilhotinado em
1793, a qual se presume
publicada em 1788.
Embora seja anterior à
codificação do
Espiritismo, a obra traz
inúmeras passagens
concordantes com a
doutrina espírita, como
as referências à lei de
causa e efeito, à
reencarnação e à
importância do amor na
felicidade humana.
(Págs. 237 a 241.)
188. Evocado na
Sociedade Espírita de
Paris, o autor do
Manual de Xéfolius
diz ter sido, em sua
existência terrena, um
médium inconsciente,
como muitos que existem
no mundo e não o sabem.
A obra, portanto, não
lhe podia ser atribuída
com exclusividade,
porque, ao escrevê-la,
ele o fez na condição de
instrumento, em parte
passivo, do Espírito que
então o dirigia.
(Págs. 241 a 243.)
189. Duas dissertações
mediúnicas encerram o
número de agosto de
1865. Na primeira,
intitulada “A chave
do céu” e assinada
pelo Espírito de
Lacordaire, o instrutor
trata de forma admirável
do tema caridade, para
ele “o sinal de nossa
grandeza moral”, “a
chave do céu”. Consolar
aflições, por boas
palavras ou por sábios
conselhos, vale
infinitamente mais que
consolar por socorros
materiais; mas a fome, o
frio, a doença não se
curam apenas com
palavras: requerem algo
mais daquele que presta
o socorro. (Págs. 244
e 245.)
190. Lembrando que Deus,
ao colocar o homem no
mundo, fornece-lhe
também as provisões
materiais, de que
carece, Lacordaire
exalta a importância da
caridade e o dever que
temos de praticá-la. Se
algo nos detém, não há
dúvida: é o egoísmo, e
Deus o descobre
facilmente sob os
falaciosos pretextos com
que procuramos
desculpar-nos.
Despojados de nossa
opulência,
reapareceremos então
outra vez na Terra,
curvados ao peso da
indigência e sofrendo do
rico o desdém e a
indiferença que no
passado mostramos pelo
pobre. (Págs. 245 e
246.)
191. Na parte final da
mensagem, Lacordaire
assinala os deveres que
– independentemente da
ajuda prestada aos
pobres – temos para com
os nossos familiares, a
quem devemos ensinar que
ninguém pode viver
egoisticamente no mundo,
mas, sim, sob a égide da
solidariedade. “A
justiça, diz Lamennais,
é a vida; a caridade
também é a vida, mais
bela e mais doce.” A
caridade é a vida dos
santos, é a chave do
céu. (Págs. 246 e
247.)
192. Dr. Demeure assina
a segunda dissertação,
intitulada “A fé”.
Dizendo que a fé
cega teve, durante muito
tempo, sua utilidade e
sua razão de ser, ele
entende que hoje a fé se
alia à razão, e ambas,
juntas, impedirão que o
homem se perca de novo
nos caminhos da vida. “É
a vossa época, meus
amigos – diz o conhecido
médico –; segui o
caminho, Deus está no
fim.” (Págs. 247 e
248.)
193. Um confrade de Lyon
pediu a Kardec
orientação a respeito da
prática da mediunidade
curadora pela imposição
das mãos. Dizendo que o
assunto fora esboçado no
Livro dos Médiuns
e em muitos artigos da
Revue, e resumido
no Evangelho segundo
o Espiritismo, na
parte que trata das
preces pelos enfermos e
dos médiuns curadores,
Kardec lembra que o
conhecimento da
mediunidade curadora é
uma das conquistas que
devemos ao Espiritismo,
mas que se liga ao
magnetismo e abarca não
apenas as doenças
propriamente ditas, como
também as numerosas
variedades de obsessões.
(Págs. 249 a 251.)
194. Eis de forma
sintética os princípios
fundamentais que,
segundo Kardec, a
experiência consagrou
relativamente à
mediunidade curadora: I
– Os médiuns que recebem
indicações de remédios
da parte dos Espíritos
não são médiuns
curadores; são simples
médiuns escreventes ou
médiuns consultores. A
mediunidade curadora é
exercida pela ação
direta do médium sobre o
doente, com o auxílio de
uma espécie de
magnetização de fato ou
pelo pensamento. II – O
médium curador magnetiza
com o fluido dos
Espíritos, ao qual serve
de condutor. O
magnetismo produzido
pelo fluido do homem é o
magnetismo humano.
O que provém do
fluido dos Espíritos
chama-se magnetismo
espiritual. III –
O fluido humano está
sempre mais ou menos
impregnado de impurezas
físicas e morais do
encarnado; o fluido dos
bons Espíritos é
necessariamente mais
puro e por isso tem
propriedades mais
ativas, que acarretam
uma cura mais pronta.
