JORGE
HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília,
Distrito
Federal
(Brasil)
Industrialização de
eventos espíritas
“grandiosos”
Allan Kardec escreveu,
na Revista Espírita de
novembro de 1858, que
"jamais devemos dar
satisfação aos amantes
de escândalos.
Entretanto, há polêmica
e polêmica. Há uma ante
a qual jamais recuaremos
— é a discussão séria
dos princípios que
professamos. “É isto o
que chamamos polêmica
útil, pois o será sempre
que ocorrer entre gente
séria, que se respeita
bastante para não perder
as conveniências.
Podemos pensar de modo
diverso sem diminuirmos
a estima recíproca.
Que os dirigentes
espíritas, sobretudo os
comprometidos com órgãos
‘unificadores’,
compreendam e sintam que
o Espiritismo veio para
o povo e com ele
dialogar, conforme
lembrava Chico Xavier.
Devemos primar pela
simplicidade doutrinária
e evitar tudo aquilo que
lembre castas,
discriminações,
evidências individuais,
privilégios
injustificáveis,
imunidades, prioridades,
industrialização dos
eventos doutrinários.
Os eventos devem ser
realizados,
gratuitamente, para que
todos, sem exceção,
tenham acesso a eles. Os
Congressos, Encontros,
Simpósios etc. precisam
ser estruturados com
vistas a uma programação
aberta a todos e de
interesse do
Espiritismo, e não para
servirem de ribalta aos
intelectuais com
titulação acadêmica,
como um ‘passaporte’
para traduzirem ‘melhor’
os conceitos
kardequianos. Não há
como "compreender o
Espiritismo sem Jesus e
sem Kardec para todos,
com todos e ao alcance
de todos, a fim de que o
projeto da Terceira
Revelação alcance os
fins a que se propõe."
(1)
"A presença do elitismo
nas atividades
doutrinárias (...) vai
expondo-nos a
dogmatização dos
conceitos espíritas na
forma do Espiritismo
para pobres, para ricos,
para intelectuais, para
incultos." (2)
Infelizmente, alguns se
perdem nos labirintos
das promoções de shows
de elitismo nos chamados
"Congressos". Patrocinam
eventos para espíritas
endinheirados, e, sem
qualquer inquietação
espiritual, sem
quaisquer escrúpulos,
cobram altas taxas dos
interessados, momento em
que a ideia tão almejada
de "unificação" se perde
no tempo. Conhecemos
Federativa que chega a
desembolsar R$ 90.000,00
(noventa mil reais);
isso mesmo! 90 mil, para
promover evento
destinado a 3, 4, 5.000
(cinco mil) pessoas. A
pergunta que não quer
calar é: será que o
Espiritismo necessita
desses eventos
"grandiosos"? Cobrar
taxa em eventos
espíritas é incorrer nos
mesmíssimos e seculares
erros da Igreja, que,
ainda hoje, cobra todo
tipo de serviço que
presta à sociedade. É a
elitização da cultura
doutrinária.
Sobre isso, Divaldo
Franco elucida na
Revista O Espírita,
edição de 1992, o
seguinte: "é lentamente
que os vícios penetram
nos organismos
individuais e coletivos
da sociedade. A cobrança
desta e daquela
natureza, repetindo
velhos erros das
religiões ortodoxas do
passado, caracteriza-se
ambição injustificável,
induzindo-nos a erros
que se podem agravar e
de difícil erradicação
futura. Temos
responsabilidade com a
Casa Espírita, deveres
para com ela, para com o
próximo e, entre esses
deveres, o da divulgação
ressalta como uma das
mais belas expressões da
caridade que podemos
fazer ao Espiritismo,
conforme conceitua
Emmanuel, através da
mediunidade abençoada de
Chico Xavier. Nos
eventos essencialmente
espíritas, deveremos
nós, os militantes na
doutrina, assumir as
responsabilidades,
evitando criar
constrangimentos
naqueles que, de uma ou
de outra maneira,
necessitem de
beneficiar-se para, em
assimilando a doutrina,
libertarem-se do jogo
das paixões, encontrando
a verdade. O dar de
graça, conforme de graça
nos chega, é
determinação evangélica
que não pode ser
esquecida, e qualquer
tentativa de elitização
da cultura doutrinária,
a detrimento da
generalização do ensino
a todas as criaturas, é
um desvio intolerável em
nosso comportamento
espírita". (3)
As Federativas Espíritas
devem envidar todos os
esforços para que não
haja a necessidade de
qualquer cobrança de
taxa de inscrição dos
participantes de
Congressos, procurando
fazer frente aos custos
do evento. Para esse
mister devem buscar
viabilizar, previamente,
os recursos financeiros
através de cotização
espontânea de confrades
bem aquinhoados.
