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Estudando as obras de Kardec
Ano 3 - N° 153 - 11 de Abril de 2010

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A Revue Spirite de 1865

Allan Kardec 

(Parte 16)

Damos prosseguimento ao estudo da Revue Spirite correspondente ao ano de 1865. O texto condensado do volume citado será aqui apresentado em 20 partes, com base na tradução de Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Questões preliminares

A. Benjamin Franklin era reencarnacionista?

Franklin, um dos principais vultos da história dos Estados Unidos, era reencarnacionista e não só acreditava em seu renascimento na Terra, como cria voltar ao mundo melhorado por seu trabalho. A prova disso é seu próprio epitáfio que pediu fosse posto em seu túmulo: “Aqui jaz, entregue aos vermes, o corpo de Benjamin Franklin, tipógrafo, como a capa de um velho livro cujas folhas foram arrancadas e cujo título e dourado se apagaram. Mas nem por isso a obra ficará perdida, porque há de reaparecer, como ele acreditava, em nova e melhor edição, revista e corrigida pelo autor.” (Revue Spirite de 1865, pág. 237.)

B. Deus fornece aos homens as provisões materiais de que eles carecem?

Lacordaire diz em mensagem publicada na Revue que Deus, ao colocar o homem no mundo, fornece-lhe as provisões materiais de que carece. Na mensagem, ele exalta também a importância da caridade e o dever que temos de praticá-la. Se algo nos detém, não há dúvida: é o egoísmo, e Deus o descobre facilmente sob os falaciosos pretextos com que procuramos desculpar-nos. Despojados de nossa opulência, reapareceremos então outra vez na Terra, curvados ao peso da indigência e sofrendo do rico o desdém e a indiferença que no passado mostramos pelo pobre. (Obra citada, pp. 245 e 246.)

C. Todos detemos a possibilidade de suavizar certos sofrimentos por meio da imposição das mãos?

Sim. Diz Kardec que, embora a mediunidade curadora pura seja privilégio das almas de escol, a possibilidade de suavizar certos sofrimentos, e mesmo de os curar, é dada a todos, sem que haja necessidade de ser magnetizador. O conhecimento dos processos magnéticos é útil em casos complicados, mas não indispensável. Como a todos é dado apelar aos bons Espíritos, orar e querer o bem, basta muitas vezes impor as mãos sobre a dor para a acalmar. É o que pode fazer qualquer pessoa, se tiver fé, fervor, vontade e confiança em Deus. (Obra citada, pp. 251 a 255.) 

Texto para leitura 

182. A Revue reproduz do jornal “Indépendant de Douai” de 6 e 8 de julho de 1865 reportagem a respeito de manifestações de efeitos físicos ocorridas em Fives, perto de Lille, segundo a qual uma chuva de projéteis que caíam a certos intervalos quebravam vidraças de casas e atingiam até mesmo pessoas, sem que se pudesse determinar sua causa. Depois de alguns dias, em vez de pedras e pedaços de tijolos, passaram a cair moedas belgas, enquanto os móveis de uma das casas se moviam. (Págs. 230 a 233.)

183. Comentando o fato, Kardec lembra sua analogia com os fenômenos verificados em Poitiers, Marselha, Noyers e uma porção de outras localidades, observando que em presença de fatos tão contundentes e vistos por numerosas testemunhas a negação já não é mais possível. Os Espíritos disseram que manifestações de toda natureza iriam produzir-se em todos os pontos, e é o que fazem. Os incrédulos não pedem fatos? Ei-los! E têm a vantagem de não serem provocados. Se apesar disso não creem, que é que se pode fazer? (Pág. 233.)

184. A Revue focaliza o caso de duas crianças nascidas numa família de operários de Paris e atingidas, após o nascimento, de idiotia. Alfredo, o mais velho, então com 17 anos, fora normal até os três anos de idade. Após uma ligeira doença, perdeu o dom da palavra e as faculdades mentais. Paulino, de 15 anos, conservou a razão até os seis anos, quando adoeceu e passou pelas mesmas fases do irmão mais velho.  (Págs. 234 e 235.)

185. Em julho de 1865, reportando-se ao caso, Moki (Espírito) disse que os dois irmãos cumpriam juntos aquela expiação porque juntos estavam quando dos fatos que a motivaram. “Não esqueçais também – disse Moki – que os pais têm sua parte no que aqui se passa.” Mas eles deveriam ser felicitados por não haverem falido, porque essa compensação que não encontram neste mundo eles a encontrarão mais tarde. Os cuidados e a afeição que prodigalizam aos dois filhos bem poderiam ser uma reparação feita a eles, reparação que o estado de constrangimento da família tornava ainda mais meritória. (Pág. 236.)