Daí a necessidade
absoluta que tem o
médium curador de
trabalhar a sua
depuração moral, segundo
o princípio vulgar:
“limpai o vaso antes de
vos servirdes dele”. IV
– O fluido espiritual
será tanto mais depurado
e benfazejo quanto mais
o Espírito que o fornece
for puro e desprendido
da matéria. O fluido
emanado de um corpo
malsão pode inocular
princípios mórbidos no
magnetizado. As
qualidades morais do
magnetizador, isto é, a
pureza de intenção e de
sentimento, o desejo
ardente e desinteressado
de aliviar, aliados à
saúde do corpo, dão ao
fluido um poder
reparador que pode, em
certos indivíduos,
aproximar-se das
qualidades do fluido
espiritual. V – Gastando
o seu próprio fluido, o
magnetizador se esgota e
se fatiga, pois dá de
seu próprio elemento
vital. O fluido
espiritual, mais
poderoso, em razão de
sua pureza, produz
efeitos mais rápidos.
Não sendo esse fluido do
magnetizador, resulta
que a fadiga é quase
nula. VI – O Espírito
pode agir diretamente
sem intermediário sobre
as pessoas. Caso aja por
um intermediário,
trata-se da
mediunidade curadora.
VII – O médium curador
recebe o influxo
fluídico do Espírito, ao
passo que o magnetizador
tudo tira de si mesmo.
Os médiuns curadores, na
estrita acepção da
palavra, isto é, aqueles
cuja personalidade se
apaga completamente ante
a ação espiritual, são
extremamente raros,
porque essa faculdade,
elevada ao mais alto
grau, requer um conjunto
de qualidades morais
raramente encontradas na
Terra. Só esses podem
obter, pela imposição
das mãos, essas curas
instantâneas que nos
parecem prodigiosas.
Essa faculdade é o
privilégio exclusivo
da modéstia, da
humildade, do
devotamento e do
desinteresse. VIII –
Sendo a mediunidade
curadora uma exceção
aqui na Terra, resulta
daí que, nessas tarefas,
existe quase sempre ação
simultânea do fluido
espiritual e do fluido
humano. Todo
magnetizador pode
tornar-se médium
curador, se souber
fazer-se assistir por
bons Espíritos. Neste
caso os Espíritos lhe
vêm em ajuda, derramando
sobre ele seu próprio
fluido, que pode
decuplicar ou
centuplicar a ação do
fluido puramente humano.
IX – Nenhuma vontade
pode constranger os
Espíritos a participar
dessa tarefa. Eles se
rendem à prece, se
fervorosa, sincera, mas
nunca por injunção. X –
Reconhece-se o médium
curador pelos resultados
que obtém e não por sua
pretensão de o ser. XI –
A vontade, embora
ineficaz quanto ao
concurso dos Espíritos,
é onipotente para
imprimir ao fluido uma
boa direção e uma
energia maior. No homem
mole e distraído,
a corrente é mole, a
emissão é fraca. No
homem de vontade
enérgica, a corrente
produz o efeito de uma
ducha. XII – A prece,
quando fervorosa,
ardente, feita com fé,
produz o efeito de uma
magnetização, que dirige
ao doente uma salutar
corrente fluídica. XIII
– Embora a mediunidade
curadora pura seja
privilégio das almas de
escol, a possibilidade
de suavizar certos
sofrimentos, e mesmo de
os curar, é dada a
todos, sem que haja
necessidade de ser
magnetizador. O
conhecimento dos
processos magnéticos é
útil em casos
complicados, mas não
indispensável. Como a
todos é dado apelar aos
bons Espíritos, orar e
querer o bem, basta
muitas vezes impor as
mãos sobre a dor para a
acalmar. É o que pode
fazer qualquer pessoa,
se tiver fé, fervor,
vontade e confiança em
Deus. Apenas a
ignorância de alguns
lhes faz crer na
influência desta ou
daquela fórmula. XIV –
Não há médiuns curadores
universais. Este terá
restituído a saúde a um
doente e nada fará ao
outro. XV – A
mediunidade curadora é
uma aptidão, como todos
os gêneros de
mediunidade, inerente ao
indivíduo. Ela se
desenvolve pelo
exercício, mas sobretudo
pela prática do bem e da
caridade. XVI – A
mediunidade curadora
racional está
intimamente ligada ao
Espiritismo, visto que
repousa essencialmente
no concurso dos
Espíritos. Os que não
creem nos Espíritos, nem
na alma e, ainda menos,
na eficácia da prece,
não se colocam nas
condições requeridas
para essa tarefa.
(Págs. 251 a 255.)
(Continua no próximo
número.)