Realizar promoções,
doutrinariamente,
recomendáveis para
angariar fundos. Os
dirigentes devem
preservar o Espiritismo
contra os programas
marginais, atraentes e,
aparentemente,
fraternistas, que nos
desviam da rota legítima
para as falsas veredas
em que fulguram nomes
pomposos e siglas
variadas.
A Doutrina Espírita é o
convite à liberdade de
pensamento, tem
movimento próprio, por
isso, urge deixar fluir
naturalmente,
seguindo-lhe a direção
que repousa,
invariavelmente, nas
mãos do Cristo. Chico
Xavier já advertia, em
1977, que "É preciso
fugir da tendência à
'elitização' no seio do
movimento espírita (...)
O Espiritismo veio para
o povo. É indispensável
que o estudemos junto
com as massas mais
humildes, social e
intelectualmente
falando, e deles nos
aproximarmos (...). Se
não nos precavermos,
daqui a pouco, estaremos
em nossas Casas
Espíritas, apenas,
falando e explicando o
Evangelho de Cristo às
pessoas laureadas por
títulos acadêmicos ou
intelectuais (...)". (4)
Não reprovamos os
Congressos, Simpósios,
Seminários, encontros
necessários à divulgação
e à troca de
experiências, mas a
Doutrina Espírita não
pode se trancar nas
salas de convenções
luxuosas, não se
enclausurar nos
anfiteatros acadêmicos e
nem se escravizar a
grupos fechados. À
semelhança do
Cristianismo, dos tempos
apostólicos, o
Espiritismo é dos
Centros Espíritas
simples, localizados nos
morros, nas favelas, nos
subúrbios, nas
periferias e cidades
satélites de Brasília; e
não nos venham com a
retórica vazia de que
estamos propondo, neste
artigo, alguma coisa que
lembre um tipo de
"elitismo às avessas".
Graças a Deus (!), há
muitos Centros Espíritas
bem dirigidos em vários
municípios do País. Por
causa desses Núcleos
Espíritas e médiuns
humildes, o Espiritismo
haverá de se manter
simples e coerente, no
Brasil e, quiçá, no
Mundo, conforme os
Benfeitores do Senhor o
entregaram a Allan
Kardec. Assim
esperamos!
Referências:
(1) Cf.
Entrevista concedida ao
Dr. Jarbas Leone Varanda
e publicada no jornal
uberabense “O Triângulo
Espírita”, de 20 de
março de 1977, e
publicada no Livro
intitulado “Encontro no
Tempo”, org. Hércio M.C.
Arantes, Editora
IDE/SP/1979.
(2)
Editorial da Revista “O
Espírita”, ano 11,
número 57 - jan/mar/90.
(3)
Revista “O Espírita/DF”,
ano 1992 - Página
"Tribuna Espírita" -
Divaldo Responde - p.
16.
(4)
Entrevista concedida ao
Dr. Jarbas Leone Varanda
e publicada no jornal
uberabense “O Triângulo
Espírita”, de 20 de
março de 1977, e
publicada em Encontro
no Tempo, Hércio
M.C. Arantes (Org.),
Editora IDE/SP/1979.