186. Após transcrever o epitáfio que Benjamin Franklin redigiu e pediu fosse colocado em seu túmulo, Kardec destaca o fato de que Franklin, um dos principais vultos dos EUA, era reencarnacionista e não só acreditava em seu renascimento na Terra, como cria voltar ao mundo melhorado por seu trabalho. Eis o teor do epitáfio: “Aqui jaz, entregue aos vermes, o corpo de Benjamin Franklin, tipógrafo, como a capa de um velho livro cujas folhas foram arrancadas e cujo título e dourado se apagaram. Mas nem por isso a obra ficará perdida, porque há de reaparecer, como ele acreditava, em nova e melhor edição, revista e corrigida pelo autor.” (P. 237.)

187. Na seção de livros, a Revue alude ao livro “O Manual de Xéfolius”, obra atribuída a Félix de Wimpfen, guilhotinado em 1793, a qual se presume publicada em 1788. Embora seja anterior à codificação do Espiritismo, a obra traz inúmeras passagens concordantes com a doutrina espírita, como as referências à lei de causa e efeito, à reencarnação e à importância do amor na felicidade humana. (Págs. 237 a 241.)

188. Evocado na Sociedade Espírita de Paris, o autor do Manual de Xéfolius diz ter sido, em sua existência terrena, um médium inconsciente, como muitos que existem no mundo e não o sabem. A obra, portanto, não lhe podia ser atribuída com exclusividade, porque, ao escrevê-la, ele o fez na condição de instrumento, em parte passivo, do Espírito que então o dirigia. (Págs. 241 a 243.)

189. Duas dissertações mediúnicas encerram o número de agosto de 1865. Na primeira, intitulada “A chave do céu” e assinada pelo Espírito de Lacordaire, o instrutor trata de forma admirável do tema caridade, para ele “o sinal de nossa grandeza moral”,  “a chave do céu”. Consolar aflições, por boas palavras ou por sábios conselhos, vale infinitamente mais que consolar por socorros materiais; mas a fome, o frio, a doença não se curam apenas com palavras: requerem algo mais daquele que presta o socorro. (Págs. 244 e 245.)

190. Lembrando que Deus, ao colocar o homem no mundo, fornece-lhe também as provisões materiais, de que carece, Lacordaire exalta a importância da caridade e o dever que temos de praticá-la. Se algo nos detém, não há dúvida: é o egoísmo, e Deus o descobre facilmente sob os falaciosos pretextos com que procuramos desculpar-nos. Despojados de nossa opulência, reapareceremos então outra vez na Terra, curvados ao peso da indigência e sofrendo do rico o desdém e a indiferença que no passado mostramos pelo pobre. (Págs. 245 e 246.)

191. Na parte final da mensagem, Lacordaire assinala os deveres que – independentemente da ajuda prestada aos pobres – temos para com os nossos familiares, a quem devemos ensinar que ninguém pode viver egoisticamente no mundo, mas, sim, sob a égide da solidariedade. “A justiça, diz Lamennais, é a vida; a caridade também é a vida, mais bela e mais doce.” A caridade é a vida dos santos, é a chave do céu. (Págs. 246 e 247.)

192. Dr. Demeure assina a segunda dissertação, intitulada “A fé”. Dizendo que a fé cega teve, durante muito tempo, sua utilidade e sua razão de ser, ele entende que hoje a fé se alia à razão, e ambas, juntas, impedirão que o homem se perca de novo nos caminhos da vida. “É a vossa época, meus amigos – diz o conhecido médico –; segui o caminho, Deus está no fim.” (Págs. 247 e 248.)

193. Um confrade de Lyon pediu a Kardec orientação a respeito da prática da mediunidade curadora pela imposição das mãos. Dizendo que o assunto fora esboçado no Livro dos Médiuns e em muitos artigos da Revue, e resumido no Evangelho segundo o Espiritismo, na parte que trata das preces pelos enfermos e dos médiuns curadores, Kardec lembra que o conhecimento da mediunidade curadora é uma das conquistas que devemos ao Espiritismo, mas que se liga ao magnetismo e abarca não apenas as doenças propriamente ditas, como também as numerosas variedades de obsessões. (Págs. 249 a 251.)

