Teatro
Lulu Parola (Aloísio
Lopes Pereira de
Carvalho)
Quanto caboclo iludido
No esforço de ovacionar!
Quanto tempo, em vão
perdido!
Mas, amanhã, sem ruído,
Dona Morte vai
chegar!...
Vejam vocês, minha
gente,
Que teatro original!
Dentro dele quem não
sente
O poder da nossa mente,
Nossa cultura ideal?
Quanta buzina que soa!
Quantos carros em ação!
Vejam só quanta pessoa,
Gente rica e gente
à-toa...
Hoje é dia de função!
Que moderna arquitetura!
Colunatas no jardim,
Decoração, escultura,
E paredes com pintura
De uma beleza sem fim!
Brilha a riqueza
excessiva!
Luz solar em profusão.
Muita música festiva,
E criança que se esquiva
Circulando no saguão.
Mas em meio ao vozerio,
Rápido, surge um senhor
Em pleno palco vazio.
Silêncio quase sombrio
No recinto encantador.
A exibição que se espera
Afinal vai começar!
O povo que se aglomera
Olha o ator de cara
austera,
Ele agora vai falar!
Surgirão flores e cenas?
Arte e ciência também?
Montagens grandes,
pequenas?
Bons episódios que
apenas
Falem da força do bem?
Nada disso! Ai nossos
calos!
Escutem! Todos vão ver!
Nem gritos e nem abalos!
É a grande briga de
galos,
De matar ou de
morrer!...
Quanto caboclo iludido
No esforço de ovacionar!
Quanto tempo, em vão,
perdido!
Mas, amanhã, sem ruído,
Dona Morte vai
chegar!...
Aloísio Lopes Pereira de
Carvalho,
jornalista e poeta de
humor fino e original,
nasceu em Salvador-BA em
27-3-1866 e faleceu na
mesma cidade em
2-2-1942. Manteve de
1891 a 1919 uma seção
diária de versos
humorísticos no Jornal
de Notícias, de
Salvador, intitulada
«Cantando e Rindo»,
assinando-a Lulu Parola,
pseudônimo literário com
que se popularizou. Foi
um dos fundadores da
Academia de Letras da
Bahia, deputado
estadual, redator de A
Tarde, de 1925 até o dia
de sua desencarnação. O
poema acima consta do
livro Antologia dos
Imortais, obra
psicografada pelos
médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo
Vieira.