194. Eis de forma sintética os princípios fundamentais que, segundo Kardec, a experiência consagrou relativamente à mediunidade curadora: I – Os médiuns que recebem indicações de remédios da parte dos Espíritos não são médiuns curadores; são simples médiuns escreventes ou médiuns consultores. A mediunidade curadora é exercida pela ação direta do médium sobre o doente, com o auxílio de uma espécie de magnetização de fato ou pelo pensamento. II – O médium curador magnetiza com o fluido dos Espíritos, ao qual serve de condutor. O magnetismo produzido pelo fluido do homem é o magnetismo humano. O que provém do fluido dos Espíritos chama-se magnetismo espiritual. III – O fluido humano está sempre mais ou menos impregnado de impurezas físicas e morais do encarnado; o fluido dos bons Espíritos é necessariamente mais puro e por isso tem propriedades mais ativas, que acarretam uma cura mais pronta. Daí a necessidade absoluta que tem o médium curador de trabalhar a sua depuração moral, segundo o princípio vulgar: “limpai o vaso antes de vos servirdes dele”. IV – O fluido espiritual será tanto mais depurado e benfazejo quanto mais o Espírito que o fornece for puro e desprendido da  matéria. O fluido emanado de um corpo malsão pode inocular princípios mórbidos no magnetizado. As qualidades morais do magnetizador, isto é, a pureza de intenção e de sentimento, o desejo ardente e desinteressado de aliviar, aliados à saúde do corpo, dão ao fluido um poder reparador que pode, em certos indivíduos, aproximar-se das qualidades do fluido espiritual. V – Gastando o seu próprio fluido, o magnetizador se esgota e se fatiga, pois dá de seu próprio elemento vital. O fluido espiritual, mais poderoso, em razão de sua pureza, produz efeitos mais rápidos. Não sendo esse fluido do magnetizador, resulta que a fadiga é quase nula. VI – O Espírito pode agir diretamente sem intermediário sobre as pessoas. Caso aja por um intermediário, trata-se da mediunidade curadora. VII – O médium curador recebe o influxo fluídico do Espírito, ao passo que o magnetizador tudo tira de si mesmo. Os médiuns curadores, na estrita acepção da palavra, isto é, aqueles cuja personalidade se apaga completamente ante a ação espiritual, são extremamente raros, porque essa faculdade, elevada ao mais alto grau, requer um conjunto de qualidades morais raramente encontradas na Terra. Só esses podem obter, pela imposição das mãos, essas curas instantâneas que nos parecem prodigiosas. Essa faculdade é o privilégio exclusivo da modéstia, da humildade, do devotamento e do desinteresse. VIII – Sendo a mediunidade curadora uma exceção aqui na Terra, resulta daí que, nessas tarefas, existe quase sempre ação simultânea do fluido espiritual e do fluido humano. Todo magnetizador pode tornar-se médium curador, se souber fazer-se assistir por bons Espíritos. Neste caso os Espíritos lhe vêm em ajuda, derramando sobre ele seu próprio fluido, que pode decuplicar ou centuplicar a ação do fluido puramente humano. IX – Nenhuma vontade pode constranger os Espíritos a participar dessa tarefa. Eles se rendem à prece, se fervorosa, sincera, mas nunca por injunção. X – Reconhece-se o médium curador pelos resultados que obtém e não por sua pretensão de o ser. XI – A vontade, embora ineficaz quanto ao concurso dos Espíritos, é onipotente para imprimir ao fluido uma boa direção e uma energia maior. No homem mole e distraído, a corrente é mole, a emissão é fraca. No homem de vontade enérgica, a corrente produz o efeito de uma ducha. XII – A prece, quando fervorosa, ardente, feita com fé, produz o efeito de uma magnetização, que dirige ao doente uma salutar corrente fluídica. XIII – Embora a mediunidade curadora pura seja privilégio das almas de escol, a possibilidade de suavizar certos sofrimentos, e mesmo de os curar, é dada a todos, sem que haja necessidade de ser magnetizador. O conhecimento dos processos magnéticos é útil em casos complicados, mas não indispensável. Como a todos é dado apelar aos bons Espíritos, orar e querer o bem, basta muitas vezes impor as mãos sobre a dor para a acalmar. É o que pode fazer qualquer pessoa, se tiver fé, fervor, vontade e confiança em Deus. Apenas a ignorância de alguns lhes faz crer na influência desta ou daquela fórmula. XIV – Não há médiuns curadores universais. Este terá restituído a saúde a um doente e nada fará ao outro. XV – A mediunidade curadora é uma aptidão, como todos os gêneros de mediunidade, inerente ao indivíduo. Ela se desenvolve pelo exercício, mas sobretudo pela prática do bem e da caridade. XVI – A mediunidade curadora racional está intimamente ligada ao Espiritismo, visto que repousa essencialmente no concurso dos Espíritos. Os que não creem nos Espíritos, nem na alma e, ainda menos, na eficácia da prece, não se colocam nas condições requeridas para essa tarefa. (Págs. 251 a 255.) (Continua no próximo número.)

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita